30 de dezembro de 2008

LRA

Refugiados congoleses no Sul do Sudão © JVieira
Os rebeldes ugandeses do LRA (Exército de Resistência do Senhor) massacraram mais de 400 congoleses desde o Natal e cerca de 20 mil pessoas refugiaram-se nas montanhas para escapar à onda de morte no nordeste congolês.
Bruno Mitewo, o presidente da Caritas Congolesa, disse à BBC que os rebeldes mataram 150 civis em Faradje, quase 75 em Duru e 215 em Duruma, aldeias ao longo da fronteira com o Sul do Sudão.
Mitewo disse que as vítimas foram mortas à catanada e à paulada ou queimadas vivas.
O porta-voz do LRA, David Nekorach Matsanga negou que os rebeldes sejam os autores das atrocidades.
As forças armadas do Uganda, RD Congo e Sul do Sudão têm atacado campos do LRA na floresta de Garamba, no nordeste do Congo, desde o dia 14 de Dezembro.
Especialistas vêem os massacres como retaliação pelos ataques aéreos e terrestres às bases dos guerrilheiros.
Os elementos do LRA - cerca de 650 - foram acantonados na fronteira entre o sul do Sudão e a RD Congo há dois anos no início das conversações de paz em Juba entre os rebeldes e o governo ugandês.
As conversações, mediadas pelo vice-presidente do Sul do Sudão, foram concluídas em Abril, mas Joseph Kony, o líder rebelde, recusou-se a assinar o acordo final de paz exigindo a revogação do mandado de captura que o Tribunal penal Internacional passou em seu nome.
Fontes bem colocadas asseguram-me que o que Kony quer é que os negociadores dupliquem a compensação económica pela sua assinatura.

28 de dezembro de 2008

PINHEIROS & PISTOLAS

Celebração do Natal na Arquidiocese de Juba © JVieira

Pinheiros e pistolas foram as vedetas do Natal de Juba.
Os pinheiros de natal, de plástico, e com um toque de neve e luzinhas, foram vendidos por vendedores ambulantes por 12 a 15 euros. Nada mais deslocado do Natal de Juba que pinheiros com neve no Equador.
E os miúdos passaram os dias a seguir ao Natal com pistolas de plástico a estourar fulminantes numa celebração muito esquisita do nascimento do Príncipe da Paz.
Os natais de plástico também chegaram a Juba!

25 de dezembro de 2008

CRIANÇAS-SOLDADOS

Cerca de 6000 crianças, algumas com 11 anos, combatem nas fileiras dos rebeldes e das forças da ordem e milícias aliadas no Darfur, diz a UNICEF.
Ted Chaiban, o ex-patrão da UNICEF no Sudão a caminho da Etiópia, disse que o seu organismo colheu provas suficientes para denunciar que tanto os grupos rebeldes JEM (Movimento de Justiça e Igualdade) e a facção SLA (Exército de Libertação do Sudão) de Abdel Wahed Mohamed Ahmed al-Nur como o exército sudanês, a polícia e as milícias aliadas recrutam e usam nos combates menores de 18 anos.
Tudo isto apesar de o Governo Sudanês ter assinado a convenção contra o uso de crianças na guerra.

24 de dezembro de 2008

ALEGRIA - JOY

© JVieira

«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lucas 2, 10-11).
O Nascimento de Jesus é uma grande alegria para os seropositivos e refugiados congoleses que encontrei em Nzara, Estado de Western Equatoria;
É uma grande alegria para os habitantes martirizados do Darfur, do Kivu, do Zimbabué, da Palestina, do Iraque e do Afeganistão;
É uma grande alegria para as vítimas da crise económica global e das mudanças climatéricas;
É uma grande alegria para os milhões que vivem com menos de setenta cêntimos por dia;
É uma grande alegria para as vítimas da malária, da tuberculose, da diarreia e de outras doenças que se podem combater através da prevenção e com medicamentos baratos;
É uma grande alegria se tu e eu formos alegria e encarnarmos o cuidado e o carinho de Jesus pelos mais pobres e abandonados.
Tu e eu fazemos a diferença!
Feliz Natal para ti.

«Fear not: for, behold, I bring you good tidings of great joy, which shall be to all people. For unto you is born this day a Saviour, which is Christ the Lord» (Lk 2: 10-11).
The birth of Jesus is a great joy to the HIV-AIDS victims and Congolese refugees I met during my retreat in Nzara, Western Equatoria State;
It is a great joy to the suffering peoples of Darfur, Kivu, Zimbabwe, Palestine, Iraq, Afghanistan;
It is a great joy for the victims of the global economic crisis and climate change;
It is a great joy for the millions who live with less than a dollar per day;
It is a great joy for the victims of malaria, TB, diarrhoea and other illnesses that could be cured through prevention and cheep medicines;
It is a great joy if you and me are joy and embody Jesus’ care and tenderness for the poorest and most abandoned.
You and I make the difference.
Happy Christmas to you, my dear!

18 de dezembro de 2008

ALIVE

© JVieira

It is alive. It is you,
God. Looking out I can see
no death. The earth moves, the
sea moves, the wind goes
on its exuberant
journeys. Many creatures
reflect you, the flowers
your colours, the tides the precision
of your calculations. There
is nothing too ample
for you to overflow, nothing
so small that your workmanship
is not revealed. I listen
and it is you speaking.
I find the place where you lay
warm. At night, if I waken,
there are sleepless conurbations
of the stars. The darkness
is the deepening shadow
of your presence; the silence a
process in the metabolism
of the being of love.

