29 de julho de 2024

FAMÍLIA COMBONIANA CAMINHA COM BARTIMEU







Mais de duas dezenas de membros da Família Comboniana que trabalham na Etiópia passaram uma semana juntos em retiro anual no sul do país.

Treze Irmãs Missionárias Combonianas, incluindo a coordenadora na Eritreia, duas Irmãs Servas da Igreja (do Vicariato de Hawassa) e sete Missionários Combonianos (um irmão e seis sacerdotes) estiveram juntos em repouso, reflexão e oração desde a noite de 21 de julho até à manhã de 29.

A Ir Adele Brambilla veio do Médio Oriente para orientar o retiro. 

Convidou os retirantes a viajar com ela até Jericó e a encontrar Jesus através da experiência de fé do cego Bartimeu.

A Ir Adele foi Madre Geral das Combonianas durante 12 anos, de 1998 a 2010. Depois, regressou à Jordânia para retomar o seu ministério como enfermeira.

Ela disse que não era nem teóloga nem biblista. Queria apenas partilhar a sua experiência e o contacto com a espiritualidade de São Daniel Comboni.

O Centro de Formação Humana de São João em Bishan Gurracha acolheu os participantes, oferecendo um ambiente propício para rezarem.

O Centro, construído na margem norte do lago Hawassa, pertence ao Vicariato de Meki. Foi inaugurado há um ano, mas ainda não está concluído.

É um lugar especial para a oração: silencioso, verde, cheio de árvores, flores e pássaros de todos os tamanhos sobre o lago onde, por vezes, se veem hipopótamos a pastar perto da margem. Muitos pescadores passam o dia nos barcos a apanhar tilápias.

O povo Guji do sul da Etiópia diz, na sua profunda sabedoria, que o silêncio atravessa Deus. Esta foi a experiência de uma semana longe da rotina, em diálogo silencioso com Deus através da sua Palavra e da sua criação.

No final, os participantes foram convidados a regressar à própria Galileia, aos seus ministérios quotidianos, onde o Senhor ressuscitado já está à sua espera.

28 de julho de 2024

EM TI, EM MIM


Procurei-te para além das montanhas, para lá das nuvens, atrás do horizonte. Busquei-te na alvorada e no crepúsculo, no marulhar do riacho e no fragor do mar, na tempestade brava e no sussurro da brisa, na neblina e no nevoeiro cerrado, no labor do dia e no silêncio da noite...

Para descobrir que
afinal
estás em mim
e eu em ti.
Somos um,
comunhão,
amor dado e recebido,
partilhado...
Tu e eu somos um!

15 de julho de 2024

MISSIONÁRIOS DE SUCESSO


No Sudão, anos atrás, quando dois irmãos combonianos se encontravam, perguntavam «Quantos?». Referiam-se ao número de tijolos que cozeram para construir as novas missões. Os números eram em milhões! E as construções, algumas centenárias, continuam de pé, resistindo à erosão do tempo e dos tempos. Como o complexo de Wau.

Hoje, o que é que faz um missionário bem-sucedido no serviço do Evangelho? A pergunta – e a resposta – têm bailado no meu coração desde a festa do Apóstolo Barnabé, celebrada a 11 de junho.

A leitura tirada do livro dos Atos dos Apóstolos apresenta Barnabé como «um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé». Por isso, «uma grande multidão aderiu ao Senhor».

Barnabé foi um missionário bem-sucedido, porque (1) era bom, (2) estava cheio do Espírito do Ressuscitado e (3) e era um homem de fé.

 

BONDADE. O livro dos Salmos exclama num rebate de otimismo que a bondade do Senhor enche a terra inteira. Primeiro, Deus é a fonte da bondade, ou – no dizer de Jesus – «ninguém é bom senão só Deus». Depois, se a Terra está cheia da bondade do Senhor, eu também sou terra, húmus (a raiz da palavra homem, humanidade, humildade), terra fértil apta a produzir frutos bons.

A pessoa boa vive de Deus, expressa e cumpre a bondade que Deus depositou no seu coração como herança irrevogável. Todos nascemos com um capital de bondade próprio.

 

ESPÍRITO SANTO. São Paulo VI afirmou que «nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo», porque «o Espírito Santo é o agente principal da evangelização». 

