31 de março de 2012
IR. AUGUSTO
O Irmão Augusto Lopeta, decano da Congregação dos Irmãos de São Martinho de Porres, morreu inesperadamente esta manhã depois de uma curta doença.
O Ir. Augusto teve alguns problemas de rins e de pressão arterial e depois apanhou malária e tifo ao mesmo tempo e faleceu esta manhã em Juba.
Andava nos oitenta e era irmão há 56 anos.
O Arcebispo Paolino Lukudu Loro de Juba presidiu à missa exequial.
O presidente da república Salva Kiir Mayardit encontrava-se entre a assembleia que participou na missa de despedida do Ir. Augusto.
O seu corpo foi a enterrar ao fim do dia no cemitério da missão de Rejaf.
O Ir. Augusto pertencia à tribo toposa e gostava de colocar a coroa de penas de avestruz, típica da sua gente em ocasiões de festa. Também tocava uma pequena flauta feita da ponte de um corno de antílope
Era um homem charmoso, alegre e bem disposto. Saudava-me com bufos de ar na cara à boa maneira toposa.
Está no céu a interceder pela Igreja e pelo Sudão do Sul.
24 de março de 2012
CORRIDA
A corrida das rádios de Juba vista pelo cartoonista do Citizen.
South Sudan Radio é a estação do Governo: velha e mal equipada.
Rádio Bakhita, da arquidiocese de Juba, e Miraya, da operação de paz das Nações Unidas são líderes de audiências em Juba.
A Bakhita foi começada e desenvolvida por Cecilia Sierra, uma freira comboniana do México que entretanto regressou ao seu país.
Desde Dezembro, o novo diretor é um leigo sul-sudanês, Albino Takwaro, com longa experiência na gestão de estações FM privadas.
Eu tive um papel ativo durante os primeiros três anos da estação.
Com a abertura das novas estações da Rede de Rádios Católica, deram-me um espaço próprio para montar a redação central.
Neste momento, faço parte de um painel que faz análise política na concorrência – a Miraya, que em árabe quer dizer espelho.
Às sextas à tarde, durante 45 minutos passamos em revista a semana política no Sudão do Sul.
14 de março de 2012
GESTOS
Tenho um carinho grande por este jornal: Não traz nada de especial mas é muito especial.
Passo a explicar.
Ontem fui cobrir uma conferência de imprensa que não chegou a acontecer. Normal em Juba!
Ao sair do recinto dos ministérios, vi um homem idoso a vender jornais. Pedi uma cópia do Citizen, um diário em língua inglesa publicado pelo camarada Nhial Bol em Juba.
Queria pagar as duas libras sul-sudanesas (€0,50) mas não havia maneira de encontrar a carteira. Tinha-a deixado na redação.
Quis devolver o jornal ao vendedor mas ele fitou-me com um olhar sorridente e disse: «Leva-o!»
Um gesto de bondade a assinalar em Juba!
6 de março de 2012
SOLIDARITY
Asmara-Eritrea: Catholic Cathedral
The Provincials and Delegates of English
Speaking Africa and Mozambique (APDESAM), gathered in Nairobi from the 27
February until the 4 of March, have written a letter to
the confreres of Eritrea as sign of solidarity.
LETTER OF SOLIDARITY TO THE CONFRERES OF ERITREA
The Lord said: I have seen how cruelly my people are being treated in
Egypt; I have heard them cry out to be rescued from their slave drivers. I know
all about their sufferings, and so I have come down to rescue them from the
Egyptians (Ex. 3:7-8)
Dear confreres of Eritrea,
Gathered in Nairobi for the annual meeting of APDESAM and listening to the reports about the political and social situation of the countries where we are called to carry out our missionary service, we were struck in a special way by the situation of Eritrea. The cry of the people of Eritrea and of our confreres in this situation of suffering was brought to us by the delegate who challenged us to do something in order to help you in this moment of darkness and deprived of hope for a better future.
Dear confreres of Eritrea,
Gathered in Nairobi for the annual meeting of APDESAM and listening to the reports about the political and social situation of the countries where we are called to carry out our missionary service, we were struck in a special way by the situation of Eritrea. The cry of the people of Eritrea and of our confreres in this situation of suffering was brought to us by the delegate who challenged us to do something in order to help you in this moment of darkness and deprived of hope for a better future.
We tried to understand
your situation although we are very much aware that we can do little to find
concrete answers to your cry. We turned to God in prayer and we decided to
write this letter to you, conscious that it will bring little relief to all of
you. However, following the example of Comboni who looked into the situation of
Africa in the light of faith, we are fully convinced that suffering and death
will bring new life and resurrection to all of you and to your people. Our
short history as Comboni Missionaries shows us also that in the end, after
terrible moments of suffering and death, a new era of peace and life in
abundance will take place. Life and resurrection will prevail over death and
defeat; love will overcome hatred and contempt.
In this moment you are
called to feel in your flesh the paschal mystery in its face of defeat,
weakness, abandonment and loneliness. We invite you to be together, to keep
strong the sense of belonging to a larger family which lives this moment in
deep solidarity with you. In similar situations what counts more is not the
much you can do or achieve, but simply being present and making common cause
with the people of Eritrea.