RS Thomas

16 de dezembro de 2008

NATAL DE PAZ

© The Nation
Os colegas da missão já se retiraram para o descanso merecido da noite. De kispo ligeiro pelas costas, venho para o pátio da missão. Fico, por uns instantes, a apreciar o tão raro e misterioso silêncio.
Quedo-me a olhar o céu pontilhado de astros. E dou comigo a pensar numa estrela única e sem igual, muito querida e desejada por todos. Não a distingo entre a multidão incontável que enche o firmamento, mas também não faço questão por isso. Não é uma estrela qualquer das que habitam o espaço celeste.
A sua presença não é notória, mas sei que está ali. Esta certeza conforta-me e conduz-me até à mencionada estrela. Ela própria me leva até à gruta onde está aquele que é a esperança do mundo. É um menino de nome Jesus.
Um grupo de pastores tinha apenas entrado. Entre louvores e parabéns, acenei à sua mãe Maria que me pôs à vontade com o recém-nascido. José, seu marido, ficou contente por me ver conversar com o Menino:
«Muita gente fala do Natal, do teu Natal, ó meu pequeno Jesus! Mas a tua mensagem de paz não entra nos seus planos e não tem prioridade na sua vida. De ti apenas sabem o nome, mas já estou a vê-los a bambolear-te de mão em mão, falando de paz como pretexto para a guerra. Porque não inventas a arma da paz como eles inventam as armas da guerra?»
O Menino olhava insistentemente para o alto, sinal claro de um convite que eu resistia em acolher e aceitar.
Disse-lhe: «Não estou mais interessado em olhar para as alturas do céu estrelado onde ficas irreconhecível entre miríades de astros.»
Ele sorriu, apontando ainda na mesma direcção, vencendo a minha teimosia.
Olhei. Estrelas transformavam-se em letras do alfabeto e, deslocando-se, procuravam um lugar no arranjo das palavras que se liam no céu: «Gloria a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade.»
Verso do Livro Santo que une a terra ao céu na melodia celestial que os anjos cantavam sem interrupção.
Agora que o dia de Natal está mesmo à porta, penso em Saná, uma menina de sete anos que vive aqui em Nyala, Sul do Darfur.
Ela sabe que Deus não ama a guerra e que nos enviou a prenda mais bela: Jesus, o Príncipe da Paz. Se ao menos o mundo tivesse em consideração a pergunta que a pequena Saná, alguns dias atrás, me pousou: «Porquê a paz está a demorar tanto em chegar?»!
Naquele dia, enquanto esperava uma resposta para a sua pergunta, Saná aprendeu uma nova oração que, a seguir, rezou com o seu grupo de catequese: «Destrói, ó Deus, os muros do ódio, entre as nações; aclara o caminho para aqueles que trabalham pela paz.»
Votos de um santo e feliz Natal e próspero ano novo, repleto de paz!


Feliz da Costa Martins - Missionário Comboniano - Nyala - Darfur (Sudão)

14 de dezembro de 2008

MELHORAS

David e James com parte do pessoal de enfermagem que formaram
© JVieira

O Hospital Escolar de Juba registou nítidas melhoras no atendimento de urgências através de quatro meses de formação intensiva para pessoal de enfermagem.
Em Julho, 5,5 por cento dos pacientes admitidos no bloco de urgências acabavam por morrer. Quatro meses depois, o índice de mortalidade baixou para 4,5 por cento.
Metade das mortes ocorriam durante as primeiras 24 horas de internamento enquanto que agora só 28 por cento morre durante o dia um, uma redução de 40 por cento.
A melhoria no atendimento registou-se depois de uma série de cursos para 120 enfermeiros e enfermeiras sobre reconhecimento de sinais vitais em pacientes instáveis.
Os seminários foram ministrado por dois médicos do St. Mary’s Hospital, Ilha de Wight, Inglaterra através de um protocolo de cooperação entre os dois hospitais, o St.Mary’s-Juba Link.
Os doutores David Attword e James Ayrton empenharam-se na formação e motivação do pessoal de enfermagem durante os quatro meses que permaneceram em Juba e os resultados estão à vista! Parabéns, pois.
Os dois médicos regressaram no sábado a casa. Em Março, um novo grupo de agentes de saúde deve vir a Juba para continuar o trabalho de capacitação do pessoal de enfermagem do hospital.

12 de dezembro de 2008

PRECONCEITOS


A edição mais recente do «Oxford University Press Junior Dictionary» deixou de fora um número de palavras relacionadas com o cristianismo.
Abadia, altar, bispo, capela, baptismo, discípulo, ministro, mosteiro, monge, freira, convento, paróquia, banco da igreja, salmo, púlpito, santo, pecado, demónio e vigário não aparecem na nova compilação de palavras para os mais novos.
Os editores do dicionário justificam-se, dizendo que a prática religiosa baixou e a sociedade é multi-cultural.
A compilação também ignorou palavras relacionadas com o ambiente, plantas e animais, e inseriu novos termos como alergia, currículo, celebridade e «MP3 player».

11 de dezembro de 2008

CERVEJEIRA

Juba prepara-se para provar a primeira cerveja produzida na região depois da guerra civil e do fim da islamização.
A cervejeira sul-africana SABMill apresentou ao público a Southern Sudan Beverages Limited, um investimento na ordem dos 30 milhões de euros, que vai fabricar cervejas e refrigerantes.
A companhia conta pôr no mercado a primeira cerveja do sul do Sudão do pós-guerra em Fevereiro. O produto ainda não tem nome.
A sala de engarrafamento pode encher 12.800 garrafas (6400 litros) numa hora.
A SABMiller disse à Rádio Bakhita que vai empregar 250 sudaneses e fornecer diariamente a comunidade local com 5000 litros de água potável. Aliás, o governo local vai receber dividendos da cervejeira em troca do terreno para a fábrica.
Em 1983, a Lei Islâmica foi alargada ao Sul do Sudão e a produção e consumo de álcool proibidos nas áreas controladas pelo Governo.
Em 2005, o acordo de paz entre o governo e os rebeldes do sul, estabeleceu um estado dois sistemas e a venda de bebidas alcoólicas foi despenalizada nesta parte.
Até agora, a cerveja – cara – vem sobretudo do Uganda e do Quénia, mas também se pode encontrar marcas internacionais em lata.
A cervejeira do Sul do Sudão conta vender os seus produtos a preços mais acessíveis.

