25 de abril de 2020

25 DE ABRIL: ANO 46


Há 46 anos estava na Maia, no Seminário dos Combonianos. Tinha 14 anos e frequentava o 4.º ano do liceu. As aulas eram internas e os professores vinham quase todos de fora.

Durante a aula de Geografia – possivelmente a primeira do dia para a minha turma, o professor António Marques perguntou se alguém tinha um rádio a pilhas. Tinha ouvido rumores sobre um levantamento militar em Lisboa.

Um colega foi buscar o aparelho e seguimos o que se passava na capital através da voz do locutor de serviço não sei de que estação em vez da Geografia. Não me recordo como foi o resto daquela quinta-feira.

46 anos depois, celebro o 25 de abril de novo na Maia pela primeira vez. Em casa, confinado, a cantar Grândola vila morena logo de manhãzinha. Também postei a senha da revolução na voz inimitável da Amália – que o Zeca Afonso me perdoe a irreverência.

Recordei também o megacomício que o PS organizou no antigo Estádio das Antas. Não me recordo da data. Os seminaristas fomos autorizados a participar e fomos e viemos a pé. Nessa altura o PS afirmava-se como partido marxista, num pano em letras garrafais no relvado do estádio.

Também fomos a pé ao aeroporto de Pedras Rubras num Primeiro de Maio ver a chegada do Ministro do Trabalho. Éramos novos, os transportes eram caros e as pernas não protestavam.

Em outubro de 1974, fomos frequentar o Liceu da Maia. Recordo as reuniões gerais de alunos – as famosas RGA – e greves. Alguns professores eram muito ativos em matéria de política. Recordo ainda um concerto que Manuel Freire deu no átrio da escola com a sua viola. A Pedra filosofal ficou tatuada na minha memória.

O 25 de Abril foi uma bênção para os Missionários Combonianos.

Dom Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula (Moçambique) e as combonianas e combonianas a trabalhar na diocese escreveram, assinaram e publicaram o documento Um imperativo de consciência a 12 de fevereiro de 1974 a denunciar o sistema colonial.

Uma dúzia de missionários foram expulsos de Moçambique; alguns foram maltratados em manifestações organizadas pela PIDE. O regime fascista preparava a expulsão de todos os combonianos estrangeiros de Portugal e a nacionalização das obras do Instituto. Seria o golpe de misericórdia na província portuguesa.

Nesse 25 de Abril o superior provincial tinha agendada uma reunião com o seu conselho em Coimbra para colocar as propriedades do Instituto à guarda de um bispo. Não pôde passar da saída de Lisboa: a Revolução dos cravos estava em andamento. A autoestrada estava fechada.

Os combonianos continuaram em Portugal e voltaram a Moçambique. E 46 anos depois, celebro o 25 de Abril onde estava nesse dia memorável. Muito mais velho mas com a mesma emoção.

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