2 de abril de 2013

NOVO COMEÇO


Cerca de meio século depois das independências, os bispos de África dizem que chegou a hora de um novo começo.

O toque a recomeçar foi dado pelo arcebispo de Dar Es Salam, Tanzânia, cardeal Polycarp Pengo, numa carta pastoral que assinou em nome do Simpósio das Conferências Episcopais da África (SCECAM) – a que preside – em Fevereiro.
O documento, titulado «Governação, bem comum e transições democráticas em África», é «uma contribuição da Igreja para a promoção da boa governação e das transições democráticas em África», uma extensa carta de 59 parágrafos fruto das preocupações do episcopado, tendo como destinatários preferenciais os dirigentes políticos.
A carta pastoral celebra os progressos alcançados na área da estabilidade política, mudança democrática, fim dos partidos únicos e melhoria económica que alguns países registam enquanto lamenta a violência sem fim, a corrupção, o desemprego e a situação da mulher, sinalizando o fosso cada vez maior entre uma maioria crescente em pobreza extrema e uns poucos muito ricos. Os bispos acusam multinacionais estrangeiras de continuarem a pilhar os recursos do continente com a cumplicidade de alguns líderes.
Os bispos africanos apelam a um diálogo entre os governos e as comunidades locais e pedem à sociedade civil que seja mais interveniente, sublinhando que a boa governação é técnica mas também ética, através do respeito pelo bem comum que devia levar os dirigentes africanos a «desenvolverem uma visão que possa mobilizar a África, orgulhosa da sua própria soberania e decididamente virada para a sua unidade».
As organizações da sociedade civil são apresentadas como «voz alternativa» ao serviço da boa governação, respeito pelo bem comum e pelas transições democráticas, vigias do respeito pelos direitos humanos e da gestão dos recursos humanos e naturais.
Finalmente, os bispos africanos pedem aos dirigentes políticos que façam da erradicação da pobreza a bandeira dos seus governos utilizando as riquezas naturais do continente para o desenvolvimento em benefício de todos e através da luta contra a corrupção, «o cancro que destrói as nações»; sugerindo-lhes que construam a unidade africana através «de um processo de integração política que assegure o desenvolvimento social do continente e que conduza à promoção da democracia e dos direitos humanos».
Os bispos reforçam a ideia de que a Igreja deve continuar a ser a voz dos sem voz pela opção pelos mais pobres e por uma missão evangelizadora mais eficaz que leve os cristãos a defenderem a boa governação.
Um documento robusto, corajoso e profético que lança alertas mas também aponta caminhos, embora necessite de uma carta gémea sobre boa governação e transparência dentro da própria Igreja africana.

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