29 de setembro de 2012

CENA


Três personagens: um arbitro (Tenente James Alier Michael) e dois jornalistas (Maker Wien Buk que escreve para o jornal Tisa Yuliyo e Majdi Suleman que cobre desportos para o diário Al Masier; os dois jornais são publicados em árabe).

Cenário: Estádio de Futebol de Juba, sexta à tarde durante o intervalo entre um jogo da segunda divisão e outro da primeira.

A cena: o árbitro Alier fica ofendido com a crítica de Majdi ao seu trabalho e decide ajustar contas.
No intervalo dos dois jogos os dois jornalistas descem as escadas da bancada. Alier, por trás, parte um pau nas costas de Maker e dá-lhe um murro na cara. Alier tenta agredir Maker com uma cadeira mas Majdi intervém e evita o pior.
Maker recebe tratamento no posto médico no estádio. Os dois jornalistas veem o jogo da primeira divisão.
No final do jogo, o árbitro Alier reaparece no estádio, vestido de tenente e armado, para voltar a tirar satisfações de Maker, mas é impedido por populares.
Maker vai ao hospital, pede um relatório médico e apresenta queixa na polícia.
Majdi lamenta que o camarada tenha apanhado forte e feio por uma coluna que ele escreveu. Mas safou-lhe as costas de uma cadeirada.

O pormenor: Alier é um dos dois árbitros que a Associação de Futebol do Sudão do Sul propôs para receber a insígnia da FIFA!
Camaradas do desporto internacional, tomem nota e vejam lá como avaliam as atuações do senhor Alier.

28 de setembro de 2012

ACORDOS

O Sudão do Sul e o Sudão assinaram na quinta-feira, 27 de Setembro, nove acordos sobre questões pendentes pós-independência depois de meses de negociações arrastadas e do risco de guerra eminente em Abril.
Os Presidentes Salva Kiir Mayardit do Sudão do Sul e Omar al-Bashir do Sudão estavam em Adis-Ababa, a capital da Etiópia, desde domingo, num esforço derradeiro para desbloquearem as negociações que decorreram sobre a mediação da União Africana.
Em Maio, o Conselho de Segurança da ONU disse aos dois países para terminarem as negociações até 22 de Setembro ou sofrerem sanções não militares.
Os nove acordos incluem petróleo, estatuto de nacionais, fronteiras, cooperação, banca, comércio, dívida externa, pensões e segurança.
Dezasseis comités, subcomités, comissões e missões conjuntas foram criados para implementar os oito acordos.
De fora ficou a questão quente de Abyei, uma zona habitada por Sulistas que em 1905 escolheram ser administrados a partir do Norte. O acordo de paz de 2005 previa que os residentes – na maioria Dinca Ngok – escolhessem em referendo pertencer ao Sudão ou ao Sudão do Sul. As tropas de Cartum invadiram duas vezes a região que é rica em petróleo e pastagens, destruíram a cidade e puseram os mais de 100 mil habitantes em debandada. As partes comprometeram-se a continuar a negociar o dossiê de Abyei.
O acordo mais substancial é sobre o petróleo e outros assuntos económicos relacionados, que possibilita o reinício da exploração vital de crude.
O Sudão do Sul vai pagar ao Sudão uma média de dez dólares por cada barril de petróleo que exporte através da infraestrutura sudanesa mais uma compensação de 3.028 mil milhões de dólares.
O acordo possibilita o relançamento da economia nos dois países: o Sudão do Sul suspendeu a extração do crude em Janeiro devido a desacordos sobre tarifas com o Sudão e lançou a economia das duas nações em depressão. No Sul, está em vigor um orçamento de austeridade que cortou nos serviços e também nos salários, criando um clima de descontentamento entre a população que tem cada vez menos dinheiro para sobreviver numa economia muito inflacionada.

20 de setembro de 2012

ABOLIÇÃO


Cardeal Gabriel Zubeir, Arcebispo de Cartum e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos do Sudão 
© JVieira

A Família Comboniana no Sudão do Sul pediu aos bispos dos dois Sudãos, reunidos em Juba em assembleia plenária, para fazerem todo o possível a fim de se chegar à eliminação da pena capital no Sudão do Sul.

A missiva diz:

Re: Abolição da pena de morte no Sudão do Sul
Queridos Arcebispos, Bispos e líderes de diocese,

Saudo-vos a todos no nome de Jesus Cristo desejando-vos paz e alegria.

Nas últimas semanas, o Sudão do Sul reiniciou o enforcamento de prisioneiros no corredor da morte: pelo menos quatro homens foram executados em Juba e um em Wau.

