28 de julho de 2016

RDC: MISSIONÁRIOS APANHADOS EM MANIF VIOLENTA


Dois missionários combonianos apanharam um susto valente por estarem na hora errada na parte errada de Kisangani, no norte da República Democrática do Congo.

Na segunda-feira o P. José Arieira foi levar o P. Lorenzo Frattini ao aeroporto regional de Kisangani.

Depois de passarem várias barreiras de controlo montadas por manifestantes moto-taxistas, foram envolvidos por uma multidão enfurecida de jovens armados de pedras, paus e barras de ferro.

«Enquanto fazíamos inversão de marcha saltaram-nos para cima do jipe, atiraram-nos pedras, partiram os vidros da parte traseira e lateral direita para além de danificarem a chaparia e as portas traseiras», conta o P. Arieira.

O comboniano de Viana do Castelo que regressou à RD do Congo no ano passado disse que os missionários escaparam ilesos apesar das pedras, dos vidros partidos e da chaparia amassada.

«Felizmente não fomos atingidos mesmo se as pedras caíam ao nosso lado. Também encontramos dentro do veículo parte do cano de uma metralhadora que serviu para partir os vidros».

Os militares entraram em cena e os missionários chegaram ao aeroporto protegidos por uma coluna militar.

Pelo menos dois manifestantes foram mortos e cinco feridos com gravidade pelo exército.

Esvaziaram os pneus dos manifestantes que usavam motas e queimaram os veículos dos que insistiram em furar o cordão de segurança.

Os jovens taxistas manifestavam-se contra o controlo apertado da polícia nacional.

O P. Arieira explica que as moto-táxis em Kisangani são aos milhares.

A maioria é indocumentada.

Na terça-feira o primeiro-ministro deslocou-se de Kinshasa, a capital, a Kisangani para tentar serenar os ânimos.

«A situação continua quente», diz o P. Arieira. «O protesto manifesta o descontentamento deste povo no que diz respeito à situação politica e social.»

Os moto-taxistas ameaçam voltar às ruas se a polícia continuar a importuná-los.

27 de julho de 2016

CARTA DE NUREMBERGA


Missionários Combonianos do Coração de Jesus
Assembleia Continental Europeia da Formação
Nurembergua, 5 – 13 de Julho de 2016
  
À atenção dos Confrades
Comunidades combonianas
EUROPA

É numa atitude de gratidão da Deus e de responsabilidade no serviço que nos foi confiado que vivemos esta assembleia da formação do continente europeu, a primeira depois do Capítulo Geral de 2015. Vivemo-la num clima muito sereno, de oração e de amizade, de escuta do Senhor e de cada um de nós, atentos à nossa realidade social, cultural e religiosa, em continuidade com os encontros precedentes. A presença dos representantes de todas as circunscrições do nosso continente e da direcção-geral fizeram-nos sentir em comunhão com todo o Instituto.

O tema da Assembleia «A nossa formação comboniana como um único processo de crescimento na paixão por Cristo e pelas pessoas» guiou-nos nos momentos de partilha, escuta, oração, discernimento e programação. O serviço ao qual fomos chamados não se limita apenas à promoção vocacional e à formação de base, mas também a ajudar-nos a viver a nossa vocação missionária com alegria e paixão em cada momento da nossa vida. Os jovens sentem necessidade de encontrar missionários que fizeram da missão o seu ideal de vida e que têm paixão por Cristo e pelo seu povo.

E assim, como representantes de todas as fases do nosso processo formativo – da pastoral vocacional juvenil à formação permanente passando pelas etapas de formação inicial – deixámo-nos interrogar pelos desafios que encontramos no nosso serviço missionário. Com alegria agradecemos ao Senhor que continua a chamar tantos jovens à vida missionária segundo o carisma de Daniel Comboni, e agradecemos-lhe pelos nossos candidatos em formação nos vários postulantados, no noviciado europeu de Santarém e no escolasticado de Casavatore.

Pela primeira vez também os coordenadores da formação permanente tomaram parte na assembleia continental: a sua presença ajudou-nos a compreender a importância de continuar a crescer – sempre – num espírito de docibilitas na nossa paixão missionária por Cristo e o seu povo.