É o que nos conta o livro dos Atos do Apóstolos, que deveria ser chamado de Atos do Espírito Santo, porque depois da ascensão é o Espírito do Ressuscitado que comanda a Igreja: no dia de Pentecostes, foi o Espírito Santo que encheu os discípulos fechados no salão de cima e os abriu ao mundo e à diversidade de línguas; que encheu e falou através de Estêvão; que comandou Filipe para ir para a carroça do etíope; que conduziu Pedro a casa de Cornélio e desceu sobre os gentios que com ele habitavam; que enviou Barnabé e Paulo em missão; que empurrou Paulo e Silas para a missão na Europa quando eles queriam anunciar a Palavra na Ásia. A lista é muito maior. 

No início do livro do Apocalipse de São João o Espírito fala às sete igrejas da Ásia Menor. O discípulo missionário, cheio do Espírito Santo, é enviado pelo Senhor para proclamar o Evangelho e necessita de ler continuamente a realidade à luz desse mesmo Espírito, processo chamado de discernimento. «O Espírito Santo e nós decidimos», como os apóstolos escreveram no Decreto do Concílio de Jerusalém.


. O serviço missionário que a Igreja presta ao mundo é sobretudo a partilha da fé no Senhor Ressuscitado. Não é um trabalho humanitário, sociológico ou cultural de mérito nem um ato de propaganda. É a proclamação de que Jesus que por nós morreu e ressuscitou é o Senhor e Salvador da criação inteira. Esta é a nossa fé! Sem fé não há missão, sem fé não há milagres de Jesus. Quantas vezes no evangelho Jesus diz às pessoas que ajudou «A tua fé te salvou!»? Jesus afirmou que «tudo é possível a quem crê». Por isso, a oração dos discípulos é também a nossa: «Aumenta a nossa fé». Ou a do pai do rapaz que sofria de epilepsia: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé».


Para terminar esta pequena reflexão, recordo o que Paulo escreveu a Timóteo, seu filho espiritual e companheiro de missão: «Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso». Outra trilogia interessante que faz discípulos missionários de sucesso garantido! 

11 de julho de 2024

EM LOUVOR DA ETIÓPIA

Deus eterno, o Primeiro e o Último,

que não tens princípio nem fim, 

grande em criatividade,

forte nas tuas obras, sábio nos teus conselhos.

Senhor omnipotente:

chamamos-te Eksiabiyer, Allah, Waaqa, Maggano, Gueta...

Tu és nosso Pai e nossa Mãe,

Tu és nosso Avô e nossa Avó,

Tu és nosso Visavô,

Tu nos deste à luz.

Tu és o nosso antepassado comum

e nós somos a tua família.

Te louvamos pela Etiópia,

terra dos rostos queimados,

berço da humanidade,

terra de Dinknesh,

a nossa antepassada

de há mais de três milhões e meio de anos;

terra fértil e de fomes,

terra de mil torrentes e de secas sem fim,

terra de harmonia e de guerras.

Te bendizemos pelos seus povos,

um mosaico de gentes esbeltas e sofridas

que estendem para Ti as suas mãos.

Te glorificamos pelas suas montanhas verdes

erguendo-se para além das nuvens, 

por Ras Dashan e Bale;

Te glorificamos pelos seus rios, longos e impetuosos,

escavando leitos através de gargantas profundas,

pelo poderoso Abay que dá vida ao deserto

até chegar ao Mediterrâneo

rebatizado de Nilo, 

pelo Awash e pelo Ganale e pelo Wabi Shebele,

que se perdem nos desertos;

Te damos graças pelos seus lagos,

crateras de vulcões esquecidos que o tempo encheu,

pelo Tana, pelo Abaya, pelo Langano e pelo Hawassa;

Te bendizemos pelas suas cataratas majestosas

e retumbantes

a desfazerem-se em vapores e arco-íris;

Te glorificamos pelas suas planícies extensas

onde céu e terra se abraçam,

pelas suas florestas misteriosas e cheias de vida,

destruídas pelo fogo voraz para dar lugar a novos campos

ou abatidas por machados lacerantes

da indústria das madeiras,

pelos seus desertos tórridos e salgados.

Te agradecemos pelos seus pássaros formosos,

pelos seus animais selvagens,

pelo leão e pela raposa de Simien,

pela nyala e pelos símios. 

Te glorificamos pela sua história, 

perdida nas brumas da lenda.

Te bendizemos pela sua Igreja,

noiva devota de Jesus,

mártir e fiel ao seu esposo;

pelos monges ortodoxos,

sentinelas e missionários da fé,

pelos seus santos e pelos seus mosteiros.

Te glorificamos pelos seus crentes,

pelos seus jejuns e festivais,

por Timket e por Meskel, as festas do Batismo e da Cruz.

