Cerca de meio século depois das independências, os bispos de África dizem que chegou a hora de um novo começo.
O toque a recomeçar
foi dado pelo arcebispo de Dar Es Salam, Tanzânia, cardeal Polycarp Pengo, numa
carta pastoral que assinou em nome do Simpósio das Conferências Episcopais da
África (SCECAM) – a que preside – em Fevereiro.
O documento, titulado
«Governação, bem comum e transições democráticas em África», é «uma
contribuição da Igreja para a promoção da boa governação e das transições
democráticas em África», uma extensa carta de 59 parágrafos fruto das
preocupações do episcopado, tendo como destinatários preferenciais os
dirigentes políticos.
A carta pastoral
celebra os progressos alcançados na área da estabilidade política, mudança
democrática, fim dos partidos únicos e melhoria económica que alguns países
registam enquanto lamenta a violência sem fim, a corrupção, o desemprego e a
situação da mulher, sinalizando o fosso cada vez maior entre uma maioria
crescente em pobreza extrema e uns poucos muito ricos. Os bispos acusam
multinacionais estrangeiras de continuarem a pilhar os recursos do continente
com a cumplicidade de alguns líderes.
Os bispos africanos
apelam a um diálogo entre os governos e as comunidades locais e pedem à
sociedade civil que seja mais interveniente, sublinhando que a boa governação é
técnica mas também ética, através do respeito pelo bem comum que devia levar os
dirigentes africanos a «desenvolverem uma visão que possa mobilizar a África, orgulhosa
da sua própria soberania e decididamente virada para a sua unidade».
As organizações da
sociedade civil são apresentadas como «voz alternativa» ao serviço da boa
governação, respeito pelo bem comum e pelas transições democráticas, vigias do
respeito pelos direitos humanos e da gestão dos recursos humanos e naturais.
Finalmente, os bispos
africanos pedem aos dirigentes políticos que façam da erradicação da pobreza a
bandeira dos seus governos utilizando as riquezas naturais do continente para o
desenvolvimento em benefício de todos e através da luta contra a corrupção, «o
cancro que destrói as nações»; sugerindo-lhes que construam a unidade africana
através «de um processo de integração política que assegure o desenvolvimento
social do continente e que conduza à promoção da democracia e dos direitos
humanos».
Os bispos reforçam a
ideia de que a Igreja deve continuar a ser a voz dos sem voz pela opção pelos
mais pobres e por uma missão evangelizadora mais eficaz que leve os cristãos a
defenderem a boa governação.
Um documento robusto,
corajoso e profético que lança alertas mas também aponta caminhos, embora
necessite de uma carta gémea sobre boa governação e transparência dentro da
própria Igreja africana.
Quem bom que Puebla ressurge aqui na voz da Igreja Africana.
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