11 de fevereiro de 2013

RENÚNCIA


O Papa surpreendeu hoje o mundo e a igreja ao anunciar em latim aos cardeais reunidos em consistório para votarem três novos santos a sua renúncia ao papado a partir das 20h00 de 28 de Fevereiro.
Trata-se de uma decisão corajosa e realista: o Papa Bento reconhece que já não tem a energia necessária para continuar a desempenhar o seu ministério e acha que é melhor retirar-se e entregar a liderança da comunidade católica a outro.
Há 600 anos que um Papa não apresentava a resignação de livre vontade e por isso o seu gesto está a criar ondas de admiração, estupefação e expetativa.
José Ratzinger foi eleito papa a 19 de Abril de 2005 e deixa uma marca profunda em quase sete anos de papado. Teólogo, afirmou-se sobretudo como pensador e intelectual e produziu algumas encíclicas surpreendentes como «Deus é Amor» e outras intragáveis como «Caridade na verdade».
Teve alguns problemas com os muçulmanos por causa de uma citação polémica, mas também teve a coragem de enfrentar a questão da pedofilia dentro da Igreja. Talvez tenha sido demasiado condescendente com os conservadores cismáticos e a reintrodução da missa tridentina em latim foi vista como uma traição às reformas corajosas do Concílio Vaticano II.
Foi o Papa que mais livros produzir e tornou-se num vendedor de sucesso. Com os lucros das vendas estabeleceu uma espécie de nobel da teologia e financiou obras caritativas.
Sendo um artista – teólogo, pianista, melómano – também era vaidoso: pôs de lado a simplicidade do vestir de Paulo VI e João Paulo II para «desenterrar» cruzes de ouro e vestimentas e chapéus adornados com peles e com bordados a ouro, além dos sapatos Prada.
No fim fica o ato corajoso de reconhecer que as forças não chegam para mais e é altura de resignar. Uma resignação que foi preparada com dois consistórios em 2012 para manter o número máximo de cardeais e garantirem a eleição do seu sucessor. Agora merece o sossego dos guerreiros – dias de paz e de tranquilidade, em contemplação e com alguma música à mistura!

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