A missão esteve muito presente na nossa reflexão, porque é pela missão que nascemos, é pela missão que somos desafiados ao nosso renovamento e é pela missão que nos estamos a formar. As notícias que nos chegam de Juba enchem-nos o coração de tristeza e em comunhão convosco rezamos pelo dom da paz não só no Sudão do Sul mas também em tantas situações de guerra e violência no mundo.

Agradecemos aos confrades da Província de língua alemã (DSP), de modo particular aos da comunidade de Nuremberga, pelo seu acolhimento muito fraterno e pelos muitos serviços que nos foram prestados: tornaram a assembleia num momento de comunhão que nos fez experimentar a alegria e beleza de ser verdadeiro cenáculo de apóstolos.

Agradecemos também a vós por terdes estado connosco com a vossa oração e testemunho de vida alegre. Que o Senhor nos acompanhe no nosso caminho e ajude todos nós a ser sempre discípulos missionários combonianos que vivem a alegria do evangelho no mundo de hoje.

Os participantes da Assembleia continental da Formação (Europa)
Cúria de Roma:      P. John Baptist Opargiw, P. Fermo Bernasconi
Portugal:                P. Leonel Claro, P. Jorge Domingues, P. Victor Tavares Dias
Espanha:                P. Daniel Villaverde, P. Pedro Andrés, P. José Juan Valero
Itália:                     P. Celestino Prevedello, P. Davide De Guidi, P. Rinaldo Ronzani
                               P. Jesús Villasenor (Chuche), Ir. Alberto Parise, Ir. Antonio Soffientini,
                               P. Maurizio Balducci
London Province:  P. Melaku Tafesse, P. Rubén Rocha Padilla
DSP:                      P. Karl Peinhopf, P. Roberto Turyamureeba P. Michael Zeitz, Ir. Friedbert Tremme
Polónia:                 P. Maciej Tomasz


Nuremberga, 13 de Julho de2016 

26 de julho de 2016

CARTA DOS PROVINCIAIS EUROPEUS A TODOS OS CONFRADES DO SECTOR DA COMUNICAÇÃO


Verona, 21 de Julho de 2016
Caros confrades,

Saudações a todos vós da Casa-Madre de Verona onde nos reunimos para um seminário de três dias sobre o tema «Comunicar a missão na era digital». O encontro teve duas partes principais.

A primeira de análise, onde tomámos conhecimento do mundo digital como espaço de comunicação, ajudados por alguns especialistas: Prof. Silvano Petrosino, Ir. Bernardino Frutuoso, Ir. Alberto Lamana, Roberto Misas (por e-mail), P. Fabrizio Colombo, P. Giulio Albanese e P. Arlindo Pinto.

Na segunda parte procurámos delinear algumas pistas operativas, certos de que o mundo digital é imprescindível para dialogar e encontrar os jovens de hoje e um sempre maior número de pessoas.

Entre as prioridades operativas sublinhámos estas:

1. Plano de comunicação. É uma base importante e articulada da qual partir. Permitir-nos-á definir a visão, missão, objectivos, instrumentos e alvo da comunicação comboniana na Europa, em todos os seus aspectos. Para fazer isso foi nomeada uma comissão que preparará um esboço a apresentar em Dezembro aos provinciais europeus e depois, em Maio de 2017, aos participantes da Assembleia dos mass-media em Granada (Espanha).

2. Reforçar a nossa presença no digital. Para comunicar com as novas gerações queremos explorar os formatos «app» a adaptar cada publicação, para ligar smartphones e tablets às páginas WEB.

3. Multimédia. A presença no digital exige o empenho da multimedialidade (vídeo, infogramas, animações, fotos, áudio, etc.) que requer novas modalidades de partilha entre os nossos sítios.

4. Redes sociais e missão. Na perspectiva de lançar uma rede social missionária, auspiciamos que se desenvolva um uso quer pessoal quer institucional das redes sociais já à disposição de todos gratuitamente como Facebook, Twitter, Instagram, etc.

5. Colaboração entre as redacções. Há uma tradição de colaboração entre as redacções, que deve ser ulteriormente incrementada, por exemplo partilhando a programação anual e o plano mensal, e publicando artigos comuns sobre temas relevantes.