O Papa Bento escreve em Africae Munus: «Com os membros do Sínodo, chamo a atenção dos responsáveis da sociedade para a necessidade de fazer todo o possível a fim de se chegar à eliminação da pena capital» (AM 83).
A Constituição Transicional do Sudão do Sul no Artigo 21 põe algumas restrições à pena capital. O texto diz:
21. (1) Nenhuma pena de morte pode ser imposta, excepto como punição para ofensas extremamente sérias de acordo com a lei.
(2) Nenhuma pena de morte deve ser imposta a uma pessoa com menos de dezoito anos de idade ou com mais de setenta;
(3) Nenhuma pena de morte é executada em mulheres grávidas ou lactantes, exceto depois de dois anos de aleitação.

Acolhendo a exortação do Papa Bento para fazer todo o possível a fim de se chegar à eliminação da pena capital, eu apoio a iniciativa da Família Comboniana no Sudão do Sul que propõe que a Assembleia plenária da Conferência dos Bispos Católicos do Sudão:
  1. Escreva uma carta ao Presidente Salva Kiir Mayardit a pedir uma moratória às execuções no Sudão do Sul;
  2. Escreva uma petição a Comissão de Revisão Constitucional a pedir a abolição da pena de morte na Constituição Permanente do Sudão do Sul;
  3. Peça às comissões diocesanas de Justiça e Paz que façam campanha para abolir a pena de morte no Sudão do Sul em parceria com grupos humanitários e da sociedade civil local.

Agradecid@ pela vossa atenção
Voss@ em Jesus, o nosso Antepassado

Para assinar a petição
carrega AQUI e preenche os campos da direita:
Campo 1: Nome
Campo 2: Apelido
Campo 3: direcção electrónica
Campo 4: Rua
Campo 5: Cidade
Campo 6: Procura o país na lista
Campo 7: Código Postal
Campo 8: Razãos que te levaram a assinar a petição

OBRIGADO! SHUKRAN!

17 de setembro de 2012

90 ANOS

Ir Valentim e Dom Paolino cortam o bolo de aniversário © JVieira

O Irmão Valentino Fabris completou hoje 90 anos e a comunidade fez-lhe uma surpresa: convidou o Arcebispo de Juba, o comboniano Dom Paolino Lukudu Loro, a presidir à missa de ação de graças pela sua vida longa e frutuosa.
O Ir. Valentino disse-me que o segredo da sua longevidade de deve aos genes que herdou da família e à moderação no comer e no trabalhar.  Sublinhou que preferia trabalhar com a gente a matar-se sozinho só para ter fama.
Chegou ao Sudão antes do Natal de 1948 e por cá tem estado exceto durante sete anos em que trabalhou na formação de novos irmãos na Itália.
Ele disse que durante os 57 que viveu nos dois Sudãos ele tentou ajudar as pessoas a melhorarem a vida e o país através do ensinamento de artes e ofícios.
O Ir Valentino disse que o que o faz sofrer é ver gente a passar fome numa terra de abundância.
Sublinhou que a independência do Sudão do Sul, a 11 de Julho de 2011, foi necessária e não havia outra maneira para manter a paz entre as duas nações.
Durante a homilia, Dom Paolino salientou que há pouca gente que consiga chegar aos 90 anos com a vitalidade do Ir. Valentino.
 Ele sublinhou que o Irmão Valentino é um caso único pela idade e pelos anos que passou no Sudão. A idade não torna as pessoas inúteis mas continua a ser tempo de Deus.
Deus deu ao Ir. Valentim uma longa vida para a missão no Sudão, rematou.
A celebração culminou com um jantar partilhado com as irmãs combonianas, que vivem na Casa Comboni, com o arcebispo, o secretário privado e o guarda-costas, e a comunidade dos combonianos, além de algumas visitas.
O Ir Valentim continua a cuidar do recinto da Casa  Comboni e da manutenção dos edifícios.
No fim do dia – e apesar da surpresa – não perdeu a alegria. E gostou de saber que houve um número de gente que lhe enviou os parabéns através da minha página no Facebook.

13 de setembro de 2012

MILAGRO EN CD. QUETZAL


Fue muy emotivo el encuentro entre la madre y la hija después de largas horas de angustia y tensión. 

