18 de agosto de 2012

TONS MAIORES E MENORES DA MISSÃO



Feliz da Costa Martins, em Nyala - Darfur

Fomos ouvindo, com pena e resignação, várias comunicações de D. Michael Didi, o novo bispo da diocese de El Obeid, que manifestava o desejo de levar a efeito a sua primeira visita pastoral à nossa paróquia de Nyala. Porém, os apontamentos adiados à espera de novas oportunidades são factos do dia a dia nesta zona conflituosa do Sudão. Já nem sequer consideramos grande surpresa que alguém se veja com a sua viagem, terrestre ou aérea, porventura anulada sem aviso prévio. A causa e a razão deste grande problema conduzem-nos sempre à mesma origem: a acentuada precariedade da segurança desde que começou, em 2003, o conflito armado no Darfur.

Prioridade alterada
Após várias tentativas sem sucesso recebemos, finalmente, a confirmação da notícia que os cristãos de Nyala, por sua  vez, acolheram com grande expectativa e imensa alegria. Estava tudo a postos para recebermos o prelado na nossa paróquia. Entretanto, na última da hora, mais um contratempo surgiu. Desta vez, o problema não vinha da falta de segurança no Darfur mas sim do lado oposto, os Montes Núbios, na parte Este da diocese. Os voos comerciais no aeroporto de El Obeid foram imediatamente cancelados, funcionando somente os voos militares.
Que tinha, acontecido? Do Kordofão do Sul ecoaram gritos de sofrimento e morte que deram prioridade máxima a qualquer outro plano na agenda do novo bispo. Trata-se dos Montes Núbios, a sua pópria terra natal, onde uma velha guerra nestes últimos dias, ferozmente, se reacendeu. Quis imediatamente partir de El Obeid na direcção da referida emergência catastrófica. Entretanto, já não teve tempo de nada, pois os acessos tinham sido fechados. O exército governamental continuava a bombardear a cidade de Kadugli, a capital do estado federal do Kordofão do Sul. Aldeias saqueadas, queimadas, destruídas. Mulheres violadas. Por outra parte, a solidariedade humana não deixa de unir os corações à volta das vítimas da crueldade da guerra. E surgem, aqui e além, campos de desalojados onde são socorridas as desventuradas e infelizes vítimas.

Em casa da Sra. Mariam
Desde Nyala íamos seguindo as notícias de várias emissoras sobre a guerra dos Montes Núbios. Mas a voz mais fiável e verdadeira vinha-nos da Sra. Mariam Cucu (sua fotografia na contracapa e interior de Mundo Negro Junho 2012). De origem núbia, ela pertence ao grupo dos catequistas aqui em Nyala, onde reside desde há várias dezenas de anos. Embora com algumas intermitências da rede, as notícias chegavam-lhe em conversa telefónica com um ou outro dos seus irmãos em Hiban, sua aldeia natal, nos Montes Núbios. Num desses últimos telefonemas, ela foi conhecedora de que um conjunto de pessoas, tendo conseguido chegar a pé de Hiban até El Obeid (cerca de 300 kilómetros), fora recebido por D. Michael, a quem relataram pormenores do que estava a acontecer. Atravessaram infernos, tendo escapado à morte que viram em cadáveres espalhados pelas colinas e vales por onde passavam.  Consigo traziam suas histórias e também as de outras pessoas, muitas delas seus familiares e amigos que, num ápice, deixaram de ser deste mundo, voando pelos ares no redemoinho de bombas despiedadas. Contavam também histórias de mães que procuravam seus filhos entre os escombros e gemidos de moribundos.
Quase um mês mais tarde, o bispo núbio que, finalmente, já se encontrava entre nós em Nyala realizando a prometida e desejada visita, aceitou com gosto e prazer o convite da Sra. Mariam com seu marido Ibrahim Judrán e os seus cinco filhos. É uma das poucas famílias núbias que se estabeleceram aqui desde os primeiros tempos desta antiga guerra no Kordofão do Sul. No espaçoso pátio de sua casa, enquanto sorviamos o quente e delicioso chá de menta, falou-se, inevitavelmente, de algumas histórias que muito dificilmente se apagarão das nossas mentes. Histórias estas de crimes cometidos contra a humanidade que se tornaram realidades-irmãs de outras aqui no nosso Darfur e que o mundo nomeou de genocídio. Histórias aquelas dos Montes Núbios cuja mágoa se torna ainda mais profunda devido à agravante de que a igreja daquelas terras está a ser directamente afectada nos seus agentes de pastoral e evangelização. Padres, catequistas, religiosos e religiosas deram-se à fuga juntamente com a multidão. Subiram montes e desceram vales, penetraram nas densas florestas do Sul do país, procurando todos juntos um lugar seguro para as suas vidas. Teme-se pela morte do diácono permanente Abbás que ainda hoje, no acto em que escrevo estas linhas, continua desaparecido.
Lá mais para o fim da tarde foram chegando alguns vizinhos, entre eles uma família de muçulmanos; todos queriam cumprimentar a ilustre visita. Antes da nossa despedida, o pátio da casa da catequista núbia converteu-se fácil e naturalmente em local de oração onde se partilharam intenções e preces, especialmente pelo povo da martirizada tribo dos núbios.