10 de dezembro de 2008

DIREITOS HUMANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos fez hoje 60 anos e é um marco no caminho percorrido por uma maior humanização.
Em Juba a efeméride foi marcada com um debate sobre os direitos humanos no Sul do Sudão.
O vice-president da Comissão de Direitos Humanos no Sudão disse que o rapto de crianças e a violação de meninas e mulheres - devido às armas ligeiras nas mãos de civis - são os atentados mais graves contra os direitos humanos.
Mas esqueceu-se dos salários em atraso, das dificuldades tremendas no acesso à saúde, educação, água potável, à informação. E os casos de corrupção e desvio de dinheiro. A semana passada um sudanês do sul foi apanhado em Heathrow com três milhões de dólares na bagagem. E diz-se conselheiro presidencial!

7 de dezembro de 2008

FELICIDADES


Ángeles y Carlos,
Felicidades por vuestros diez años de matrimonio y por los cuatro hijitos, el fruto de la flor que es el amor de ustedes.

MIL PALAVRAS

Mapuordit (Lakes State): família dinka © JVieira

CARTA À ALICE


Querida Alice, minha boa amiga,
Serve esta carta para lhe agradecer «
A Vida nas Palavras de Inês Tavares».
Que registo tão atento e terno das e-moções da adolescência de hoje através do olhar profundo de uma avó tão observante!
A Inês foi a minha companhia durante o voo entre Juba e Nzara, um momento de puro encanto com um grande sorriso nos lábios. Uma hora e meia que passou num instante. Nem sequer dei conta das sacudidelas do «Caravan» tão entretido estava a desenrolar o novelo de um ano na vida da Inês.
A narrativa é empolgante, lisa, de uma simplicidade de encantar e cheia de detalhes e observações surpreendentes. A começar pela linguagem.
Uma viagem guiada ao mundo singular da adolescência – ou será «aborrescência»?
Boa amiga, só tenho um adjectivo para qualificar o diário da Inês: GOSTEI MUITO!
Faça-me um favor: continue a surpreender-nos com a sua excelente escrita, mas cuide de si.
Xi-coração.

1 de dezembro de 2008

MARES D’ALMA

A vida é o espaço que medeia entre seio da Mãe – de onde viemos – e o seio de Deus – para onde vamos.
O Mar é também o grande seio onde o milagre da vida aconteceu. Faz-nos lembrar as origens e o fim! É refúgio, inspiração, paz.
Não admira, portanto, que o Mar tenha um lugar tão importante na poesia, nos faça sentir tão bem.
E que esteja tão presente nos poemas da Elsa. Porque o Mar é o seio da saudade, utópico, virtual onde «encontrarei sempre aquilo que busco nos outros e não encontro.»
Elsa, disse-te desde o princípio que aprecio os teus «poemas escondidos». Têm vida, garra, força. E estou muito feliz por dares «a cara» àquilo que de tão profundo deste à luz.
Obrigado pelo «Mares d’Alma» que hoje deste ao mundo e por metes envolvido nesse projecto através da foto da capa e sobretudo pelos poemas que me foste enviando.

Um abraço cheio de carinho de parabéns!

27 de novembro de 2008

BOAS FÉRIAS

© JVieira

A directora da Rádio Bakhita partiu esta tarde para os Estados Unidos e México onde vai passar três meses de férias com a família.
A irmã Maria Cecilia Sierra Salcido encontra-se em Juba desde Maio de 2006, depois de um breve período de formação em Roma.
Durante a ausência da Cecy – como a irmã é chamada entre nós – a rádio é gerida pelos outros três elementos da equipa da Rede Católica de Rádios do Sudão. A irmã Paola e o irmão Alberto asseguram a economia e os contactos e eu levo a estação para a frente com os funcionários – que são uns amores!
Cecy, desfruta este tempo de lazer e de convívio por quem mais és amada, vive as festas da Virgem de Guadalupe, Natal e o teu aniversário e volta retemperada e cheia de novas ideias e entusiasmo.
E as saudades vão passar!

25 de novembro de 2008

AVISO À NAVEGAÇÃO

Na semana passada o Ministros da Informação reuniu-se com representantes dos meios de comunicação de Juba.
Os participantes, mais de meia centena entre jornalistas e proprietários, expressaram as dificuldades que o sector passa: censura em Cartum por falta de uma tipografia em Juba, dificuldades económicas, falta de profissionais com formação adequada, problemas com os homens da segurança, falta de meios de apoio aos jornalistas na presidência e no parlamento, falta de uma Lei da Imprensa…
Depois de três horas de debate – e para fechar – o ministro Gabriel Changson Chang trazia recados para a Rádio Bakhita e para a Rádio Miraya, as duas estações concorrentes da emissora do governo fora do seu controlo.
O ministro Changson acusou Bakhita de difundir informação errónea porque um ouvinte telefonou durante um fórum sobre as polícias a dizer que o presidente do Sul, Salva Kiir Mayardit, tinha colocado familiares nos postos-chave da polícia na Great Equatoria.
E acusou Miraya de difundir mensagens de ódio contra Ugandeses em Juba (sem explicar em que contexto) e de notociar que o milhão de dólares que o presidente deu aos estudantes sul-sudaneses nas universidades da África Oriental iam acabar em sabão e cosmética.
Não me chateou o puxão de orelhas em público por uma ofensa que não cometemos. Fiquei preocupado com a atitude: Changson disse que se a Lei de Imprensa estivesse em vigor íamos ter de pagar uma multa pesada, que essa lei vai dar espaço ao governo para responsabilizar os média.
O meu amigo Nyal Bol, um Dinka gigante com uma língua bem maior, disse durante o encontro que o governo do Sul do Sudão tem tendências ditatoriais e que está a seguir o modelo eritreu. Um ponto de vista que partilhou comigo pela primeira vez há dois anos durante uma entrevista de análise política.
Terá razão? O certo é que o Nyal esteve na prisão alguns dias por ter publicado no seu jornal «The Citizen» um artigo um caso de corrupção no Governo semi-autónomo do Sul.
Se a lei estivesse a vigorar, o Nyal tinha direito de exigir compensação ao Governo pela prisão arbitrária, não é senhor ministro? Olhe que a Lei é para todos!

