30 de junho de 2006

Ser poeta é

© J. Vieira
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca
月亮代表我的心

Américas

O INSUSTENTÁVEL PESO DA POBREZA

Dos cerca de 550 milhões de sul-americanos, 220 milhões são pobres e uns 100 milhões sobrevivem com menos de 80 cêntimos por dia.

A América, com 42 milhões de quilómetros quadrados e quase 900 milhões de habitantes, é o segundo continente em termos de área e de população e o primeiro em peso económico, geopolítico e religioso. Foi buscar o nome a Américo Vespúcio (1454-1512), navegador florentino que serviu as coroas de Espanha e Portugal na exploração marítima do Novo Mundo. A divisão norte (Canadá e Estados Unidos) – sul (os restantes países) é geográfica, mas também política, económica e cultural. Os países do Norte, anglófonos – com excepção da província canadiana do Quebeque, que preserva o francês como língua de referência –, trataram o Sul, que fala espanhol e português, como reserva económica estratégica.
As grandes multinacionais, da banana, da soja, da criação de gado, ocuparam sempre enormes extensões da América Latina, em prejuízo da população local, das florestas e da biodiversidade da região. O Sul do continente é usado como linha de montagem de larga escala para as indústrias norte-americanas. A indústria farmacêutica e o negócio da biogenética têm tentando por sua vez apropriar-se dos segredos medicinais dos povos indígenas, através de um sistema de patentização de espécies com valor comercial.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos impunham os dirigentes – frequentemente incompetentes autocratas militares – da maioria dos países do Sul do continente. Com a queda do Muro de Berlim, abateu também o intervencionismo norte-americano, a democracia alastrou e foi-se consolidando, processo que desencadeou um fenómeno político interessante: enquanto o Canadá e os EUA viraram à direita, o eleitorado dos países latinos tem vindo a escolher partidos da esquerda para os governar. A luta contra o terrorismo passou a ser a prioridade dos Estados Unidos e a parceria especial com a América Latina – que George W. Bush anunciou no início do seu mandato – foi relegada para segundo plano. Consequentemente, a criação de uma zona de comércio livre à escala do continente vai perdendo peso, a favor de parcerias regionais mais favoráveis às economias mais pobres.
A democracia, ainda que assuma formas variadas e mais ou menos (im)perfeitas, existe, mas o Sul do continente continua a ser flagelado pela pobreza e pelas grandes desigualdades, consequência do neoliberalismo. Um terço da sua população (mais de 150 milhões de pessoas) vive em bairros-de-lata sem as mínimas condições, autênticos viveiros de pobreza e violência. Dos cerca de 550 milhões de sul-americanos, 220 milhões são pobres e uns 100 milhões sobrevivem com menos de 80 cêntimos por dia. Não é de estranhar que muitos optem por arriscar tudo – mesmo a vida – para tentarem assegurar a sobrevivência nas abastadas sociedades do Norte. Que fazem tudo para os deter: o Canadá pôs-se a expulsar imigrantes e os EUA projectam um muro de três mil quilómetros para fortificarem a sua fronteira.
A nível eclesial, as Américas têm uma grande importância. A maioria dos católicos vive lá e a Igreja, especialmente a latino-americana, foi palco de experiências pastorais inovadoras, como as comunidades eclesiais de base e a inculturação teológica. Em Maio de 2007, vai realizar-se a 5.ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e Caraíbas no Santuário da Aparecida, no Brasil. Será uma oportunidade para reflectir sobre a realidade e o futuro da Igreja latino-americana numa altura em que os seus países se tornam cada vez mais conscientes da identidade histórica e da dignidade nacional. E, também, do insustentável peso da pobreza.

Mil palavras

Templo de Diana – Évora © J. Vieira

Gaza

«CHUVA DE VERÃO»

A 25 de Junho um grupo de combatentes palestinianos atacou um posto militar israelita e raptou o cabo Gilad Shalit para o trocar por 95 mulheres e 313 menores de 18 anos detidos nas prisões israelitas.
A ousadia palestiniana representou uma afronta séria ao todo poderoso exército de Israel que, para resgatar o militar raptado, pôs em marcha a operação «Chuva de Verão».
As tropas israelitas cercaram o Sul de Gaza, junto à fronteira com o Egipto, por terra, ar e água. Os bombardeamentos não param e os aviões F16 cortam frequentemente a barreira do som num acto de intimidação. E destruíram infraestruturas importantes como algumas pontes e três centrais eléctricas, deixando 600 mil às escuras. Até o campo de futebol da Universidade Islâmica de Gaza foi transformado numa imensa cratera por um míssil.
As tropas israelitas também prenderam 64 individualidades do Hamas, o partido palestiniano no poder. Entre os presos contam-se oito ministros, 20 deputados, vários autarcas e outros políticos.
A lei internacional proíbe a punição colectiva da população civil, mas o Estado de Israel continua a usar a força brutal da superioridade militar contra os cidadãos palestinianos. Um crime contra a humanidade que as grandes potências deixam passar em claro.
Será que Israel esqueceu o Holocausto? Será que por ter sofrido a «Shoa», se sente no direito de castigar populações indefesas só porque é mais forte?
As Escrituras Hebraicas, o Antigo Testamento, quando falam do tratamento que os judeus devem dar aos estrangeiros que vivem no seu país, recordam: «Lembra-te que também foste estrangeiro!». Hoje diria: «Lembra-te que também foste vítima do mais forte!»

29 de junho de 2006

Abrir aspas

(...) O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino?
Mia Couto em «O fio das Missangas»
Obrigado, Albino

Imprensa

JORNAIS GRATUITOS EM ALTA

Os jornais de distribuição gratuita ultrapassaram a barreira dos 150 mil exemplares diários, revela a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem (APCT).
O Metro, um ano após o lançamento, regista uma circulação média de 154 717 exemplares e o Destak, que começou a ser publicado em 2001, 153 390.
Quanto aos diários pagos, todos registaram quebras de edição durante o primeiro trimestre de 2006. O Correio da Manhã está a tirar 119 413 exemplares, o JN 99 989, o Público fica-se pelos 46 119, o 24 Horas baixou para os 42 878 e o DN queda-se nos 36 305.
Os jornais gratuitos são feitos de maneira que o leitor em meia hora de viagem possa informar-se sobre os temas principais da actualidade e fique equipado para os discutir com colegas ao chegar ao trabalho. E estão a alterar os hábitos de leitura dos Portugueses. Para melhor.