Recordando expulsão
De volta à residência paroquial, foi então que D. Michael me perguntou:
- Li o teu nome no diário da diocese numa ocasião em que esta se encontrava em situação de emergência e perigo. Não estavas tu, Pe. Feliz, no número dos que foram expulsos dos Montes Núbios por causa desta mesma guerra que já naquela altura se tinha mostrado tão cruel?
- Sim, em Março de 1989, - confirmei.
Porém, não tendo ficado satisfeito com somente referir a data, não pude senão citar alguns pontos essenciais da situação em causa, e acrescentei:
 - Naquele tempo eu era pároco da missão de Delenj. Comigo foram também expulsos treze missionários e missionários/as estrangeiros que trabalhavam noutras missões igualmente situadas no Kordofão do Sul. Muito embora a autoridade governamental não usasse literalmente o termo expulsão, nós sentimos-lhe todo o peso e violência. A ordem de ijlá, evacuação, foi-nos mandatada por escrito e entregue pessoalmente por mão de um militar enviado à missão, obrigando-nos a abandonar os nossos lugares dentro de setenta e duas horas. A razão alegada no documento oficial que nos fora entregue pessoalmente era a nossa segurança física, sendo a causa o agravamento da guerra nos Montes Núbios. No entanto, no mesmo ofício lia-se também, expressamente, a proibição da prática de qualquer forma de culto cristão. Coisa realmente estranha! Por um lado, a evacuação para nossa segurança física e, por outro lado, a proibição do culto religioso; duas alegações que não têm nada de comum entre si. Pelo que ainda hoje me pergunto qual fosse o verdadeiro motivo da nossa expulsão...

Finalmente em Nyala
Entretanto, chegámos à casa paroquial. E, neste preciso momento, peço desculpa ao estimado leitor pelo atalho por onde julguei oportuno e necessário desviar o nosso distinto hóspede, registando a sua presença em casa da catequista núbia Mariam Cucu. Agora sim, é meu dever trazê-lo de volta alguns dias atrás e fazer uma apresentação oficial desde o início da sua visita pastoral.
Os paroquianos começaram a aparecer desde manhãzinnha para, em festa, brindar as boas vindas de gala ao seu novo bispo que vinha a Nyala pela primeira vez. A sua chegada, segundo nos tinha informado de El Obeid, seria pelas nove da manhã.  Porém, as horas iam-se alongando e não se viam sinais de nada. Ele próprio nos comunicou uma, duas e três  vezes, desculpando-se pelo atraso.
Pelas cinco e meia da tarde, finalmente, o prelado deu entrada no adro da igreja, onde o esperava um grande número de fiéis. Tinham, na verdade, dado prova da sua paciência. A pouca sorte coube, porém, ao carneiro, o animal a que não só haviam pedido a paciência da espera mas sim tudo quanto tinha de seu: a própria vida. Foi degolado ali mesmo à entrada do portão do recinto da igreja. E enquanto o sangue jorrava para o chão arenoso o ilustre hóspede, num passo alto, longo e solene, avançou por cima do animal sacrificado, ao mesmo tempo que redobravam os zagarid, as aclamações em forma de gritos estridentes típicos das mulheres sudanesas de corações em festa.
Mabruc aleicum, felicidades e  parabéns, ouvia-se aqui e além a saudação de alguns vizinhos muçulmanos que não hesitaram em aparecer nesta hora, partilhando o júbilo de seus amigos cristãos pela visita do seu lider espiritual. Apesar do cansaco, a alegria via-se bem impressa no rosto de todos que, havia vários dias, preparavam, os simples mas simbolicamente grandes números da festa que, finalmente e com orgulho, poderiam agora realizar. As tâmaras e o refesco do carcadê, o chá vermelho, servidos pelos jovens que circulavam no meio da gente, deram ainda mais realce ao brinde da feliz ocasião. O Sr. Deng Mabil, o tesoureiro do conselho paroquial, quase se escusava no meio da gente: ‘isto é uma coisa muito simples e pobre, mas o mutran, o Sr. Bispo, vai ficar mais de uma semana entre nós’. E, como que revelando um meio segredo, concluiu: ‘o sacrifício do borrego foi só para dar o sinal da abertura dos dias que se seguem, cujo momento mais alto será no domingo.’
Já anoitecia quando os tambores pararam de arrufar. Despedindo-se com certa relutância, algumas mulheres com os seus pequenotes foram as primeiras a abandonar o recinto. Terão mais sorte do que outros que se descuidam, talvez ficando até mais tarde. Para estes, o perigo poderá estar à espreita em qualquer esquina. É que os soldados da ronda nocturna não brincam em serviço e não poupam ninguém. Para quem ultrapassa as dez da noite, a hora do recolher obrigatório, será afortunado se conseguir chegar a casa em vez de constrangido a passar a noite na esquadra da polícia.