24 de novembro de 2008

MIL PALAVRAS

NZARA: Estudantes de castigo limpam o recereio da escola © JVieira

23 de novembro de 2008

FCP GLOBAL

© JVieira

Um taxista da ilha de Gondokoro, em frente a Juba, veste com garbo uma camisola do FC Porto. Pelo tipo do emblema é bem capaz de ser contrabando «made in China»!
As motorizadas SENKE são os táxis de Juba. Chamam-lhe «boda-boda», degeneração de «border to border» (de fronteira para fronteira).
Explicaram-me que numa das fronteiras da região os transportes públicos não podem passar a «terra de ninguém». Os passageiros fazem o transbordo usando motorizadas! Se não é verdade é bem imaginado...
Os «boda-boda» são os serviços de táxi mais económicos de Juba e também os mais radicais. As SENKE têm uma tendência muito grande para cair por estas paragens. E a secção de ortopedia do Hospital Escolar de Juba chama-se SENKE Ward! Enfermaria Senke!
As SENKE – também se chamam SIMBA e outros nomes parecidos – são fabricadas no Dubai e montadas na República Democrática do Congo. Os modelos mais baratos (125 cc) custam uns 600 euros (750 dólares).

19 de novembro de 2008

HEROÍNAS

Maria Luísa

Rosío

Hospital
Maíte
Senait

Escola

Giovanna (a Eugénia estava de férias)

Grupo Rainbow

A comunidade das Missionárias Combonianas de Nzara é formada por seis irmãs: três italianas, duas mexicanas e uma eritreia. Trabalham duas a duas em sectores diferentes: saúde, educação, promoção da mulher, apoio a seropositivos e pastoral.
A folha de serviço das irmãs é impressionante.
A Maria Luísa, italiana, e a Rocío, mexicana, estão encarregadas do hospital. Cerca de 100 pacientes são atendidos diariamente no estabelecimento de saúde, que conta com um laboratório e algumas enfermarias para internamento.
Mais de 700 seropositivos recebem os medicamentos retrovirais que lhes prolongam a vida com alguma qualidade. E o grupo aumenta de dia para dia!
O hospital tem uma secção para tuberculosos – com internamento – e serviço de atendimento ambulatório a doentes de lepra, incluindo uma sapataria.
A Maité, mexicana, e a Senait, eritreia, levam para diante a escola básica. 1050 alunos da pré-primária até ao oitavo ano. E se mais salas de aulas houvesse mais alunos frequentariam a escola.
A Maité é a directora e também dá aulas. A Senait ensina inglês e matemática. Aos sábados, enquanto os outros professores descansam, as irmãs dão aulas de recuperação aos alunos mais crescidos.
Finalmente, a Giovanna, que é a superiora, e a Eugenia (ambas italianas e mais velhas) orientam o programa de promoção da mulher e a assistência aos pacientes da sida.
O grupo Rainbow (Arco-íris) tem mais de 350 seropositivos que se reúnem todas as sextas-feiras para receberem alguns ensinamentos sobre a sida, nutrição, cuidados de higiene e outros temas e partilharem uma refeição mais substancial e nutritiva.
Além disso, promovem esquemas de auto-financiamento através de actividades de micro crédito. Os elementos estão divididos em pequenos grupos e recebem sal, farinha, açúcar e outros géneros para venderem no mercado e gerarem algumas receitas.
As irmãs são ajudadas por nove voluntários e também dispensam serviço domiciliário aos doentes em fim de vida.
O Grupo Sunshine (Luz do Sol) dá assistência e cerca de 30 crianças, seropositivas ou órfãs e pagam as respectivas propinas e outras ajudas. Algumas famílias estão a adoptar órfãos de casais mortos pela sida.
O programa de promoção da mulher integra uma centena de elementos e também financia esquemas de micro crédito além de outras actividades.
Algumas irmãs também estão empenhadas na paróquia animando a liturgia em algumas capelas e visitando doentes.
As combonianas de Nzara são um testemunho de dedicação total ao Evangelho através do serviço que prestam às pessoas que delas necessitam sem regatearem limites.
Vivem na linha da frente do perigo. Os rebeldes ugandeses do Exército de Resistência do Senhor – que vivem num parque perto de Nzara no Congo – dizem que hão-de atacar a missão e o hospital, mas elas mantêm-se firmes.
São as minhas heroínas!

IN A COUNTRY CHURCH


The one kneeling down no word came,
Only the wind’s song, saddening the lips
Of the grave saints, rigid in glass;
Or the dry whisper of the unseen wings
Bats not angels, in the high roof.

Was he balked by silence? He kneeled long,
And saw love in a dark crown
Of thorns blazing, and a winter tree
Golden with fruit of a man’s body.