28 de junho de 2006

Say It's Possible

Tudo é possível! Basta crer e... lutar

Além-Mar

ESPECIAL
AMÉRICAS 2006

A Além-Mar de Julho apresenta um número especial sobre a América: um continente a dois tempos. São tais as diferenças, os contrastes e as desigualdades, que à América se chama habitualmente Américas. Num período particular da sua história, um guia especial ajuda-o a conhecer os 35 países e 15 territórios que a(s) integram.
Outros artigos:
Américas: Populismos de esquerda, radicalismos de direita. A sul, somam-se as vitórias da esquerda e alastra o populismo. A norte, reina o radicalismo mais conservador. Entre Hugo Chávez e George W. Bush, o contraste não podia ser maior. Os extremos tocam-se. Embora, por enquanto, ainda não se choquem.
Igreja: Estancar a evasão de fiéis. Comunidades eclesiais de base, movimentos apostólicos, pastorais sociais, congregações religiosas, paróquias e dioceses preparam mais uma Conferência Episcopal Latino-Americana, a realizar em Maio de 2007. Isto num momento em que a evasão de fiéis se torna preocupante.
Indígenas: A força dos pequenos. O 5.º Encontro Continental de Teologia Índia, que reuniu em Manaus, em plena Amazónia brasileira, quase duas centenas de participantes vindos de 15 países, terminou com uma mensagem dirigida a todo o mundo: «A força dos pequenos está na sua união.»

Armas ligeiras


ARMAS DE DESTRUIÇÃO DE MASSAS

«Num mundo inundado por armas ligeiras estima-se que um quarto dos quatro biliões de dólares proveniente da venda global de armamento é ilegal. Essas armas são fáceis de comprar, usar, transportar, esconder. A sua proliferação contínua piora conflitos, provoca ondas de refugiados, risca leis e expande uma cultura de violência e impunidade», denunciou Kofi Annan, secretário-geral da ONU, quando abria, a 26 de Junho, em Nova Iorque, a Conferência Mundial sobre o Comércio de Armamento. O evento reúne 2000 delegados de governos, ONG e da sociedade civil e termina a 7 de Julho.
A ONU calcula que haja 640 milhões de armas ligeiras em circulação por todo o mundo, responsáveis por pelo menos 1000 vítimas por dia. «Estas armas podem ser ligeiras mas provocam a destruição de massas», alertou Annan.
A Coligação «Control Arms», uma rede de 600 ONG criada em 2003, entregou ao Secretário-geral da ONU uma foto-petição com os rostos de um milhão de cidadãos de 160 países exigindo um controlo mais rigoroso do comércio de armas.
Em Portugal, a Comissão Nacional Justiça e Paz está a animar uma campanha «Por uma sociedade segura e livre de armas». Depois de cinco sessões de audição pública, está a organizar um festival juvenil sobre o mesmo tema.

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca....
Fernando Pessoa, Obra Poética

Campeonato do Mundo

VOTA CRISTIANO RONALDO

Está a decorrer no sítio oficial da FIFA World Cup 2006 uma votação para eleger o melhor jogador jovem deste mundial. Neste momento o atleta mais destacado é Luís Valencia, do Equador, com 31 por cento dos votos. Seguem-se Lionel Messi, da Argentina, e Cristiano Ronaldo, de Portugal, com 17 por cento das escolhas dos internautas.
A votação no Prémio de Melhor Jogador Jovem da Gillette do Campeonato do Mundo da FIFA de 2006 está aberta até 5 de Julho.
O «miúdo» - chamam-lhe Andorinha! - merece o nosso apoio sobretudo depois daquela «trancada» que o «arrumou» no jogo contra a Holanda e que o árbitro deveria ter sancionado com um vermelho directo. Decerto que não iria precisar de mostrar muitos mais cartões e a partida teria sido bem mais calma e não «um jogo estranho» como comentou a minha amiga Mónica, do Canadá.
Para votares Cristiano Ronaldo, clica aqui.

Falares

VERNACULAR DE OLHÃO

6h00 da manhã no Centro de Saúde de Olhão. A Maria do Céu diz que vem à consulta do "Parlamento", a Dona Gertrudes vai à consulta da "Monopausa" e a Rita é que as corrige informando-as que aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar. Uma tem um "biombo" no "úbero" e leva os resultados duma "fotografia"; outra está preocupada com comichões na "serventia" do marido, até porque ele, havia poucos dias, tinha já sido consultado pelo médico por estar com os "alforges" todos inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema na "aprosta" do marido.
Mais à distância, um grupo de senhoras falavam dos métodos contraceptivos e, uma delas, peremptória, afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma "fateixa" dentro da barriga! Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que por causa disso é que teve tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de "açoreana", mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho que já era "toxico-correspondente"!
Noutro local, um grupo de homens mais idoso ia falando da relação entre o "castrol" e a "atenção". Às tantas um deles começa a explicação de um acidente que tivera. Por isso é que tinha a vacina contra o "tecto" em dia, mas o acidente estragou-lhe a "tibiotísica" e causou-lhe uma hérnia "fiscal", pelo que tinha ido fazer uma "fotocópia" e um "traque". Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma grande "espirrogueira na peitogueira".
Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no "curso" com dores "alucinantes" quando se "abaixava". Além disso cobria-se de suores e "gómitos", ficava "almariada" e tudo acabava com uma forte "encacheca", ficando cerca de 3 dias com cara de "caveira misteriosa".
Finalmente, uma outra senhora queixava-se da "úrsula" no "estambo", pelo que vinha mostrar o resultado duma "endocuspia" e ainda algumas análises especiais, como a Proteína C Reaccionária.
8h30 da manhã. A Inês, jovem funcionária administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba de chegar.
- Quem é o primeiro, se faz favor? Ora diga lá o seu nome?
- Josefina Trindade.
- Idade?
- 67 anos.
- Estado?
- Constipada, muito constipada!
9h00 da manhã. Aparece a enfermeira Freitas que grita para a pequena multidão barulhenta que cerca a Inês:
- Quem está para medir as tensões? É você? Então entre e diga-me qual é o seu problema.
- Sabe, senhora enfermeira, o meu problema é ter uma doença "arrendatária" que "arrendei" do meu pai e já me levou uma vez aos cuidados "utensílios" do hospital. Afecta-me as "cruzes renais" e por isso dá-me muita "humidade à volta do coração". Aliás, o doutor pediu-me uma "pilografia" e um "aerograma" que aqui trago e recomendou-me beber pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
- Então de que se queixa?
- De uma angina de peito, senhor doutor. Tudo começou há uma semana quando fui às urgências. O médico disse-me que era uma angina na garganta, mas a angina começou a descer e agora apanha-me o peito todo!
Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara. Alguns perguntavam à Inês onde era o "pechiché da retrosaria" para pagarem a taxa moderadora.
O senhor Batista foi dos utentes que saiu mais zangado da consulta. Permaneceu estoicamente na fila desde as 5h30 da manhã e, agora, o médico tinha-lhe dito que o seu atestado para carta de condução era com outro: o Delegado de Saúde.
Finalmente é chamado pelo Delegado de Saúde para o exame do atestado:
- Sr. Batista, faça-me o favor de pôr o dedo no nariz. Não, senhor Batista, não é no meu, é no seu nariz!
O utente estava muito nervoso e depois do primeiro falhanço achou por bem enterrar o dedo profundamente nas fossas nasais!
O Delegado de Saúde desiste:
- Muito bem, senhor Batista! Fica com a carta com as mesmas restrições anteriores.
O Sr. Batista saiu radiante – tinha, pelo menos, mais 2 anos de carta para conduzir – e ao passar pelos outros utentes que ainda esperavam, avisou:
- Espero que estejam constipados, porque só passa quem tiver uns bons macacos para tirar do nariz.

