2 de junho de 2017

ARCO-ÍRIS DESBOTADO


A «nação arco-íris» perde cor.

A África do Sul fez uma transição notável do regime segregacionista da minoria branca para a democracia multirracial e multipartidária guiada pela figura maior que foi Nelson Mandela sob a bandeira da Nação Arco-Íris.

Com as eleições de 1994, ganhas pelo ANC de Mandela, nascia um tempo fértil de esperança para a maioria dos sul-africanos. A Constituição de 1996 parecia pôr termo ao tempo da segregação e da pobreza institucionalizadas para as populações negras.

A Comissão de Verdade e Reconciliação, conduzida pelo arcebispo Desmond Tutu, sentou frente a frente vítimas e agressores e cancelou o espectro da vingança e do banho de sangue nacional. O arcebispo anglicano cunhou o termo «Nação Arco-Íris» para celebrar a diversidade cultural do país.

Hoje, a esperança da madrugada da liberdade deu lugar à exasperação da canícula do meio-dia. A sociedade sul-africana é das mais violentas do globo. Racismo e xenofobia contra estrangeiros africanos e violência contra a mulher estão na ordem do dia. A liderança política enfraqueceu.

A África do Sul é o país mais rico do continente. Os seus recursos naturais importantes incluem ouro, diamantes, cobre, crómio, antimónio, platina, urânio, carvão, ferro, gás natural. Contudo, a riqueza é repartida por uma elite. Um quinto da população vive em pobreza extrema e um quarto está desempregado. Em termos de consumo, os 20 por cento mais pobres da população consomem três por cento do total dos gastos do país, enquanto os 20 por cento mais ricos consomem 65 por cento.

O P.e Jude Burgers, provincial dos Combonianos na África do Sul, escreveu num depoimento: «Sendo sul-africano, eu amo o meu país e o seu povo. Gostaria de ver o melhor do meu país em destaque, e que as muitas áreas que necessitam de tratamento sejam rapidamente cuidadas. Retraio-me quando as escaramuças no nosso Parlamento são transmitidas por todo o mundo. Baixo a cabeça, envergonhado, quando ataques xenófobos e relatórios de corrupção maciça e discriminação são notícia local e internacionalmente.»

A Nação Arco-Íris é produto de migrações milenares que foram compondo o mosaico étnico sul-africano. Ataques contra estrangeiros são comuns devido à crise económica que o país vive. O Governo recusa vistos de residência a estrangeiros africanos, incluindo missionários.

«Embora a África do Sul seja lar de milhões de refugiados, não tem campos de refugiados. Estes refugiados e migrantes vieram de todas as partes do continente africano e também da Ásia. Os refugiados, migrantes e exilados, inicialmente recebidos de braços abertos, experimentam agora hostilidades por parte de algumas populações locais. Lutando com os habitantes locais pelos mesmos recursos, empregos e habitação encontram-se, discriminados pelo simples facto de serem “estrangeiros”», explica o P.e Jude.

Há alguma saída para esta situação de crise profunda? O P.e Jude vê uma escapatória: «Acredito que por meio da educação a nossa sociedade crescerá para ser mais compreensiva e acolhedora.» Mesmo apesar da crise do sector. «Temos milhares de educadores comprometidos e boas instalações educacionais, mas ganhar acesso a uma educação boa é problemático», acrescenta.

Campanhas como #Feesmustfall (Propinas têm de baixar) apontam para a democratização do ensino ao pugnar por educação universitária gratuita para todos.

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