Juba celebra um Natal
vibrante e colorido.
Dois técnicos italianos davam os últimos toques nos estúdios, nas antenas e no transmissor, enquanto a equipa missionária – duas irmãs e um irmão combonianos, e eu – aprendíamos os segredos da rádio.
Veio a meia-noite e desligámos a emissão automática dos estúdios para ir para o ar a transmissão da missa do galo da Catedral de Santa Teresa, presidida por Dom Paolino Lukudu Loro, arcebispo comboniano de Juba e primaz do Sudão do Sul.
A transmissão inaugural foi um êxito: a celebração do Natal da catedral entrou nos lares de Juba através da Bakhita Radio 91 FM, a voz da Igreja – como proclamava o indicativo da estação.
Depois da transmissão tivemos de arrumar cabos, microfones e misturador. Quando chegámos, na rua tínhamos uma surpresa à nossa espera: uma multidão imensa celebrava o nascimento de Jesus ao jeito de um grande Carnaval.
Jovens, mulheres e homens, tudo vestido a preceito, corriam pelas ruas sem iluminação pública numa alegria efusiva. Rapazes queriam impressionar a fazer habilidades com as suas motas. Automóveis manifestaram-se com uma explosão de sons numa coreografia desordenada e imparável. As ruas junto às igrejas fervilhavam de gente e de actividade.
A razão para tanta algazarra natalícia era a liberdade: durante a guerra civil, que terminou em Janeiro de 2005, a população de Juba viveu sob o recolher obrigatório das seis da noite às seis da manhã. Quem fosse apanhado nas ruas durante esse período era preso ou na pior das hipóteses apanhava um tiro de um soldado ou de um polícia. A segurança nesses tempos era férrea.
Contudo, na noite de Natal, o Governo muçulmano (fundamentalista) de Cartum levantava o recolher obrigatório para os cristãos poderem celebrar o nascimento de Jesus com a missa do galo à meia-noite.
Depois da celebração, bem cantada, dançada e vivida, os templos despediam as grandes assembleias para a rua para celebrar a alegria do nascimento do Menino, a única noite em que podiam quebrar o recolher obrigatório sem correrem risco de vida.
Contudo, os últimos quatro Natais foram muito diferentes: os libertadores tornaram-se opressores e a 15 de Dezembro de 2013 o país voltou a descer aos infernos da guerra civil com contornos étnicos da luta fratricida pelo poder. Forças do Governo e da oposição usam a ajuda alimentar, a violência sexual e a limpeza étnica como armas para punir aqueles que percebem como inimigos à hegemonia política que dá acesso ao controlo das riquezas nacionais – sobretudo o petróleo – e à percentagem «cobrada» ao investimento estrangeiro.
Não sei se este ano os cristãos voltam a trazer a alegria do Natal para as ruas de Juba e para os caminhos do país. Mas Jesus, o Deus-connosco, continua a oferecer a sua paz a todos os que queiram fazer o caminho da reconciliação e da conversão.
«Glória a Deus nas alturas e paz na terra, sobretudo no Sudão do Sul martirizado!» – vão cantar os anjos na noite santa.
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