A maioria das situações são fictícias, mas os termos empregues foram recolhidos no Centro de Saúde de Olhão pelas funcionárias administrativas Inês Simões e Fernanda Veloso e pela técnica de cardiopneumologia Sandrina Marto.
Obrigado, João, por esta «pérola»!

Parlamento Europeu

CONTRA O DESPERDÍCIO

Uma vez por mês e durante alguns dias, o Parlamento Europeu transfere-se de Bruxelas para Estrasburgo por inteiro, com todos os seus colaboradores e toda a sua documentação. A única razão para este desperdício de 200 milhões de euros por ano deve-se à vontade da França. Todos os países da União pagam a conta, Portugal também.
Um grupo de deputados do Parlamento Europeu, pertencentes a diferentes partidos e países, iniciaram uma acção que visa acabar com este desperdício ridículo. É necessário recolher um milhão de assinaturas para que este assunto possa ser inserido na agenda da Comissão Europeia. No momento em que se publica este post já se recolheram 668 796 assinaturas, mas é preciso um milhão. Falta a sua.
Deixamos o apelo a todos que queiram, como nós, aderir a este movimento cívico contra esta aberração, de assinarem a petição clicando
aqui. Depois de assinarem, divulguem esta informação o mais que possam.

Pobreza Zero


RONALDINHO DÁ EQUIPAMENTO

Ronaldinho Gaúcho, o craque do futebol brasileiro, autografou e ofereceu a camisola e os calções que usou num anúncio de pastilhas elásticas à Campanha Pobreza Zero.
O equipamento vai ser posto em leilão no portal miau.pt de 26 de Junho a 6 de Julho. Os fundos angariados pela arrematação no ciberespaço revertem a favor da Campanha Pobreza Zero.
A camisola e os calções foram utilizados durante um hilariante spot publicitário gravado pela estrela sorridente do Escrete. No anúncio, filmado na praia durante uma partida de futebol feminino, uma loura entra em jogo, faz uma jogada espectacular, corre em direcção à baliza e com uma incrível desenvoltura de pernas faz uma fantástica finta e marca um golo de espantar. Mas a loura não é uma rapariga qualquer. É o famoso futebolista Ronaldinho com uma peruca.
A Pobreza Zero pretende mobilizar a sociedade portuguesa para a acção em torno da luta contra a pobreza e para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Estórias


DOIS MONGES E UMA JOVEM

Dois monges atravessavam uma área deserta até que se viram diante de um rio caudaloso. Uma linda jovem tentava atravessá-lo sem sucesso, porque não tinha forças para fazer frente à violência das águas.
Um dos monges pegou na donzela às costas e, a custo, atravessou o rio, deixando-a na outra margem, em segurança.
A jovem beijou-o e abraçou-o com carinho, agradecida e comovida com a sua ajuda, e seguiu o seu caminho.
Retornando a jornada, o outro monge que assistiu a tudo calado, repreendeu o companheiro pelo contacto carnal que teve com aquela rapariga, da tentação de ter aquele contacto mais directo com uma mulher, que era proibido pelas regras do mosteiro.
E durante uma boa parte do caminho, falou sobre a mulher e sobre o pecado cometido pelo seu confrade.
Até que o que ajudou a jovem na travessia falou:
- Querido irmão, eu atravessei o rio com a jovem às costas mas deixei-a lá na margem. Tu, porém, ainda a continuas a carregar nos teus pensamentos.

25 de junho de 2006

Abrir aspas

A História foi escrita por homens e, por isso, em certa medida, só é meio verdadeira. Metade da humanidade – as mulheres – não participaram na sua redacção. Quando elas tiverem uma palavra a dizer sobre o destino das religiões, estas serão mais pluralistas, mais verdadeiras e, é de esperar, mais pacíficas.
Frei Bento Domingues in «Público»

24 de junho de 2006

A profissão mais velha

Um carpinteiro, um jardineiro e um electricista discutiam qual era a profissão mais antiga do mundo.
Começa o carpinteiro:
- A minha é a profissão mais velha do mundo. Foi um carpinteiro que construiu a arca para o Noé.
- Qual quê! – respondeu o jardineiro. A profissão mais antiga é a minha. Foi um jardineiro que semeou, plantou e tratou do Jardim do Éden.
- Estão enganados! – ripostou o electricista. A minha é que é a profissão mais antiga. Antes de Deus dizer «faça-se a luz» um electricista teve que fazer a instalação!»