R.S. Thomas

17 de novembro de 2008

RETIRO

Nzara à vista

Igreja de Nzara

As irmãs de Nzara

Os meus amiguitos

Candeeiro

Mercado

Funeral de Bibiana

Refugiados © JVieira

Fui para Nzara com um project simples: passar uma semana de descanso e oração. E foi o que fiz.
Nzara é uma aldeia a 25 quilómetros de Yambio, a capital de Western Equatoria. Uma zona verde, com muita chuva. O tempo é bem mais fresco que em Juba.
Os Azandes, os habitantes da área, dedicam-se à agricultura e comércio. A zona é rica em fruta – sobretudo ananás –, alguns cereais, sésamo, mandioca e tem grandes florestas de teca explorada por uma companhia sul-africana.
As Missionárias Combonianas acolheram-me como um irmão e deram-me um quarto num espaço reservado e tranquilo.
Foi tão bom voltar a viver de vagar, simplesmente, usando o candeeiro a petróleo e um balde de água como chuveiro. Voltar a reencontrar o gosto da mandioca frita, trocar saudações alegres com as pessoas com que me cruzava.
Durante o retiro rezei sobretudo a minha vida à luz dos Salmos, a oração milenar de tantos outros crentes. O silêncio e a tranquilidade deram-me o espaço necessário para revisitar a minha história recente e ver nela o dedo de Deus que me continua a conduzir com amor pelos caminhos da vida através de encontros inter-pessoais cheios de significado.
À noite celebrava a Eucaristia com as irmãs. Um momento tranquilo, de partilha. Dois dias, presidi à missa na igreja da missão: usava o inglês e as pessoas respondiam em Azande. As homilias foram traduzidas pelo catequista.
Em Nzara também vi a morte olhos nos olhos.
Através de Bibiana, uma jovem de 20 e poucos anos que morreu no hospital durante a minha estada.
A irmã encarregada do centro de saúde pediu-me para visitar Bibiana e rezar por ela porque estava a morrer. O rosto esquelético, os grandes olhos de dor tocaram-me. Morreu um dia depois. Andava a passear na zona do cemitério quando a sepultaram. O catequista convidou-me a oferecer uma oração. Fi-lo com lágrimas nos olhos. A Bibiana travou uma longa batalha com a SIDA sozinha. A família abandonou-a. Com uma via-sacra daquelas de certeza que está com Deus. E quando alguém morre tem direito a algumas lágrimas.
Através dos refugiados congoleses que visitei. Cerca de 500 pessoas que fugiram ao terror dos rebeldes ugandeses do Exército de Resistência do Senhor – LRA na sigla inglesa – que foram acantonados na fronteira entre o Congo e o Sudão durante as conversações de paz com o governo ugandês.
Os refugiados levaram cinco dias a chegar ao campo onde encontram a cerca de uma hora de motorizada de Nzara. Vivem da caridade da comunidade que os recebeu e que reparte com eles amendoim, mandioca e sésamo. Estão na área há três semanas, mas só tinham recebido ajuda das Missionárias Combonianas que lhes levaram cobertores, sal açúcar e remédios para a malária, gripe e diarreia. No dia que os visitei uma ONG protestante chegou com comida.
Em Nzara choveu quase todos os dias e as trovoadas eram espectaculares. Por isso, tive que passar mais dois dias que o previsto, porque o voo em que devia regressar foi cancelado. Valeu-me um piloto compreensivo que me trouxe para Juba apesar de eu não fazer parte da sua lista de passageiros.
Voltei à vida mais ligeiro, tranquilo e de bem comigo, com a vida e com quem dela faz parte.
As irmãs surpreenderam-me pela maneira como me receberam. Só conhecia uma delas que estava no Uganda a fazer o retiro durante a minha estada na missão. E o que elas fazem é simplesmente espectacular. Mas é tema para o próximo texto que agora já é tarde.

15 de novembro de 2008

CHEGUEI!

Esta tarde consegui voar para Juba depois de nove dias muito especiais em Nzara. Já conto como foi. Até lá um xi-coração!

4 de novembro de 2008

ATÉ JÁ

Durante os próximos dez dias vou estar fora da blogosfera a fazer o meu retiro e a descansar em Nzara, West Equatoria State.
Vou recorder-te ao Senhor com carinho. Reza por mim!

3 de novembro de 2008

RELATIONSHIPS

A blind man and a lame man happened to come at the same time to a piece of very bad road.
The former begged the latter to guide him through his difficulties.
"How can I do that," said the lame man, "as I am scarcely able to drag myself along? But if you were to carry me I can warn you about anything in the way; my eyes will be your eyes and your feet will be mine."
"With all my heart," replied the blind man, "Let us serve one another."
So taking his lame companion on his back, they travelled in this way with safety and pleasure.
Aesop

2 de novembro de 2008

VULNERABILITY

© JVieira

One of the greatest obstacles to intimacy is our propensity to believe that others will love us only when we are impressive and strong. Because of this we go through life trying to impress others into liking us rather than showing ourselves to each other as we really are, vulnerable, tender, lovable. We are for ever trying to be so sensational that others have to love us.
Ronald Rolheiser em «The Restless Heart»

WORLD MISSION

P. José Rebelo, director de WORLD MISSION,
durante a cerimónia de entrega dos prémios
A revista WORLD MISSION, publicada pelos Combonianos em Manila, Filipinas, foi distinguida com mais dois prémio.
Catholic Mass Media Awards atrubuiu à WORLD MISSION os prémios Melhor Pubicação Comunitária/Paroquial Local, pelo segundo ano consecutivo, e Melhor Reportagem Especial.
O texto premiado – «A Farm of Hope» – foi escrito pelos padres portugueses José Rebelo e David Domingues, director e administrador, respectivamente. Trata-se de uma reportagem sobre uma quinta que pertence à Fazenda da Esperança, na ilha de Masbate.
Jovens filipinos são resgatados da droga, álcool e outras dependências através do trabalho, vida comunitária e oração.
A trigésima edição do Catholic Mass media Awards registou 516 candidaturas em 42 categorias para revistas e jornais, televisão, publicidade, música, cinema e sítios da Internet.
WORLD MISSION tem uma tiragem mensal média de 9500 cópias.
Parabéns, companheiros, pelo reconhecimento do vosso trabalho dedicado. Força!

