Visitei o campo da morte
peregrino pesaroso,
penitente contrito
de coração aflito
no lugar da grande desumanização
dos dois lados do arame farpado,
dos dois lados do fuzil apontado.
Como eu, tantos outros,
novos e velhos
caminham cabisbaixos,
rostos crispados pela memória da morte
nas alamedas da sorte
entre blocos de desnorte,
dobrados pelas milhões de vidas ceifadas,
pelas almas penadas.
O trabalho liberta? A morte liberta?
Não! Só a Verdade nos faz livres
nos diz iguais.
Os óculos, os utensílios,
os cabelos expostos
recordam os milhões de irmãos que ali finaram
vítimas da tirania louca da raça pura.
Os fornos esfriaram
mas os espíritos dos corpos
reduzidos a fumo e cinza
pairam vivos na memória,
na consciência coletiva,
na história.
A carruagem dos animais,
queda, parada junto ao cais,
na paragem derradeira,
traiçoeira,
grita Auschwitz nunca mais.
Compungido, dobro a cabeça
em silencioso respeito
neste campo santo,
lugar de pranto e de espanto,
porque eu sou vítima e algoz,
sou manso e sou feroz,
sou ternura e sou atroz.
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