24 de fevereiro de 2014

SANTOS E DELINQUENTES


 Nápoles é uma cidade de contrastes. De santos e delinquentes, no dizer do meu velho amigo e companheiro padre Carmelo Casile. Talvez por isso queria concorrer com Roma no número de igrejas e de santos liderados por São Januário e São Agrippino, uma dupla de respeito, e com um cunho mariano muito forte. A par do outro «culto»: o Napoli no estádio de San Paolo!
A cidade espreguiça-se pelas colinas à frente da baia tranquila do Adriático sob a sombra ameaçadora do Vesúvio. As ruas estreitas da cidade velha são disputadas por peões, lambretas e vendedores. Interessante o negócio das estátuas: presépios de montar aos poucos, papas e berlusconis de todos os tamanhos e feitios, até um Rafael Benítez em tamanho real. E inúmeros amuletos para dar sorte e proteger do azar comandados pelo surpreendente piripiri em muitas formas e tamanhos mas sempre encarnado vivo!  

Impressiona o desmazelo a que a urbe está votada: casas a pedir urgente restauro, ruas remendadas, desniveladas, sujas e «ajardinadas» com urtigas e outras plantas selvagens em claro contraste com bairros chiques, asseados e bem pavimentados.

Nos autocarros, entra-se pela porta da saída e são poucos os que validam o título de transporte se não houver nenhum fiscal a fazer a ronda.

 O código da estrada é apenas indicativo: cada condutor é rei e senhor e muitos carros ostentam as cicatrizes dos duelos sobre o asfalto ou as pedras das calçadas. As seguradoras também: um seguro em Nápoles é três a cinco vezes mais caro que no resto de Itália. Afiançaram-me que há quem ganhe a vida a provocar acidentes para receber as respetivas indeminizações.

O desemprego é grande e a Camorra transforma os jovens sem trabalho em passadores de droga e vendedores de tabaco de contrabando. Os lixos urbanos são outra grande fonte de receita para o crime organizado. A violência impera. Um aviso: não convém caminhar pelas ruas com as mãos nos bolsos, porque podem pensar que se está armado…

Há um grande número de africanos a venderem isqueiros e lenços de papel em esquinas e rotundas. Um pedinte chamou-me insistentemente «dotore» à porta da Estação Central, na esperança de receber uns trocados…

Vedi Napoli e poi muori!!! Vê Nápoles e depois morre? Demasiado dramático… Melhor mesmo é voltar!


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