6. Internet, angariação de fundos e missão. Os nossos meios de comunicação são uma fonte de sustento económico. A Internet é também um espaço para suscitar solidariedades e recolher fundos para a missão. É preciso explorar as estratégias e as possibilidades que nos são oferecidas pelas novas tecnologias, para que não nos faltem os meios necessários.

Agradecemos-vos pelo vosso serviço e pedimos que nos ajudeis a aprofundar os desafios da comunicação na era digital.

Um abraço fraterno a todos vós.
Os provinciais da Europa

13 de julho de 2016

Sudão do Sul: O QUE ESTÁ ACONTECENDO?


O P. Raimundo Rocha, missionário comboniano brasileiro que reside em Juba, faz o ponto da situação sobre a violência e morte que caiu sobre a capital mais jovem do mundo nos últimos dias de julho.

O clima na capital do Sudão do Sul, Juba, tem estado tenso e houve momentos de intensos combates entre o exército (SPLA-governo) e o exército da oposição (SPLA-IO) por cinco dias seguidos recentemente. Na verdade existem dois exércitos na capital desde abril: um liderado pelo Presidente Salva Kiir (governo) e outro sob o comando do Primeiro Vice-presidente Dr. Riek Machar (oposição).

A vinda do exército de oposição à capital foi em cumprimento do acordo de paz assinado em agosto de 2015 que prevê o fim da guerra e a formação de um governo de unidade nacional entre as duas partes conflituantes, governo e oposição, até as próximas eleições em 2018. Os dois lados estiveram em guerra por mais de dois anos até o acordo de paz de agosto de 2015. Colocar dois exércitos na mesma cidade era talvez necessário como tentativa de busca da paz, reconciliação e governabilidade, mas também um grande risco de enfrentamento.

As tensões surgiram e aumentaram dias antes do dia da Independência, 9 de julho. Parecia que os dois lados estavam só esperando por um motivo para iniciar uma briga ou continuar a velha batalha. Na quinta-feira, dia 7 de julho, um grupo de soldados da oposição foi detido por soldados do governo enquanto faziam patrulhamento pela cidade. As tensões aumentaram e começou um tiroteio entre eles resultando na morte de cinco soldados do governo (SPLA) e soldados feridos da oposição (SPLA-IO). A situação foi logo contida e na sexta-feira, dia 8 de julho, marcada uma reunião para discutir a situação. O Presidente Salva Kiir deveria na ocasião fazer também um discurso à nação, pois era véspera do dia da Independência.

A reunião aconteceu no Palácio Presidencial (J1) com a presença do Presidente Salva Kiir Mayardit, Primeiro Vice-presidente Riek Machar Teny, e o Vice Presidente James Wanni Igga, seus oficiais e segurança pessoal. Centenas de soldados dos dois lados se aglomeram do lado de fora do Palácio Presidencial, ficando dentro somente a guarda pessoal dos líderes e alguns jornalistas.

Por volta das cinco da tarde de sexta-feira dia 8 de julho, um tiroteio intenso foi iniciado do lado de fora do Palácio Presidencial que durou por cerca duas horas. O combate se espalhou por outras partes da cidade. Por volta das sete da noite, quando houve calmaria, o Presidente e Primeiro Vice-presidente falaram em rede nacional e disseram não saber o que estava acontecendo. Os líderes pediram calma à população e disseram que tudo estava sobre controlo.

Ninguém sabe ao certo quem começou a trágica briga. Quando a briga terminou mais de 270 pessoas estavam mortas, incluindo civis. Há quem diga que essa briga teve relações com o incidente de quinta-feira à noite que deixou cinco soldados mortos. Certamente o momento era de muita tensão. Não ficou claro se houve algum atentado direto ao Primeiro Vice-presidente que foi escoltado à sua residência com segurança ainda naquela noite.


Novos combates

Sábado, dia 9 de julho, foi o dia da Independência, feriado nacional, mas sem comemoração por falta de dinheiro. Havia pouca movimentação na cidade. Sentia-se que o ambiente era de tensão, porém não houve nenhum combate nesse dia. No domingo, porém, por volta das 8.30 da manhã iniciaram intensos combates que duraram até a noite. Foram usadas artilharias pesadas em várias partes da cidade, sobretudo nas proximidades da residência do Primeiro Vice Presidente, Riek Machar, que fica próxima a um campo de mais de 28.000 deslocados de guerra e a residência da ONU, em Juba. Os combates continuaram na segunda-feira até a noite, mesmo com o governo dizendo que tudo estava sobre controlo.