Te adoramos pela injera e pelo kocho,

o pão nosso de cada dia;

pelo café e pelo zeguini.

Tu, Senhor, és a origem de tudo,

Tu és a fonte da vida,

Tu és o manancial do amor.

Por isso, com os anjos e os arcanjos,

com Kedus Garieli, Kedus Mika’eli e Keduz Rufa’eli,

com os santos e as santas,

com Kedus Guiorguis,

Kedus Yared e Kedus Teklehaymanot,

com Abuna Justino e Abba Gebremicael,

com os mártires franciscanos Liberato WeissSamuel Marzorati e Miguel Fasoli

te adoramos e aclamamos cantando para sempre.

 

5 de julho de 2024

SUDÃO DO SUL: PAPA CRIA NOVA DIOCESE


O Papa criou uma nova diocese no Sudão do Sul e nomeou um missionário comboniano seu primeiro bispo.

Francisco estabeleceu a nova diocese de Bentiu e confiou-a ao cuidado de D. Christian Carlassare, até então bispo de Rumbek.

«Estou profundamente movido pelo amor e pela confiança do Santo Padre quando me chama, limitado como sou, para servir a Igreja que está em Bentiu. É uma chamada muito exigente, porque há tantas necessidades no começo de uma diocese», o bispo escreveu numa carta despedida à diocese de Rumbek.

D. Christian nasceu no norte de Itália há 46 anos e missiona no Sudão do Sul desde 2005, depois da sua ordenação.

Desempenhou vários cargos, incluindo o de vice-superior provincial e vigário geral da diocese de Malakal.

É bispo de Rumbek desde 25 de março de 2022, depois de sobreviver a um ataque armado violento que adiou a sua sagração episcopal por um ano.

D. Christian acumula as funções de administrador apostólico de Rumbek até à nomeação de um novo prelado.

A diocese de Bentiu, a oitava do Sudão do Sul, é desmembrada da de Malakal.

Cobre uma área de quase 38 mil quilómetros quadrados, mais de um terço da área de Portugal. Tem perto de 1,2 milhões de habitantes. Metade são católicos.

Em 2025, faz 100 anos que a Igreja Católica chegou ao Estado de Unity.

«Estou feliz por Bentiu e, por isso, recebo a nova nomeação com alegria quando a Igreja universal se aproxima da Igreja local de Bentiu, reconhecendo a fé e as dificuldades que vive», D. Christian disse-me.

A nova diocese fica no Estado de Unity, território Nuer com uma forte presença Dinca, junto à fronteira com o Sudão. 

A zona que tem sofrido grandes inundações anuais devido às alterações climáticas. É rica em petróleo.

A diocese de Bentiu começa com sete paróquias, onze padres – sete diocesanos e quatro missionários – e dez seminaristas.

A missão comboniana de Leer fica integrada na nova diocese.

1 de julho de 2024

POR RIOS E MARES...


Gosto muito de nadar: é como voltar ao seio da mãe e relaxar, sobretudo se a água é quentinha.

Dei os primeiros mergulhos nos tanques de rega de Travassos, nos arredores de Cinfães. Como muitos, aprendi a nadar à cão! Depois aperfeiçoei o estilo em Joazim, no Poço Negro e no Poço do Padre, e no rio Bestança, nas praias fluviais das Aveleiras e Cinco Rodas.

A vida missionária abriu-me a novas águas. Nadei no Mondego (em Coimbra), no Sado, (em Troia) e no Guadiana (no Alqueva); no nosso Douro, no Paiva e no Âncora. Também nadei na Ribeira de Cabrum, num dos cursos de água do Gerês, num riacho no Campo-Valongo, durante um acampamento e na praia fluvial do Azibo.

Na Etiópia, nadei sobretudo no rio Hawata e, no Sudão do Sul, no Nilo Branco, que na nomenclatura árabe se chama Bar el Jebel, o rio dos Montes. As suas águas são quentes, com uma corrente forte. 

Uma vez uma comboniana foi comigo. Queria nadar, mas tinha medo de ficar sozinha na zona reservada às mulheres por detrás de uns canaviais por causa das cobras. Perguntei aos rapazes se podia nadar na parte dos homens. Perguntaram se era minha esposa. Como não era, tivemos de sair todos do rio para ela entrar!

A primeira vez que fui ao mar foi na praia da Árvore, em Vila do Conde. Tinha 12 anos e estava a fazer o estágio em VN Famalicão para entrar nos Combonianos. Perdi uma sandália, que ficou entalada entre duas rochas. Mas a paixão pelas águas salgadas e revoltas ficou.

