7 de fevereiro de 2019
«CAI, CAI, BASHIR!»
Sudaneses querem mudança de regime, já.
As palavras de ordem de manifestantes a pedir a renúncia do presidente Omar al-Bashir e o fim da ditadura do seu partido ecoam por todo o Sudão desde finais de Dezembro num troar de descontentamento.
O levantamento popular teve início a 19 de Dezembro na cidade de Atbara, no Nordeste do país. A população foi para a rua protestar contra o aumento do preço do pão e a falta de combustíveis e de dinheiro nas caixas multibanco. Os manifestantes incendiaram a sede do NCP (o Partido do Congresso Nacional, no poder) enquanto exigiam a queda do presidente há quase três décadas no poder.
De Atbara os protestos estenderam-se à capital e ao país. Multidões cada vez maiores cantam «Cai, cai» enquanto nas paredes aparecem grafitos com a silhueta do ditador e a legenda «Vai, Bashir» em árabe.
O aparato de segurança (polícia, segurança nacional e milícias) confronta os protestos à bastonada, balas e gás lacrimogénio. Al-Bashir pediu-lhes que «extraíssem penitência» dos opositores e as suas forças levam-no a sério: além da violência desmedida contra os manifestantes, prenderam médicos, jornalistas, activistas, políticos da oposição e líderes da sociedade civil, invadiram residências privadas e atacaram mesmo o Hospital de Omdurmã com granadas de gás. Até meados de Janeiro, o Governo contava 24 mortos, mas a oposição dizia que foram pelo menos 55.
Um missionário escrevia há dias: «Os problemas de manifestações continuam (e os mortos aumentam). O pão vai-se conseguindo com grandes filas de espera, nem que seja preciso esperar todo o dia. A Internet tem estado bastante alterada e fechada por causa das manifestações antigovernamentais já há três semanas. A gente quer justiça, pão, novo governo. A nossa oração é para que se saibam resolver da melhor forma, com justiça e dignidade, os problemas do Sudão.»
As manifestações são menos contra a inflação (oficialmente nos 70 por cento) e a falta de combustível e de liquidez e mais contra os excessos do regime de al-Bashir e pela sua mudança. A presença feminina nas ruas é maciça. Num exercício de subversão criativa ao regime, fazem-se anéis com as cápsulas de metal das balas e vasos de flores com as latas do gás lacrimogéneo.
É muito difícil de prever como o levantamento vai acabar: as manifestações crescem em tom e tamanho e as forças do Governo enfrentam-nas com mais violência (e de rosto coberto para evitar serem identificados).
A chave da crise está no Exército, que se tem mantido à margem da repressão. Na Internet circulam vídeos de soldados a saudar os manifestantes no início da revolta e até a proteger manifestantes. Mas as chefias militares foram promovidas pelo presidente al-Bashir, um coronel que tomou o poder em Junho de 1989 por meio de um golpe.
As redes sociais estão cheias de vídeos, fotos e mensagens a cobrir as manifestações diárias, mas pouco sai nas páginas ou ecrãs das fontes de informação mais importantes. A polícia, essa continua a confiscar os telemóveis para tentar arrestar o registo vídeo dos protestos.
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