Finalmente ao anoitecer de segunda-feira, dia 11 de julho, o Presidente Salva Kiir declarou um cessar-fogo imediato para valer a partir das 18.00h do mesmo dia. O Primeiro Vice-presidente, Riek Machar, ratificou o cessar-fogo e chamou suas tropas para o fim dos combates. Em seguida aconteceu uma aterrorizante meia hora de tiros, a maioria para o alto, e ninguém sabia o que estava acontecendo porque era na cidade inteira. Só mais tarde soube-se que era uma forma de celebrar o cessar-fogo. Desde então não houve mais tiroteio, apenas se escuta alguns tiros esporádicos durante a noite.

Os cinco dias de intensos combates deixaram centenas de mortos, inclusive civis, e quase 40 mil desabrigados que procuraram refúgio nas bases da ONU e nas igrejas ou fugiram para os povoados. Todo esse povo passa por grandes necessidades e a população inteira aterrorizada e indignada com mais guerra quando devia ser tempo de paz. Durante os combates aconteceram saques a residências, a mercados e lojas.


Como está a situação

Desde o cessar-fogo na segunda-feira, a situação no geral em Juba permanece calma, mas ainda se percebe certa tensão. Durante todo o dia de terça-feira (12/07/16) dois jatos de guerra e dois helicópteros armados sobrevoaram a cidade. A residência do Primeiro Vice Presidente foi bombardeada durante os combates, mas ele conseguiu sair antes do acontecido. Há informações de que houve também violência em Wau, Torit, Bentiu, Lainya, Leer e Kajo-Keji no interior do país. Não há confirmação se esses conflitos têm relação direta com a violência de Juba. Também não se sabe se a situação está calma nestas áreas.

As duas forças, SPLA e SPLA-IO, estiveram em Juba como cumprimento do acordo de paz. Depois dos combates a cidade está sobre o controle do governo (SPLA). As forças de oposição eram pouco mais de 1500 homens e tiveram perdas. Os demais estão em um lugar desconhecido com o Primeiro Vice-presidente.

Os civis que fugiram dos conflitos começam a voltar para casa. Algumas lojas reabriram. Há movimento pelas ruas, mas não como era antes. As pessoas se apressam em conseguir alimentos e outros itens. Tudo ficou excessivamente mais caro. Escolas ainda estão fechadas. Já não se ouve mais tiros nem barulho de aeronaves militares nesta quarta-feira.

Muitos estrangeiros deixam a cidade em voos fretados pelas embaixadas ou organizações não-governamentais. As fronteiras estão fechadas para cidadãos do Sudão do Sul. Somente estrangeiros podem deixar o país. Os voos regulares estão cancelados, mas há informações de que reiniciarão em breve. Há somente voos de evacuação. As redes de telemóveis e a internet continuam a funcionar normalmente.

A comunidade internacional e a ONU, como também as Igrejas e outras organizações, condenaram a violência em Juba. Pediram para que seja aberto um corredor para ajuda humanitária para a população atingida pelos conflitos e a reabertura do aeroporto. A ONU condenou a morte de três soldados das forças de paz e os ataques à base de proteção de civis que está sobre sua responsabilidade. Até o momento não se vê nenhuma tipo de intervenção internacional, além das ameaças de embargo a armas contra o Sudão do Sul por parte do Conselho de Segurança da ONU. Se o acordo de paz não fracassou, com certeza sofreu um grande golpe.

Embora a situação esteja sobre controlo e a calma e tranquilidade aos pouco retornam, há dúvidas se o atual cessar-fogo durará por muito tempo. Há temores de que os combates possam ser reiniciados e o país volte à guerra civil mais uma vez e com a participação de várias milícias. A situação está calma, pelo menos em Juba, mas é um pouco volátil e imprevisível.



Situação dos missionários

Há muitos missionários trabalhando no Sudão do Sul. Entre eles estão os Missionários Combonianos e Missionárias Combonianas, que são os pioneiros desde os tempos de São Daniel Comboni. Estes não sofreram violência direta, mas ficaram aterrorizados como toda a população. Os confrontos do dia 8 de julho se iniciaram a 500 metros da Casa Provincial dos Combonianos que fica perto da Residência e Palácio Presidenciais. Nos dias seguintes se espalharam por outras áreas onde residem mais missionários. Por quatro dias ninguém podia sair de casa. As atividades foram canceladas em Juba. Entre os que trabalham no interior, tudo seguia como de costume.