23 de junho de 2006

Abrir aspas


Na verdade, o tempo não é nada. É uma criação humana. Existe dia e noite, a rotatividade da terra sobre o seu eixo. Existem as estações do ano, o movimento da terra em torno do sol. Mas o tempo, que tanto nos aflige porque andamos sempre a dizer que “não temos tempo”, não existe, não há. Nós é que, com a pretensão a tudo controlar, inventámos forma de o espartilhar. Espalmámo-lo num relógio de sol, mergulhámo-lo numa clepsidra, engarrafámo-lo numa ampulheta e, não satisfeitos, reduzimo-lo, digitalizámo-lo e enfiámo-lo num chip minúsculo.
Fátima Pinto Ferreira, in «São Judas Iscariotes»

Reprodução Medicamente Assistida

SALOIICES SOCIALISTAS

«Realizar um referendo sobre a Lei da Reprodução Medicamente Assistida (RMA) nunca seria uma decisão avisada. A lei é complexa, inclui dezenas de temas diferentes, obrigou a muitos compromissos e, para além disso, resultou de muito trabalho técnico e inclui muitos conceitos que seriam sempre muito difíceis de explicar aos eleitores. […] Confrontada com uma petição de cidadãos pedindo a realização de um referendo, a Assembleia devia aceitá-la, discuti-la e, no quadro das suas competências, rejeitá-la. Nunca devia ter feito é o que fez, isto é, preparar uma “golpada” mais própria de uma reunião de alunos do que de um Parlamento democrático», escreve José Manuel Fernandes no Editorial do Público de hoje.
A «golpada» foi adiar a recepção do abaixo-assinado que pedia um referendo sobre a RMA para o dia em que o Parlamento votava a lei. E para que a petição assinada por quase 80 mil cidadãos não suspendesse o processo legislativo, Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República, recebeu os peticionários mas não aceitou formalmente a petição alegando a necessidade de um parecer jurídico.
Os ex-ministros Nuno Morais Sarmento, António Bagão Félix, Pedro Lynce e Rui Gomes da Silva foram alguns dos mandatários do movimento pró-referendo sobre a RMA. Os subscritores recolheram mais do que as 75 mil assinaturas necessárias para que esta petição fosse analisada pela Assembleia da República. A hierarquia católica manteve-se à margem do processo.
Não me manifesto sobre a bondade quer da lei aprovada quer dos pontos de vista dos peticionários, porque não tenho elementos para tal. A RMA é um tema que não domino. Mas discordo com mais esta saloiice socialista de evitar que o Parlamento – com a conivência do seu presidente – discutisse a petição através de expedientes pueris.
Convém recordar que, constitucionalmente, a soberania reside nos cidadãos e que não se esgota na cruzinha no boletim de voto. Se a Lei diz que uma petição com 75 mil assinaturas tem o direito de ser discutida pelos deputados, então que se cumpra a lei. Afinal, a maioria parlamentar tem medo de quê? Episódios (tristes) como este afastam ainda mais os cidadãos dos políticos.

22 de junho de 2006

Curioso

UM DESAFIO

Não é curioso como dez euros parece tanto quando vamos à igreja e tão pouco quando vamos ao shopping?
Não é curioso como uma hora é tão longa quando servimos a Deus, mas tão curta quando assistimos a um jogo de futebol?
Não é curioso como não achamos as palavras quando rezamos, mas elas estão sempre na ponta da língua para conversarmos com um amigo?
Não é curioso sentirmos tanto sono ao ler um capítulo da Bíblia, mas é fácil ler 100 páginas do último romance de sucesso?
Não é curioso como queremos sempre as cadeiras da frente no teatro, mas sempre nos sentamos no fundo da igreja?
Não é curioso como precisamos de duas ou três semanas de antecedência para agendar um compromisso na igreja, mas para outros programas estamos sempre disponíveis?
Não é curioso como temos dificuldade em aprender a evangelizar e como é fácil aprender e contar a última fofoca?
Não curioso como acreditamos nos jornais, mas questionamos a Bíblia?
Não é curioso como todo o mundo quer ser salvo desde que não tenha que acreditar, dizer ou fazer nada?
Não é curioso como mandamos milhares de piadas pelo e-mail que se espalham como um incêndio, mas quando recebemos mensagens sobre Deus não reenviamos para ninguém?
Lá curioso é…
Autor desconhecido

20 de junho de 2006

Refugiados


MENOS REFUGIADOS
E MAIS DESLOCADOS

Em finais de 2005, o número de refugiados rondava os 8,4 milhões de pessoas, 1,1 milhões a menos que no ano anterior e o número mais baixo nos últimos 29 anos. Em 2001, passavam de 12 milhões. A maioria encontra-se em África (2,5 milhões), Ásia (2,4 milhões) e na Europa (quase 2 milhões). A boa-nova é do «2005 Global Refugee Trends» do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Como não há bela sem senão, o número de deslocados – que, ao contrário dos refugiados não abandonam o país, mas o local de residência – aumentou de 5,4 para 6 milhões em 16 países.
Os refugiados cruzam fronteiras para escaparem da guerra e de perseguições políticas, religiosas ou outras.
Os deslocados, vítimas dos conflitos internos que dilaceram os seus países, estão na Colômbia (mais de 2 milhões), Iraque (1,6 milhões), Paquistão (1,1 milhões), Sudão (1 milhão) e Somália (839 mil).
O Dia Mundial do Refugiado celebra-se hoje, 20 de Junho.

Mundial da Alemanha


Ok... Ou lavam isso ou têm que ir todos para casa!
Os deputados amanhã vão para casa!

