13 de dezembro de 2021
ALEGRAI-VOS
No meio do advento e da quaresma a liturgia convida os católicos à alegria. No terceiro domingo do advento e no quarto domingo da quaresma, tempos litúrgicos penitenciais de roxo vestidos, os paramentos podem ser cor-de-rosa para alegrar as celebrações!
«Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos» — exorta Paulo a comunidade grega de Filipos e cada um de nós.
Estamos habituados a rezar a vida como um vale de lágrimas. O grande amor e a grande dor são o caminho que leva à transformação pessoal, escreve Richard Rohr, o místico franciscano norte-americano.
Contudo, as lágrimas e o sofrimento não são a estação derradeira do peregrinar cristão. «Aqueles que semeiam com lágrimas, vão recolher com alegria. À ida vão a chorar, carregando e lançando as sementes; no regresso cantam de alegria, transportando os feixes de espigas», proclama o salmista.
A alegria do Senhor — que é a nossa fortaleza — é o destino final de cada um! Não é por acaso que o Papa Francisco colocou a palavra alegria no título de três das suas exortações apostólicas: A alegria do Evangelho (o seu programa pontifical), A alegria do amor (sobre o matrimónio cristão), Alegrai-vos e exultai (sobre a santidade nos dias de hoje).
O advento é tempo de espera alegre. Vivi as duas primeiras semanas deste tempo litúrgico numa espera dupla: a espera do Senhor que vem e a espera do visto ONG para poder voltar à Etiópia. Cada vez que o alarme do telemóvel tocava ia logo à caixa do correio, mas ou era mais um golo do FC Porto, uma atualização da situação da Covid, mensagens via Facebook, Messenger, WhatsApp ou Twitter…
Enquanto esperava tive oportunidade de encontrar ou re-encontrar muitas pessoas — como o Ababayo na foto, de rever lugares…
No advento, não esperamos sentados na berma da vida à espera do milagre do encontro: esperamos vivendo o dia-a-dia com alegria e disponibilidade.
A minha espera não terminou com a chegada do visto uma dezena de dias depois da data em que era esperado. Continuou quando cheguei ao aeroporto internacional de Bole munido de passaporte português e visto ONG na mão.
O oficial de fronteira que me recebeu — que aqui tem o nome pomposo de Agência Etíope para a Imigração, Nacionalidade e Eventos Vitais — mandou-me esperar. Deixou o guichê apressado e foi consultar o supervisor. Parecia que os dois documentos lhe queimavam as mãos.
O supervisor veio com ele e perguntou para que ONG trabalhava. Expliquei que tinha contrato de trabalho como professor voluntário com a Igreja Católica. Apresentei os respetivos documentos.
«Espera ali» — disse, brusco, apontado para um espaço onde não havia ninguém. Esperei uma meia hora. Ainda imaginei que me fossem deportar!
Finalmente o oficial chamou por mim, quis saber a que nível ensinava, carimbou o passaporte e disse para ir-me embora. Que alívio!
Em casa explicaram-me que, uma vez que muitos europeus e norte-americanos deixaram o país com receio de que o conflito com os tigrinos atingisse Adis-Abeba, a chegada de cidadãos desses países é tratada com suspeição!
Hoje entreguei o passaporte e o visto no Secretariado Católico e amanhã prossigo a viagem até Hawassa. Quarta-feira, se Deus quiser, almoço em casa com o P. Hipólito! Entretanto, não reconheceram a minha carta de condução — tinha caducado há dez anos — e ter de fazer exame de código e de condução. De novo! Desaja-me sorte.
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