1 de novembro de 2012

OUTONO NORTE-AFRICANO



Um vídeo medíocre e insano ameaça transformar o sonho de liberdade e democracia da Primavera Norte-Africana no Outono do fundamentalismo religioso violento e irracional.

A 11 de Setembro – uma data carregada de tensões contraditórias – um tal Sam Bacile (pseudónimo de um egípcio copta residente nos Estados Unidos, que contou com o apoio de um pastor norte-americano que defende a queima sistemática de exemplares do Alcorão) decidiu colocar no You Tube, uma rede social de partilha de vídeos na internet, 14 minutos do seu filme «Innocence of Muslims» (Inocência dos Muçulmanos), uma paródia barata, mas extremamente ofensiva e provocadora, sobre Maomé, o profeta do Islão.
A reação da comunidade islâmica foi imediata: manifestantes vieram para as ruas do Cairo (Egito) e Benghazi (Líbia) em protesto violento contra o vídeo infame. Em Benghazi, milícias do grupo radical Ansar al-Sharia (Soldados da Lei Islâmica) atacaram o consulado norte-americano e mataram o embaixador Chris Stevens e mais três diplomatas, numa acção militar bem planeada que tirou partido da ira da multidão.
As manifestações violentas alastraram a Sana (Iémen), Tunes (Tunísia) e Trípoli (Líbia), cenários da Primavera Norte-Africana. Os protestos também se tornaram violentos em Cartum (Sudão), visando as embaixadas da Inglaterra e da Alemanha. Alguns manifestantes foram mortos e houve propriedades destruídas.
 O primeiro-ministro egípcio Hisham Qandil anunciou que alguns dos manifestantes presos durante as manifestações no Cairo confessaram que foram pagos para causar distúrbios. O ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo disse que o assalto ao consulado norte-americano de Banghazi foi uma consequência do derrube violento do coronel Kadhafi pela aliança internacional. E explicou que a queda do dirigente líbio dispersou grupos radicais que estão a causar problemas no Mali, na Nigéria e noutros países. O ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por seu turno afirmou que a aliança internacional não planeou o período pós-Kadhafi a longo termo e os distúrbios foram uma consequência.
Mas parece que alguns dirigentes norte-africanos aproveitaram a onda de descontentamento causada pelo vídeo contra Maomé para redirecionar os protestos da nação islâmica: a nova classe dirigente na Tunísia, Egito, Iémen e Líbia sequestrou a revolução e usa o fundamentalismo religioso como cortina de fumo para lidar com a frustração das multidões que esperavam mais e melhor da Primavera Norte-Africana.

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