28 de março de 2021

A MULHER DO PERFUME CARO


A liturgia católica lê a Paixão do Senhor no Domingo de Ramos e na Sexta-feira Santa. O relato é o primeiro esboço do evangelho. Depois foram compilados os ditos de Jesus e, por fim, com esse e outros materiais, os quatro evangelhos oficiais chamados de canónicos, além de muitos outros ditos apócrifos, não autenticados.

Marcos e Mateus iniciam a narrativa da paixão descrevendo dois factos: a decisão dos líderes judaicos de matar Jesus à traição; e a unção do Senhor em casa de Simão, o sofredor de lepra. Lucas coloca a unção — mais desenvolvida e com mudanças de fundo — no capítulo sétimo do seu Evangelho.

O episódio da unção passa-se em Betânia, uma aldeia no cimo da colina em frente a Jerusalém. Ou Lazariya, em árabe, hoje.

Durante a ceia, uma mulher não identificada chega com um frasco de bálsamo de nardo muito caro, invade o repasto, quebra o recipiente feito de alabastro e derrama o perfume sobre a cabeça de Jesus.

Alguns dos comensais ficam indispostos com o gesto da mulher: intromete-se num espaço de homens e apropria-se de um gesto masculino de profetas e sacerdotes a quem cabe ungir a cabeça do rei.

«Podia vender-se este bálsamo por mais de trezentos denários de dar-se aos pobres», disseram, expressando o seu enfado pelo atrevimento da mulher do perfume de nardo.

Trezentos denários, de facto, representam uma fortuna: o salário de trezentos dias de trabalho, o ordenado de quase um ano de dura labuta. 

Jesus respondeu: «Deixai-a! Porque a importunais? Praticou uma boa ação para comigo. […] Ela fez o que podia: antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura».

Esta mulher sem nome e sem palavras, através do gesto amoroso para com Jesus, confessa que Ele é o Messias e revela-lhe o que o espera: a paixão e morte na Cruz.

Jesus entende a mulher, perfeitamente.

Proclama que as boas ações passam pelo serviço aos pobres — que sempre teremos connosco — e pelo reconhecimento da identidade e dignidade de cada pessoa, através da unção com o perfume valioso da ternura, do carinho. De muito amar — como nota Lucas. 

O cuidado terno e amoroso é o que podemos fazer uns pelos outros. Sempre!

Jesus afirma que o gesto da mulher inominada faz parte do anúncio do Evangelho, memória do seu ato profético.

Hoje, e cada vez que se lê a paixão do Senhor!

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