10 de junho de 2010

REFERENDO

Cartaz a favor do Sim à separação © JVieira

A contagem decrescente para o referendo sobre a autonomia do sul do Sudão começou ontem com uma procissão de mais de cinco quilómetros entre o estádio de Juba e o mausoléu do Dr. John Garang.
O evento foi organizado pela Liga da Juventude, deputados da Assembleia do Sul do Sudão e diversos grupos da sociedade civil sobre o lema «Separação Sim, União Não.»
O Acordo Global de Paz (CPA na sigla em inglês) assinado em 2005 no Quénia entre o SPLM (o Movimento de Libertação do Povo do Sudão, o braço político do SPLA, o exercito) e o governo de Cartum diz que até 9 de Janeiro de 2011 os sudaneses do sul devem escolher entre a independência e a união com o norte enquanto que noutra consulta os habitantes de Abyei escolhem entre pertencer ao Norte ou ao Sul.
Só faltam sete meses para o fim do período interino e ainda não há comissões dos referendos nem a fronteira entre o norte e o sul está acabada. Oitenta por cento estão demarcados mas as áreas quentes dos campos de petróleo, das pastagens e rios e de ouro ainda estão em disputa.
O Acordo de Paz diz que o referendo é um meio entre outros para o povo do sul determinar o seu futuro. Numa conferência de imprensa perguntei ao secretário-geral do SPLM, Pagan Amum, quais eram os meios «alia», a palavra latina no CPA para designar entre outros. Respondeu que se os governos de Cartum e de Juba não se entenderem sobre o modo como organizar a consulta popular, a comunidade internacional liderada pela ONU pode-se encarregar de organizar o processo. Ou então a Assembleia Legislativa do Sul do Sudão proclama uma declaração unilateral de independência. O Sudão ganhou a autonomia do consórcio Anglo-Egípcio através de uma proclamação do parlamento de Cartum embora o Acordo do Cairo falasse de referendo.
O sentido geral é que o sim à independência vai ganhar se 60 por cento dos votantes inscritos participarem no referendo.
Para depois fica a discussão da partilha do petróleo – mais de 80 por cento do crude exportado pelo Sudão vem dos poços do Sul –, o pagamento da dívida externa, o conceito de nacionalidade entre outros assuntos pendentes.
Os mais pessimistas acham que isto vai dar um estoiro de todo o tamanho e a guerra vai voltar porque o Norte não vai abrir mão do petróleo por dá cá aquela palha. Na semana passada o Presidente Omar Hassan al-Bashir deixou um aviso à navegação quando disse que a fronteira norte-sul pode ser um foco de conflito como aconteceu entre a Etiópia e a Eritreia e a Índia e o Paquistão para logo depois jurar respeitar a escolha – qualquer que for – dos sulistas.
A ONU prometeu numa entrevista à cadeia católica de rádios do Sudão apoiar o referendo e ter um papel muito mais activo a nível local do que o que teve nas eleições.
Hoje mesmo, Salva Kiir Mayardit chegou do Quénia onde se encontrou com o vice-presidente americano Joe Biden para discutirem o referendo. O porta-voz do governo do Sul disse que a administraçao americana pormeteu assistência técnica e económica ao referendo.
O secretário-geral do SPLM disse num jantar que pagou à comuicação social num dos restaurantes mais caros de Juba na semana passada que vai ter que ser a sociedade civil a promover tanto o sim como o não no referendo, porque o Governo tem que ser imparcial e defender que o acto aconteça dentro do tempo previsto pelo CPA.
E o Presidente Kiir continua a repetir que o referendo tem que ser feito a 9 de Janeiro.

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