2 de dezembro de 2013

CRIANÇAS-MÃES


Quase 14 menores dão à luz por minuto – muitas são africanas – e cerca de 200 morrem por dia devido à gravidez ou parto.

O Fundo de População das Nações Unidas publicou no final de Outubro um relatório sobre o Estado da População Mundial 2013 com o título «Maternidade na Infância: Enfrentando os Desafios da Gravidez na Adolescência.»
O relatório apresenta uma realidade cruel: 7,3 milhões de raparigas com menos de 18 anos dão à luz por ano nos países em desenvolvimento e mais de um terço, dois milhões delas, têm 14 anos ou menos. Se as tendências actuais persistirem, em 2030 o número de partos de meninas com menos de 15 pode chegar aos 3 milhões.
A gravidez precoce traz problemas psicológicos e físicos terríveis, incluindo a morte. No Sudão do Sul, onde eu vivo, mais de duas mil mulheres-meninas morreram por ano durante o parto ou de complicações pós-parto por cada cem mil nascimentos porque o casamento de crianças é culturalmente praticado e os corpos das meninas-mães ainda não estão prontos para o trabalho de parto. A fístula obstétrica é outra consequência comum da maternidade precoce.
O relatório revela dados preocupantes sobre a gravidez de adolescentes em África:
• 51 por cento das meninas do Níger engravidam antes dos 18 anos, 48 por cento no Chade e 46 por cento no Mali;
• 28 por cento das meninas da África Ocidental e Central concebem antes dos 18 anos;
• Dez por cento das meninas no Chade, Guiné, Mali, Moçambique e Níger têm um bebé antes dos 15 anos;
• Seis por cento das meninas da África Ocidental e Central engravidam antes dos 15 anos;
• Um terço das meninas no Chade e Níger é obrigado a casar antes dos 15 anos;
• Na Etiópia, Malauí, Níger e Nigéria, um terço dos casos de fístula são em adolescentes;
• 1,4 milhões de adolescentes africanas entre os 15 e os 19 anos submetem-se a abortos de risco anualmente e 36 mil mulheres e adolescentes morrem;
• 35 por cento de raparigas na Guiné com idades entre os 15 e os 19 anos sofrem de doenças sexualmente transmitidas, 29 por cento no Gana e no Congo;
• 1,2 milhões de menores africanos sofrem de sida, representando mais de metade dos casos da população mundial nessa faixa etária (dois milhões).
O relatório aponta algumas razões para a gravidez precoce, destacando a pobreza, tradição que encoraja o casamento de meninas logo na puberdade, falta de escolaridade e puberdade mais cedo. E indica caminhos para resolver o fenómeno que incluem desmantelar as barreiras que não permitem às adolescentes realizar os seus potenciais e desfrutar dos seus direitos; manter as meninas na escola; não permitir o casamento antes dos 18 anos; pôr termo a coerção e violência sexuais; e permitir o acesso das adolescentes a contraceptivos. Da minha experiência de uma dúzia de anos em África, a escolarização é o instrumento mais importante para proteger as meninas e adolescentes e prepará-las para encararem o futuro e a maternidade com mais calma.
Neste Natal, juntamente com a maternidade gloriosa de Maria de Nazaré, recordemos as maternidades problemáticas de 20 mil menores que vão dar à luz nesse dia e as cerca de 200 que vão morrer de complicações da gravidez ou do parto em países em desenvolvimento. Um Natal diferente…

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