Encurralados
Nos dias que se seguiram, além dos encontros com o pessoal específico da comununidade das irmãs da Caridade e a dos missionários combonianos, D. Michael visitou os sete centros/capelas e respectivas escolas e jardins de infância, nos subúrbios da cidade. Como ele próprio se apercebeu, Ichlaque é o lugar onde se encontra o maior número de cristãos.  Situa-se na grande zona militar de Nyala. Foi aqui que nos encontrámos com o Sr. Anthony Creb. É, ou mais exactamente, era sargento. Tem cinquenta e seis anos. Todos o apreciam pela sua disponibilidade servicial nas actividades sociais em geral e da igreja.  Depois de uma saudação alongada, ao jeito sudanês, não descansou enquanto não referisse, pessoalmente, o ponto da situação ao el qaid, o comandante da nossa dicese de El Obeid, como ele espontaneamente lhe chamava.  O prelado, não pôde senão acolher – e fê-lo de bom grado – a clara intenção do ex-militar que tinha, certamente, algo de muita importância para lhe comunicar. Os dois sentados num dos bancos da pequena escola do centro/capela de Ichlaque, o bispo mostrou-se todo ouvidos para o seu interlocutor. 
- Pensei que não iriamos ter tempo de nos conhecermos, mas o atraso da sua visita coincidiu com o atraso da minha viagem e da dos meus colegas para o nosso novo país, o Sudão do Sul.
E continuou: o único trabalho na minha vida foi no exército. Eu sei que, para um cristão, o participar na guerra  não tem justificação mas,  como militares, o combate era parte da nossa vida. E, mais ainda, no nosso caso de sulistas, pois nos vinte e tal anos de guerra civil, tocou-nos a má sorte de termos de combater contra os nossos próprios irmãos do Sul. Mas para quem não quisesse ver os seus filhos sofrer a fome, este era o emprego à mão. Estou certo que Deus, que sabe tudo, compreendia bem a nossa maneira de actuar nas batalhas quando nos encontrávamos frente ao nosso inimigo-amigo-irmão sulista. Custava-nos muito manter o dedo no gatilho da kalashnicov; Deus nos perdoe... Agora, felizmente, os ventos mudaram. Desde o passado 9 de Julho, dia da independência do Sul do país, fomos, natural e justamente, despedidos dos nossos postos de trabalho. Entregámos a farda e a arma, prontos para, no espaço de poucos dias, nos juntarmos aos civis que para lá se dirigem continuamente.
O prelado continuava a escutar com interesse o sargento que, por sua vez, lhe pediu só mais uns minutos.
- Está à vontade, Anthony, e não te preocupes; o tempo é nosso.
O ex-militar agradeceu e continuou a falar:
- De certeza que o Sr. D. Michael não pensava encontrar aqui um tão grande número de sulistas e cristãos. Nenhum de nós, de facto, imaginava que a situação chegasse a este ponto. A razão é simples: um número considerável de militares que trabalhavam nas unidades espalhadas por todo o Darfur do Sul fixaram-se nesta cidade, Nyala, a capital do estado federal, na esperança de deixar o país de uma vez para sempre. O que viria a acontecer, apenas recebessem a justa paga da pensão/reforma dos anos acumulados de trabalho no exército. Com boa fé na palavra das autoridades militares que tinham dito lhes pagariam dentro de dias ou semanas, também eles, tal como todos nós, pensavam partir brevemente. Mas já lá vão seis meses. E, como se fosse pouco, muitos dos ex-militares enviámos as nossas famílias para o Sul (os solteiros sao pouquíssimos entre nós), na esperança de, dentro em breve, podermos também juntar-nos a elas. E ainda aqui estamos, todos sem trabalho, alguns sem habitação e, além disso, outros, separados da mulher e dos filhos. A tudo isso junta-se o mal-estar de que, se antes éramos apenas tolerados, agora fazem-nos sentir o peso de estrangeiros não desejados. Abriram-nos uma porta de saída que é trucada e enganosa que nós não usaremos enquanto não recebermos o que nos é devido. Estamos encurralados; mas não estamos dispostos a ceder. Confiamos em  Deus que é justo e fiel. Ele não nos há-de abonadonar.
Finalmente, o Sr. António levantou-se, devagar, e disse: ‘não pensava estar aqui hoje, mas dou graças a Deus por poder conhecer e receber em Nyala o mutran bitana, o nosso bispo. Obrigado pela sua visita!’ D. Michael pensou dirigir-lhe, talvez, uma palavra de consolação e encorajamento. Mas o sargento não esperou. Já a caminho do portão, voltou-se para o seu el qáid e, levando a mão ao peito numa ligeira vénia, gesto típico de saudação na sociedade sudanesa, repetiu ainda: Muito obrigado por ter vindo até nós!

