24 de fevereiro de 2008
22 de fevereiro de 2008
PAZ NO UGANDA
© JVieira
As delegações do Governo Ugandês e do LRA (Exército de Resistência do Senhor na sigla em inglês) assinaram esta tarde em Juba o Protocolo de Implementação do Acordo sobre Soluções Globais.
O Dr. Joaquim Chissano foi uma das dez testemunhas do acto na qualidade de enviado especial do Secretário-geral da ONU para o Norte do Uganda.
A assinatura do documento é um passo importante na resolução do conflito que há 20 anos semeia a morte e a destruição no Norte do Uganda e alastrou ao Sul do Sudão, RD Congo e República Centro Africana.
Ontem à tarde a delegação do LRA tinha abandonado as conversações de paz que são mediadas pelo Vice-presidente do Governo do Sul do Sudão, Dr. Riek Machar.
O LRA queria cinco ministérios, cinco embaixadores e 20 lugares importantes na administração nacional além de exigir que o Tribunal Penal Internacional retirasse as acusações contra os líderes dos rebeldes. Nenhuma das exigências faz parte do documento assinado esta tarde.
Até agora as delegações assinaram o Protocolo de Cessação de Hostilidades, o Protocolo de Soluções Globais (Princípios e Implementação) e o Protocolo de Responsabilização e Reconciliação (Princípios e Implementação).
Falta discutir e assinar os Protocolos de Cessar-fogo Permanente e de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração.
O Dr. Riek Machar disse no final da cerimónia desta tarde que o cessar-fogo deveria ser assinado esta noite.
O último protocolo será rubricado até ao fim do mês, altura em que se prevê que as conversações terminem depois de dois anos e meio.
Entretanto, esta manhã quando fui nadar a Rejaf, a 10 quilómetros de Juba, encontrei no local uma patrulha ugandesa fortemente armada à procura de rebeldes do LRA – disse-me um dos soldados. A patrulha era parte de um destacamento de 50 soldados. Paz e guerra!
O Dr. Joaquim Chissano foi uma das dez testemunhas do acto na qualidade de enviado especial do Secretário-geral da ONU para o Norte do Uganda.
A assinatura do documento é um passo importante na resolução do conflito que há 20 anos semeia a morte e a destruição no Norte do Uganda e alastrou ao Sul do Sudão, RD Congo e República Centro Africana.
Ontem à tarde a delegação do LRA tinha abandonado as conversações de paz que são mediadas pelo Vice-presidente do Governo do Sul do Sudão, Dr. Riek Machar.
O LRA queria cinco ministérios, cinco embaixadores e 20 lugares importantes na administração nacional além de exigir que o Tribunal Penal Internacional retirasse as acusações contra os líderes dos rebeldes. Nenhuma das exigências faz parte do documento assinado esta tarde.
Até agora as delegações assinaram o Protocolo de Cessação de Hostilidades, o Protocolo de Soluções Globais (Princípios e Implementação) e o Protocolo de Responsabilização e Reconciliação (Princípios e Implementação).
Falta discutir e assinar os Protocolos de Cessar-fogo Permanente e de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração.
O Dr. Riek Machar disse no final da cerimónia desta tarde que o cessar-fogo deveria ser assinado esta noite.
O último protocolo será rubricado até ao fim do mês, altura em que se prevê que as conversações terminem depois de dois anos e meio.
Entretanto, esta manhã quando fui nadar a Rejaf, a 10 quilómetros de Juba, encontrei no local uma patrulha ugandesa fortemente armada à procura de rebeldes do LRA – disse-me um dos soldados. A patrulha era parte de um destacamento de 50 soldados. Paz e guerra!
20 de fevereiro de 2008
FORMAÇÃO
O Centro Comboni de Formação para os Média abriu hoje em Juba com um curso propedêutico de inglês e aulas de auto-descoberta.
O Centro é parte da Rede Católica de Rádios do Sudão e destina-se a preparar apresentadores e jornalistas para as oito estações que estão para abrir nas dioceses do Sul do Sudão e nos Montes Núbios.
A Ir. Paola Moggi, directora da Rede, disse que o centro de formação pretende desenvolver as capacidades de produção rádio dos candidatos.
“O Centro Comboni de Formação para os Média tenta dar formação sistemática a alguns candidatos enviados pela Rede Católica de Rádios do Sudão e outras instituições”, explicou a Ir. Paola.
O Centro oferece um curso propedêutico de inglês e computadores aos candidatos que necessitam de melhorar as suas capacidades nestas duas áreas antes de entrar no curso.
Auto-descoberta, sociologia e ética são cursos fundamentais. Os alunos também aprendem jornalismo, produção de rádio, ética e leis dos média.
