7 de abril de 2012

NEGÓCIOS DA CHINA


© Skye Wheeler
A União Africana tem uma nova sede em Adis Abeba, a capital etíope, inaugurada a 28 de Janeiro. O moderno, altaneiro e impressionante complexo de vidro, oferta da China à África, foi projectado e construído por uma companhia estatal chinesa e custou cerca de 200 milhões de euros. Num país e num continente com enormes bolsas de pobreza, não tardaram as criticas. A “prenda” não seria  mais do que o símbolo de uma nova forma de colonialismo económico e da consequente perda de soberania.
A nova sede da União Africana é de facto um monumento à crescente influência económica da China em África: o volume de negócios entre os dois parceiros já ultrapassa os 120 mil milhões de euros por ano – um crescimento exponencial, tendo em conta os cinco mil milhões de 1999. Outro termo de comparação: a China empresta mais dinheiro aos países africanos do que o Banco Mundial. Os líderes africanos – sobretudo de Angola, Nigéria, Sudão, Mauritânia e Botswana – recebem os investidores chineses de braços abertos, porque não fazem perguntas incómodas sobre democracia, corrupção, direitos humanos, questões ambientais, e fornecem ajuda económica, treino militar e armamento sem interferirem nas questões internas. Todos os anos um número relevante de africanos recebe bolsas para estudar nas universidades chinesas.
Os chineses fazem grandes empréstimos a juros baixos, ao mesmo tempo que investem nas infra-estruturas e na construção civil (estradas, pontes, portos, aeroportos, caminhos-de-ferro, barragens, estádios), mas também na indústria extractiva. Como é óbvio, existe uma contrapartida: as matérias-primas (minerais, madeiras, algodão e um terço do petróleo que consome), que alimentam o crescimento económico do gigante asiático. A Safeworld, uma ONG inglesa dedicada à prevenção de conflitos, alerta no seu relatório de Fevereiro que a China está a investir cada vez em zonas de conflito, uma forma de controlar os seus recursos naturais,  dominar as redes de abastecimento e criar novos mercados. Em 2010, havia mais de 2.000 empresas chinesas a investir em África e os chineses a trabalhar no continente são mais de um milhão. O presidente interino da União Africana, Jean Ping, é filho de um comerciante chinês e de uma cidadã do Gabão.
Supostamente, a aposta no continente africano seria vantajosa para ambas as partes. Mas, na realidade, a balança pende para o lado da China, que não só obtém matérias-primas baratas como encontra em África um grande mercado para produtos de qualidade duvidosa. Por outro lado, a criação de postos de trabalho em África é praticamente nula, porque as empresas exportam também mão-de-obra barata, e não hesitam sequer em recorrer a presidiários. De resto, o que constroem nem sempre oferece garantias de qualidade e segurança. Angola que o diga. 

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