17 de novembro de 2008

RETIRO

Nzara à vista

Igreja de Nzara

As irmãs de Nzara

Os meus amiguitos

Candeeiro

Mercado

Funeral de Bibiana

Refugiados © JVieira

Fui para Nzara com um project simples: passar uma semana de descanso e oração. E foi o que fiz.
Nzara é uma aldeia a 25 quilómetros de Yambio, a capital de Western Equatoria. Uma zona verde, com muita chuva. O tempo é bem mais fresco que em Juba.
Os Azandes, os habitantes da área, dedicam-se à agricultura e comércio. A zona é rica em fruta – sobretudo ananás –, alguns cereais, sésamo, mandioca e tem grandes florestas de teca explorada por uma companhia sul-africana.
As Missionárias Combonianas acolheram-me como um irmão e deram-me um quarto num espaço reservado e tranquilo.
Foi tão bom voltar a viver de vagar, simplesmente, usando o candeeiro a petróleo e um balde de água como chuveiro. Voltar a reencontrar o gosto da mandioca frita, trocar saudações alegres com as pessoas com que me cruzava.
Durante o retiro rezei sobretudo a minha vida à luz dos Salmos, a oração milenar de tantos outros crentes. O silêncio e a tranquilidade deram-me o espaço necessário para revisitar a minha história recente e ver nela o dedo de Deus que me continua a conduzir com amor pelos caminhos da vida através de encontros inter-pessoais cheios de significado.
À noite celebrava a Eucaristia com as irmãs. Um momento tranquilo, de partilha. Dois dias, presidi à missa na igreja da missão: usava o inglês e as pessoas respondiam em Azande. As homilias foram traduzidas pelo catequista.
Em Nzara também vi a morte olhos nos olhos.
Através de Bibiana, uma jovem de 20 e poucos anos que morreu no hospital durante a minha estada.
A irmã encarregada do centro de saúde pediu-me para visitar Bibiana e rezar por ela porque estava a morrer. O rosto esquelético, os grandes olhos de dor tocaram-me. Morreu um dia depois. Andava a passear na zona do cemitério quando a sepultaram. O catequista convidou-me a oferecer uma oração. Fi-lo com lágrimas nos olhos. A Bibiana travou uma longa batalha com a SIDA sozinha. A família abandonou-a. Com uma via-sacra daquelas de certeza que está com Deus. E quando alguém morre tem direito a algumas lágrimas.
Através dos refugiados congoleses que visitei. Cerca de 500 pessoas que fugiram ao terror dos rebeldes ugandeses do Exército de Resistência do Senhor – LRA na sigla inglesa – que foram acantonados na fronteira entre o Congo e o Sudão durante as conversações de paz com o governo ugandês.
Os refugiados levaram cinco dias a chegar ao campo onde encontram a cerca de uma hora de motorizada de Nzara. Vivem da caridade da comunidade que os recebeu e que reparte com eles amendoim, mandioca e sésamo. Estão na área há três semanas, mas só tinham recebido ajuda das Missionárias Combonianas que lhes levaram cobertores, sal açúcar e remédios para a malária, gripe e diarreia. No dia que os visitei uma ONG protestante chegou com comida.
Em Nzara choveu quase todos os dias e as trovoadas eram espectaculares. Por isso, tive que passar mais dois dias que o previsto, porque o voo em que devia regressar foi cancelado. Valeu-me um piloto compreensivo que me trouxe para Juba apesar de eu não fazer parte da sua lista de passageiros.
Voltei à vida mais ligeiro, tranquilo e de bem comigo, com a vida e com quem dela faz parte.
As irmãs surpreenderam-me pela maneira como me receberam. Só conhecia uma delas que estava no Uganda a fazer o retiro durante a minha estada na missão. E o que elas fazem é simplesmente espectacular. Mas é tema para o próximo texto que agora já é tarde.

2 comentários:

  1. Fico mesmo feliz por este trabalho por si realizado. Parabéns!

    ResponderEliminar
  2. Adorei ler-te e sentir toda essa serenidade!

    bjt

    ResponderEliminar