1 de novembro de 2008

ORDENAÇÕES


Dom Paolino fala aos padres neo-ordenados Peter Mawa (E) e Angelo Loku Ware (D) © JVieira

O arcebispo de Juba ordenou esta manhã dois padres para o serviço da arquidiocese.
Dom Paolino Lukudu Loro ordenou sacerdotes os diáconos Angelo Loku Ware e Peter Mawa Wilfred na paróquia de Todos os Santos de Rejaf. O terceiro diácono declinou a ordenação depois do retiro de preparação.
Durante a homilia o arcebispo recordou que a Festa de Todos os Santos é a festa de todos os cristãos.
O amplo templo estava repleto de fiéis que se quiseram associar à alegria dos dois neo-ordenados.
O Presidente da Assembleia Legislativa do Sul do Sudão e um dos comandantes das Unidades Conjuntas Integradas também tomaram parte na celebração.
A cerimónia levou mais de três horas e foi um momento de alegria na vida diocesana. A música esteve excelente a cargo dos coros de Rejaf e da Catedral.
As duas ordenações revestem-se de um carácter especial este ano em que a arquidiocese perdeu alguns padres. Clérigos, religiosos e religiosas estão a trocar o ministério activo por trabalho com o Governo, agências da ONU e ONG.
Rejaf foi a primeira igreja construída pelos combonianos nos anos 20 e por isso tem o estatuto de igreja-mãe. Um monumento à tenacidade dos antigos missionários que tiveram que fabricar no local mais de um milhão de tijolos para erguer a construção.

31 de outubro de 2008

PAUL

© JVieira

Paul Wagbia é um irmão comboniano que esteve a trabalhar na Rádio Bakhita durante os últimos três meses. Esta manhã partiu para Mapuordit, diocese de Rumbek, em Lakes State, onde vai ensinar religião e moral na escola secundária daquela missão comboniana.
O Ir. Paul tem 32 anos e fez a primeira profissão em Maio no noviciado de Namugongo, Uganda.
Depois de umas curtas férias veio para Juba para trabalhar na rádio Bakhita. Além de apresentar as notícias, produzia alguns programas religiosos e a celebração da Palavra de domingo. Também estava encarregado de seguir a cozinha.
Adorei trabalhar com o Paul. É um jovem com um futuro promissor: aprende depressa, é dedicado e alegre, generoso e com um coração enorme. Depois, ele pertence à etnia Zande, um povo que «encontrei» durante as investigações de etnologia que fiz para o curso de missionologia que frequentei em Londres enquanto estudava teologia. Foi interessante viver com um Zande de carne e osso!
Custou-lhe a trocar a rádio pela escola, porque estava a gostar da experiência. Agora o jornalismo faz parte do seu horizonte profissional.
Ontem fomos beber uma cerveja de despedida com o Paul: a Ir. Cecília e eu. Como irmãos maiores partilhámos com ele as nossas experiências e deixamos alguns conselhos importantes para quem está na primeira experiência de vida missionária, respondendo a alguns dos seus anseios.
Antes, na rádio, bebemos um refrigerante com pipocas e biscoitos. Os funcionários louvaram o Paul sobretudo pela amizade e atenção.
Boa sorte, mano, para a nova fase da tua vida missionária!

IN HEAVEN

A man arrives at the gates of heaven. St. Peter asks, "Religion?"
The man says, "Muslim."
St. Peter looks down his list, and says, "Go to room 24, but be very quiet as you pass room 8."
Another man arrives at the gates of heaven. "Religion?" "Episcopal, Sir."
"Go to room 18, but be very quiet as you pass room 8."
A third man arrives at the gates. "Religion?" "Buddhist."
"Go to room 11, but be very quiet as you pass room 8."
The man says, "I can understand there being different rooms for different religions, but why must I be quiet when I pass room 8?"
St. Peter tells him, "Well the Catholics are in room 8, and they think they're the only ones here.

Unknown author

29 de outubro de 2008

FOME

© JVieira

Quase mil milhões de pessoas passam fome devido à crise global de alimentos e o problema tem que ser resolvido à luz dos direitos humanos, afirmou um especialista das Nações Unidas.
Olivier De Schutter, Relator Especial sobre o direito à alimentação, disse que apesar de os preços dos alimentos terem baixado «a crise continua connosco» e o número dos famintos continua a aumentar.
De Schutter adiantou que normalmente os órgãos internacionais advogam o aumento da produção de alimentos mas esquecem os direitos humanos.
O relator explicou que o problema real da fome não está relacionado com a falta de comida, mas com o facto de que muitos não terem meios para a comprar.
De Schutter salientou que a fome é um problema político relacionado com governação pobre.

28 de outubro de 2008

PÓLIO

© Ayom Wol

O governo do Sul do Sudão lançou ontem uma mega campanha de vacinação contra a poliomielite depois de ter descoberto seis novos casos este ano na região.
O governo regional tem o apoio da UNICEF para imunizar 2.8 milhões de crianças com menos de cinco anos.
O presidente do Governo do Sul do Sudão, Salva Kiir Mayardit, participou na campanha, vacinando pessoalmente um grupo de bebés de Juba.
Os pimpolhos não se assustaram com o velhote de barbas imponentes e chapéu preto, a sua imagem de marca.
O Sul do Sudão era considerado livre da poliomielite durante os últimos três anos. As autoridades sanitárias dizem que os novos casos vieram da Etiópia, mas Juba é muito longe de Adis Abeba e a capital do sul registou um caso novo há três meses.
A poliomielite é uma infecção viral muito contagiosa, por vezes mortal, que pode provocar fraqueza muscular permanente, paralisia e outros sintomas.
O poliovírus transmite-se ao engolir substâncias, como água, contaminadas por fezes infectadas. A infecção estende-se do intestino a todo o corpo, mas o cérebro e a espinal medula são os mais gravemente afectados.
A Organização Mundial de Saúde está empenhada em irradicar o poliovírus da face da Terra através de campanhas de vacinação maciça.

27 de outubro de 2008

ST MARY’S JUBA LINK

Há dez semanas que dois médicos do Hospital de St. Mary, na Ilha de Wight, Inglaterra, estão a trabalhar na formação de quadros médicos e de enfermagem do Hospital Escolar de Juba.
David Attwood e James Ayrton fazem parte da Organização Não Governamental St. Mary’s Juba Link e têm-se dedicado à profissionalização do pessoal de saúde do hospital, partindo dos conceitos simples de triagem, medição de febre e tensão arterial, normas de higiene.
Os dois doutores integraram-se muito bem e são incansáveis no serviço que prestam ao hospital e ao seu pessoal.
Vivem connosco na Casa Comboni e terminam o trabalho em Dezembro a tempo de celebrarem o Natal com a família.
O Dr. David conta regressar dentro de um ano com a médica que será a sua esposa a partir de Junho.
Em 2005, o então primeiro ministro britânico, Tony Blair, encomendou a Lord Nigel Crisp um relatório sobre como o Serviço Nacional de Saúde poderia beneficiar os países menos desenvolvidos.
O Relatório Crisp propôs o envio de equipas para treinar pessoal de saúde nos países pobres. A equipa de Juba é uma das 80 que entretanto surgiram dessa recomendação.
St Mary’s Juba Link recebe ofertas através do sítio «Just Giving».