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LIÇÕES DO FUTEBOL

Nestes dias de copa do mundo, o assunto é este. Vamos com ele. Mas para olhar um pouco mais além das quatro linhas do gramado. Podemos recolher preciosas lições do futebol. Uma delas ainda em tempo de melhorar o desempenho de nossa seleção. Com o magro resultado conseguido na primeira partida, salta aos olhos o perigo da presunção, de pensar que a vitória é fácil, e que podemos desprezar os adversários. Se isto é perigoso no futebol, na vida também a presunção é má conselheira. Prepara decepções que poderiam ser evitadas.
Quando temos alguma tarefa a fazer, o melhor é concentrar nela nosso empenho, e realizá-la com convicção e amor. Assim mantemos nosso espírito pronto para os desafios que a vida nos apresenta continuamente.
Não deixa de ser relevante a coincidência da copa do mundo com as eleições presidenciais no Brasil. Ano de copa do mundo, ano de eleger o Presidente do Brasil. Assim vem sendo há mais de uma década. Futebol e eleições nos colocam diante do nosso país.
O futebol produz espontaneamente uma grande convergência nacional. Nestes momentos, salta aos olhos a importância da nação, como força convocatória para o enfrentamento dos problemas que nos são comuns. Sem a motivação que decorre da vocação de sermos uma nação, nos dispersamos na identificação de nossos objetivos, e nos dividimos nas opções dos planos e das estratégias. Daí a importância de cultivarmos, conscientemente, o que fortalece nossa identidade nacional, e também o cuidado para não perdermos esta identidade, deixando que ela se dilua pela aceitação fácil e indiscriminada de tudo o que a globalização nos apresenta.
Enquanto dura a copa, parece inoportuno antecipar questões políticas. Sobretudo porque, ao contrário da última copa, que ainda nos anima a esperar o mesmo sucesso, a política trouxe pesadas decepções, como todos sabemos.
Mas, não faz mal lembrar que somos os mesmos, os que torcem agora pela seleção que entra em campo, e os que vamos nós mesmos entrar em campo nas eleições deste ano.
No futebol, todos temos nossa opinião, e até fazemos questão de manifestá-la. Na política é mais complicado. Somos muito falantes no futebol, e muito reticentes na política. Está ficando cada vez mais urgente um entendimento mínimo de todos os brasileiros, a respeito do país que queremos construir.
No esforço de tanta gente, de pensar "o Brasil que nós queremos", algumas evidências vão aparecendo. A primeira delas: é preciso entrar em campo. Ao contrário do futebol, em que só entram alguns, na política precisamos entrar todos. Ser cidadão é sentir-se escalado para entrar em campo.
No futebol os limites são as quatro linhas do gramado. Na política o campo é muito mais amplo. Ele tem as dimensões da sociedade. Dentro dela é preciso traçar linhas e instrumentos de ação, que constituem a organização estatal. Esta precisa ser continuamente repensada, para estar sempre a serviço da própria sociedade. Aí todos os cidadãos se sentem escalados para atuar, de modo consciente e organizado.
O resultado da copa pouco vai alterar a realidade. Mas nossa maneira de atuar na política precisa ir mudando a situação do país. Pois esta depende de nossa participação.

Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales, (Brasil) in ADITAL

19 de junho de 2006

Leituras

A AVENTURA DA MEIA-IDADE

Fátima Pinto Ferreira escreveu «São Judas Iscariotes» (Edições Cosmos 2006) como rito de passagem do estado liminar da crise da meia-idade.
A autora começa uma viagem de sete dias – a semana da re-criação – de Fátima ao alto Minho com passagem pela Guarda, à procura «da sua terra de ninguém» que é, afinal, a terra de todos nós: os afectos, a espiritualidade, os valores, os fios soltos do tecido da história pessoal, os quartos escuros, as inseguranças, a vida e a morte…
Objectivo? «Espero encontrar o tal sítio que sei que já conheço e onde me sentirei em terra de ninguém, onde poderei resgatar a minha paz interior e que é o objectivo deste meu vaguear» (página 24).
Enquanto conduz pelas paisagens pitorescas do norte, a autora percorre as estradas da memória, num acto corajoso de desnudamento sem falsos pudores através do encontro misterioso com o «homem da Vela Latina» com a Adriana Calcanhoto em pano de fundo. Porque «o equilíbrio só se alcança quando temos a coragem de enfrentar os nossos temores e resolvê-los» (página 68).
«Dou-me conta que estes sete dias da minha viagem foram como que a recriação de mim própria. Procurei-me e, afinal, não precisava procurar-me; estive sempre comigo, não gostava muito era estar só comigo, a enamorar-me de mim mesma» - conclui (página 125).
O livro – uma leitura interessante, atraente, intimista, despojada, estimulante (com algumas teses religiosas que não partilhado) é um roteiro para outras jornadas de autodescoberta, da passagem liminar da crise da meia-idade, ou como Javier Garrido lhe chamou, da crise do realismo. A ler e reler.

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SENTIDO DE HUMOR

Senhor, dá-me uma boa digestão
E, naturalmente, algo para digerir.
Dá-me a saúde do corpo
E o bom humor necessário para a manter.
Dá-me uma alma sã, Senhor,
Que tenha sempre diante dos olhos o que é bom e puro,
De modo que, diante do pecado, não se escandalize,
Mas que saiba encontrar a maneira de o emendar.
Dá-me uma alma que não conheça o descontentamento,
A rabugice, os suspiros nem os lamentos.
E não permitas que tome demasiado a sério
Essa coisa metediça que se chama o EU.
Dá-me, Senhor, o sentido de humor.
Dá-me a capacidade de saber rir-me de uma anedota
Para que saiba retirar um pouco de alegria da vida
E possa partilhá-la com os outros.

14 de junho de 2006

Transparências


CORAÇÃO AO ALTO

Somos para cima de 6,5 mil milhões e sentimo-nos tão sós! A solidão é o nosso castelo e o diálogo o cavaleiro andante que nos leva pelos caminhos da aventura. Há que franquear as portas, escancarar as janelas, abater os muros, construir pontes entre os corações. Só o amor nos redime.

12 de junho de 2006

Mundial 2006

PAZ E MEIO AMBIENTE

ONU e FIFA uniram-se para promover a paz e o cuidado com o meio ambiente durante o Mundial de Futebol 2006.
O Secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e o Presidente da FIFA, Joseph Blatter, prepararam uma mensagem a pedir paz e tolerância durante os jogos, que decorrem na Alemanha até 9 de Julho.
O porta-voz de Annan, Stephane Dujarric, explicou que o futebol fala uma língua universal e tem a capacidade de unir os povos e curar feridas causadas por guerras e conflitos.
A parceria entre ONU e Fifa também promove a protecção ambiental no projecto Golo Verde. A iniciativa, do Programa Mundial da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), prevê a reciclagem do lixo antes e depois do Mundial.
«O objectivo é alcançar, pela primeira vez na história, um Mundial que seja ambientalmente amigável», disse o porta-voz do PNUMA, Sergio Jauregui.
Ronny Marinoto in Além-Mar

10 de junho de 2006

Abrir aspas


CRIANÇA, ERA OUTRO...

Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi ?

9 de junho de 2006

Mundial da Alemanha

MISSAS
NOS INTERVALOS DAS PARTIDAS

Os espectadores do Campeonato Mundial de Futebol podem rezar pelas suas selecções nos intervalos dos jogos.
Duas igrejas de Berlim, a Berliner Dom e a Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche, celebram missas de 15 minutos nos intervalos dos encontros. Os sermões são relacionados com o futebol e cânticos semelhantes aos hinos das selecções, permitindo aos adeptos rezar pela vitória do seu país.
«Não queremos combater o mundial de futebol, queremos usá-lo como um meio de fazer passar a nossa mensagem», justifica Bernhard Felmberg, da Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche.
Aleluia!

