12 de junho de 2021

CORAÇÃO MANSO E HUMILDE


Jesus faz-nos uma proposta irrecusável para um percurso de bem-estar integral e holístico:

«Vinde a mim, todos os que estais fatigados e oprimidos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossa vidas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».

Jesus faz esta proposta depois de uma breve oração de louvor ao Pai, porque os pequeninos, mais que os sábios e entendidos, são capazes de acolher a revelação de Deus manifestada n’Ele.

Esta oferta de Jesus ganha uma dimensão gigante na sociedade psicótica em que vivemos. Jesus faz uma oferta concreta aos fatigados e oprimidos, ávidos de repouso para os seus corpos e corações: propõe a mansidão e humildade de coração como remédio para o cansaço e as depressões que afetam a saúde física e mental.

Em 2018, os portugueses compraram mais de 10 milhões de embalagens de ansiolíticos e quase nove milhões de caixas de antidepressivos. Portugal é o quinto maior consumidor de antidepressivos de entre os 29 países da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Numa sociedade neurótica como a nossa, Jesus propõe uma cura natural: um coração manso e humilde como resposta às psicoses e depressões que advêm da cultura altamente competitiva sem normas nem balizas humanizadoras.

O Papa Francisco nota muito sensatamente que «se vivermos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos».

E propõe uma saída: «quando olhamos os seus limites e defeitos com mansidão, sem nos sentirmos superiores, poderemos dar-lhes uma mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis».


OS PASSOS

A oferta que Jesus nos faz tem cinco passos:

1. Vinde a mim…

O primeiro passo que Ele nos propõe é sair de nós, da zona de conforto e das nossas dores, do eu para ir até Ele, da autorreferencialidade para a referência Trinitária, o Deus-família, o Deus-amor.

O psiquiatra Viktor E. Frankl anota no seu livro de memórias de três anos em quatro campos de extermínio nazis que «quanto mais uma pessoa se esquece de si própria — entregando-se a uma causa ou ao amor de outra pessoa — mais humana se torna e mais se efetiva ou atualiza».


2. Reconhecer a fadiga e a opressão

O convite de Jesus é para os fatigados e oprimidos. Para aceitar o seu convite é necessário tomar consciência e nomear a fadiga e a opressão que pesam sobre nós, as suas causas. Algumas são pessoais, outras são institucionais, há ainda as sociais e culturais. O primeiro passo para a cura é assumir a doença.


3. Aceitar o descanso de Jesus

Jesus dá-nos o descanso do seu amor, da sua graça, do seu colinho, da sua paz. Somos livres de o aceitar ou não.


4. Tomar o seu jugo

Nas Escrituras Judaicas o jugo é a Torah, a Lei do Senhor. No tempo de Jesus a Lei estava codificada em 613 prescrições: 365 proibições (mandamentos negativos) e 248 obrigações (mandamentos positivos). Um fardo moral muito pesado na mente e no coração do crente devoto. Jesus resume a Lei no tríplice amor: a Deus, ao próximo e ao próprio. João, inclusive, diz que o amor a Deus se traduz no amor ao próximo. O jugo do Senhor é a canga do amor.


5. Aprender a mansidão e a humildade d’Ele

Jesus diz que o remédio para a fadiga e a opressão que se abatem sobre nós está num coração manso e humilde.

A mansidão de Jesus vem da sua humildade. O apóstolo Paulo insere um hino cristológico na carta que escreveu aos cristãos de Filipos, a cidade do norte da Grécia que foi porta de entrada do cristianismo na Europa. Antes, desafia, em jeito de introdução: «tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Jesus Cristo».

O hino canta o processo de esvaziamento que Jesus empreendeu através do mistério da encarnação: sendo Deus torna-se servo, homem com os humanos, obediente até à morte e morte de cruz. Por isso é exaltado, proclamado Senhor.

O Filho, a Palavra, «humildou-se» e montou a sua tenda entre nós, peregrino com os peregrinos. Ele é o GPS do processo de apaziguamento para a mansidão.

No Sermão do Monte Jesus bendiz e felicita os mansos «porque eles herdarão a terra». 

Celebrar o seu coração é assumir a humildade e mansidão como formas de vida num mundo tão devoto do sucesso individual, da fama, da concorrência sem limites.

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