PAPA-ÁFRICA

O Papa surpreendeu ontem o mundo ao anunciar a sua primeira visita apostólica a África.
Bento XVI disse durante a homilia de encerramento do Sínodo sobre a Bíblia que em Março conta ir aos Camarões e a Angola.
Bento XVI explicou que a visita aos Camarões é parte da preparação para o Sínodo Africano que decorre no Vaticano em Outubro de 2009.
Em Março representantes das conferências episcopais de África vão encontrar-se nos Camarões para planear o segundo sínodo especial sobre a África.
A visita a Angola acontece no contexto das celebrações dos 500 anos de Evangelização da ex-colónia portuguesa.
Bento XVI visitou o Brasil, Estados Unidos, Austrália, Espanha, Alemanha e França durante os três anos do seu pontificado.

25 de outubro de 2008

MIL PALAVRAS


Dinka de Mapuordit © JVieira

19 de outubro de 2008

MISSÃO-AMOR

© JVieira

Anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos. "Ai de mim afirmava São Paulo se eu não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16). No caminho de Damasco, ele tinha experimentado e compreendido que a redenção e a missão são obra de Deus e do seu amor. O amor de Cristo levou-o a percorrer os caminhos do Império Romano como arauto, apóstolo, anunciador e mestre do Evangelho, do qual se proclamava "embaixador aprisionado" (Ef 6, 20). A caridade divina tornou-o "tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo" (1 Cor 9, 22). Considerando a experiência de São Paulo, compreendemos que a actividade missionária é a resposta ao amor com que Deus nos ama. O seu amor redime-nos e impele-nos rumo à missio ad gentes; é a energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça, a comunhão entre as pessoas, as raças e os povos, à qual todos aspiram (cf. Carta Encíclica Deus caritas est, 12). Portanto é Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem "da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus" (Deus caritas est, 7). Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.

Bento XVI em Mensagem para o Dia Missionário Mundial 2008

18 de outubro de 2008

OLÁ


Sou a Lara Filipa e já tenho dois meses e meio! A minha mãe diz que sou muito traquina, mas acho que não.

15 de outubro de 2008

CAOS

Desde domingo à noite que a rádio Bakhita esteve num verdadeiro caos. A culpa foi do computador que comanda a emissão. O disco rígido avariou e não podíamos usar nem o programa normal nem a alternativa que temos para as emergências.
Ficámos dois dias no ar com música e algumas – poucas – intervenções dos locutores de serviço porque não estavam muito à vontade só com a mesa de mistura e o reprodutor de CDs à disposição.
Esta manhã para ajudar à festa o gerador recusou-se a trabalhar até às 11h00 quando conseguimos detectar a razão da «greve de zelo» do dito cujo: o gasóleo aqui é muito sujo e o carburante tinha dificuldade em passar pelo respectivo filtro.
Agora a situação está quase normalizada. O problema do computador foi corrigido – o técnico cobrou-nos 150 euros depois de seis horas de trabalho. E temos que voltar a carregar centenas de canções que entretanto se perderam. Mas com calma e paciência tudo se consegue – como diz a formiga. E com a ajuda preciosa de um amigo italiano que através da Internet me assistiu com a configuração do programa que usamos.
Uma lição: a tecnologia de ponta é espectacular, mas quando dá para torto é uma autêntica dor de cabeça. E dos quatro combonianos que trabalhamos na rádio eó eu estou em Juba nestes dias, ainda por cima o menos versado em computadores!

10 de outubro de 2008

CARTA ABERTA

Querido Daniel Comboni, meu irmão, meu pai e meu fundador:
São 10h14. Mais ou menos a esta hora há 127 anos falecias em Cartum, a capital deste país enorme, a tua terra santa.
Tinhas só 50 anos. As canseiras, as desilusões e as febres acabaram com a tua fibra robusta. Morreste na África que amaste como o primeiro amor da tua juventude.
Deste-te incondicionalmente a estes povos que amaste como pai.
Hoje o Bispo de Wau, Rodolfo Deng, celebrou a missa na nossa capela. Fez memória de ti como o fundador desta igreja. Falou da tua doação incondicional e do exemplo dos missionários que marcaram a sua infância e juventude.
Hoje voltei a reler as tuas duas últimas cartas: descrevias a morte de (mais) um dos teus colaboradores e na outra a tua preocupação com a tua amiga Virgínia. Fiel aos teus missionários e à amizade até ao fim.
Nas duas cartas terminas com uma referência à cruz.
«Que aconteça tudo o quer Deus quiser. Deus nunca abandona quem nele confia. Ele é o protector da inocência e o vingador da justiça. Eu sou feliz na cruz, que levada de boa vontade por amor de Deus gera o triunfo e a vida eternal».
Estas são as tuas últimas palavras escritas que tesouro como inspiração para também eu poder viver a cruz não como um peso mas como triunfo e vida. Intercede por mim.

PERCA-DO-NILO

© JVieira

Em Juba, em matéria de pescado, ou compramos produto ugandês criado em piscinas ou o que os pescadores tiram do Nilo Branco.
Na nossa casa vamos pelo segundo, porque apesar de tudo, «o que é nacional é que é bom» e por isso preferimos o peixe do nosso rio.
A perca é o peixe mais apreciado – e o mais caro também. Trata-se de um carnívoro feioso que vive de peixes mais pequenos.
A perca do
Nilo, «Lates niloticus», é um dos maiores peixes de água doce e aqui pode chegar a pesar 30 quilos de carne branca translúcida e firme, óptima para grelhar. Dá uns filetes muito bons
O Nilo Branco também dá peixe-gato (bicharoco grandalhão senhor de uns imponentes bigodes – ontem comprei um por 50 dólares), tilápia e outros peixes.