Os missionários resolveram não deixar o país, somente se houver novos combates e a situação se tornar insuportável. A situação continua calma e a expectativa é que as tensões desapareçam e a paz e tranquilidade sejam restabelecidas. Continuamos monitorando a situação e rezando pela paz. Agradecemos a todas as pessoas que se juntam a nós em oração neste momento difícil para o povo do Sudão do Sul.
Pe. Raimundo Rocha, mccj

11 de julho de 2016

ENGENHEIRO DEDICA EURO 2016 A JESUS


O treinador de Portugal dedicou a Jesus o título de campeão europeu que conquistou ontem no Parque dos Príncipes em Paris, França.

Fernando Santos escreveu o discurso de vitória em forma de agradecimento a 18 de julho depois do empate contra a Áustria.

O texto é um enorme testemunho de fé em Deus e nos seus jogadores.

O engenheiro começa por agradecer a Deus-Pai pelo momento que vive e por todos os momentos da sua vida

No parágrafo final, nomeia Jesus como o seu maior amigo e agradece-lhe «o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa.»

O título antecipado? «Espero e desejo que seja para glória do Seu nome.»

É este o grande bem-hajam que leu, emocionado, na conferência de imprensa no final do jogo que coroou Portugal pela primeira vez campeão da Europa:

«Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida. Deixar uma palavra especial ao presidente, dr. Fernando Gomes, pela confiança que sempre depositou em mim. Não esqueço que comecei com um castigo de oito jogos pendentes.

A toda a direcção e a todos os que viveram comigo estes meses. Aos jogadores, dizer mais uma vez que tenho um enorme orgulho em ter sido o seu treinador. A estes e aqueles que aqui não puderam estar presentes. Também é deles esta vitória. O meu desejo pessoal é ir para casa. Poder dar um beijo do tamanho do mundo à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos, ao meu neto, ao meu genro e à minha nora e ao meu pai, que junto de Deus está certamente a celebrar.

A todos os amigos, muitos deles meus irmãos, um abraço muito apertado pelo apoio mas principalmente pela amizade. Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome.»

ANJOS DE MISERICÓRDIA


Em Fevereiro de 1868, Daniel Comboni escrevia do Cairo: «Deus digna-se, em sua imensa misericórdia, marcar a nossa obra com o adorado selo da cruz» (Escritos 1571).

O Ano Santo Extraordinário fez-me reler Daniel Comboni em chave de misericórdia. A Regra de Vida destaca o Coração de Jesus e o mistério da cruz como duas extensões do ADN espiritual comboniano (RV 3-4). Ao preparar alguns temas para este jubileu descobri que a cruz e a misericórdia formam um binómio essencial da espiritualidade comboniana.

O nosso pai e fundador evoca frequentemente o Deus da(s) misericórdia(s) e Maria como «boa mãe de misericórdia» (Escritos 1642). A palavra misericórdia(s) aparece pelo menos 74 vezes na edição portuguesa de Escritos e misericordiosa/o 13. Poucas num total de mais de 905 mil palavras? Talvez! Mas o suficiente para nos fazer pensar e rezar o tema da misericórdia em tonalidade comboniana.

Em 1880, Comboni escreveu num longo relatório sobre uma crise humanitária que devastou a África Central em 1878 e 1879 fazendo milhares de vítimas.

«Estas tremendas calamidades não beliscaram, pela graça de Deus, a nossa coragem nem diminuíram a força do nosso espírito; antes pelo contrário, provas tão duríssimas contribuíram fortemente para que o nosso ânimo se fortalecesse, pondo toda a nossa confiança nesse Deus das misericórdias que nos precedeu no caminho da cruz e do martírio e mantendo-nos firmes e constantes na nossa árdua e santa vocação» (Escritos 6367), nota.

Comboni descreve os colaboradores e benfeitores da missão africana como encarnação da misericórdia de Deus: «A misericórdia divina, graças à exímia caridade dos benfeitores, manteve ainda de pé as árduas e importantes missões do Vicariato e salvou muitas almas atendendo às mais extremas necessidades» (Escritos 6403).