Para começar há nove candidatos matriculados no primeiro curso que dura um ano.
16 de fevereiro de 2008
MERCADOS
O Comissário do Condado de Juba anunciou ontem que os dois maiores mercados da cidade vão ser transferidos.
Albert Pitia Pendetore disse que o mercado de Konyo-Konyo – um nome interessante para os espanhóis – passa para a margem direita do Nilo Branco, fora da cidade, e o mercado de Custom para o sopé de Jebel Kujur, a Montanha dos Espíritos, que guarda Juba a Oeste.
O projecto foi posto à consideração dos ouvintes do programa Bits & Pieces Rádio Bakhita transmite das 17h15 até às 19h00, e as linhas de telefone não tiveram descanso.
Os cidadãos de Juba não querem ver os mercados relegados para a periferia da cidade com todos os inconvenientes que isso acarreta.
O Comissário Pitia diz os mercados são ilegais. Custom está em terreno da Universidade de Juba e a Instituição quer edificar no local o Hospital Escolar Dr John Garang. Konyo-Konyo é uma zona residencial.
Os mercados são o local de abastecimento mais popular de Juba. As lojas são mais caras e não têm tanta disponibilidade de produtos.
Os comerciantes são maioritariamente ugandeses.
Entretanto, à volta dos mercados cresceu uma rede de hotéis baratos, bares, quiosques, barbearias, prostituição…
O Comissário Pitia anunciou na mesma altura que proibiu a venda de bebidas alcoólicas fortes em pequenos sacos de plástico produzidas no Uganda.
13 de fevereiro de 2008
PLASTIC ROSES
The Man who invented the plastic rose is dead,
Behold his mark.
His undying flawless blossoms never close
But guard his grave unbending through the dark.
He understood neither beauty nor flowers,
Which catch our hearts in nets as soft as sky
And bind us with a thread of fragile hours,
Flowers are beautiful because they die.
Beauty without the perishable pulse
Is dry and sterile, an abandoned stage
With false forests. But the results
Support this man’s invention. He knows his age;
A vision of our tearless time discloses
Artificial men sniffing plastic roses.
Peter Meinke (1964)
10 de fevereiro de 2008
TAÇA AFRICANA
O Egipto lá levou o «caneco» da Taça Africana das Nações ao derrotar os Camarões por um golo sem resposta.
Os «Faraós» mostraram ser uma equipa consistente, forte e realista, jogando q.b. para despacharem a concorrência.
Ganharam a final contra os Camarões devido a um erro defensivo de palmatória do capitão dos leões indomáveis. Antes, tinham obrigado o guarda-redes camaronês a duas defesas de recurso e mandado uma bola ao poste.
O «caneco» ficou em boas mãos e o Egipto sagrou-se campeão africano por duas vezes consecutivas. Os Faraós já têm seis taças africanas na cristaleira nacional. Um record.
O outro record pertence a Samuel Eto’o. Com cinco golos marcados transformou-se no artilheiro do torneio e também no melhor marcador de sempre da competição.
A Taça Africana das Nações foi uma mostra de bom futebol cheio de golos, de grandes jogadas e de um público colorido e especial. Três semanas de bola bem passadas.
O futebol africano está bem e recomenda-se!
Os «Faraós» mostraram ser uma equipa consistente, forte e realista, jogando q.b. para despacharem a concorrência.
Ganharam a final contra os Camarões devido a um erro defensivo de palmatória do capitão dos leões indomáveis. Antes, tinham obrigado o guarda-redes camaronês a duas defesas de recurso e mandado uma bola ao poste.
O «caneco» ficou em boas mãos e o Egipto sagrou-se campeão africano por duas vezes consecutivas. Os Faraós já têm seis taças africanas na cristaleira nacional. Um record.
O outro record pertence a Samuel Eto’o. Com cinco golos marcados transformou-se no artilheiro do torneio e também no melhor marcador de sempre da competição.
A Taça Africana das Nações foi uma mostra de bom futebol cheio de golos, de grandes jogadas e de um público colorido e especial. Três semanas de bola bem passadas.
O futebol africano está bem e recomenda-se!
9 de fevereiro de 2008
DO LIVRO DOS SALMOS
Finalmente recebi a obra póstuma de Mário Castrim, «Do Livro dos Salmos», que a viúva, a Alice Vieira me enviou (com dois chocolates).
Pensei que a encomenda-postal se tivesse perdido nas confusões pós-eleitorais do Quénia – o correio chega-nos a Juba via Nairobi – mas não. Já tinha pedido a um amigo uma nova cópia.
E como estou feliz por ter nas mãos o último livro do Mário! É uma obra notável de um homem notável.
