1 de maio de 2012
FALHA
A África é atravessada de costa a costa por uma zona de altas tensões e abalos sociais que vai da Somália ao Senegal. Não se trata de uma depressão geológica como o Vale de Rift que corre do Jordão, em Israel, ao Lago Niassa, em Moçambique, mas da Falha da Religião onde o Islão e o Cristianismo se encontram e esbarram.
A Somália é território DE todos os excessos desde que Mohamed Siad Barre caiu em 1991. Primeiro foram os Tribunais Islâmicos a opor-se ao Governo Federal Transicional, depois os Al-Shabaab - os Jovens - que desde 2006 movem uma guerra santa contra elementos moderados no país e os vizinhos Uganda, Quénia e Etiópia.
Na Etiópia o Islão cresce e radicaliza-se. A Arábia Saudita está a impor a sua versão do Islão, intolerante e radical, com a ajuda dos petrodólares.
O Sudão perdeu o Sul depois meio século de guerras de devido à intransigência hegemónica da elite árabe e muçulmana que controla o poder em Cartum que impôs a religião, a língua e a lei islâmica às tribos africanas do Sul.
O Chade, como o Sudão, está dividido entre o norte árabe muçulmano e o sul africano e cristão. Os primeiros três presidentes foram cristãos, mas agora a maioria muçulmana controla o poder.
A Nigéria é palco de constantes ataques do movimento Boko Haram (literalmente educação ocidental proibida) a templos e alvos cristãos provocando retaliações com enormes perdas de vidas e de bens. Há quem ligue o Boko Haram ao Al Qaeda do Magrebe Islâmico.
No Mali, rebeldes tuaregues controlam o norte do país desde Março com a ajuda da Al Qaeda do Magrebe Islâmico e declararam independência. Durante os combates pelo controlo das capitais regionais algumas igrejas foram destruídas. A liderança tuaregue prometeu um governo secular para a República Azawad mas alguns chefes locais aproveitaram o vazio do poder para impor a charia, Lei Islâmica.
Finalmente, o Senegal destoa neste cenário de alta clivagem religiosa: a corrente islâmica do país está ligada aos místicos do Sufismo, tolerante. Os muçulmanos representam 94 por cento da população mas o primeiro presidente foi o católico Leopoldo Senghor.
Nesta zona conturbada por altas tensões religiosas há dois atores a notar: a Al Qaeda e a Arábia Saudita. A primeira impõe uma versão terrorista do Islão e a segunda financia a sua versão puritana e ultraconservadora, o Salafismo, da religião. Ambas atitudes contrastam com o Islão tradicional africano: sincretista, tolerante, de boa vizinhança quer com cristãos quer com religiões tradicionais africanas.
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