Madagáscar tem novo chefe de Estado desde Outubro, depois de o presidente Andry Rajoelina fugir do país após três semanas de manifestações sobretudo de jovens da Geração Z, os nativos digitais nascidos entre 1997 e 2012. O coronel Michael Randrianirina é o novo líder do país-ilha do Índico. Os cortes prolongados de água e de eletricidade foram o rastilho que desencadeou o grande levantamento juvenil que fez pelo menos 22 mortes e mais de uma centena de feridos. Dom Benjamin Ramaroson, arcebispo de Antsiranana, explicou ao portal ACI África que «os jovens, desarmados, queriam reivindicar os seus direitos fundamentais, mas a repressão foi muito dura».
A Geração Z africana representa 40 por cento da população – cerca de 600 milhões de jovens – e vive no espaço digital, usando-o para comunicar e se organizar. Viu-se em Madagáscar como se tinha visto no Quénia e em Marrocos. E depois na Tanzânia.
Em Junho de 2024, o presidente William Ruto do Quénia introduziu no Parlamento um projeto de lei para aumentar o IVA sobre bens essenciais e cortar nos subsídios aos combustíveis. Os jovens foram para a rua lutar contra a proposta. As forças da ordem reprimiram os manifestantes com violência e dezenas foram mortos. No final, o presidente teve de fazer marcha-atrás. Em Julho deste ano, a Geração Z regressou às ruas contra o governo de Ruto no 35.º aniversário da marcha Saba Saba do movimento pró-democracia. Exigiam melhores condições de vida e mais transparência nas contas públicas. A comissão queniana de direitos humanos registou 31 mortes, 107 feridos e mais de 500 detenções.
Em Marrocos, os jovens, organizados sob o coletivo GenZ 212 – o número do indicativo telefónico internacional do país –, protestaram contra os gastos do Governo com as infraestruturas para o mundial de futebol de 2030 (que o país organiza com Portugal e Espanha), e a falta de investimentos na saúde e na educação e queriam a demissão do primeiro-ministro. As manifestações foram brutalmente reprimidas pela polícia.
Na Tanzânia, nas eleições presidenciais de 29 de Outubro, os nativos digitais também estiveram particularmente ativos, sobretudo depois de a comissão eleitoral ter declarado vencedora a incumbente Samia Suluhu Hassan com quase 98 por cento dos votos. A União Africana denunciou o ato eleitoral como não conforme com os padrões democráticos internacionais. As autoridades usaram de força letal contra os manifestantes e ocultaram os mortos. Mais de uma centena foram levados a tribunal acusados de tentar obstruir o ato eleitoral.
A Geração Z africana é uma geração que se faz ouvir, militante, corajosa, ciosa dos seus direitos. Uma força com que os políticos têm de se haver. A rápida expansão e a grande acessibilidade da rede digital facilitam a sua intervenção. Daí que, quando há agitação social, os governos tendam a desligar a internet ou, pelo menos, as redes sociais.


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