Abrir aspas



OS HOMENS

Perguntaram a Buda:
- O que é que mais te surpreende na humanidade?
E ele respondeu:
- Os homens! Perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro, e vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido!

8 de junho de 2006

Mundial da Alemanha

PLANETA FUTEBOL

Durante um mês, entre 9 de Junho e 9 de Julho, a Terra vai-se transformar num imenso estádio, com as atenções centradas em torno de uma dúzia de campos de futebol na Alemanha, onde as selecções de 32 países vão disputar o Campeonato do Mundo de Futebol de 2006. Mais de 30 mil milhões de espectadores vão seguir as jogadas das 64 partidas da competição presos à televisão.

O jogo da bola começou na China há 4000 anos. Os soldados chineses pontapeavam uma bola de couro – que substituiu a cabeça dos inimigos vencidos – como parte do treino militar. A modalidade «civilizou-se» e evoluiu para um jogo com equipas, regras, competições e locais estabelecidos. Chegaram a usar-se bolas de brocados de seda para jogar. Depois apareceram as bexigas de porco cheias de ar e protegidas por couro. A bola de câmara-de-ar!
Se os Chineses inventaram o futebol, coube aos Ingleses modernizá-lo, regular a sua prática, através de 14 leis fundamentais, e expandir a modalidade a partir do século xix quando se autonomizou do «rugby».
O futebol – a palavra vem da junção dos termos ingleses «foot» (pé) e «ball» (bola), que alguém tentou traduzir para português por «ludopédia», uma palavra que não vingou – sofreu uma evolução espectacular ao longo da sua história: espalhou-se por todo o mundo e é o desporto global mais praticado e seguido. Basta uma bola – de couro, plástico, trapos, folhas de árvore – e um espaço mais ou menos aberto para se disputar uma «peladinha».
Os mais antigos lamentam-se que os tempos mudaram, que os atletas no passado jogavam por amor à camisola. É! O futebol tornou-se uma imensa indústria que gera rios de dinheiro e as paixões mais díspares. A modalidade – que começou por ser um desporto de cavalheiros que nem de árbitro precisava – está cada vez mais desfigurada pelo apelo comercial, pela violência e pelo racismo. Basta observar as claques de futebol!
Que o Campeonato do Mundo de 2006 seja, de facto, «o mundo entre amigos», uma festa internacional do desporto e que os futebolistas portugueses nos honrem com a sua prestação. E que vença a melhor selecção! Que até pode ser a nossa.
Texto publicado em Audácia

7 de junho de 2006

Para pensar


O LENHADOR E O MACHADO

Nas montanhas distantes de um país vivia um mestre lenhador. Certo dia foi procurado por um rapaz de compleição física notável, que lhe disse: «Quero aprender a cortar árvores, quero tornar-me como o senhor».
O mestre admitiu-o imediatamente como aprendiz e ensinou-lhe todas as técnicas do ofício.
Três meses depois, para espanto do mestre lenhador, o jovem disse-lhe: «Aprendi o que tinha de aprender. Já sou o melhor lenhador do país».
Perante o olhar incrédulo do mestre, o jovem lançou-lhe um desafio: «Vamos definir duas áreas de mesmo tamanho e com igual quantidade de árvores. O primeiro que cortar a última árvore será o melhor lenhador do país»!
O mestre lenhador aceitou.
No início, o jovem, mais rápido e com a força de vários homens, tinha uma grande vantagem sobre o mestre. De vez em quando, olhava para o velho e observava, intrigado, que este fazia várias paragens para descansar. «Que mole... Vai ser fácil!», pensava.
No entanto, o Sol nem se havia posto por completo quando, espantado, o jovem reparou que o mestre estava para derrubar sua última árvore. E ele ainda tinha várias árvores para abater.
Surpreendido, correu para ele e perguntou-lhe: «Como é que conseguiu? Vi-o várias vezes sentado a descansar, e eu não parei um só minuto!»
Então o lenhador mais velho olhou o jovem nos olhos e transmitiu-lhe a sua derradeira e talvez a mais importante lição: «Cada vez que eu parava para descansar, aproveitava para afiar os machados.»
Autor desconhecido

Causas

SUPERMERCADOS ÉTICOS

A Associação ANIMAL lançou a campanha «Supermercado Ético» para que os consumidores pressionem as grandes distribuidoras a aumentar a oferta de produtos vegetarianos e de vegetais e legumes de produção de biológica; a aumentar a oferta de carne, ovos e leite provenientes de sistemas de produção biológica ou extensiva, que se regulem por mais elevados padrões de bem-estar animal, e eliminação de carne, ovos e leite provenientes de sistemas de produção intensiva, muito cruéis para os animais; a aumentar a oferta de marisco e peixe pescado de acordo com elevadas preocupações de bem-estar animal e ecológicas, e eliminação de marisco e peixe pescado sem preocupações de bem-estar animal e ecológicas; a eliminar a venda de paté de foie-gras ou de qualquer outro paté produzido em condições de grande crueldade para os animais usados; a aumentar a oferta de produtos de cosmética, higiene pessoal e higiene doméstica que tenham sido, certificadamente, produzidos sem recurso a testes em animais em qualquer dos momentos de produção e que, de preferência, não tenham ingredientes animais; a acabar com qualquer tipo de relação comercial, institucional, apoio ou patrocínio a touradas, caça, circos com animais, parques zoológicos e outras actividades que envolvam a crueldade contra animais.
A Associação ANIMAL tem como missão defender, estabelecer e proteger os direitos de todos os animais não-humanos.

6 de junho de 2006

25 anos




25 anos medeiam estas duas fotos. Em 6 de Junho de 1981, o Zé Tavares (de Rabo de Peixe – Açores), o Carlos Sousa (de VN Famalicão), o Berto Vieira (da Trofa), o Vítor Anciães (de Penedono) (na primeira fila) e o Zé Marques (de Vila Verde), o Paulo Aragão (dos Arrifes – Açores), O Zé Vieira (de Cinfães) e o Victor Dias (de Arcozelo das Maias) juntaram-se oficialmente aos Missionários Combonianos através da primeira profissão dos votos de castidade, obediência e pobreza.
25 anos depois, o Zé Marques e o Carlos Sousa constituíram família e o Vitinho está nas Filipinas. Os outros cinco juntámo-nos em Santarém com o nosso mestre de noviços, P. Carmelo Casile, para celebrar 25 anos de vida dedicada à missão em Moçambique, no Togo, no Sudão e na Etiópia. Obrigado à comunidade de Santarém pela hospitalidade. A celebração foi simples, mas cheia de significado e de saudades de um tempo único da nossa formação missionária.

