16 de maio de 2020

NO MESMO BARCO


«A PESTE», a ficção que Albert Camus escreveu sobre uma suposta epidemia que fechou a cidade portuária de Orão, na Argélia, impôs-se como leitura obrigatória em tempos de pandemia global.

«Estamos todos no mesmo barco» é o mantra do romance. Aparece por três vezes.

Mais do que no mesmo barco estamos todos na mesma tempestade. Alguns estão em iates enquanto outros bailam em «cascas de noz» ao sabor das correntes.

O romance descreve o confinamento imposto pela peste bubónica e depois pela pneumónica como exílio, solidão, saudade.

Há muitas cenas que nos são familiares: momentos especiais de oração - «a religião em tempo de peste não podia ser a religião quotidiana» –, praias fechadas, doentes sem visitas, valas comuns, hotéis vazios… «A peste mata prazeres», diz-se.

Interessante é o trabalho da sociedade civil que se organiza para ultrapassar a inércia das autoridades, «porque a compaixão é caminho da paz» e «um mundo sem amor é um mundo morto».

Há quem espere que o frio do inverno mate o bacilo e quem faça rios de dinheiro com a miséria alheia no contrabando de bens e pessoas.

O Dr. Bernard Rieux, o médico que dirigiu o combate à peste, escreveu a crónica da cerca sanitária «para não ser um daqueles que mantêm a sua paz, mas devia testemunhar em abono daquele povo atacado pela peste; para que alguma memória da injustiça e ultraje que receberam possa permanecer; e para afirmar simplesmente o que aprendemos em tempo de pestilência: que há mais coisas para admirar nos homens que para desprezar».

Camus tem uma escrita enxuta, cirúrgica, atraente. O filósofo existencialista franco-argelino escreveu a obra em 1947 como uma metáfora dos horrores da Segunda Guerra Mundial.

Recebeu o nobel da literatura em 1957.

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