11 de junho de 2021

O TRIUNFO DO CORAÇÃO


A devoção ao Sagrado Coração de Jesus nasce do relato da morte de Jesus segundo o evangelho de São João e a sua solenidade é celebrada pela Igreja universal desde 1856. Foi instituída pelo papa Pio IX, o Romano Pontífice com quem Daniel Comboni teve uma relação muito forte.

Os grandes promotores da devoção foram, dois séculos antes, São João Eudes (1601-1680), padre francês que escreveu os primeiros textos para a celebração litúrgica dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria; e Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), monja do mosteiro de Paray-le-Monial, em França, a quem Jesus se manifestou durante 17 anos e pediu uma particular devoção ao seu coração. A basílica da Estrela, em Lisboa é a primeira igreja dedicada ao Coração de Jesus.

A espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus representa o triunfo do otimismo da graça, promovido pelos jesuítas, contra o pessimismo do jansenismo. O Dicionário Michaelis define o jansenismo como «doutrina de Cornélio Jansênio (1585-1638), teólogo holandês e bispo de Ipres, que nega o livre-arbítrio e enfatiza a predestinação, afirmando que a salvação do homem depende da vontade do criador e não da sua disposição para as boas obras». Em sentido figurativo é «ética severa e austeridade, moral e religiosa, extrema».

A contemplação do Coração de Cristo mais que uma devoção é uma espiritualidade: marca o querer e o viver rezado na jaculatória «Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso».

É uma espiritualidade muito atual e missionária: a cultura contemporânea, marcada pelo individualismo narcisista globalizado, precisa de coração para ser uma cultura de vida. Na Igreja, Santa Teresa de Lisieux queria ser o amor. No mundo, os cristãos temos de ser o coração. Que deve palpitar ao ritmo das batidas do de Jesus.

Essa foi a intuição vivida por S. Daniel Comboni. Escreveu: «levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o seu coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus».

O Papa Francisco descreve esse percurso contemplativo com a simplicidade criativa que lhe é própria: «unidos a Jesus, procuramos o que Ele procura, amamos o que Ele ama».

Intitulei esta reflexão «O triunfo do coração». Inspirei-me na revelação da Senhora de Fátima aos pastorinhos a 13 de julho de 1917: «Por fim o meu coração imaculado triunfará». Fátima é a mensagem do triunfo do coração.

Interpretei esta vitória cordial à luz da iconografia oriental em que o coração de Maria é representado pelo Jesus-Menino.

O triunfo do coração de Maria é o triunfo do coração de Jesus. Aliás, esta é também uma intuição comboniana: os dois corações «trabalham» juntos e são corações triunfadores.

Sublinhando o sucesso da duas irmãs que prepararam três escravas para o batismo, Daniel Comboni escreveu no Relatório à Sociedade de Colónia: «Por fim triunfou a graça dos Corações de Jesus e de Maria».

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