El incidente se verificó muy de mañana.  Estábamos en la capilla, después de la oración de la mañana cuando escuchamos unos gritos angustiosos.   Toquidos persistentes a la puerta.  Conmoción, gritos... "Me la arrebataron de las manos, no pude hacer nada...  Se fueron por ahí, una camioneta verde, eran cinco llamen a la policía, que los sigan, que no se la lleven...." 
Los vecinos salen de las casas, la mamá se sienta en el umbral de nuestra puerta.  "Mi niña, mi hijita."  Secretaria de nuestra parroquia, madre de dos hijos.  Ella misma fue violada, esta niña se dice fue fruto de ese incidente catorce años atrás. 
La chica iba al Instituto junto con una amiga de la familia.  Al salir de la casa, una camioneta parqueada cerca de la casa arrancó, les salió por otra calle y las abordó.   Preguntaban por una dirección y antes de que las dos jóvenes tuvieran tiempo de alejarse, empujaron a la acompañante de la chica --una maestra joven-- y forcejeando subieron a la chica a la camioneta.  "Me levanté como pude y intenté jalarla, pero me la arrebataron de nuevo...Se llevaron a mi nena.  Me la arrebataron", lloraba angustiada la maestra, amiga de la madre.
Toda la comunidad se movilizó, las llamadas se multiplicaron... "Si los ven pasar, avisen a la policía, una camioneta verde, placas.... la secuestraron."
El maestro de computación del Instituto en el que estudiaba la chica, inmediatamente puso la alerta en las redes sociales.  Y en el curso de la mañana, no se hablaba más que de eso en la zona y las comunidades.
Por la violencia presente en el área, Ciudad Quetzal, periferia de la Cd. de Guatemala, es designada como área roja. Mucha es la gente que ha tenido que cerrar negocios y abandonar su casa por la extorción. El ser chofer de bus o taxista es participar de un trabajo peligroso por la cantidad de hombres que han sido asesinados por no pagar la extorción exigida. Crece la presencia de la droga y del crimen organizado.  El área de Ciudad Quetzal es compuesta de más de treinta colonias y nueve comunidades indígenas. Se estima que la población es alrededor de 150,000 personas.   Las noticias del día de hoy hablaban de varios casos de secuestros a chicas, entre trece y quince años.  Se reportaba que una fue encontrada muerta, cerca de un río de aguas negras... Muchas más reportadas como desaparecidas.  Silencio en tantos otros casos similares.
"Que ya le pidieron rescate, pusieron un precio... que vaya sola... que no avise a la policía."  Nos llegaban las noticias con el correr de las horas.  El Párroco, nosotras las hermanas, y toda la comunidad al pendiente de cualquier indicio que ayudara a recuperar a la joven.
Pero la señal de alerta ya había sido sonada.  Y la madre siguió una y otra pesquisa que la llevara a su hija.  Varios cuerpos de policía se movilizaron, agentes especiales vinieron a la casa de la joven, indagaciones de continuo... la policía rondando el área.  No pueden haberse ido muy lejos. 
Por la noche, vamos a una pequeña comunidad.  El sacerdote en la misa, pide por esta chica y otras seis, que fueron secuestradas en la semana, todas de esta misma zona.  Se teme algunas ya hayan sido asesinadas.  Pero no se tienen noticias, ni se han encontrado los cadáveres.   Es común que familias de adolescentes secuestradas se amedrenten y callan.  "Si avisan a la policía, si no me entregan esta cantidad, la matamos."   
El caso de esta chica fue diverso.  Algunas personas claves de la comunidad se enteraron de su desaparición e inmediatamente se hizo pública. 
La gente reza y se moviliza.  "Que no llegue la noche sin que la encuentren. "  Yo pido a Sta. Bakhita que proteja a estas chicas.  Esta santa sudanesa también fue raptada y torturada un sin fin de veces.  "Intercede por ellas, tú sabes lo que se siente."  
Regresando a casa, una hermana nos da la alegre noticia.  "La encontraron.... La chica ya está en su casa".   Vamos de inmediato a verla, vive a una cuadra de nuestra casa.  La gente de todas las comunidades, algunas un poco lejanas, se dió cita ahi para saludarla, abrazarla.
Al parecer el chofer de la camioneta de secuestradores sintió compasión.  "Yo también soy padre, va, regresa a tu casa,"  le había dicho después de llevarla por una zona no muy lejana.  Encontrándose sola, libre, sin poder creer lo ocurrido, después de horas angustiosas, la chica consigue tomar un taxi y regresa a casa.
Al poco rato llega la mamá, quien desde la mañana no paró de rodear las colonias circunvecinas, valles y veredas de Cd. Quetzal y los alrededores, buscando a su hija. 
Entra a casa corriendo, gritando, "Dónde estás hija?" grita mientras corre con los brazos extendidos para abrazar a la chica.  Se abrazan,  "hija, te amo, ¿qué te hicieron? Dime que no te hicieron nada."  Se abrazan, se besan, hablan en secreto.  Las dos lloran.  Hay lágrimas en los ojos de todos los presentes.  "No importa lo pasado, hija... todo sucede por una razón.  Lo importante es que estás aquí, de nuevo, que estamos juntas."  Y permanecen abrazadas por un buen tiempo.  Una niña de apenas dos años abrazaba una pierna de cada una, uniéndolas con su inocencia e ingenuidad.
"Recemos un Padre Nuestro en gratitud a Dios que le ayudó a volver".   Dice la maestra, amiga de la familia, quien desde la mañana no ha parado buscando a la chica.  Se hace un silencio reverencioso.  Luego todos recitamos el Padre Nuestro, y rezamos a María... "Dulce Madre, no te alejes....  María, cúbrenos con tu manto..."
La mamá y la chica, sentadas, lloran de felicidad y gratitud.  "Mira, has reunido a más gente que un futbolista" le dice la hna. Sandrita con su habitual buen humor.   Todos los presentes ríen, la tensión se disipa un poco.  La madre agradece a Dios por la fortaleza y la solidaridad de la gente. 
"Mi buen Dios, mi santa madre que la protegió con su manto... y ustedes que no nos dejaron solas..." La gente sigue llegando, al salir nos encontramos con otro grupo.  Hay gente dentro, fuera de la casa, por todas partes, convocados todos por la gran alegría de haberla recobrado. 
"Yo sí creo en la rosa de Guadalupe" dice una.  "Aquí hoy se ha obrado un milagro...", añade otra.  "Qué clase de bienvenida te da la comunidad, tanta violencia", me dice una chica. 
Para mí esto es el milagro de la unidad de un pueblo sufrido, milagro obrado en la oración y en la acción.  Una evidencia contundente de que es posible vencer al mal y cantar con gratitud al caer la noche.  Es posible.  Fue posible en el caso de esta chica.  Que lo sea también en el caso de tantas otras víctimas, de sus familias que aún lloran y después de tanta angustia, les duele hasta la esperanza.
 Cecilia SIERRA S., Misionera Comboniana en Guatemala