Fully convinced of the
power of prayer, we turn to God, joining your plea for help with the certitude
that God is at hand and he is suffering and struggling with you, looking
forward to the ending of this terrible situation.
May the intercession of
St. Daniel Comboni who gave his life for the regeneration of Africa bring you
consolation and hope and an end to your suffering.
We keep you in our friendship and prayer.
The members of the APDESAM,
The members of the APDESAM,
Julio Ocana, Angelo Giorgetti, Daniele
Moschetti, Paul Annis, Jose Luis, Joseph Maina, Sylvester Hategekimana, Dario
Balula, Jeremias Martins, Tesfaye
Tadesse, Tesfamariam Ghebrechristos.
4 de março de 2012
PETRÓLEO MALDITO
Exploração de petróleo em
Thar Jath (Sudão do Sul) © JVieira
A Nigéria, o país mais
populoso de África, parou durante vários dias no princípio do ano, e as
relações entre o Sudão e o Sudão do Sul chegaram ao ponto de ruptura algumas
semanas mais tarde. Duas histórias a milhas de distância mas com um denominador
comum: o petróleo.
A Nigéria é o segundo
maior produtor de petróleo em África, depois de Angola. Produz 1.9 milhões de
barris de crude por dia, mas precisa de importar 85 por cento dos combustíveis
que consome, porque, apesar dos incalculáveis milhares de milhões de dólares
que arrecadou com a exploração do ouro negro, nunca construiu as refinarias de
que precisa para abastecer a população. Em Janeiro, o governo de Goodluck
Jonathan decidiu acabar com o subsídio à gasolina e os preços duplicaram de 75
para 150 nairas (em euros, mais ou menos de 40 para 80 cêntimos). Os sindicatos
decretaram uma greve geral que paralisou o país, e ao fim de uma semana o
governo teve que baixar o preço para cerca de 100 nairas para restabelecer a
tranquilidade.
O petróleo representa a
maior fonte de rendimento do Sudão (65 por cento) e do Sudão do Sul (98 por
cento). Quando o Sudão do Sul proclamou a independência a 9 de Julho, os
governos de Cartum e de Juba ainda não tinham negociado a questão do petróleo.
O Sudão perdeu 75 por cento das jazidas, e o Sudão do Sul precisava de utilizar
a infra-estrutura dos vizinhos do Norte para colocar o crude no mercado
internacional. Juba ofereceu a Cartum uma ajuda económica de mais de dois mil
milhões de euros, faseada ao longo de quatro anos para compensar o Sudão pela
perda de rendimentos mais 60 cêntimos do euro por cada barril de petróleo que
exportasse, mas por seu lado Cartum exigiu 30 euros. Os mediadores da União
Africana não conseguiram que as partes chegassem a acordo, e o governo de
Cartum começou a confiscar o crude do Sudão do Sul. O governo considerou a
situação intolerável e decidiu suspender integralmente a extracção, até chegar
a um acordo com o Sudão e construir um oleoduto para Lamu, um porto queniano no
Oceano Índico, que por enquanto existe só no papel.
A ONU tem pressionado as
partes para chegarem a um acordo e evitarem uma tragédia humanitária de grandes
dimensões. O presidente sudanês Omar al Bashir já ameaçou com a guerra e
Valerie Amos, a encarregada dos assuntos humanitários da ONU, alertou que, sem
o petróleo, o governo do Sul e os seus parceiros não serão capazes de responder
às necessidades básicas da população. Sem a extracção de petróleo não há
dinheiro para pagar a funcionários ou fornecedores.
Apesar de o petróleo
poder ser uma bênção – a Noruega criou um fundo para promover o actual bem-estar
social e prevenir o das gerações futuras, na eventualidade de as jazidas virem
a esgotar-se – em África tende a ser uma maldição. Angola, Nigéria, Líbia são
casos emblemáticos. A indústria petrolífera gera milhões de euros diariamente
mas a maioria da população vive em pobreza abjecta, porque a classe política (e
militar) controla e canaliza os lucros para as suas contas pessoais. Dois
terços dos 160 milhões de nigerianos vive com menos de €1,00 por dia apesar de
o país produzir 1.9 milhões de barris de crude diários.
África, onde existem 19
produtores de petróleo, não pode tolerar a perpetuação de práticas de corrupção
e nepotismo. Um continente onde coexistem formas extremas de pobreza e de
ilegítima riqueza necessita urgentemente de transparência, na prestação pública
de contas e na gestão da indústria petrolífera, desde a assinatura dos
contratos até à comercialização. E é preciso, igualmente, pôr fim aos desmandos
das multinacionais do petróleo, que não só corrompem e pactuam com os
corruptos, como contribuem para degradar ainda
mais as condições de vida dos africanos. Porque são as comunidades
locais, ou seja quem pouco ou nada beneficia com o negócio, quem sai sempre a
perder. Pois estão sujeitas a todo o tipo de arbitrariedades: desde as
deslocações em massa, que lhes roubam as suas terras ancestrais, para abrir
espaço à instalação dos poços, até aos constantes derrames causados por
estruturas mal concebidas, com escassa manutenção e vigilância, responsáveis
pela contaminação dos rios, do mar, dos solos e do ar que respiram.