A MAIS BELA VERGONHA DO MUNDO
A ideia era boa, era! O projecto era grandioso, a mulher portuguesa sentiu-se lisonjeada e acorreu em massa ao Estádio Nacional para formar a bandeira das mulheres.Nos dias que precederam a festa, as facilidades multiplicaram-se: haveria transporte e alimentação gratuitos para todas e ainda OS pequenos brindes que todas gostaríamos de trazer para OS filhos que ficaram em Casa Com O pai. Fomos de todo O país, do Minho ao Algarve e até das ilhas! Até nos pediram para levar O lenço de minhota!
O pior foi que OS senhores DA (Des)organização não sabiam que em Portugal havia tantas mulheres e ficaram atarantados (como dizemos à boa e velha maneira minhota) quando elas invadiram O estádio aos milhares. O transporte, tivemos; e O resto? A alimentação nem a vimos, ou, se alguém a viu, não fomos todas; só as que chegaram primeiro, porque estavam mais perto.
Debaixo das altas temperaturas que se fizeram sentir e do Sol que nos escaldou as cabeças, não havia que comer e a água estava exposta dentro do recinto DA festa sem nos ser distribuída. Quando a pedimos aos organizadores que ufanamente exibiam O seu crachá, como se fossem donos do mundo, ninguém a queria Dar. Tivemos que gritar em coro "Queremos água! Queremos água!".
Muitas entraram em pânico, muitas desmaiaram Com O calor e a fome. Valeram OS bombeiros de Linda-a-Pastora (bem hajam!), que a todas socorreram Com carinho e atenção.
Sabem então O que fizeram OS "festeiros"? Começaram a atirar garrafas de água pelo AR, por cima das nossas cabeças. Quem apanhou, bebeu, quem não apanhou, passou sede. Vi pessoas que partiram as cabeças Com garrafas que vieram pelo AR; vi pessoas que magoaram OS dedos ao tentar apanhá-Las; vi milhares atropelarem-se bancada abaixo, porque estiveram mais de quatro horas sem comer e essencialmente sem beber nada, expostas ao Sol tórrido; vi O pânico e a raiva multiplicarem-se. Os bombeiros não tiveram mãos a medir!
Entretanto, O senhor animador anunciava repetidamente ao microfone que todas iríamos participar na formação DA bandeira; poderíamos estar sossegadas nas bancadas que todas iríamos ser chamadas; haveria lugar para todas... Todas!
Por Volta das 16h, quando as mulheres se aperceberam de que a bandeira já estava em formação, muitas se precipitaram para O acesso ao relvado, sem regra. Umas entraram, outras não. Muitas vieram embora (como eu) sem querer saber sequer DA bandeira, revoltadas Com O desprezo e a mentira a que foram votadas.
Eu levantei-me às 4h DA manhã de sábado, deixei OS meus filhos Com dois e sete anos Com O pai em Casa, fui de Caminha a Lisboa para ser enganada, gozada e maltratada. Como eu, também O foram todos OS milhares de mulheres a quem prometeram que iriam participar na bandeira e não contaram.
Como eu, também O foi a senhora a quem deu uma trombose no recinto que se repetiu na viagem de regresso, dentro do meu autocarro, ao voltar para Casa devido a problemas de saúde antigos agravados pelas más condições a que foi sujeita durante O dia. Foi tudo tão bonito e emocionante na televisão!
Nunca mais tratem assim a mulher portuguesa, porque nós não merecemos. Merecemos mais respeito e atenção porque muito de bom que O país tem é dado por nós. Continuamos a ser O maior pilar português.
Agora, só me resta lavar e guardar O lenço de lavradeira que orgulhosamente exibi em Lisboa, a capital que tão bem nos soube acolher, e esquecer para sempre a mais bela vergonha do mundo por que passei na vida.
A ideia era boa, era! O projecto era grandioso, a mulher portuguesa sentiu-se lisonjeada e acorreu em massa ao Estádio Nacional para formar a bandeira das mulheres.Nos dias que precederam a festa, as facilidades multiplicaram-se: haveria transporte e alimentação gratuitos para todas e ainda OS pequenos brindes que todas gostaríamos de trazer para OS filhos que ficaram em Casa Com O pai. Fomos de todo O país, do Minho ao Algarve e até das ilhas! Até nos pediram para levar O lenço de minhota!
O pior foi que OS senhores DA (Des)organização não sabiam que em Portugal havia tantas mulheres e ficaram atarantados (como dizemos à boa e velha maneira minhota) quando elas invadiram O estádio aos milhares. O transporte, tivemos; e O resto? A alimentação nem a vimos, ou, se alguém a viu, não fomos todas; só as que chegaram primeiro, porque estavam mais perto.
Debaixo das altas temperaturas que se fizeram sentir e do Sol que nos escaldou as cabeças, não havia que comer e a água estava exposta dentro do recinto DA festa sem nos ser distribuída. Quando a pedimos aos organizadores que ufanamente exibiam O seu crachá, como se fossem donos do mundo, ninguém a queria Dar. Tivemos que gritar em coro "Queremos água! Queremos água!".
Muitas entraram em pânico, muitas desmaiaram Com O calor e a fome. Valeram OS bombeiros de Linda-a-Pastora (bem hajam!), que a todas socorreram Com carinho e atenção.
Sabem então O que fizeram OS "festeiros"? Começaram a atirar garrafas de água pelo AR, por cima das nossas cabeças. Quem apanhou, bebeu, quem não apanhou, passou sede. Vi pessoas que partiram as cabeças Com garrafas que vieram pelo AR; vi pessoas que magoaram OS dedos ao tentar apanhá-Las; vi milhares atropelarem-se bancada abaixo, porque estiveram mais de quatro horas sem comer e essencialmente sem beber nada, expostas ao Sol tórrido; vi O pânico e a raiva multiplicarem-se. Os bombeiros não tiveram mãos a medir!
Entretanto, O senhor animador anunciava repetidamente ao microfone que todas iríamos participar na formação DA bandeira; poderíamos estar sossegadas nas bancadas que todas iríamos ser chamadas; haveria lugar para todas... Todas!
Por Volta das 16h, quando as mulheres se aperceberam de que a bandeira já estava em formação, muitas se precipitaram para O acesso ao relvado, sem regra. Umas entraram, outras não. Muitas vieram embora (como eu) sem querer saber sequer DA bandeira, revoltadas Com O desprezo e a mentira a que foram votadas.
Eu levantei-me às 4h DA manhã de sábado, deixei OS meus filhos Com dois e sete anos Com O pai em Casa, fui de Caminha a Lisboa para ser enganada, gozada e maltratada. Como eu, também O foram todos OS milhares de mulheres a quem prometeram que iriam participar na bandeira e não contaram.
Como eu, também O foi a senhora a quem deu uma trombose no recinto que se repetiu na viagem de regresso, dentro do meu autocarro, ao voltar para Casa devido a problemas de saúde antigos agravados pelas más condições a que foi sujeita durante O dia. Foi tudo tão bonito e emocionante na televisão!
Nunca mais tratem assim a mulher portuguesa, porque nós não merecemos. Merecemos mais respeito e atenção porque muito de bom que O país tem é dado por nós. Continuamos a ser O maior pilar português.
Agora, só me resta lavar e guardar O lenço de lavradeira que orgulhosamente exibi em Lisboa, a capital que tão bem nos soube acolher, e esquecer para sempre a mais bela vergonha do mundo por que passei na vida.
Cristina Queirós Marante
Vilar de Mouros
Vilar de Mouros
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