11 de setembro de 2012

A NOVA FRONTEIRA DOS EUA



A China lidera a cooperação na África, mas a América do Norte continua a fortalecer a presença militar no continente, a nova fronteira do combate ao terrorismo internacional.

Celebrei o primeiro aniversário da independência do Sudão do Sul em Nzara, uma cidadezinha nos confins do país, junto à fronteira com a RD Congo. Na tribuna VIP, entre os dignitários, encontravam-se uma meia dúzia de militares norte-americanos. Eram membros de uma força de mais de 3,000 soldados do Sudão do Sul, Uganda, RD Congo e República da África Central que, desde Março, tenta neutralizar Joseph Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA na sigla inglesa), rebeldes norte-ugandeses que espalham o terror pela região. O combate ao LRA pode ser uma operação de charme para cobrir envolvimentos mais questionáveis dos militares dos Estados Unidos na África.
Os Estados Unidos estabeleceram a primeira base militar na África em 2003, no Campo de Lemonnier, no Djibuti, para fortalecer a segurança e estabilidade na região e proteger os interesses norte-americanos. O Comando Norte-americano na África – AFRICOM – foi oficialmente criado em 2007, com sede na Alemanha. Hoje os norte-americanos têm cerca de 2000 soldados na base de Lemonnier e mantêm presença militar em cerca de 40 países africanos, incluindo Etiópia, Sudão do Sul, Uganda, Seicheles, Burkina Faso, RD Congo, República da África Central, Burundi, Libéria e Mali. A sua presença irá expandir-se ao Quénia e Egito.
O AFRICOM tem duas missões: fortalecer as capacidades de defesa dos países amigos – faz exercícios militares conjuntos com Marrocos, Camarões, Gabão, Botsuana, África do Sul, Lesoto e Senegal, ao mesmo tempo que treina as forças da Argélia, Burkina Faso, Chade, Mauritânia, Níger e Tunísia em táticas anti-terrorismo; assim como combater ameaças à América e aos interesses americanos provenientes de membros da Al-Qaeda e de outros movimentos extremistas em África. Os Estados Unidos operam uma rede de vigilância e combate com pequenos aviões não tripulados – os «drones», a arma de eleição da administração Obama contra terroristas – a partir do Djibuti, Etiópia, Seicheles e Burkina Faso. O objectivo alegado é controlar a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, Boko Harem na Nigéria, Ansar Dine no Mali, Al Shabaab na Somália e Al-Qaeda no Iémen. Também usam aviões civis de vigilância e caças F15.
Os Estados Unidos retiraram do Iraque, embora ainda mantenham no pais uma força de segurança significativa, estão a fasear a saída do Afeganistão, mas continuam a fortalecer a presença militar em África para confrontar o terrorismo internacional nas novas fronteiras marcadas pela administração Obama. Mas, como é evidente, estão igualmente em jogo interesses económicos e motivos geoestratégicos.