25 de junho de 2018

CARTA ÀS COMUNIDADES


Os coordenadores das actividades de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) das circunscrições combonianas europeias – Alemanha, Espanha, Itália, Polónia, e Reino Unido – estiveram reunidos de 18 a 21 de Junho, em Bressanone, Itália, para reflectirem, entre outras coisas, sobre a missão comboniana na Europa de hoje, partindo do princípio de que a JPIC é o eixo transversal da missão e da presença comboniana na Europa, e para pensarem em elaborar um possível programa comum, neste sector de JPIC, a nível do continente. No fim do encontro,enviaram esta carta às comunidades combonianas da Europa.

Estimados confrades,

Paz e bem desde a Assembleia Europeia de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC), realizada de 18 a 21 de Junho de 2018, na comunidade de Bressanone, em vista de um projecto europeu de presença missionária que tenha a JPIC como eixo transversal.

Foram três dias de partilha intensa sobre a União Europeia (UE), que hoje, infelizmente, é vítima de uma onda negra de racismo e xenofobia da Hungria à Itália.

Juntos, analisamos a UE, que hoje é um dos pilares de apoio do sistema económico-financeiro mundial, com o enriquecimento de poucos e o empobrecimento de muitos. É por isso que este sistema deve armar-se até aos dentes e fazer guerra para proteger o seu lugar privilegiado e a exploração. Quem paga tudo isto é o ecossistema do Planeta Terra que «sofre e geme as dores do parto». O nosso é um sistema de morte que mata pela fome, pela guerra e destrói o Planeta. A consequência são as migrações de milhões e milhões de homens e mulheres (não é uma emergência, mas estrutural ao sistema) que a Europa rejeita «projectando» as nossas fronteiras na Turquia, na Líbia e no Níger.

Infelizmente, pelo menos 34.361 migrantes perderam a vida no Mediterrâneo (destes, sabemos os nomes, segundo o Guardian). Nós, missionários, não podemos aceitar tudo isso, porque choca com tudo o que acreditamos: o Deus da vida que nos ofereceu Jesus para que todos tenham «vida e vida em abundância», não só no Paraíso, mas já nesta terra. Por isso, nós, missionários, somos constrangidos a denunciar o sistema mundial actual, que a Europa está a incarnar. Para nós, a Europa é terra de missão, uma missão que deve incarnar um compromisso sério com a Justiça, a Paz e a Integridade da Criação. É isto o que o Capítulo nos diz em relação ao nosso ser missionário: «Uma via importante para requalificar a nossa presença missionária é a JPIC» (DC '15 n.º45, 3 e 5). Portanto, esta assembleia enfatiza fortemente que esta deve ser a alma e o coração da nossa missão na Europa.

Mas, em tudo isto, não basta a denúncia da injustiça reinante, dos enormes gastos militares, com sempre novas guerras, e da grave crise ecológica. Nós próprios temos de viver como comunidades alternativas ao sistema e empenhar-nos em fazer surgir comunidades cristãs alternativas ao sistema e comprometidas com a vida.

Como Assembleia europeia, gostaríamos de pedir às comunidades combonianas da Europa de serem:

a) Comunidades que vivem uma vida simples, pobre e sóbria, próximas dos empobrecidos e marginalizados, como o Papa Francisco nos pede.

b) Comunidades prontas para uma avaliação séria no campo financeiro, sobre os bancos onde temos o dinheiro (não podemos ter os nossos depósitos em bancos que investem em armas ou jogam na especulação financeira ou têm os seus lucros em paraísos fiscais).

c) Comunidades comprometidas contra os enormes gastos em armamentos, contra todas as guerras e a favor de uma cultura de não-violência activa.

d) Comunidades a porem em prática a Laudato si’ para salvar o Planeta Terra, incarnando todas as sugestões contidas na Encíclica do Papa Francisco.

e) Comunidades comprometidas, em especial, com os migrantes. Esta Assembleia quer agradecer ao Senhor porque tantas comunidades, especialmente na Itália e na Alemanha, abriram as portas para acolher os imigrantes. A Assembleia é grata ao Senhor porque a London Province assumiu uma paróquia em Roehampton (Londres) para trabalhar com os migrantes e a Província de Portugal pelo compromisso na paróquia de Camarate pela mesma razão. A Assembleia encoraja a Província da Espanha, após o fracasso de uma comunidade inserida em Almería, a procurar outro lugar para realizar este projecto, pensado também como projecto interprovincial.

f) Comunidades a trabalhar com todos os outros Institutos missionários que actuam na sua própria região ou nação, para criar uma antena que dê o seu contributo à Africa-Europe Faith and Justice Network (AEFJN) de Bruxelas.

g) Comunidades que incentivam o nascimento, no seu país, do Sanctuary Movement (Movimento-Santuário) dos Estados Unidos (Igrejas e instituições que reivindicam ser lugares de refúgio e asilo político para imigrantes destinados à expulsão e à morte), como fez a comunidade comboniana de Nuremberga (Alemanha).

h) Comunidades empenhadas em fazer ressoar com mais força a posição dos missionários no debate público sobre o acolhimento de migrantes na Europa.

i) Comunidades que promovem um maior envolvimento dos leigos na sua missão na Europa.

j) Comunidades capazes de caminhar com os movimentos populares em matérias de JPIC.

Finalmente, pedimos a todas as comunidades que apoiem a campanha Welcoming Europe (Europa acolhedora), que terá de recolher mais de um milhão de assinaturas em sete países da UE para serem levadas ao Parlamento Europeu para descriminalizar a solidariedade, passagens seguras para migrantes e protecção das vítimas de abusos (www.weareawelcomingeurope.eu).

Para nós, missionários, este é um momento marcante, um Kairos, um tempo fundamental de grandes mudanças que fará irromper coisas novas!

Mãos à obra para que a vida vença.

Bressanone, 21 de Junho de 2018 
P. Munari Giovanni, provincial encarregado
Ir. Haspinger Bruno
Ir. Soffientini Antonio
P. Akpako Théotime Parfait
P. Arlindo Ferreira Pinto
P. Clark John Robert Anthony
P. Pérez Moreno José Rafael
P. Turyamureeba Roberto
P. Weber Franz
P. Zanotelli Alessandro
P. Zolli Fernando

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