2 de outubro de 2014

AFRICANOS MISSIONÁRIOS

Ir. Tiberh Zerezghi, Missionária Comboniana eritreia, com crianças de Bahia, Brasil

A África passou de terra de missão a Igreja missionária aberta a todo o mundo, incluindo Portugal.

No Verão de 1969, Paulo VI esteve em Campala, a capital do Uganda, para participar no encerramento de um simpósio organizado pelos bispos africanos. Na homilia lançou um apelo decisivo ao continente: «Africanos, sede missionários de vós próprios!»

A Igreja africana aceitou o desafio de ser missionária «em casa» e fora dela: africanas e africanos saíram em missão para outros continentes, incluindo para Portugal, onde ministram em comunidades religiosas e paróquias.

Apesar de não haver estatísticas disponíveis para quantificar a missionariedade do Continente Negro, há alguns indicadores que nos permitem entrever essa realidade.

Tomemos, a título de exemplo, a congregação dos Apóstolos de Jesus, a primeira congregação missionária africana. Foi fundada a 22 de Agosto de 1968 em Moroto, no Uganda, pelo bispo Sisto Mazzoldi e o padre João Marengoni. Estes dois missionários combonianos italianos também fundaram as Irmãs Evangelizadoras de Maria em 1975. O bispo Mazzoldi já tinha fundado as Irmãs do Sagrado Coração e os Irmãos de São Martinho de Porres, no Sudão (hoje do Sul). O padre Marengoni começou os Evangelizadores Contemplativos do Coração de Cristo no Quénia em 1986.

Os Apóstolos de Jesus contam com 381 padres e irmãos e estão presentes em mais de 60 comunidades distribuídas por 76 dioceses: 23 dos Estados Unidos da América, 12 do Uganda, 10 da Tanzânia, 8 do Quénia, 7 da África do Sul, 4 do Sudão do Sul, 3 da Inglaterra, 2 da Etiópia e da Itália e 1 da Austrália, Botsuana, Cuba, Alemanha e Sudão, respectivamente.

O mesmo se passa com as Irmãs Evangelizadoras de Maria, que também foram a primeira congregação missionária feminina africana. São cerca de 250 e vivem em 33 comunidades no Uganda, Tanzânia, Quénia, ilha de Zanzibar, Sudão do Sul, África do Sul, Cuba e Estados Unidos. Dedicam-se à evangelização, educação e promoção humana.

Por outro lado, em França, em Outubro de 2011, havia 847 padres africanos a trabalhar em dioceses francesas. Um quarto era da RD Congo.

Esta partilha de recursos humanos entre as igrejas particulares africanas e com a igreja universal foi preconizada por João Paulo II em A Igreja em África (n.º 129), a exortação apostólica que escreveu depois do primeiro sínodo sobre a Igreja no continente em 1994.

Candidatos africanos também representam um novo fôlego para muitos institutos masculinos e femininos, inclusive aqueles que nasceram para evangelizar a África, como os Missionários Combonianos, e já desempenham funções de liderança. Os seis noviciados combonianos na África, Europa e América têm 78 noviços, dos quais 66 são africanos. O panorama repete-se quanto a estudantes de Teologia: dos 128 seminaristas maiores, 110 são africanos.

O padre Don Bosco Ochieng, um espiritano do Quénia, passou quase dez anos incardinado na diocese de Rumbek, no Sudão do Sul. Hoje é o director da Agência Católica de Notícias para a África. Para ele, «África é uma Igreja missionária e vibrante para si mesma e para o mundo. O facto de africanos estarem a cuidar de paróquias na Europa e nas Américas é outra evidência de que os africanos são missionários».

A presença cada vez mais numerosa de africanas e africanos em institutos de origem europeia renova o próprio carisma com novas maneiras de o viver e operar: os africanos têm uma maneira própria de ser que afecta, enriquece e desafia a vida dos seus institutos. A internacionalização não pode ser apenas decorativa ou estatística, mas leva necessariamente à releitura dos carismas através de novas expressões de vida comunitária e de serviço missionário, nem sempre pacificamente aceites pelos membros mais velhos, europeus na maioria...

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