4 de agosto de 2011

APELO


Os bispos missionários combonianos, o Superior Geral e a Superiora Geral dos dois Institutos Combonianos, reunidos em Jerusalém de 21 a 30 de Julho, movidos pela situação dramática em que vive a maioria das populações africanas, decidiram no fim do encontro elaborar um comunicado a favor do Continente africano, flagelado e enfraquecido pela fome, guerras, violências, pobreza, doenças, prepotências e outras injustiças.


COM A ÁFRICA NO CORAÇÃO

Por ocasião do nosso encontro em Jerusalém, nós bispos missionários combonianos, provenientes da América Latina (3) e da África (9), e presentes também o Superior Geral e a Superiora Geral dos dois Institutos Combonianos, sentimos fortemente a exigência de lançar um apelo a favor da África.
Parece-nos que a África, além das suas potencialidades e da imensidade dos seus recursos naturais, permanece ainda o continente onde guerras, violências, prepotências, pobreza e doenças estão na ordem do dia e continuam a criar situações crescentes de injustiça e de miséria cada vez mais dramáticas, mesmo em comparação com o resto do mundo.
Numerosos problemas internos de subdesenvolvimento tornaram-se em grande parte o destino sinistro exclusivo da África: má governação, ausência de estado de direito, conflitos e violências sob todas as suas formas, o fraco nível da taxa de escolarização, a grande mortalidade infantil, as doenças endémicas, como a malária e o HIV/SIDA, a delapidação dos recursos, a pobreza em que vive a maior parte da população e a dramática situação dos refugiados e das pessoas deslocadas.
No entanto, hoje a África tornou-se de novo num continente cobiçado e disputado entre as grandes potências mundiais, incluindo também as multinacionais. O objectivo é um só: saquear sistematicamente os recursos naturais das suas florestas, do seu subsolo, tão rico em petróleo, diamantes, urânio, ouro, coltan, etc, apoderando-se de toda a espécie das diferentes matérias-primas com o aval das autoridades locais, dispostos a vender ao desbarato os seus diversos países em troca de dividendos pessoais, étnicos ou partidários.
Constatamos ultimamente, e com consternação, um erro cometido intencionalmente: a implementação dos chamados «projectos modelo», divulgados como meios para utilizar os novos recursos descobertos e para dar lugar a um desenvolvimento renovado, em vez de contribuir para o benefício da população, aumentam-lhe a pobreza material, ética e social.
Ninguém pode fechar os olhos sobre o que está a acontecer nas terras africanas. Tudo é baseado na mentira. Sistemática é a falta de informações sobre o que está a acontecer no sector da exploração mineira e da provisão dos recursos.
Desconcertante é o desprezo pelas condições de vida cada vez piores das populações que estão presentes no local. Arrogantes e violentas são as expropriações selvagens das terras, em detrimento especialmente dos mais pobres como os camponeses. Numerosos são também os conflitos de terras e sociais com frequentes perdas de vidas humanas. Gradual é o desaparecimento dos valores da solidariedade em benefício do lucro individual, desenfreado e não regulamentado. Impressionante é o aumento da corrupção a todos os níveis, prejudicando e subvertendo a mentalidade das pessoas.
Em suma, a degradação não é só social mas ético e moral: prostituição, sobretudo entre os jovens, em preocupante aumento; situação de extrema fragilidade da família minada de casos de infidelidade cada vez mais frequentes por causa do dinheiro fácil; abandono por parte do marido dos seus compromissos familiares em detrimento da mulher deixada sozinha; conflito de competências entre os pais e a demissão dos seus compromissos familiares e educativos, etc.
As novas riquezas portanto, em vez de contribuir para a luta contra a pobreza, serviram e servem abertamente para a degradação, o desequilíbrio, a compra de armamento, alimentando assim conflitos intermináveis. Em vez de serem uma bênção, elas tornaram-se, infelizmente, numa maldição para a maioria da população.
A África, portanto, precisa de ser ajudada para começar, finalmente, após tantos anos de injustiças e de exploração, a poder utilizar todas essas riquezas que lhe pertencem, para si mesma, para os seus filhos e as suas filhas. Com energia profética precisa de reencontrar e de propor aos grandes da terra o caminho do homem e de uma economia para o homem, que respeite a sua dignidade e a sua liberdade de autodeterminação.
Numa situação deste género, como bispos missionários combonianos, herdeiros da sensibilidade de Comboni «para os mais pobres e abandonados», sentimos que a Igreja não pode calar, mas deve falar. Em nome de Jesus de Nazaré, que nesta terra da Palestina pregou o amor pelos últimos, também a ele compete o direito de se perguntar e de perguntar: «A quem pertencem os recursos naturais da África?» Para nós bispos não há dúvida de que os recursos naturais pertencem a todos os povos africanos. Uma intervenção impõe-se então à Igreja. «A África já se pôs em marcha e a Igreja move-se com Ele oferecendo-lhe a luz do Evangelho. As águas podem ser tempestuosas, mas com o olhar fixo em Cristo Senhor chegaremos ao porto seguro da justiça e da paz» (Mensagem conclusiva do II Sínodo africano, nº 42).
Enquanto esperamos com confiança a mensagem à África e ao mundo do nosso pastor, o Papa Bento XVI, façamos nosso o apelo dos Bispos, reunidos no Sínodo para a África em Outubro de 2009: «Aos grandes poderes deste mundo dirigimos uma súplica: tratar a África com respeito e dignidade» (id., n° 32).
D. Aguirre Muñoz Juan José, Bispo de Bangassou (República Centro-Africana)
D. Arellano Fernández Eugenio, Vigário Apostólico de Esmeraldas (Equador)
D. Ballin Camillo, Vigário Apostólico de Nord Arabia (Kwait)
D. Filippi Giuseppe, Bispo de Kotido (Uganda)
D. Franzelli Giuseppe, Bispo de Lira (Uganda)
D. Girardi Vittorino, Bispo de Tilarán (Costa Rica)
D. Migliorati Giovanni, Vicario Apostolico di Awasa (Etiópia)
D. Perin Guerrino, Bispo de M'baïki (República Centro-Africana)
D. Rodríguez Salazar Jaime, Bispo de Huánuco (Peru)
D. Russo Michele, Bispo de Doba (Chade)
D. Sandri Giuseppe, Bispo de Witbank (África do Sul)
D. Sebastián Martínez Miguel Angel, Bispo de Laï (Chade)
P. Enrique Sánchez González, Superior Geral dos Missionários Combonianos
Madre Premoli Luzia, Superiora Geral das Irmãs Missionárias Combonianas

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