11 de abril de 2020
E DESCEU AOS INFERNOS
O Sábado Santo em termos de liturgia é uma espécie de dia-zero: faz-se silêncio, em modo de repouso. Um compasso de espera, expetante, à espera do recomeçar.
O evangelho de Lucas termina a descrição do sepultamento de Jesus com uma nota curta: «Ao regressarem prepararam aromas e perfumes, e no sábado repousaram, segundo o mandamento» (23, 56).
O Símbolo (ou Credo) dos Apóstolos – o credo mais pequenino – proclama que Jesus «foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos». Outra tradução possível é que Jesus desceu aos infernos.
Numa homilia do século IV o pregador explica o Sábado Santo: «Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos».
O que faz Jesus na sua descida aos infernos? «Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos».
E continua: «O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”.»
Na arte, esta descida aos infernos, é representada com Jesus a dar a mão aos mortos e a tirá-los de lá com Eva e Adão à cabeça. Um ícone da ternura de Deus que nunca nos abandona apesar dos seus silêncios…
No silêncio deste sábado, nos teus silêncios estende a mão a Jesus que vive e te quer viva, vivo! Ele também te leva contigo na sua ressurreição dos mortos.
Ele está connosco, tumulados em apartamentos ou casas, com medo, solidão, fome, insegurança; desesperados porque a primavera puxa-nos para fora e as autoridades mandam-nos para dentro; Ele está connosco no leito, ligados a ventiladores, agonizantes; Ele está com as vítimas do COVID-19.
Ele está sempre connosco, e repete: «Não tenhas medo! Eu sou o Primeiro e o Último; aquele que vive. Estive morto; mas, como vês, estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e do Abismo!» (Apocalipse 1, 17-18).
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