5 de junho de 2006

A mais bela bandeira

A MAIS BELA VERGONHA DO MUNDO

A ideia era boa, era! O projecto era grandioso, a mulher portuguesa sentiu-se lisonjeada e acorreu em massa ao Estádio Nacional para formar a bandeira das mulheres.Nos dias que precederam a festa, as facilidades multiplicaram-se: haveria transporte e alimentação gratuitos para todas e ainda OS pequenos brindes que todas gostaríamos de trazer para OS filhos que ficaram em Casa Com O pai. Fomos de todo O país, do Minho ao Algarve e até das ilhas! Até nos pediram para levar O lenço de minhota!
O pior foi que OS senhores DA (Des)organização não sabiam que em Portugal havia tantas mulheres e ficaram atarantados (como dizemos à boa e velha maneira minhota) quando elas invadiram O estádio aos milhares. O transporte, tivemos; e O resto? A alimentação nem a vimos, ou, se alguém a viu, não fomos todas; só as que chegaram primeiro, porque estavam mais perto.
Debaixo das altas temperaturas que se fizeram sentir e do Sol que nos escaldou as cabeças, não havia que comer e a água estava exposta dentro do recinto DA festa sem nos ser distribuída. Quando a pedimos aos organizadores que ufanamente exibiam O seu crachá, como se fossem donos do mundo, ninguém a queria Dar. Tivemos que gritar em coro "Queremos água! Queremos água!".
Muitas entraram em pânico, muitas desmaiaram Com O calor e a fome. Valeram OS bombeiros de Linda-a-Pastora (bem hajam!), que a todas socorreram Com carinho e atenção.
Sabem então O que fizeram OS "festeiros"? Começaram a atirar garrafas de água pelo AR, por cima das nossas cabeças. Quem apanhou, bebeu, quem não apanhou, passou sede. Vi pessoas que partiram as cabeças Com garrafas que vieram pelo AR; vi pessoas que magoaram OS dedos ao tentar apanhá-Las; vi milhares atropelarem-se bancada abaixo, porque estiveram mais de quatro horas sem comer e essencialmente sem beber nada, expostas ao Sol tórrido; vi O pânico e a raiva multiplicarem-se. Os bombeiros não tiveram mãos a medir!
Entretanto, O senhor animador anunciava repetidamente ao microfone que todas iríamos participar na formação DA bandeira; poderíamos estar sossegadas nas bancadas que todas iríamos ser chamadas; haveria lugar para todas... Todas!
Por Volta das 16h, quando as mulheres se aperceberam de que a bandeira já estava em formação, muitas se precipitaram para O acesso ao relvado, sem regra. Umas entraram, outras não. Muitas vieram embora (como eu) sem querer saber sequer DA bandeira, revoltadas Com O desprezo e a mentira a que foram votadas.
Eu levantei-me às 4h DA manhã de sábado, deixei OS meus filhos Com dois e sete anos Com O pai em Casa, fui de Caminha a Lisboa para ser enganada, gozada e maltratada. Como eu, também O foram todos OS milhares de mulheres a quem prometeram que iriam participar na bandeira e não contaram.
Como eu, também O foi a senhora a quem deu uma trombose no recinto que se repetiu na viagem de regresso, dentro do meu autocarro, ao voltar para Casa devido a problemas de saúde antigos agravados pelas más condições a que foi sujeita durante O dia. Foi tudo tão bonito e emocionante na televisão!
Nunca mais tratem assim a mulher portuguesa, porque nós não merecemos. Merecemos mais respeito e atenção porque muito de bom que O país tem é dado por nós. Continuamos a ser O maior pilar português.
Agora, só me resta lavar e guardar O lenço de lavradeira que orgulhosamente exibi em Lisboa, a capital que tão bem nos soube acolher, e esquecer para sempre a mais bela vergonha do mundo por que passei na vida.
Cristina Queirós Marante
Vilar de Mouros

Abrir aspas

O ser humano é naturalmente insaciável. Tudo lhe parece pouco, nunca diz basta, nunca se sente totalmente satisfeito. Esta insatisfação que lhe é consubstancial só pode ser acalmada por algo que sintetize o maior bem possível, que reúna em si tudo aquilo a que ele possa aspirar. Só o Amor tem a capacidade de o saciar de forma absoluta. É sito que Sócrates exclama em O Banquete, quando Diotima termina o seu discurso sobre a ânsia de preencher a vida dizendo: «para o ser humano, a vida só vale a pena ser vivida quando se contempla a beleza de Deus; então passa a ser amado… e a morte fica dele escondida».

Enrique Rojas in «Uma Teoria da Felicidade»

2 de junho de 2006

Armas ligeiras

A PANDEMIA ESQUECIDA

A cada minuto e meio, a pandemia esquecida mata uma pessoa e deixa outra ferida.