Também vê as dificuldades à luz da misericórdia. A 27 de agosto de 1880, escreve de Verona ao Cardeal João Simeoni, respondendo a uma campanha caluniosa contra a sua administração: «Deus é misericórdia, caridade e justiça, e saberá tirar destas providenciais vicissitudes o maior bem para a África» (Escritos 6098),

Mas a expressão mais estimulante – e a mais brutal no falar de hoje – é a que usou para descrever o P. Nicolau Olivieri como «aquele verdadeiro anjo de misericórdia» (Escritos 4803).

Estas quatro singelas palavras deixam ao léu a nossa identidade mais profunda, a nossa definição mais essencial: verdadeiros anjos de misericórdia. Anjos, não seres assexuados ou alados, mas enviados da Trindade santa e misericordiosa, para serem «misericordiosos como o Pai» (Lucas 6, 39).

Os «verdadeiros anjos de misericórdia» fazem-se em comunidades que sejam genuínos laboratórios de misericórdia já que ninguém, quiçá tirando os políticos, pode dar o que não tem.

Jesus felicita o cenáculo misericordioso de apóstolos: «Felizes os que tratam os outros com misericórdia, porque Deus os tratará com misericórdia também» (Mateus 5, 7).

O Ano da Vida Consagrada desaguou no mar alto e fundo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. O Papa Francisco recordou-o aos consagrados no encerramento do seu ano. Disse: «se, neste Ano da Misericórdia, cada um de vós conseguisse nunca ser o terrorista mexeriqueiro ou mexeriqueira, seria um sucesso para a Igreja, um grande sucesso de santidade.»

Esta é outra dimensão da misericórdia: o ministério da compaixão mútua, dada e recebida na aceitação e acolhimento de cada missionário como presente e bênção de Deus.

Paulo escreveu aos cristãos de Roma: «Amem-se como irmãos e sejam gentis uns com os outros. Trabalhem e não sejam preguiçosos e sirvam o Senhor com dedicação e fervor. Sejam alegres na esperança que têm. Tenham coragem nos sofrimentos e nunca deixem a oração. Repartam com os crentes necessitados e recebam bem os que procuram hospitalidade. Peçam a Deus que abençoe aqueles que vos tratam mal. Peçam para eles bênçãos e não maldições. Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram. Vivam em harmonia de sentimentos» (Romanos (12, 10-16).

Este é o plano de vida de um missionário como Comboni quer: «verdadeiro anjo de misericórdia», porque «as vias do Senhor são misericórdia e Deus charitas est» (Escritos 6582).

Bendizer-maldizer, dizer bem-dizer mal, abençoar-amaldiçoar é a dicotomia com que expressamos a ambiguidade do nosso viver.

Boas férias!

10 de julho de 2016

Sudão do Sul: GERAL DOS COMBONIANOS PREOCUPADO


O Superior Geral escreveu à comunidade comboniana em Juba, Sudão do Sul, a manifestar proximidade, choque e preocupação com os combates mortais entre militares do Governo e da Oposição que desde 7 de julho fizeram mais de uma centena de mortos na capital.

O P. Tesfaye Tadesse escreveu uma mensagem em nome da direção-geral.

«Estamos todos preocupados com os novos confrontos militares, em Juba, nas vésperas do quinto aniversário da Independência do País», disse.

Os confrontos continuaram esta manhã envolvendo armamento ligeiro e pesado bem como meios aéreos em diversas áreas da capital mais jovem do mundo, sobretudo à volta do campo de refugidos da ONU.

«Todos nós nos sentimos solidários convosco, unindo-nos aos vossos sentimentos de desilusão, tristeza e dor por tudo o que está a acontecer», escreveu o missionário etíope.

E continuou: «Estamos todos chocados com a amoralidade das pessoas no poder que não pensam no bem comum e na paz para as populações do Sudão do Sul, as quais já viram e sofreram o suficiente, por causa da guerra nas últimas décadas.»

O superior-geral agradeceu o testemunho dos missionários no Sudão do Sul, terra santa dos combonianos.

