15 de novembro de 2019

AMAZÓNIA: NOVOS CAMINHOS DE CONVERSÃO



O Papa Francisco surpreendeu ao convocar umo Sínodo Especial para a Amazónia sob o tema «Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral».

O evento decorreu no Vaticano de 6 a 27 de outubro de 2019.

O Documento Final, apresentado pelos padres sinodais ao papa, apresenta os caminhos novos através como conversão em cinco andamentos: da escuta à conversão integral, e novos caminhos de conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal.

O documento tem 120 propostas, curtas e muito práticas, na linha do Instrumento de Trabalho.

O debate pós-sinodal está a centrar-se demasiado sobre as questões da ordenação presbiteral de diáconos permanentes casados e de diaconisas enquanto a grande novidade está na conversão como caminho de renovação eclesial.

A ordenação de homens casados é, a meu ver, uma falsa questão, porque a Igreja latina já tem muitos padres nessas condições. São normalmente padres anglicanos que não quiseram partilhar o altar com mulheres ordenadas e foram recebidos e re-ordenados na Igreja Católica.

Os católicos dos ritos orientais podem escolher entre o sacerdócio solteiro – de onde se elegem os bispos – ou casado como os das comunhões ortodoxas.

Os padres sinodais colocaram a questão na perspectiva correta: é mais importante possibilitar regularmente a Eucaristia e os outros sacramentos às comunidades remotas que têm a visita de um padre uma vez por ano ou a disciplina do celibato? A Eucaristia é a fonte e o cume da vida cristã e um direito de cada baptizado. O celibato – a promessa de ficar solteiro – é uma disciplina na Igreja Romana.

A questão do diaconado feminino continua em aberto à espera de novas reflexões. Não me parece que seja implementado a curto prazo.

Importa sim é reconhecer o papel essencial da mulher leiga e consagrada na vida quotidiana das comunidades sem padre residente. Esta é uma novidade do sínodo: oficializar essa realidade. O documento fala não só do reconhecimento dessas lideranças como da necessidade de as mulheres integrarem os órgãos de decisão e de governo da Igreja.

O documento giza um diagnóstico muito sombrio da situação da Amazónia, um território partilhado por nove países e com quase 34 milhões de habitantes: o «coração biológico» da humanidade está afectado por uma dramática situação de destruição de territórios (já perdeu 17 por cento da floresta) e dos povos, sobretudo os indígenas (nº 10).

Propõe uma conversão integral (nº 18) que parte da relação pessoal com Jesus para mudar as relações interpessoais e com a casa comum e propõe a definição de «pecado ecológico» (nº 82), outra novidade.

O documento dá voz à aspiração de uma Igreja com rosto amazónico, uma igreja indígena audaz com ministérios, ministros e ritual próprios expresso na linguagem local através da encarnação do Evangelho nas culturas autóctones.

Reconhece o lugar das religiosas, religiosos e congregações como equipas missionárias itinerantes que vão fazendo caminho e propõe a passagem da pastoral das visitas à presença mais permanente sobretudo nas zonas onde mais ninguém quer estar (nº 40).

Os consagrados são enviados a proclamar a boa nova no acompanhamento de proximidade aos povos indígenas, aos mais vulneráveis e aos mais distantes a partir de um diálogo e anúncio através de comunidades intercongregacionais, respeitando a cultura e as línguas indígenas para chegar ao coração dos povos (nº 97).

O documento pede uma conversão ecológica para responder à crise socio-ambiental sem precedentes contra a atitude voraz e predatória no uso da Amazónia e das suas riquezas (nº 71).

Há ainda a notar a inversão da pirâmide eclesial. O documento começa por falar da missão dos leigos e religiosos e termina com a dos ministérios ordenados.

O Documento Final fecha com as palavras «uma Igreja de rosto amazónico e em saída missionária».

A saída missionária é apresentada ao longo do documento como a chave para a renovação da Igreja na Amazónia como o é para as Igrejas diocesanas e para a Igreja universal.

As comunidades eclesiais de base – que o documento revalida (nº 36) – são também chamadas «pequenas comunidades eclesiais missionárias que cultivam a fé, escutam a Palavra e celebram juntas a vida do povo» (nº 95).

Espera-se com grande expectativa a Exortação Apostólica pós-sinodal que o Papa prometeu estar pronta até ao Ano Novo.

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