O Mário Castrim, crítico de televisão e escritor, era um comunista assumido. Recordo que quando começou a colaborar na revista «Audácia» com uma rubrica mensal «O Lugar do Televisor» - os seus textos estão compilados em três volumes editados pela «Além-Mar» - alguns colegas ficaram muito zangados. Um comunista a escrever para miúdos numa revista católica?
Mas o Mário era um homem de fé e lia a Bíblia todos os dias. Desse amor pelas Escrituras saiu a sua leitura pessoal dos 150 salmos, – que dedicou ao Arlindo Pinto – o director que o acolheu – e aos missionários combonianos. A casa dos combonianos em Lisboa também se tornou sua casa.
Reli muitas vezes o manuscrito que tinha na direcção da «Além-Mar». E era sempre assaltado pelo sentimento de que o livro merecia uma editora com mais fôlego para dar aos salmos do Mário a projecção que merecem. A Alice aceitou o desafio.
O livro demorou a sair, mas finalmente a Campo das Letras publicou-o com ilustrações de Rogério Ribeiro.
Um livro de uma profundidade indizível e de uma simplicidade desarmante de um homem de quem tenho muitas saudades e de quem guardo grandes recordações.
Hoje, ao regressar do trabalho a pé – conseguimos despachar-nos às cinco da tarde da Rádio Bakhita pela primeira vez num ano – partilhava com a Cecy, a directora, que com o Mário aprendi a comunicar através da linguagem dos afectos.
Ia visitá-lo ao Hospital dos Capuchos onde estava internado por causa de uma pneumonia que o havia de levar. A certa altura já não podia falar, por estar entubado. Segurava-me na mão e sorria e eu também. E ficávamos assim entretidos a olhar um para o outro.
E quando a Alice o visitava eram impressionante ver a corrente de amor que circulava entre os dois. Uma experiência e amizade únicas.
Obrigado, Mário, pela tua fé e pela tua amizade. Obrigado, Alice, pelo teu carinho e preocupação. Obrigado pelo livro e também pelos chocolates!
Pensei que a encomenda-postal se tivesse perdido nas confusões pós-eleitorais do Quénia – o correio chega-nos a Juba via Nairobi – mas não. Já tinha pedido a um amigo uma nova cópia.
E como estou feliz por ter nas mãos o último livro do Mário! É uma obra notável de um homem notável.
O Mário Castrim, crítico de televisão e escritor, era um comunista assumido. Recordo que quando começou a colaborar na revista «Audácia» com uma rubrica mensal «O Lugar do Televisor» - os seus textos estão compilados em três volumes editados pela «Além-Mar» - alguns colegas ficaram muito zangados. Um comunista a escrever para miúdos numa revista católica?
Mas o Mário era um homem de fé e lia a Bíblia todos os dias. Desse amor pelas Escrituras saiu a sua leitura pessoal dos 150 salmos, – que dedicou ao Arlindo Pinto – o director que o acolheu – e aos missionários combonianos. A casa dos combonianos em Lisboa também se tornou sua casa.
Reli muitas vezes o manuscrito que tinha na direcção da «Além-Mar». E era sempre assaltado pelo sentimento de que o livro merecia uma editora com mais fôlego para dar aos salmos do Mário a projecção que merecem. A Alice aceitou o desafio.
O livro demorou a sair, mas finalmente a Campo das Letras publicou-o com ilustrações de Rogério Ribeiro.
Um livro de uma profundidade indizível e de uma simplicidade desarmante de um homem de quem tenho muitas saudades e de quem guardo grandes recordações.
Hoje, ao regressar do trabalho a pé – conseguimos despachar-nos às cinco da tarde da Rádio Bakhita pela primeira vez num ano – partilhava com a Cecy, a directora, que com o Mário aprendi a comunicar através da linguagem dos afectos.
Ia visitá-lo ao Hospital dos Capuchos onde estava internado por causa de uma pneumonia que o havia de levar. A certa altura já não podia falar, por estar entubado. Segurava-me na mão e sorria e eu também. E ficávamos assim entretidos a olhar um para o outro.
E quando a Alice o visitava eram impressionante ver a corrente de amor que circulava entre os dois. Uma experiência e amizade únicas.
Obrigado, Mário, pela tua fé e pela tua amizade. Obrigado, Alice, pelo teu carinho e preocupação. Obrigado pelo livro e também pelos chocolates!
8 de fevereiro de 2008
RÁDIO BAKHITA
entrega à directora da estação, Ir. Cecília Sierra,
o bolo para a festa de anos da Rádio Bakhita
© JVieira
ANO UM
A Rádio Bakhita completa hoje um ano de emissões regulares. Começou a 8 de Fevereiro de 2007. Nessa altura estávamos no ar das 17h00 às 21h00. Os programas eram pré-gravados e a emissão levava uma eternidade a preencher.