O grande domingo
No sábado à tarde havia grande azáfama no adro da igreja  na preparação de tudo o necessário, desde a limpeza e enfeites à montagem das siuanát, as tendas grandes e típicas que se usam no Sudão para as ocasiões de festa. Não faltou a barraca da cozinha improvizada onde um grupo de senhoras voluntárias se encarregaria de preparar a comida. O touro e os dois borregos esquartejados ali mesmo ao lado seriam parte principal do menú. A refeição seria servida imediatamente depois da celebração da missa festiva do dia seguinte, o grande domingo.
Ainda o sol não tinha nascido quando o som metálico do portão do adro chegou aos ouvidos  das senhoras que tinham trabalhado durante toda a noite na cozinha. O grupo das inocentes crianças que estavam do lado de fora ouviram o que não esperavam: ‘ainda é muito cedo, venham mais tarde’. Ao que eles responderam prontamente: hoje é domingo de festa especial e nós queremos cumprimentar o mutran bitana antes da missa.  Seguiu-se um certo diálogo agitado e o portão ainda fechado. Mas a chefe da cozinha foi-se aproximando, desaccionou o trinque e eles empurraram a porta delicadamente. Viram o sorriso desenhar-se nos lábios da senhora que lhes disse: ‘têm razão, meus meninos; com festa em casa não se fecham portas’. No entanto, não entraram sem ouvir o justo recadinho: agora, vão e esperem dentro da igreja, que o mutran lá vos irá encontrar.
Perante o facto de muitas famílias já terem partido para o Sul, com certeza que não seria de esperar que hoje, ainda antes da santa missa, a igreja  e o adro estivessem repletos de fiéis. Mas a verdade é que a multidão cobria todo o espaço livre. Concordo com o meu colega e pároco Pe. Asfaha que, sorrindo, comenta que a fé também é feita destas coisas. Referia-se  à visita do bispo e ao almoço oferecido que juntam hoje tanta gente aqui no mesmo lugar.
As doze pequenas bailarinas também tinham marcado apontamento cedo para as últimas provas, pois não queriam fazer má figura num dia tão importante como este. E, quando chegou a hora da santa missa, vimo-las apurar as suas posições na extrema dianteira da procissão, prontas para executar com graça e maleabilidade a primeira das melodias que as vozes, ao ritmo dos tambores, lançavam no ar. E assim sucessivamente, ali perto do altar, acompanharam com belas danças os cânticos ao longo de toda a celebração, imprimindo alegria e beleza às várias partes da festa eucarística.
Antes do final da liturgia, duas pombas brancas voaram soltas das mãos do presidente da celebração, enquanto ecos da sua homilia povoaram à minha mente. ‘Abramos as portas ao Espírito Santo e deixemo-Lo entrar na nossa vida, nos nossos costumes e tradições e Ele nos guiará ao ritmo da fé que um dia professámos, aquando do nosso baptismo’. Na execução do cântico final, as pequenas bailarinas, como se acordadas num mesmo sentimento de inércia que as moveu a não parar o ritmo da dança, contagiaram o grupo coral e os muitos fieis à sua volta que, por sua vez, continuaram também a cantar entusiasmadamente. O Sr. Bispo partilhou a cena com alguma surpresa e muita alegria, sugerindo ainda que se repetisse o lindo cântico que tinham executado logo após a administração do Crisma aos catorze rapazes e raparigas. Alguém se apressou a trazer o acordeão, o instrumento que eu tinha apenas usado na igreja para acompanhar a referida canção. Os tambores também apareceram nesse mesmo instante. Umas vozes contagiavam as outras e o coro iniciou: “elleila yom machhur akhadna fihi ettasbit... hoje é um dia grande para nós, hoje recebemos o Crisma... vinde, irmãos, partilhar a nossa alegria...!
Enquanto uns cantavam e bailavam, outros moviam-se por tudo quanto é sítio nas dependências da igreja, desde a sacristia aos vários quartos e salas, recolhendo o que julgassem necessário para o próximo acto. Em poucos minutos o recinto da igreja ficou pronto com pequenas mesas, cadeiras e bancos de toda a cor e feitio. A seguir, recheadas de apetitosa comida, vieram as sinias, semelhantes a bandejas gigantes de alumínio tosco, tipicamente usadas em todo o Sudão nas ocasiões de grandes festas e convites. De forma circular e de tais proporções que me fazem recordar a  expressão portuguesa ‘grandes do tamanho da roda de um carro’ (de bois). Arrumado o acordeão, foi a vez de me sentar, completando o número dos comensais que, segundo os organizadores da festa, estava marcado na sinia do Sr. Bispo com o Pe. Asfaha , a irmã Jean, o irmão comboniano Abele e três membros do conselho paroquial. Este é um cenário conhecido em qualquer grande festa de muitos convidados: grupos de sete ou oito pessoas à volta da sinia pousada em cima de uma pequena mesa ou no chão de areia. A Regina, uma das jovens do Crisma apareceu, trazendo um sorriso desenhado na face e água no ibrique, semelhante a um pequeno regador de plástico. Toalha de enxugar não era necessário. Mãos lavadas, a água escorre para o chão. Dispensam-se também os talheres que, ao fim e ao cabo, só viriam estorvar e complicar a acção de comer juntos do mesmo prato. “Bom apetite” – ouviu-se D. Michael Didi, tentando fazer chegar a sua voz às mesas mais distantes. A Regina e outras companheiras continuavam de mesa em mesa, oferecendo sorrisos e água, no mesmo gesto servicial; o chão arenoso a ficar húmido e o ar límpido, sem poeira.
Olhando em volta, fiquei contente em ver as jovens professoras Assmá, Kalthum, Nafissa e outras que se distinguiam facilmente pela sua tarha, o véu que usam a maioria das sudanesas muçulmanas, deixando-lhes o rosto modestamente descoberto. Presentes estão também outros seus colegas muçulmanos que, juntamente com elas, ensinam nas nossas escolas católicas dos bairros de Taiba e Jir. Mas, por mais que os meus olhos procurem, não vejo os professores da grande escola do campo de desalojados de Bileil. Não vieram? Estarão ainda a caminho? Sabemos que os dois pontos de controlo nos 18 Kms de distância que nos separa de Bileil apresentam dificuldades especiais nestes dias, inclusivamente para os professores tais como Daud, Fátima e Mahdi, caras já conhecidas pelos soldados de turno. A chance será muito mais apertada para os novos que só começaram a leccionar este ano lectivo. 