«Obrigado por estardes a fazer causa comum com o povo do Sudão do Sul. Que Deus conceda a paz a este País! Que pela intercessão de Maria, nossa Mãe, e de São Daniel Comboni o Sudão do Sul venha a obter uma paz duradoura», escreveu.

O P. Tesfaye prometeu  orações pelas partes em conflito.

«Rezamos para que Jesus, o Rei da Paz, oriente os corações dos políticos e dos oficiais do exército para que deponham as armas e se sentem à mesma mesa para dialogar.»

O Sudão do Sul vive em guerra civil desde 15 de dezembro de 2013. Em agosto do ano passado o presidente Salva Kiir Mayardit e o ex-vice-presidente Riek Machar Teny assinaram um acordo de paz.

Confrontos entre as tropas fiéis a Kiir e a Machar continuaram um pouco por todo o país de Kajo Keji, na fronteira com o Uganda, a Wau, perto do Sudão e de Yambio, na fronteira com a RD Congo a Maguwi, junto ao Quénia.

Em abril o Dr Machar regressou a Juba e tomou posse como primeiro vice-presidente do governo transitório de unidade nacional.

Na quinta-feira, 7 de julho, um tiroteio entre tropas das duas facções num posto de controlo de Gudele, no norte de Juba, matou cinco militares do Governo.

Na sexta-feira 8 de julho, mais de uma centena de pessoas foram mortas – sobretudo militares – quando as duas forças se envolveram em violentos combates à volta do palácio presidencial onde o presidente, o primeiro vice-presidente e o vice-presidente discutiam o incidente do dia anterior.

No sábado, 9 de julho, 5º aniversário da independência do país, Juba esteve calma.

No domingo, 10 de abril, a capital acordou com disparos ligeiros e pesados em várias partes da cidade. Os combates, envolvendo helicanhões, continuaram durante o dia.

A arquidiocese de Juba cancelou todas as missas dominicais nas três paróquias da cidade para as pessoas se manterem em casa.

Um membro da comunidade de Juba garante que os missionários estão bem.

O governo formou um comité para investigar os incidentes.

A ONU e a União Africana condenaram os combates e exigiram às partes em conflito o que parem as hostilidades.

9 de julho de 2016

Sudão do Sul: CINCO ANOS SEM GRAÇA

Machar e Kiir durante a conferência de imprensa de 8 de julho:
«A violência foi infeliz!»

Há cinco anos estava em Juba a cobrir a cerimónia da independência e a participar no júbilo e na esperança de um povo que esperou meio século e sofreu duas guerras civis sangrentas contra o regime de Cartum para celebrar a sua autonomia e dignidade.

A lua-de-mel da independência durou meio ano. O Sudão queria continuar a usufruir dos proventos do petróleo sul-sudanês que o exportava através dos seus oleodutos. Juba suspendeu a produção e a economia do país caiu a pique.

O governo desperdiçou o capital de simpatia que tinha conquistado na comunidade internacional com a corrupção e nepotismo. Ainda estão por encontrar mais de 4 mil milhões de dólares que sumiram no buraco negro das contas privadas dos governantes e afins.

Mas o pior estava para vir: uma disputa pelo poder dentro do partido dominante ,o SPLM, lançou o país numa guerra medonha contra si próprio: começou a 15 de dezembro de 2013 como uma disputa entre soldados dinka e nuer em Juba, alastrou-se a todo o país e terminou em agosto de 2015 com um acordo de paz entre o Presidente Salva Kiir Mayardit e o seu opositor ex-vice-presidente Riek Machar Teny.

O balanço é medonho: entre 50 e 300 mil mortos, 844 mil refugiados, 1,6 milhões de deslocados internos. O país está na bancarrota e inflação ronda os 295%. Os relatórios produzidos pela União Africana e pela ONU são uma narrativa de violência crua e nua sobretudo contra a população civil.

Este ano o governo decidiu que não havia celebrações dos 5 anos de independência por falta de veba.

Os militares, contudo, fizeram a festa à sua maneira em dois atos: a 7 de julho, num posto de controlo dos soldados do governo em Gudele, um bairro no norte de Juba, houve tiroteio com os soldados da oposição. O governo diz que perdeu quatro homens.

Os dois lados do conflito apresentaram versões diferentes do incidente.