9 de outubro de 2008

DREAMS


There is a story about a fisherman, who lived along the bank of a river. Walking home with his eyes half-closed one evening after a hard day’s toil, he was dreaming of what he will do if he would be rich.
Suddenly his foot struck against a leather pouch filled with what seemed to him small stones. Absent-mindedly he picked up the pouch and began throwing the pebbles in the water.
“When I am rich,” he said to himself, “I’ll build myself a palace.”
And he threw a stone. He threw another, and thought, “I’ll have servants and rich food.”
This went on until only one stone was left. As he held it in his hand, a ray of light caught it and made it sparkle. He realized then that it was a valuable gem, that he had been throwing away the real riches in his hand while he dreamed idly of unreal riches in the future.
Unknown author

8 de outubro de 2008

CALÇAS

As forças da ordem do Sul do Sudão definitivamente têm um grande problema com mulheres que vestem calças.
No domingo, a polícia montou uma rusga em Juba e deteve mais de trinta raparigas por … usarem calças. As jovens eram metidas em camiões como de gado se tratasse – uma testemunha afirmou.
Uma das vítimas disse à repórter da rádio Bakhita que foi espancada pela polícia na altura da detenção e depois na prisão, e teve que pagar 100 dólares de fiança.
A jornalista da Reuters em Juba foi a uma esquadra perguntar porque estavam a prender raparigas e ela própria ficou detida durante duas horas e provou a brutalidade dos agentes da (des)ordem.
A ministra do Género – Gender em inglês, o meu português está a piorar muito bem! – convocou na segunda-feira os jornalistas para exigir a paragem imediata das prisões arbitrárias. Que as liberdades e direitos fundamentais estavam a ser violados. Que a maneira como a polícia tratou as detidas era uma forma de tortura. Que o Sul do Sudão já não é governado pela Charia.
Entretanto, o presidente do Sul do Sudão ordenou a libertação imediata das detidas e exigiu um rigoroso inquérito ao comportamento das polícias.
Parece que na origem da cruzada contra mulheres de calças esteja uma ordem do Comissário do Condado de Juba a proibir manifestações de bandos juvenis chamados «niggers». As raparigas vestem calças e t-shirts muito justas e os rapazes roupas muito largas. Costumam «atacar» festas e outros ajuntamentos, mostrando o rabo - eles, e os seios - elas!
A perplexidade vem do facto de os «niggers» serem bandos mistos e a polícia dedicar-se só à «caça» de meninas. Muitas a saírem da missa dominical!

5 de outubro de 2008

NOVIDADES

© JVieira

Desde 15 de Setembro que a redacção da Cadeia Católica de Rádios Sudanesa tem uma nova jornalista. Chama-se Marvis Byezza, é do Ruanda, tem 22 anos e é licenciada em Direito.
Marvis substituiu Paul Jimbo, um queniano que trabalhava na reacção desde Fevereiro, mas abandonou o trabalho por problemas disciplinares. Tendia a atrasar-se e da última vez que apanhou um raspanete pegou nas coisas e foi-se embora.
Entretanto, a 29 de Setembro a Universidade Católica do Sudão começou a operar em Juba, um sonho que já vinha desde os anos 80, adiado pela guerra civil.
A Católica começou com cerca de 50 alunos no ano propedêutico que têm aulas de inglês, informática, matemática, contabilidade, ética, análise social, lógica e metodologia de estudo.
O coordenador do projecto, P. Michael Schultheis, um jesuíta americano que trabalhou na instalação da Católica em Moçambique e Gana, conta começar a licenciatura de economia e gestão no próximo ano lectivo.
Outras licenciaturas previstas para Juba são Ciências Sociais, Ciências Religiosas e Computação.
Por agora a Católica funciona na Escola Secundária Comboni.
A Católica terá pelo menos mais dois pólos: um em Wau para a faculdade de agricultura e ciências do ambiente e outro para engenharia civil e ambiental em local a determinar.
O padre Schultheis acredita que dentro de cinco anos a universidade seja economicamente auto-suficiente. Os alunos por agora pagam mil dólares por ano.

3 de outubro de 2008

TELEMÓVEIS


© JVieira

Juba está a passar por uma autêntica revolução no campo das telecomunicações com antenas a aparecerem em todas as áreas da cidade.
Quando cá cheguei, há quase dois anos, havia três redes de telemóveis: Gemtel, Sudani e Mobitel.
Gemtel pertence ao ministério das telecomunicações e era a que trabalhava melhor. Tinha – e tem – dois senãos: opera com o código internacional do Uganda e é muito cara. Além disso, os cartões SIM estavam sempre esgotados e eram vendidos no mercado negro por 100 dólares.
Sudani pertence ao Governo e além de fornecer um serviço medíocre, não disponibilizava cartões SIM sem o respectivo telemóvel.
Finalmente, a privada Mobitel tinha um serviço incipiente: uma SMS levava dias a chegar ao destinatário.
Agora tudo mudou! Uma nova rede apareceu em cena: MTN, a maior empresa africana do ramo. As outras companhias sentiram o beliscão e começaram a motar torres para antenas dos serviços móveis para cobrir Juba e arredores.
Entretanto, Mobitel foi comprada por uma companhia dos Emiratos Árabes e também fornece internet sem fios. Os seus serviços melhoraram consideravelmente.
Os cartões da Gentel, embora sejam os mais caros do mercado, já se encontram com facilidade e Sudani começou a vender cartões sem obrigar à compra de telefones dedicados.
E a grande novidade são uns telemóveis chineses que operam com cartões de duas redes diferentes em simultâneo. São uns matacões mas funcionam bem.