Outras praias e mares se seguiram: as da Foz e da Boa Nova, no Porto; do Guincho, Maçãs, e Grande, na zona de Sintra; Carcavelos; Costa da Caparica, um dos mares meus favoritos, em Almada, onde perdi o meu colega P. Manuel Pinho, devido a uma crise cardíaca; Comporta, Troia e Portinho da Arrábida; e o Algarve (Albufeira, Quarteira, Vila Moura, Armação de Pera – são as que me recordo). Mais a norte, provei as águas da Nazaré, Mira, Esmoriz, Espinho, Póvoa de Varzim, Vila Praia de Âncora...

Fui estudar teologia para a Inglaterra e nadei com sapatilhas em Brighton, no Canal da Mancha: as jogas a servir de areia não eram nada agradáveis. 

Uma manhã acordei na comunidade comboniana de Ardrossen, na Escócia. O Mar do Norte expandia-se, tranquilo, em frente da janela do meu quarto. Peguei na toalha para um mergulho matinal. O cachorro acompanhou-me. Quando meti os pés na água, apanhei tamanho choque térmico que dei volta e acabei a tomar um duche quentinho...

Depois, nadei no Índico em Moçambique (Maputo e Nacala) e Quénia (na Ilha de Mombaça), no Vermelho (quando visitei o Monte Sinai, aproveitando uma paragem na viagem) e no Mediterrâneo (em Alexandria, no Egito). Fiquei chocado com o que vi em Alexandria: os homens a nadar de calções de banho. As mulheres entravam na água tapadinhas da cabeça aos pés. Também boiei no Mar Morto, da vez que acompanhei uma peregrinação à Terra Santa. No fim apanhei uma banho de lama...

Também experimentei o Atlântico no Ilhéu de Vila Franca, nos Açores, e em Tecolutla, no Golfo do México. Uma autêntica malga de caldo: águas tranquilas, quentes e cheias de algas. Durante o curso de formação permanente no México tive a oportunidade de nadar no Pacífico, na baía de Acapulco.

Quanto a lagos, Langano, Hawassa e Babo Gaya, foram onde mais nadei na Etiópia. Em Portugal, nadei numa das praias fluviais do Alqueva e na Lagoa das Sete Cidades, graças ao meu colega P. José Tavares.

Piscinas? Comecei da piscina do Seminário Comboniano de VN de Famalicão durante o estágio no verão de 1972, passei para a da Maia e acabei na de Santarém. Nos tempos da teologia em Londres era sócio da piscina de Borehamhood (onde também aprendi a fazer canoagem) e no último ano acompanhei crianças com deficiência às sextas-feiras a nadar noutra piscina de que não me recordo o nome.

Em Lisboa, quando trabalhei nas revistas combonianas, fui sócio do Clube Nacional de Natação dos tempos da piscina exterior até à coberta. Também nadei numa piscina perto da residência do Primeiro-Ministro.

Na Etiópia, usei sobretudo piscinas abertas de água quente natural: Aleta Wondo – uma pequena piscina que foi pertença da filha do imperador Haile Selassie, nacionalizada e aberta ao público depois do golpe de estado comunista em 1975 e que fica perto de Hawassa, Ambo e Sodoré. As últimas visitei-as uma vez.

No México, nadei muito na piscina do Cruz Azul, o clube de futebol da capital com o centro de treinos paredes meias com a comunidade provincial dos combonianos em La Noria, Xochimilco. Antes, um médico fez-nos uma revisão minuciosa da pele, sobretudo dos pés, para não contaminarmos os atletas.

O centro de espiritualidade, em Cuernavaca, onde fiz um retiro, tinha uma pequena piscina, que eu gostava de usar antes de ir dormir. Era muito giro nadar ao luar.

Em Juba, nadei muitas vezes na piscina do Jebel Lodge, o hotel onde um casal amigo morava. Os residentes tinham direito a dois convidados de borla. Ia lá sobretudo depois do trabalho. Que bem que sabia!

Também nadei na piscina descoberta de Cinfães – com as sobrinhas-netas. Na recuperação da cirurgia à anca, utilizei a piscina de Gueifães, na Maia, duas vezes por semana.

Gostei das braçadas que dei nas piscinas de água salgada de Espinho e da Granja, perto de VN de Gaia. E de um dia passado na piscina do meu compadre no Escorregadoiro, São Cristóvão de Nogueira (Cinfães).