13 de dezembro de 2018

Celebrar o Natal ENTRE ACOLHIMENTO E CONTEMPLAÇÃO


Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador... encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura (Lucas 2, 11-12).


Caros confrades,

Estamos a aproximar-nos da celebração do grande mistério da Encarnação, surpreendidos e deslumbrados pela luz que vem do presépio. Um mistério que temos que ter sempre presente na nossa vida missionária como fonte de inspiração no processo de inserção em novos contextos e desafios missionários. Começando com Jesus, Missionário do Pai, os missionários sempre tiveram que passar por um processo de encarnação que implica fazer-se pequeno e despir-se de tudo o que possa ser impedimento para acolher novas realidades (Filipenses 2, 6).

Lemos num antigo diário da missão de Omdurman: «Cheguei ontem a Omdurman. Nesta manhã de domingo, muito cedo, acordo com o cântico do muezim a convidar à oração. Mais tarde, tocam os sinos da igreja copta para convidar os fiéis para a celebração do domingo. Levanto-me porque devo acompanhar um missionário veterano do Sudão para celebrar a missa numa capela distante deste centro. Assim começa uma nova etapa da minha vida, no Sudão, onde o Senhor me enviou. Ele guiará os meus passos no meio deste povo, a quem Deus ama e que também se tornará o meu povo.»

Este novo começo da «missão africana» de um jovem missionário remete-nos para todos os nossos confrades que, espalhados em muitas partes do mundo, testemunham o amor de Deus pela humanidade. O encontro dos membros do CG com cada um de vocês, nas visitas às províncias e nos diálogos pessoais, faz-nos tocar com as mãos como Deus continua a sua encarnação hoje entre os povos. A encarnação do Verbo, de facto, não é um evento isolado, circunscrito a um certo tempo e espaço da história. É um processo em contínuo desenvolvimento. A partir do momento em que o Verbo se fez carne, a partir do dia em que os anjos anunciaram esta alegre notícia, Deus continua a encarnar-se «hoje», como no princípio, de um modo surpreendente e único. A nós, que participamos deste evento, é pedida a mesma atitude dos pastores: a capacidade de nos surpreendermos e de nos maravilharmos, deixando que o Mistério nos envolva de Luz e a Palavra construa a sua casa em nós e no mundo.

«Hoje» é cada momento em que Deus se faz presente, o kairos que nos é oferecido e que devemos acolher com alegria, o dia em que «com efeito, se manifestou a graça de Deus» (Tito 2:11). «Hoje» é o tempo do recenseamento na época de César Augusto e também o tempo em que o povo de Israel esperava a realização das promessas de Deus. É o dia em que se constroem muros que nos dividem, mas também é o dia em que que tantas portas se abrem para a vida e para a esperança.

Ao tempo junta-se o espaço, o lugar onde Deus nos surpreende e que sempre será um lugar significativo para nós. Omdurman é como o ícone dos lugares de missão, lugares geográficos, antropológicos e culturais que Deus escolheu para nós. Lugares que serão sempre uma nova Belém, «casa do pão», onde Deus nos desconcerta e nos convida ao assombro. Belém é o lugar da graça, aquele em que nos encontramos e no qual somos convidados a receber o pão que nos é oferecido para partilhá-lo com todos. Não é por acaso que o lugar da encarnação de Deus se chama Belém.

Falar de tempo e de lugar significa falar de povos, culturas, situações concretas, onde cada um de nós se encontra a viver momentos de alegria e de tristeza, de esperança e de desilusão, de paz e de guerra. Estas situações são o dom de Deus que somos chamados a acolher com alegria e esperança, porque é aí que a Palavra se faz carne, que Deus se faz criança, que o primeiro se faz último. Ali todo o nosso ser se perturba e é chamado ao silêncio, respeito e contemplação: «Entrei, e embora o nascimento seja mais alegre que a morte, fiquei mais comovido que no Calvário ao pensar na complacência de um Deus que se humilhou até ao ponto de nascer num estábulo» (Escritos 111).

Com São Daniel Comboni somos convidados a contemplar o Menino, a comover-nos por este mistério e a maravilhar-nos com a ação de Deus no coração da humanidade.

No final deste ano de 2018, o CG agradece convosco ao Senhor pelos eventos vividos em conjunto este ano, como o percurso de Revisitação e Revisão da RV e a Assembleia Intercapitular. Ao mesmo tempo, deseja a todos um Santo Natal e um Ano Novo de 2019 cheio da presença do Menino de Belém que continuará a surpreender-nos nos caminhos da missão.
O Conselho Geral 
Natal de 2018

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