Hussein quer ser cristão
Não muito longe da nossa mesa, avistei o simpático Hussein Mohammad. Vinte e sete anos, casado. Procura luz para a sua vida que, segundo me confidenciou, não tem encontrado no Islão, a religião à qual pertence por direito e obrigação de nascimento. Desde que nos encontrámos pela primeira vez, tenho procurado ser franco e claro a respeito da religião cristã que ele deseja abraçar. Há pouco menos de uma semana, enquanto caminhava em direcção ao hospital, onde trabalha como recepcionista, passou pela igreja. Não é a primeira vez que o faz. Ele sabe que é sempre bem-vindo. Tem gosto em conhecer e faz muitas perguntas no que respeita o cristianismo.  Mais ainda, disse-me clara e distintamente que queria ser cristão. Alegrei-me por este seu desejo; no entanto, não deixei de lhe dizer pela última vez, no caso de que, porventura, ainda houvesse alguns restos de dúvida:
- Hussein, uma vez que és persistente sobre o assunto, é também de absoluta importância que fiques bem esclarecido. Ser cristão é grandioso e belo mas não por isso deixa de ser também muito exigente. Assim o é para mim e para todos os que o queiram ser de verdade. Não te aconselho, absolutamente, a ter pressa em mudar de religião. E se este teu desejo de hoje se tranformar  numa futura decisão por tua parte, não penses que poderás ser cristão de um dia para outro. Levar-te-á, pelo menos, dois anos antes de ser batizado. Tu mesmo sabes que é altamente arriscado para ti, visto que o Islão proibe os muçulmanos de mudar de religião, sob a pena de perseguição até à morte.
O meu amigo muçulmano, porém, mostrou estar bem a par da situação. De facto, está a ser tratado pela família como um murtad, isto é, alguém que renegou e abandonou o islão. Foi então que Hussein me disse que a sua mulher grávida, instigada pela família, o abandonou porque via que ele não frequentava a mesquita, nem sequer à sexta-feira, e não cumpria o mínimo dos deveres de muçulmano. Passaram mais de dois meses antes da decisão de aceitar  o referido jovem numa caminhada catequética um tanto formal e organizada. Foi assim que Hussein começou a ser catecúmeno, o único desta paróquia de Nyala, neste tempo de instabilidade e transição em que não convém tomar compromisso deste tipo com os sulistas, que estão, continuamente e a qualquer momento, de partida para o Sul.
No decorrer do almoço, enquanto se conversava disto e daquilo, eu trouxe o assunto à mesa. Ao meu lado, o Sr. James, presidente do conselho paroquial, reagiu com um belo e ecorajador testemunho a respeito do jovem acima mencionado:
- ‘Foi meu aluno na escola secundária’ – confirmou, a mão suspensa no ar com um bocado de borrego que estava para meter na boca. E prosseguiu: ‘um dia, durante o intervalo do fatur (refeição do pequeno almoço tardio, a meia-manhã), veio cumprimentar-me enquanto atravessava o pátio da escola. Mas era muito mais do que um simples cumprimento. Trazia uma mensagem, talvez uma decisão da sua parte. E, como que medindo as palavras, foi-me dizendo que queria tornar-se cristão. Foi a primeira e a única vez na minha vida que alguém me tenha surpreendido com um conversa dessa maneira. Eu respondi-lhe: devagar, Hussein! Essa é uma questão muito séria; não sei se sabes quanto é arriscada essa tua decisão; tem calma e dá tempo ao tempo’.
O pessoal da mesa fez comentários, realçando com louvor a coragem do jovem estudante muçulmano. O Sr. James acrescentou ainda: isso já foi há mais de dez anos; se o rapaz foi persistente até hoje, significa que a sua questão deve ser tomada a sério.
A D. Rosa Kontino, uma das senhoras voluntárias da cozinha, apareceu a perguntar se queríamos mais comida. ‘Lá, shucran, teslam idêkum’, (não, obrigado, parabéns! Estava uma delícia) – respondemos quase simultaneamente. E ela com um sorriso bem desenhado nos lábios: ‘Afuan’, ora essa, não tem de quê’. E retirou a sinia, enquanto uma das colegas pousou na mesa, agora despida, alguns copos de chá de menta e outros de carcadê, chá vermelho. ‘Para quem preferir café, já vem a caminho’ – disse. E desapareceu por entre as mesas.
Pelas cinco horas da tarde, algumas pessoas despediam-se do Sr. Bispo que se encontrava ali no meio da gente, outras conversavam à vontade. Entretanto, ouvi o Sr. Deng comentar: que eu me lembre, festa assim, tão completa, não houve até hoje. Tudo arranjado e cozinhado aqui em casa, convite geral e aberto para a alegria de todos! Ao que respondeu a mamã Ana, membro do conselho paroquial, com um toque de brio e orgulho: o el qaid da nossa diocese bem o mereceu’!  E continuou: ‘aliás, o sentimento que fica desta visita é duplo, de boas-vindas e de adeus’. Afirmação que ninguém põe em dúvida pois brevemente, e será uma questão de semanas, todos, excepto as pouquíssimas familias núbias, esperam deixar Nyala e partir para o seu novo país do Sudão do Sul.