Hoje estamos no ar das 7h00 às 13h00 e das 16h00 às 22h30. Parte da emissão é feita em directo com a colaboração activa dos ouvintes através do telefone ou telemóveis. Produzimos 30 programas diferentes por semana em inglês, árabe e algumas línguas locais. Os temas e os públicos-alvo são muito variados.
A apresentadora do «Juba Sunrise» costuma dizer que o programa é um momento agradável. Um momento que dura três horas!
Para celebrar o primeiro ano de vida, fizemos uma pequena festa com os funcionários e alguns amigos.
Evocamos o caminho feito: as dificuldades e as conquistas. Veio-me à mente uma imagem da Bíblia Judaica: o povo de Israel, depois de 40 anos a caminhar pelo deserto, diz que apesar do caminho feito os pés não lhes incharam nem as roupas se rasgaram. Porque Deus caminhou com eles.
Deus também caminhou connosco.
As peripécias foram muitas. Inconsistência no fornecimento de energia eléctrica, problemas técnicos relacionados com a delicadeza da tecnologia digital num ambiente muito quente, cheio de pó e de mãos pesadas… A formação e fidelização dos apresentadores e jornalistas. Mas conseguimos estar no ar todos os dias. Um feito.
Mas o mais importante foi o ambiente de família que conseguimos construir num espaço que é cada vez mais a nossa casa!
O ex-ministro da Informação, Dr. Samson Kwaje, disse em depoimento que um dia tinha o rádio ligado e pensava que estava a sintonizar a Voz da América. Afinal era Bakhita. Um cumprimento muito generoso.
6 de fevereiro de 2008
REFORÇOS
Desde 4 de Fevereiro que a redacção da Rádio Bakhita conta com dois reforços de monta: Paul Jimbo e Gladys Lanyero.
Trata-se de dois jornalistas que iniciaram o período de experiência de três meses.
Paul é queniano, tem 30 anos, é casado, e exerce há uma década a profissão de jornalista. Era o correspondente do «Sudan Mirror», um jornal sobre o Sul do Sudão, publicado em Nairobi e dirigido por um ex-missionário irlandês.
Gladys tem 23 anos, solteira e é do Uganda. Tem uma licenciatura em Jornalismo e uma universidade de Campala.
Agora já posso respirar um bocadinho, porque ambos são capazes de recolher, tratar e escrever notícias e editar textos.
Entretanto, o meu último colaborador – Milla – desapareceu sem deixar rasto. Era o sexto jornalista que trabalhava comigo. Pagava o seu salário a meias com o jornal local «The Juba Post». Uma semana depois, os editores do jornal descobriram que Milla foi para Cartum tentar encontrar um trabalho melhor.
Uma das dificuldades que encontro é fidelizas as pessoas. Investimos nelas e quando contamos com os seus serviços, partem para «parte incerta».
A vinda da Gladys e do Paul foram, de facto, uma grande prenda de anos!
1 de fevereiro de 2008
REFRACÇÕES
MENINOS DE TODAS AS CORES
Era uma vez um menino branco, chamado Miguel, que vivia numa terra de meninos brancos e dizia:
– É bom ser branco, porque é branco o açúcar, tão doce; porque é branco o leite, tão saboroso; porque é branca a neve, tão linda.
Mas certo dia o menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde todos os meninos são amarelos. Arranjou uma amiga, chamada Flor de Lótus que, como todos os meninos amarelos, dizia:
– É bom ser amarelo; porque é amarelo o Sol; e amarelo o girassol mais a areia amarela da praia.
O menino branco meteu-se num barco para continuar a sua viagem e parou numa terra onde todos os meninos são pretos. Fez-se amigo de um pequeno caçador, chamado Lumumba que, com os outros meninos pretos, dizia:
– É bom ser preto, como a noite; preto como as azeitonas; preto como as estradas que nos levam a toda a parte.
O menino branco entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos os meninos são vermelhos. Escolheu, para brincar aos índios, um menino chamado Pena de Águia. E o menino vermelho dizia:
– É bom ser vermelho; da cor das fogueiras; da cor das cerejas; e da cor do sangue bem encarnado.
O menino branco foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são castanhos. Aí fazia corridas de camelo com um menino chamado Ali-Bábá, que dizia:
– É bom ser castanho; como a terra do chão, os troncos das árvores, é tão bom ser castanho como o chocolate.
Quando o menino voltou à sua terra de meninos brancos, dizia:
– É bom ser branco como o açúcar; amarelo como o Sol, preto como as estradas, vermelho como as fogueiras, castanho da cor do chocolate.
Enquanto, na escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos de meninos brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as cores.
Luísa Ducla Soares em Audácia