No dia 8 à tarde, a presidência reuniu-se no J1, o palácio presidencial. O Presidente Salva Kiir Mayardit, o primeiro vice-presidente Riek Machar e o vice-presidente James Wani Igga reuniram-se para discutir o tiroteio da noite anterior. Sem se saber porquê, os soldados recomeçaram aos tirou com armamento ligeiro e pesado lançando o pânico entre a população.

«Dezenas morreram», dizem os média. Passam da centena os corpos contados à volta do palácio presidencial e na morgue do hospital.

A reunião acabou com os três líderes a pedir calma e ordem na cidade na véspera da independência.

Qual é o futuro para o país mais jovem do mundo? Não tenho nenhuma bola de cristal para ler o que ainda não foi escrito. Mas com esta liderança o país não vai a lado nenhum. Parece que os falcões por detrás do presidente não querem perder o poder que conseguiram e tudo tentam para descarrilar o processo já tão anoréxico de paz…

Os sul-sudaneses merecem melhores líderes.

7 de julho de 2016

CASA DA MÚSICA


Eles sabem que a música comanda a vida!


Quinze anos de África, na Etiópia e no Sudão do Sul, chegaram para entender que, no continente, a música, o ritmo e a dança comandam a vida do nascimento à morte.

A vivência de oito anos com duas etnias etíopes – Gujis e Guedeos – deu para descobrir as diferenças entre a música tradicional das comunidades de pastores e de agricultores. A primeira é física, repetitiva e monótona até à exaustão; canta sobretudo o gado e as suas bondades. A segunda é criativa, elaborada e variada nas melodias, ritmos e movimentos. Um ouvido atento descobria quem batucava nas noites de luar. Mas há um ponto comum: a música é o condimento essencial da vida, nas alegrias e nas tristezas.

Os sete anos de rádio no Sudão do Sul abriram-me ao espaço amplo da música africana: dos sons que se elevam da solidão dos desertos como lamentos às melodias românticas melosas da Etiópia e do Sudão, passando pela exuberância rítmica das guitarras eléctricas da República Democrática do Congo e da música comercial que se faz um pouco por toda a parte.

Encanta-me a música africana e trago mais de 30 álbuns no meu MP3: do Sudão à África do Sul, de Cabo Verde à Somália. Gosto dos ritmos, das combinações de instrumentos tradicionais com os electrónicos – como fazem os Azandes no Sudão do Sul, das vozes, dos instrumentos simples… São paisagens sonoras que descansam, revitalizam, refazem. A música tradicional tigrinha, da Eritreia e Norte da Etópia, usa o batimento do coração como cadência dos tambores de dança.

Tenho os meus preferidos: no topo estão a Cesária Évora e a música cabo-verdiana: as mornas e as coladeiras respiram vida, encanto, sentimento. Sodade não deixa de me emocionar. Recordo o arrepio que senti ao visitar uma galeria de arte em Halifax, no Canadá, com Cesária em fundo musical.

Mas há mais! Começo pela África do Sul: Lucky Dube, autor reggae do quotidiano assassinado aos 43 anos; Miriam Makeba, ou Mama Africa, que conjugou a música com a militância anti-apartheid; Ladysmith Black Mambazo, coro masculino caracterizado pelas vocalizações polifónicas muito trabalhadas; e Soweto String Quartet, num registo mais clássico, são os meus favoritos.

Também gosto da música que se faz na Etiópia, Eritreia e Sudão (étnica, jazz e comercial) e tenho uma predilecção especial pelos sons do Mali pelos efeitos acústicos dos instrumentos tradicionais. Ali Farka Touré e Oumou Sangaré são os meus preferidos. Também gingo com os ritmos exuberantes da bacia do Congo.

Depois há a música religiosa, uma indústria florescente e importante, por exemplo, na Etiópia, Quénia, Uganda e Tanzânia, que se impõe pela qualidade e que compete com a música comercial nos escaparates das lojas oficiais e nas bancas de CD copiados dos vendedores ambulantes. O Gospel Countdown, que passava a música religiosa mais pedida pelos ouvintes, era dos programas com mais audiência nos domingos da Rádio Bakhita, em Juba, no Sudão do Sul.

A música africana é uma proposta boa para degustar no tempo mais descansado das férias. Que tal uma imersão nessas sonoridades tão cheias de vida? Boas férias.