7 de abril de 2020
BALADAS DO SOFREDOR
O Livro da Consolação da profecia de Isaías contém quatro poemas chamados cânticos do servo do Senhor: 42, 1-7; 49, 1-6; 50, 4-9; e 52, 13 – 53, 12). Estes textos são usados na primeira leitura da liturgia de segunda, terça, quarta e sexta-feira santa.
Quem é o servo sofredor cantado nas quatro baladas? O segundo cântico chama-lhe Israel. Pode tratar-se tanto de um indivíduo ou do povo. A tradição cristã identifica Jesus com o servo.
O primeiro cântico apresenta o servo como o eleito e preferido de Deus com quem anda de mão dada. O servo é não-violento e cheio do espírito do Senhor para levar justiça e luz às nações.
O segundo cântico diz que o servo foi chamado e apetrechado por Deus para restaurar as tribos de Jacob, reunir os dispersos de Israel e ser luz das nações. O servo queixa-se de algum cansaço e desilusão com o seu trabalho.
O terceiro cântico apresenta o servo como ouvidor e anunciador das palavras de alento de Deus aos desanimados. Um anúncio de risco porque pode despertar violência em quem ouve, mas o auxílio do Senhor está à mão.
Finalmente, o quarto cântico parece o guião da paixão de Jesus: fala do servo sofrido, desfigurado, sem beleza, carregador das nossas dores que nos cura pelas suas chagas, o Cordeiro ferido e imolado pelos nossos pecados. Mas verá a luz e justificará a muitos e «ficará satisfeito com a experiência que teve».
Mel Gibson abre o seu filme «A paixão de Cristo» com a citação «fomos curados pelas suas chagas» (Isaías 53, 5) que Pedro introduziu nas Escrituras cristãs usando a segunda pessoa do plural «Pelas suas chagas fostes curados» (1Pedro 2, 24).
Aliás, Pedro inicia o cântico em que insere a citação de Isaías com esta exortação aos escravos: «Cristo também padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos» (1Pedro 2, 21».
Esta é a chave de leitura que proponho nesta estação de sofrimentos indizíveis de pandemia: Jesus cura-nos através das suas chagas; as nossas próprias chagas também podem servir de remédio para outras pessoas. Depende do que fazemos com o nosso sofrimento, sobretudo numa cultura que o nega e esconde.
Daniel Comboni teve uma vida muito dorida devido às dificuldades da missão africana no século XIX e também por causa das más línguas.
Uma semana antes de morrer escreveu: «Que aconteça tudo o quer Deus quiser. Deus nunca abandona quem nele confia. Ele é o protector da inocência e o vingador da justiça. Eu sou feliz na cruz, que levada de boa vontade por amor de Deus gera o triunfo e a vida eterna».
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