A comunidade internacional segue com preocupação os desenvolvimentos relacionados com o vírus H5N1. Teme-se que a gripe das aves possa provocar uma razia em todo o mundo. Felizmente, até agora os casos registados foram circunscritos e tem havido capacidade de resposta. Há, contudo, uma pandemia que passa despercebida, embora, a cada minuto e meio, mate uma pessoa e deixe outra ferida.
Trata-se da proliferação das armas ligeiras, armamento que pode ser transportado e manejado por uma ou duas pessoas – o que o torna «ideal» para ser usado por mulheres e crianças –, e inclui pistolas, metralhadoras, obuses, morteiros, minas e armamento antitanque e antiaéreo. Há, espalhadas pelo globo, cerca de 640 milhões destas armas e mais de 14 milhões de munições. Cinquenta e nove por cento encontram-se nas mãos de civis e fazem um milhão de vítimas por ano. Metade são mortais.
O problema da proliferação das armas ligeiras agudizou-se com o colapso do Império Soviético nos anos 90. Milhões de armas acabaram nas mãos de civis e em zonas problemáticas. Mas não só. O Ocidente é o grande exportador e o tráfico um dos três mais significativos em termos de volume de negócio. Todo esse arsenal tem alimentado inúmeros confrontos, matando ou incapacitando milhões de pessoas, e está por detrás de graves violações dos direitos humanos, da escalada de conflitos e da intensificação da pobreza.
A ONU tentou encontrar uma resposta para o problema humanitário global em 2001, na primeira Conferência sobre o Tráfico Ilegal de Armas Pequenas e Ligeiras. Dessa conferência nasceu um Programa de Acção, que não teve os efeitos desejados e vai ser agora revisto até 7 de Julho, em Nova Iorque. O documento representou um ponto de partida importante para fazer face ao comércio ilegal, que movimenta mil milhões de dólares por ano. Infelizmente, não era vinculativo. A própria ONU reconhece não ter capacidade para impor os embargos que decretou em relação a 13 países.
Em Portugal, há cerca de 900 mil armas ligeiras legais nas mãos de civis. E outras tantas ilegais que estão por detrás do aumento da violência armada – sobretudo em roubos –, apesar de os índices de criminalidade e insegurança do país estarem aquém da média europeia. Algo foi feito. A Comissão Nacional de Justiça e Paz organizou uma audição pública «por uma sociedade segura e livre de armas» e criou um observatório de armas ligeiras. O Governo, por seu turno, está a promover uma campanha de entrega voluntária de armas ilegais.
Em 2001 e 2002, 95 mil portugueses assinaram uma petição solicitando que a Assembleia da República legislasse sobre o tráfico de armas ligeiras. A petição foi arquivada, mas começa a dar frutos a nível interno. Em Agosto entra em vigor um novo quadro jurídico que regula o uso de armas e munições.
Sabe-se que Portugal funciona como uma plataforma giratória para o tráfico internacional. Falta combatê-lo, nomeadamente através de uma maior transparência por parte de fabricantes e empresários. E, quando o Governo se prepara para modernizar o armamento das forças armadas e de segurança, era importante que as armas substituídas, nomeadamente as G3, fossem destruídas em público, em vez de serem vendidas para sucateiros e acabarem a alimentar algum conflito regional algures nos países do Sul. Basta de mortes.

Texto publicado em Além-Mar

1 de junho de 2006

Infância Mundial

Maputo - Moçambique : Meninos do Gaiato © F. Zolli

CRIANÇAS INVISÍVEIS

Hoje celebra-se o Dia Mundial da Criança. Deixo aqui alguns números que fazem pensar:
- mais de 50 milhões de bebés começam a vida sem qualquer identidade porque não são registados. 24 milhões vivem no Sul da Ásia e 18 milhões na África Subsariana;
- 143 milhões de crianças dos países em desenvolvimento são órfãs (uma em cada 13). Em 2003, 16 milhões de crianças ficaram órfãs. A sida matou os pais a 15 milhões;
- Dezenas de milhões vivem na rua e mais de um milhão estão detidas;
- 250 mil crianças estão envolvidas em conflitos armados como crianças-soldado;
- Uma em cada três meninas dos países em desenvolvimento casa-se antes dos 18 anos; nos países mais pobres a proporção é uma por cada duas;
- 171 milhões de crianças – 73 milhões têm menos de 10 anos – trabalham em situações perigosas na agricultura e nas minas;
- Todos os anos, 1200 milhões são traficadas para a indústria sexual, trabalhos perigosos e serviço doméstico;
- 8400 milhões trabalham em condições horríveis.

Dados da UNICEF

Respira

GESTÃO DE RESULTADOS!

Numa cidade do interior, viviam duas mulheres que tinham o mesmo nome: Flávia. Uma era freira e a outra taxista. Quis o destino que morressem no mesmo dia. Quando chegaram ao céu, São Pedro esperava-as.
- O teu nome?
- Flávia
- A freira?
- Não, a taxista.
São Pedro consulta as suas notas e diz:
- Bem, ganhastes o paraíso. Leva esta túnica com fios de ouro. Podes entrar. A seguinte... O teu nome?
- Flávia
- A freira?
- Sim, eu mesmo.
- Bem, ganhaste o paraíso. Leva esta túnica de linho. Podes entrar.
A religiosa diz:
- Desculpe, mas deve haver engano. Eu sou Flávia, a freira!
- Sim, minha filha, e ganhaste o paraíso. Leva esta túnica de linho...
- Não pode ser! Eu conheço a outra, senhor. Era taxista, vivia na minha cidade e era um desastre! Subia os passeios, batia com o carro todos os dias, conduzia pessimamente e assustava as pessoas. Nunca mudou, apesar das multas e repreensões. E quanto a mim, passei 65 anos a pregar todos os domingos na paróquia. Como é que ela recebe a túnica com fios de ouro e eu esta?
- Não há nenhum engano, minha filha! - diz São Pedro. - É que, aqui no céu, adoptámos uma gestão mais profissional do que a de vocês lá na Terra...
- Não entendo!
- Eu explico: Já ouviste falar de gestão de resultados? Agora orientamo-nos por objectivos, e observámos que nos últimos anos, cada vez que tu pregavas, as pessoas dormiam. Cada vez que ela conduzia o táxi, as pessoas rezavam!!!
Obrigado, Helen!

Além-Mar de Junho


ARMAS QUE MATAM POBRES

O tráfico de armas ligeiras que se serve de Portugal como placa giratória ajuda a matar os mais indefesos, nalguns dos países mais pobres do mundo. É por isso que no dia 9 se assinala o Dia Internacional de Destruição de Armas Ligeiras. Há que dizer: basta!
É este o destaque da Além-Mar de Junho. O artigo é uma publicação conjunta da Missão Press, a Associação de Imprensa Missionária.
Outros temas tratados:
Nacionalizar para reinar. Na Bolívia, a nacionalização dos hidrocarbonetos permitirá ao presidente Morales controlar a Constituinte.
Repensar os cultivos alternativos. Na América Latina e na Ásia, a luta anti-droga passa por cultivos alternativos. Mas há que repensar a estratégia.
A vida como ela é. O arquipélago dos Bijagós é um mundo mágico. Até para o missionário-antropólogo que ali vive.
Gente solidária. No Sul do Sudão, os Combonianos estão a criar uma rádio destinada a promover o dialogo de culturas e a paz.
Não estraguem a festa! Graças sobretudo a grupos da extrema-direita, manifestações de racismo estão a estragar a festa do futebol.
Lições de jornalismo missionário. Um testemunho de quem entrou para a Além-Mar precisamente aquando da publicação do número que motivou a sua suspensão.
Além dos artigos de opinião e das rubricas mensais que pode desfolhar na edição electrónica.