23 de janeiro de 2020

ONDAS


As ondas deslizam, enrodilhadas,
sobre o chão líquido
da maré baixa.
Desenrolam-se com estrondo
contra a areia fina
que cicia com a carícia molhada.
Esse vai e vem telúrico
carrega-me a alma,
liga-me ao útero da vida
pelo cordão da brisa salgada.
As ondas devolvem à orla
despojos de náufragos,
conchas partidas que já foram lares,
troncos e ramos de árvores passadas,
restos do lixo
despejado no grande cesto salgado,
detritos de sonhos desfeitos
contra as escarpas da realidade.
Deus fala-me
através da paleta de cores vivas
do sol poente,
rodela de fogo quente
que mergulha, preguiçosa, no mar
sem se molhar
sem se diluir
para voltar a nascer.
Ondas do meu contentamento
levai-me no vento
para lá do horizonte,
até à minha Fonte.

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