Mesquita
da Ascensão ©JVieira
Entre os locais que tínhamos previsto visitar, um sábado, encontrava-se o Monte das Oliveiras, que domina Jerusalém, o Monte onde Jesus chorou por a cidade não ter reconhecido a paz que ele oferecia, o Monte da agonia; do beijo gelado da traição de Judas.
Já sentados no autocarro, a guia, uma judia com raízes no Uruguai, reuniu-se de emergência com o condutor, um palestiniano, e eu: fora informada pela agência para lhe trabalhava dde que não era seguro visitar a mesquita – sim, a mesquita – da ascensão, no cimo do Monte das Oliveiras, por na sexta-feira a área ter sido sido cenário de confrontos entre palestinianos que protestavam a morte violenta de um jovem queimado vivo em retaliação pelo assassínio de outros três judeus, por membros do Hamas, na Faixa de Gaza.
Durante uns instantes não houve acordo entre o motorista e a guia, aquele a afirmar que a visita era, sim, segura, com base em contactos que entretanto fizera, esta a insistir que não era, pondo objecções e seguindo as indicações da polícia.
Decidimos arriscar!
O cenário que nos esperava era arrasador. O monte chamado das Oliveiras, devia cheirar a azeite novo, à frescura das árvores milenares. Mas encontrámos as ruas juncadas de pequenos montes de areia, pedras de arenito atiradas pela raiva, estilhaçadas em milhares de grãos de areia contra o alcatrão negro e duro na batalha campal com as forças da (des)ordem.
Ao sair do autocarro fomos envolvidos por um cheiro nauseabundo a baganha podre. Alguém comentou: «Estes árabes são muito porcos!» Mas o cheiro não era a alguém privado da pópria água, era o rasto do odor deixado pelas granadas de gases que a polícia usara no dia anterior para dispersar os manifestantes…
Uma brigada de cantoneiros trabalhava afanosamente para limpar as ruas dos detritos da ira.
Visitámos o lugar onde a tradição diz que Jesus subiu ao céu. Era igreja, hoje é mesquita. Não tinha tecto, hoje tem uma cúpula de pedra. Mas os muçulmanos construíram um espaço de oração à direita para permitir aos cristãos celebrar o fim do ciclo de Jesus e o início da Igreja segundo a narrativa de São Lucas.
No domingo fizemos a Via-Sacra através da Via Dolorosa que serpenteia pelo Bairro Árabe de Jerusalém, o percurso que Jesus fez da Torre Antoniana até à pedreira da caveira – o Monte Calvário – onde foi crucificado num cruzamento de estradas como exemplo para os revolucionários que contestavam a dominação romana.
Perto de uma das portas que dá acesso à Esplanada do Templo onde se encontram as mesquita de Al Aqsa e da Rocha, um grupo de mulheres gritava Allah Wakbar! Deus é grande! Um dos peregrinos perguntou-me: «É um funeral não é, senhor padre?». Respondi que sim. Mas sabia que o pregão religioso era o protesto contra os seis palestinianos mortos por raides retaliatórios da aviação israelita contra o Hamas da Faixa de Gaza na noite de sexta-feira.
O pregão celebrava as mortes humanas atrás da grandeza de Deus!... A Terra de Jesus continua a ser um espaço cada vez menos santo. Dói. Dói de a visitar assim.
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