Partida para El Daein
O Sol já se tinha escondido para os lados do país vizinho do Chade quando o pároco sugeriu ao prelado que talvez fosse melhor ir dormir cedo pois na madrugada do dia seguinte devia partir para a El Daein.  Tudo estava previamente assegurado pelas Forças Armadas da Paz, os capacetes azuis (UNAMID em sigla inglesa). Entretanto, houve uma chamada telefónica: ‘pedimos desculpa, Sua Excelência, a data do voo foi alterada por motivos de segurança; surgiu uma nova batalha entre os rebeldes e o exército do governo nos arredores de El Daein; mantê-lo-emos informado sobre o novo horário de voo’.
Pela experiência de vários anos no Darfur, essas batalhas, geralmente, não acabam tão depressa como se espera e julga. De todos os modos, no dia seguinte, a informação foi de feliz surpresa: ‘há uma margem de possibilidade que nos permite voar sem grande risco; o helicóptero levantará às quinze horas de terça-feira’. Isto é mesmo muita sorte, alguém diria milagre. El hamdu lillah, graças a Deus!  
No diário da missão de Nyala ficou registado: D. Michael Didi, deu por concluida a sua visita pastoral. Aterrou aqui em Nyala em 23 de Novembro de 2011, donde partiu no dia 29 do mesmo mês em direcção a El Daein. Foi pena não ter podido chegar até El Gineina, o centro/capela mais longínquo, na fronteira com o vizinho país do Chade. O exército da UNAMIDE aconselhara-o fortemente a não arriscar essa possibilidade. Ficará para a próxima vez, cuja oportunidade, o pastor solícito e zeloso da diocese de El Obeid, não há-de deixar passar, in chá Allah.  

