Reviver a magia da
África é uma experiência sempre nova.
Desta vez vim para orientar dois retiros às missionárias e aos missionários combonianos. Como o meu coração se alegrou ao ver a vaga de bem-estar e de desenvolvimento em Maputo, Nampula, Nacala, Beira e Chimoio!
As cidades estão a ser recuperadas e a expandir-se para novos territórios, as estradas estão muito melhores – pelo menos os corredores da Beira e de Nacala –, os comboios voltam a circular, carregando carvão de Tete para Nacala e Beira e daí para a China, Índia e outros países.
As novas riquezas – o carvão e gás natural – trouxeram capital fresco e muita corrupção, juntamente com o tráfico de droga (a segunda fonte de divisas do país) da Ásia para os mercados da África do Sul e da Europa.
Voltar à África, voltar a Moçambique é uma bênção enorme para mim porque pude:
- voltar a ser despertado pelos galos e pelo chilrear da passarada e viver devagar ao ritmo do Sol e sem internet;
- caminhar pelas veredas, cumprimentar as pessoas, sentir o sol e o vento a afagar-me a pele, ouvir os pássaros, reparar nas flores minúsculas, nos insectos, escutar o silêncio cheio de vida, o silêncio de Deus;
- ver a terra areosa ou castanha-avermelhada prenhe de feijão, mandioca, cana-de-açúcar, banana, café, ananás e batata-doce e as hortas cheias de verduras frescas e variadas;
- voltar a viver a hospitalidade do sorriso acolhedor, da palavra quente, do feijão cozido oferecido e aceite com a devoção de um gesto eucarístico;
- rezar na valeta da estrada onde a Irmã Teresa Pezze e o Irmão Alfredo Fiorini regaram a terra macua com o seu sangue de mártires da guerra civil no intervalo de oito anos;
- visitar o cemitério de Carapira para saudar os meus avós e irmãos na vocação lá sepultados: o P.e Emílio Franzolin, a Ir. Teresa Pezze e outras missionárias e missionários que deram a sua vida até ao fim ao povo macua, e a Ir. Luísa Manuel, jovem comboniana moçambicana que morreu num acidente de viação no Brasil;
- saborear o que a terra dá: batata-doce, mandioca, feijão, chima (papas de farinha de milho), galinha boa, carne gostosa, hortícolas frescos, papaias, laranjas, tangerinas, limões, cocos, amendoim, caju, piripíri de respeito – tudo produzido com uma pegada ecológica mínima;
- ler tranquilo debaixo de um pé de manga;
- assistir ao nascer e pôr-do-sol, ver o céu a acender-se devagar, escutar a hora mágica das cigarras;
- mergulhar nas águas cálidas do Índico com praias imensas, de areia branca emolduradas por coqueiros a acenar ao vento;
- voltar a sentir o orvalho frio do cacimbo no planalto de Chimoio;
- contemplar a beleza do planalto e sentir-me levado nas asas da memória mais a norte para paisagens similares no Sul da Etiópia, onde também fui muito feliz.
Senhor, eu te bendigo pela magia da Mãe África, o seio ferido da humanidade, o Éden onde foi plasmado o género e génio humano.
'As novas riquezas – o carvão e gás natural – trouxeram capital fresco e muita corrupção, juntamente com o tráfico de droga (a segunda fonte de divisas do país) da Ásia para os mercados da África do Sul e da Europa.'
ResponderEliminarCom o passar do tempo e talvez muito mais rápido do que seria de desejar, devido mesmo a este teu parágrafo que coloquei como premissa, toda a beleza e vida que tão bem descreveste, se alterará. Com muito de paradoxal.
Um obrigado grande pela descrição e partilha, ajudam-me a alimentar o sonho do regresso. Além de anunciarem belezas verdadeiras por estes lados há muito esquecidas e até vistas como não valores.