30 de dezembro de 2010

PROJECTOS


Os seis anos do período interino entre a assinatura do acordo de paz (2005) e o referendo de autodeterminação (2011) foram parcos em matéria de desenvolvimento de infra-estrutura no Sul do Sudão.
O governo semi-autónomo aponta o dedo acusador ao governo de unidade nacional por não ter investido na reconstrução do Sul e consequentemente não ter tornado atractiva a opção pela unidade no plebiscito de 9 de Janeiro.
Durante os últimos anos, o projecto mais substancial levado a cabo pelo norte no sul foi a extensão do caminho de ferro de Aweil até Wau, cerca de 120 quilómetros que custaram 46 milhões de dólares. As muitas promessas que o presidente da república Omar Hassan al Bashr fez nas celebrações anuais da assinatura da paz caíram no cesto roto do esquecimento.
Mesmo assim, Juba tem sido palco de um surto de crescimento notável. A mancha de asfalto vai tomando conta das ruas cheiras de crateras e pó, o parque hoteleiro cresceu por iniciativa de investidores nacionais e estrangeiros e o sector da habitação regista um momento de grande expansão.
Juba transformou-se um estaleiro a céu aberto com privados a construir habitações e negócios, o estado a reabilitar ou edificar instalações, as igrejas a erigir novos centros de culto, organismos internacionais ocupados na recuperação da infra-estrutura social, tudo em ferro e cimento, o sinal maior de que os investidores acreditam que a paz veio para ficar.
A nível de indústria, o projecto mais significativo foi a montagem de uma cervejeira que custou cerca de 50 milhões de dólares aos sul-africanos da SAB Miller e produz 350 mil hectolitros de cerveja por ano. O empreendimento conta ainda com uma linha de refrigerantes e uma engarrafadora de água de mesa que se junta às oito fábricas de engarrafamento de água.
Com o chegar da hora do não retorno – a independência – o governo apresentou uma série de projectos que visam consolidar a autonomia económica da região com a indústria petrolífera à cabeça por se tratar da maior fonte de rendimento e o motor de desenvolvimento do Sul do Sudão.
O ministro da energia e minas do governo do Sul do Sudão – que também detém a pasta do petróleo – anunciou a construção de três refinarias nos próximos anos. A de Akon, no estado de Warrap, vai custar 1,8 mil milhões de dólares num investimento conjunto da empresa privada Eyat Oilfield Services, de Cartum, e da estatal NilePet, do Sul do Sudão. A estrutura vai transformar 50 mil barris de crude por dia dentro de três anos. As refinarias de Bentiu e Terekeka são por enquanto projectos anunciados.
Ainda no domínio do petróleo, o Governo e a Toyota-Kenya estudam a viabilidade de ligar os poços do Sul do Sudão com o porto queniano de Lamu, ainda em desenvolvimento. O projecto vai custar 1,5 mil milhões de dólares. Até agora, o crude dos campos do sul – cerca de 400 mil barris diários mas a produção vai aumentar quando a Total francesa começar a extrair crude do Bloco B que é maior que Portugal – é escoado pelo oleoduto que os chineses construíram com os próprios presos entre o estado de Unity e Port Sudan no Mar Vermelho. Os chineses, os maiores investidores no sector do petróleo do Sudão, preferem uma ligação mista rodo-ferroviária entre o Sul do Sudão e Lamu.
Ainda no sector da energia, o governo anunciou estudos para construir uma central hidroeléctrica no Nilo Branco dentro de dez anos para abastecer as necessidades locais e para exportação.
No sector da rede viária, o projecto mais adiantado é o do alcatroamento da estrada entre Juba e Nimule, na fronteira com o Uganda. Trata-se da via de abastecimento do Sul do Sudão – os comerciantes ugandeses fazem cerca de mil milhões de dólares em exportações informais por ano especialmente para Juba – e mais tarde poderá ser também a rota de escoamento dos produtos agrícolas e industriais para exportação. A via, de cerca de 192 quilómetros, vai custar uns 200 milhões de dólares e a USAID, a agência de desenvolvimento internacional norte-americana que paga a factura, disse estará pronta dentro de 18 meses.
O ministro do comércio e da indústria anunciou planos para ressuscitar o complexo agrário de Nzara, montado pelos ingleses antes da independência para produzir roupas, alimentos e óleos, a fábrica de açúcar de Mangala, as fábricas de cerveja e de enlatamento de frutas e vegetais de Wau e a cimenteira de Kapoeta.
No sector da habitação, o projecto mais arrojado e extravagante o é o da recuperação e desenvolvimento das grandes cidades do Sul em forma de animais e frutas, os símbolos de alguns dos estados. O projecto está avaliado em 10 mil milhões de dólares e os «blue prints» estão prontos. Juba, por exemplo, vai ter a forma de um rinoceronte – o animal distintivo do Estado de Equatória Central – enquanto a nova Wau vai parecer uma girafa e Yambio um ananás.
O Ministério da Agricultura também anunciou planos para assegurar a auto-suficiência alimentar para a região. A guerra e os conflitos inter-tribais que nos últimos oito meses fizeram mais de 900 mortos e 215 mil desalojados, paralisaram por completo a produção agrícola em larga escala numa área rica em água e terras férteis.
O ministério tem planos para melhorar a produção da agricultura tradicional e introduzir a agricultura industrial com o intuito de transformar o sul do Sudão no celeiro da África Oriental. A ministra Anne Itto esteve recentemente na China para estudar modelos de desenvolvimento agrícola e atrair investimentos para o sector.
Ainda no sector da produção alimentar, cerca de uma dúzia de criadores de galinhas conseguem abastecer as necessidades do mercado hoteleiro.
O sul enfrenta o futuro com muitos projectos. Haja paz para os cumprir.

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