Senhor comandante, ajude-nos a partir     
Passou uma semana depois da partida de D. Michael. Se estivesse ainda hoje entre nós, teria agora o amigo sargento Anthony Creb a pedir-lhe que o escutasse por mais uns minutos. Na mão trazia um papel amachucado que lhe vi tirar do bolso da camisa.  ‘O que diz aqui – quis ele assegurar-me – foi copiado a limpo e entregue ao comandante geral, enquanto o grupo em massa dos quase 500 ex-militares faziam uma sentada à porta da sua residência’. Depois de descodificar algumas palavras que a areia misturada com o suor tinham quase apagado, acabei de ler o dito rascunho, que dizia o seguinte:
“Queremos o dinheiro das nossas reformas.
Queremos partir e juntar-nos às nossas famílias, às nossas mulheres e filhos que, já há meio ano, enviámos para o Sul.
Somos estrangeiros aqui no Sudão do Norte. Estamos sem família, sem pão, sem lar.
Senhor comandante das Forçs Armadas de Nyala, ajude-nas a partir!
Dei-lhe os parabéns pela coragem que tiveram ao fazerem, no dia anterior, a manifestação pacífica.
- Não, eu não estava lá, - corregiu. E acrescentou:
-  é mesmo por isso que eu queria, pessoalmente, falar com D. Michael. Mas, quando ele aqui vier de novo, eu espero já ter partido ... conceda-nos Deus este milagre! Ao falar hoje contigo, abuna Feliz, é como se estivesse a falar com ele.
Fui retendo na memória o  que o sargento me ia dizendo, a sua voz sofocada pela emoção. Ei-lo agora a falar, em conversa virtual, com o bispo de El Obeid:
«Sr. D. Michael Didi, nosso qáid espiritual: a vida, por mais paciência que se tenha, não corre sempre como queremos. Há algo dentro de nós que nos impele a agir e, por vezes, até contra a nossa própria vontade. A paciência esgotou-se e a maior parte dos ex-militares sulistas, meus companheiros, juntaram-se à porta da residência do comandante geral em demonstração pacífica. Gritaram a plenos pulmões palavras enraivecidas: ‘queremos as nossas gratuidades! Queremos pão! Queremos partir!’ A resposta foi uma rajada de balas, deixando dezenas de feridos, alguns deles em estado grave. Senhor Bispo, eu estava a adivinhar que a coisa ia dar para torto porque o exército (do governo) não reconhece demonstrações pacíficas. De facto, resultou em violência. Eu não participei na manifestação mas hoje estou arrependido e tenho vergonha de não ter partilhado esse gesto com os meus companheiros. Não é que eu seja medricas, mas tinha posto a confiança na minha oração para que Deus tocasse o coração dos responsáveis a agir com justiça, de modo a recebermos o que nos é devido depois de termos prestado serviço durante quinze, vinte e mais anos. Eu, pessoalmente trabalhei no exército durante trinta anos. Queremos partir para o nosso país do Sul do Sudão, mas não sem as nossas devidas pensões/reformas. Estou certo que esta nossa forma de pensar não vai contra o modo de ser de Deus que não quer senão o bem dos seus filhos».

Natal na missão de Nyala
Aproximava-se o dia 25 de Dezembro e os responsáveis das várias actividades começaram a ocupar-se nas preparações imediatas do Natal. Apesar de muitíssimos cristãos terem já partido para o Sul, prevaleceu a ideia de que, à maneira dos anos passados, houvesse  missa campal. A razão é simples: é que, uma grande parte dos soldados cujos postos de trabalho era distante de Nyala escolheram, quando despedidos do serviço militar, ficar a habitar nos arredores da cidade, por motivos duma sobrevivência mais fácil. Seria um erro não contar com eles e suas famílias, pois com toda a certeza não hão-de deixar de vir à ‘kanissa umme’, igreja matriz, para as celebrações do Natal.
As decorações e os enfeites na igreja e no adro eram sóbrios e modestos. Todavia, na sua máxima justiça, a imagem do Menino Jesus e a tradicional estrela dos Reis Magos sobressaíam ali à frente do altar. A missa da noite (?) teve início imediatamente depois do pôr-do-sol, ainda com a última claridade do dia. Aquela da meia noite propriamente dita, a popularmente chamada missa do galo é, infelizmente, por razões de segurança, uma impossibilidade aqui em Nyala e em todo o Darfur. Mas não será a questão do horário que nos vem abstrair os sentimentos de alegria, de maravilha e contemplação próprios da noite de Natal.
Ao fim da celebração, as tâmaras e os rebuçados foram o símbolo da partilha da multidão em festa, enquanto se trocavam as alegres saudações natalícias que ecoavam no ar, enchendo todo o ambiente: id milad said, Feliz Natal! Esta quadra do ano, nesta parte do globo terrestre, não traz a chuva ao pensamento de ninguém e, além disso, o verdadeiro frio invernal ainda está para chegar. A noite é agradável e convida os fieis  a permanecer à vontade e sem pressa durante alguns prolongados minutos, antes de tomar o caminho de suas casas. Porém, este é um desejo que fica só no pensamento, pois o recolher obrigatório encarregou-se de fazer o corte no tempo. Em poucos instantes fez-se silêncio no espaço da igreja e do adro.
Faltam duas horas para a meia noite. O céu pontilhado de uma imensidão de estrelas está aí a recordar a paz que o Menino Deus veio trazer à terra. Que não todos encontraram ainda, alguns preferindo criá-la a seu modo e bel-prazer por suas próprias mãos manchadas de sangue. Nós, por nossa parte, continuamos a esperar que o Darfur e tantas partes do mundo em guerra se disponham a encontrar essa paz que Jesus não cessa de oferecer à terra inteira.
Ao surgir da aurora, alguns cristãos já começavam a chegar, sobretudo os que tinham a responsablidade de preparar o lugar para a missa campal no grande largo/praça onde desemboca a rua da igreja. Por fim, tudo estava pronto: o altar bem visivel em cima do estrado/plataforma, as cadeiras e os bancos, a aparelhagem sonora e as siuanát, as tendas gigantes. Também não podiam faltar os contentores com água para beber, distribuidos pelo recinto. Digo água, sim, pois aqui o inverno é estação seca por natureza e, se bem que há temperaturas mínimas nocturnas que fazem temer e tremer quem não tem casa e vestuário adequados, durante o dia ultrapassa facilmente os trinta graus.
A gente não parava de chegar. A rua, a um certo momento,  continuou a oferecer o seu espaço aberto a todos aqueles que já não encontraram lugar à sombra do coberto das siuanát. O número de participantes na missa campal ultrapassava todas as expectativas: cerca de duas mil e quinhentas pessoas. No princípio da eucaristia, ali perto do altar, reconheci alguns rostos de amigos muçulmanos que, à semelhança dos anos passados, não quiseram faltar à festa do Natal cristão. Estavam presentes também algumas dezenas de estrangeiros oriundos das várias partes do mundo, membros de organizações humanitárias com sede aqui em Nyala. A eles foi dirigida uma saudação e a leitura do evangelho em língua inglesa.
Depois do cântico final, o grupo coral continuou a cantar, à discreção, mais  algumas melodias do seu repertório para gozo e contentamento dos muitos fiéis que, apesar da hora já adiantada, não mostravam pressa em abandonar o local. Uma senhora europeia aproximou-se e soltou em alta voz um caloroso chucran! Mabruc! Obrigado, parabéns. Um deles agradeceu o elogio e acrescentou: ‘quase ninguém de nós é propriamente do coro original; os melhores cantores já partiram para o Sul e nós, enquanto aqui estamos, propomo-nos fazer do nosso melhor’. Disse-o em lingua árabe, que a mencionada estrangeira não captou mas, no entanto, fez questão de repetir ainda com mais entusiasmo o que sabia muito bem pronunciar em língua árabe: chucran! Mabruc!

