13 de julho de 2023

MEMORIAL 3D


Na parede da sala de estar da missão de Qillenso fizemos um memorial 3D com as fotos dos três missionários combonianos que desbravaram a presença católica entre os Gujis: os padres Bruno Lonfernini (centro), Carlo Giana (esquerda) e Esteban Ramón García Reyes (direita). Porque temos raízes. Porque temos memória. Porque fazemos memória. «[Por]que morreram no amor, nós também viveremos certamente» (Ben Sira 48, 11).

Os combonianos começaram a visitar Qillenso em 1973 para acompanhar um grupo de sidamas da missão católica de Teticha que migrou para essa localidade da terra dos gujis. Até 1979 Qillenso era uma capela daquela missão a cerca de 90 quilómetros mais a norte.

Entretanto, a relação entre gujis e sidamas azedou e os últimos foram obrigados a regressar ao seu território. O P. Bruno, que tinha fundado as missões de Tullo em 1966 e Teticha em 1977, entretanto, com o acordo do bispo Dom Armido Gasparini, decidiu ficar em Qillenso tentar fundar uma missão entre os gujis à revelia do superior provincial que não via com bons olhos a possibilidade de a província trabalhar com quatro línguas: amárico, sidama, guedeo e guji. Em 1980 abriu a capela de Gosa, 35 quilómetros a norte de Qillenso.

O P. Bruno nasceu na Itália em 1924 no seio de uma família muito devota que deu dois padres e uma comboniana à Igreja. Entre 1949 e 1958 trabalhou no Sudão do Sul de onde foi expulso por supostamente distribuir medicamentos entre os doentes pobres. Colegas dizem que a razão verdadeira foi o seu hábito de comprar cereais durante a época barata para depois os dar aos pobres durante a fome, o que deveras incomodava os comerciantes locais.

Entre 1958 e 1964, dedicou-se à formação de futuros missionários na Itália natal, sendo depois destinado à Etiópia juntamente com o P. Bruno Maccani para iniciar a missão comboniana entre os sidamas no sul do país. Investigador da língua e da cultura dos povos sidama e guji escreveu um livro em italiano sobre cada povo.

Em 1981, a missão de Qillenso, dedicada à Senhora das Dores, foi oficialmente erigida e, um ano depois, Gosa era confiada aos Jesuítas e às Franciscanas Missionárias de Maria. Mais tarde chegaram a Qillenso as Missionárias Combonianas para abrir a clínica e iniciar a pastoral de promoção feminina.

O P. Carlo Giana, também nascido na Itália, juntou-se ao P. Bruno em 1980. Veio da Eritreia. Na altura era província da Etiópia, onde chegou em 1962, para ensinar no Comboni College, uma escola secundária que os combonianos iniciaram em Asmara para preparar jovens para a universidade que as Combonianas fundaram naquela cidade.

Depois de 18 anos dedicados à escola como professor e diretor, o P. Carlo fez um curso em 1979 para se dedicar à primeira evangelização e a partir de 1980 fez equipa com o P. Bruno.

Dedicou-se sobretudo ao estabelecimento de capelas na zona das montanhas do Uraga, a cerca de cem quilómetros de carro ou de cinco horas a pé de Qillenso. Do suor e das canseiras apostólicas do P. Carlo nasceu em 1995 a florescente missão de Haro Wato.

O P. Bruno, em 1981, começou também a visitar a zona de Soddu Abala, a 48 quilómetros a sudoeste de Qillenso, dando origem à quarta missão comboniana entre os gujis, que, em 1984, foi confiada ao cuidado apostólico de dois padres da arquidiocese italiana de Bari.

O P. Esteban, mexicano, chegou a Qillenso em 1982, depois de trabalhar meia dúzia de anos como formador no México. Permaneceu em Qillenso dez anos.

Cada missionário tinha o seu estilo. O P. Bruno, sabendo da paixão dos gujis pelos cavalos, organizava corridas e dava prémios — sobretudo roupa — aos vencedores, prometendo mais agasalhos a quem frequentasse o catecumenado. Também distribuía ajudas pelos pobres e dedicava-se a estudar a língua e cultura locais.

O P. Carlo era o verdadeiro papa-léguas do grupo. As suas longas caminhadas sobretudo na região do Uraga — entre uma família diferente dos gujis — estão ainda presentes na memória dos católicos. Além disso, traduziu para guji os textos litúrgicos e o catecismo.

O P. Esteban era mais dado aos trabalhos práticos e dedicou-se sobretudo à escola da missão (que na altura tinha alunos da primeira à quarta classe e hoje da quinta à oitava). Ensinou um jovem a reparar as bolas de futebol. Como bom mexicano não podia passar sem o feijão e guardava uma boa reserva da leguminosa em latas debaixo da cama.

O P. Bruno deixou Qillenso em 1987, altura em que foi para a missão de Fullasa, entre os sidama. Em 1991, regressou a Tullo, a sua primeira missão na Etiópia. Faleceu a 04 de outubro de 1999 em Milão, no norte da Itália, depois de ter sido evacuado da Etiópia por ter contraído um virus que lhe afetou o cérebro.

O P. Carlo em 1993 foi eleito superior provincial dos Combonianos na Etiópia. Substituí-o em Qillenso. Depois de terminar o segundo mandato, em 1999 iniciou o serviço de secretário-geral de Hawassa para sistematizar o crescimento da diocese. Faleceu de cancro no estômago em 20 de Janeiro de 2008, em Milão.

O P. Esteban regressou duas vezes aos gujis: entre 1996 e 1998 serviu em Haro Wato e entre 2007 e 2012 em Qillenso. Faleceu a 12 de janeiro de 2021 em Guadalajara, no México, vítima do COVID.

Estes são os pioneiros que nos inspiram no nosso serviço missionário entre os gujis de Qillenso, Gosa e Adola, que celebramos, recordamos e tentamos imitar. Porque amaram a Jesus e aos gujis nós vivemos aqui!

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