9 de março de 2014

EUISMO

©JVieira

Fazemos uma sociedade centrada no eu. O Papa Francisco chama-lhe «individualismo pós-moderno e globalizado» que «favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares» («A Alegria do Evangelho», 67). Eu chamo-lhe euismo, a ideologia que relativiza tudo ao eu e faz de mim o centro da minha vida e da vida toda.

Eu é fragmento de Deus, é Deus sem princípio nem fim, o que resta de um projecto de vida sem Deus, ateu. Queremos ser os deuses de nós mesmos e descobrimos que «estamos nus» (Genesis 3:7). Ideologias que tentaram impor um projecto social, económico e cultural sem Deus provocaram – e estão a provocar – crimes medonhos contra a humanidade.

O Evangelho de hoje apresenta um roteiro concreto para ultrapassar a tentação do euismo. Mateus 4:1-11 conta-nos as tentações de Jesus: «Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» Então, o diabo conduziu-o à cidade santa e, colocando-o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» 10 Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.»11 Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no.»

As três tentações de Jesus são as nossas tentações:

1. Usar os dons que Deus nos deu para proveito próprio em vez de servir o bem comum: transformar as pedras em que tropeçamos no pão que mata as muitas fomes que me esganam o coração e as entranhas;

2. Usar Deus como «escada» para a glória pessoal, para o prestígio a todo o custo, a atenção reclamada;

3. Negociar a dignidade de filhas e por filhos de Deus um naco de poder ou pelo poder todo.

Jesus encontrou resposta aos diversos apelos que dividiam no seu coração na palavra de Deus. É no regresso a Deus que reconstruimos a nossa identidade, recuperamos o eu original que é parte de Deus.

Jesus foi tentado pelo diabo. A palavra grega «diabolos» tem a raiz em fragmentar, entornar. O diabo fragmenta, divide, quebra a realidade harmoniosa que Deus quis e fez («Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa» – Genesis 1:31 – ou muito bela).

O remédio para o euismo é o regresso à comunhão. Walter Hugo Mãe escreve em «A Desumanização» que «o inferno não são os outros […]. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam , e não exactamente em ti.»

Concordo!

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