Natal sem fim
Ao aproximar-se as quatro horas da tarde, os responsáveis mostraram intenção de levantar o conjunto das tendas da missa campal com todos os seus pormenores, devolvendo a praça ao seu aspecto nomal. Mas a compreensão e colaboração de quem os rodeava ia noutra direcção, trazendo-lhes fortemente à memória que era dia de Natal e que aquele terreiro ainda continuava a ser templo sagrado. Alguém apareceu com alguns pacotes de tâmaras que comprou da carroça do vendedor ambulante que por ali passava naquele momento. ‘Ah, assim até parece mais Natal!’ – ouviram-se vozes felizes.
Por casualidade, eu encontrava-me no extremo oposto do terreiro, donde presenciei a referida cena, mas só a meio tempo, não dando muita atenção ao que realmente se passava. Porém, o convite à partilha que me chegou da parte deles, desfez em mim qualquer dúvida: ‘Id milad saíd, ia akhuna ua abuna Feliz’! Feliz Natal, nosso irmão e padre Feliz! Ao lado, o barril de plástico ainda com água. Somos mais de uma dezena de pessoas saboreando agora as doces e deliciosas tâmaras secas à volta da sinia pousada no chão. Youssif e Bakhita com os seus três filhos pequenos, passam junto de nós, a caminho da aldeia. Olham, duvidosos e, por fim, decidem fazer parte do grupo. Traziam com eles uma cesta de mangas que depuseram ali ao lado das tâmaras. Outros e outros mais se juntaram a nós, entre eles alguns muçulmanos; a roda humana foi-se alargando.
 A cesta e a sinia ficaram vazias. Já não há tâmaras, nem mangas, nem doces. Mas o Natal continua. Sentimo-lo vivo no meio de nós. Entre as repetidas palavras de felicitações, distinguiu-se a voz infantil e inocente da pequena Helen. Expressou um desejo que é de todos e para todos: ‘Id milad mubárac’! Seja um Natal abençoado! E, em linha de continuação da sua menina, ouviu-se da boca de Youssif outra expressão que hoje, por ser o dia que é, Natal, todos têm gosto em pronunciar: ‘Culla am ua antum bikhêr! Que o Natal vos colme todos os anos com as suas bênçãos!
Responderam todos à uma: ‘bis saha uas salama’! Saúde, paz e bem-estar! Mas o pai da menina projectou-se ainda mais longe no tempo e no espaço, revelando-se pessoa universal. ‘As bençãos do Menino Jesus sejam para todos e em qualquer parte do mundo, neste Natal e sempre’ – disse com fé e convicção.
As expressões linguísticas acima citadas são algumas das frases naturais e espontâneas usadas no mundo árabe. Refrãos que todos sabem de cor e que, por vezes, se dizem mesmo sem pensar. No entanto, desta vez, pai e filha sentiram-lhes o seu profundo significado. Que todos e cada um dos presentes captaram no seu íntimo. Para, em seguida, em voo solto, lançar no destino infinito. Que as bençãos do Menino Deus cheguem a todos, em qualquer lugar do mundo e sempre! O Natal não tem fim!

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