AS PROMESSAS DE PARIS
A Conferência Internacional sobre o Darfur, que decorreu em Paris a 25 de Junho, terminou com uma mão cheia de promessas e pouco mais.
A comunidade internacional prometeu redobrar esforços para pôr termo ao conflito que começou em Fevereiro de 2003 e já fez mais de 200 mil vítimas e para cima de dois milhões de deslocados e refugiados.
Condoleezza Rice, a Secretária de Estado norte-americana, voltou a ameaçar o Sudão, com novas sanções caso Cartum não permita dentro de emio ano o estabelecimento de uma força híbrida das Nações Unidas (ONU) e da União Africana (UA) para parar com o genocídio no oeste sudanês.
O enviado especial da China ao Sudão afirmou que o presidente sudanês «está pronto para negocial a qualquer hora e em qualquer lugar.»
O ministro francês dos negócios estrangeiros, Bernard Kouchne, defendeu a importância de uma solução política para o conflito e anunciou que em Setembro um «grupo de contacto alargado» vai-se encontrar à margem da Assembleia Geral da ONU para discutir o Darfur.
A França pôs de lado 10 milhões de euros para apoiar a Missão da União Africana no Sudão (AMIS em inglês). A Espanha prometeu 5 milhões de euros para a força híbrida ONU/UA e outro tanto em ajuda humanitária. A União Europeia reservou mais 31 milhões de euros para ajudar os darfurianos.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou no final da conferêcia que «como seres humanos e políticos, devemos resolver a crise do Darfur. O silêncio mata. Temos que mobilizar a comunidade internacional para dizer “Basta!”».
28 de junho de 2007
27 de junho de 2007
Refracções
Parque da Paz – Almada © JVieira
ENCONTRAR-ME
Perco-me no mundo
Para a seguir me encontrar
Voltar
A ser
Emergir de mim própria
Quedo-me no silêncio,
Perco a noção do tempo
Que fiz e desfiz
Como um tapete
Que vou tecendo
Com as cores
Do meu ser
Um dia azul
Outro negro carregado
E faço e desfaço
Um dia coloco pérolas
No outro destroços
Perco e encontro-me
Esvazio e encho-me
De mim,
De mim...
Porque tudo começa
E se prolonga no dedilhar
Silencioso
Da penumbra de nós
Quando cai o véu
E vemos claramente
Onde estamos,
Quem somos
E porquê...
ENCONTRAR-ME
Perco-me no mundo
Para a seguir me encontrar
Voltar
A ser
Emergir de mim própria
Quedo-me no silêncio,
Perco a noção do tempo
Que fiz e desfiz
Como um tapete
Que vou tecendo
Com as cores
Do meu ser
Um dia azul
Outro negro carregado
E faço e desfaço
Um dia coloco pérolas
No outro destroços
Perco e encontro-me
Esvazio e encho-me
De mim,
De mim...
Porque tudo começa
E se prolonga no dedilhar
Silencioso
Da penumbra de nós
Quando cai o véu
E vemos claramente
Onde estamos,
Quem somos
E porquê...
25 de junho de 2007
Higiene «pública»
Esta semana, o clero da arquidiocese de Juba está em retiro. O Vigário-geral pediu-me que celebrasse a missa das 7h00 na catedral.
Kator, o bairro da sé, fica a um quarto de hora de carro da Casa Comboni, em Amarat. As ruas são estilo picada africana mas é uma experiência interessante ver Juba a acordar!
Esta manhã fui surpreendido por uma moda original: os jubanos gostam de escovar os dentes - e a língua - na rua e muitos andam com a escova de dentes na boca. Até um motociclista!
Vê-se que levam a sério a higiene oral. E têm sorrisos muito bonitos e brancos.
Ah! A elegante escova de dentes substituiu os tradicionais pauzinhos que os miúdos vendem pelas ruas da cidade. Mais um modo de ganhar umas piastras em crise.
Kator, o bairro da sé, fica a um quarto de hora de carro da Casa Comboni, em Amarat. As ruas são estilo picada africana mas é uma experiência interessante ver Juba a acordar!
Esta manhã fui surpreendido por uma moda original: os jubanos gostam de escovar os dentes - e a língua - na rua e muitos andam com a escova de dentes na boca. Até um motociclista!
Vê-se que levam a sério a higiene oral. E têm sorrisos muito bonitos e brancos.
Ah! A elegante escova de dentes substituiu os tradicionais pauzinhos que os miúdos vendem pelas ruas da cidade. Mais um modo de ganhar umas piastras em crise.
23 de junho de 2007
Ambiente
O Sudão não viverá em paz duradoira se o país não responder urgentemente aos desafios da degradação ambiental ampla e acelerada, revela um estudo do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).
O UNEP publicou ontem um extenso documento de 354 páginas intitulado «Sudão: Avaliação Ambiental Pós Conflito».
O estudo individualiza a degradação do meio ambiente como uma das raízes para décadas de guerra no maior país africano.
As preocupações maiores são a degradação dos solos, desflorestação, desertificação e o avanço do deserto em direcção ao sul 2,5 quilómetros por ano. Nos últimos 40 anos o deserto cresceu 100 quilómetros.
O processo de desertificação está relacionado com o aumento espectacular dos rebanhos de 27 milhões de cabeças de gado para as actuais 135 milhões.
O documento do UNEP também revela o efeito das mudanças climáticas no Sudão. As chuvas são mais irregulares e escassas nos estados de Cordofão e Darfur.
22 de junho de 2007
O cachorro e a pantera
Um dia, num safari, um cachorrinho começa a brincar entretido a caçar borboletas e quando se dá conta já está muito longe do grupo da expedição.
Nisto vê bem perto uma pantera a correr na sua direcção. Ao perceber que a pantera o vai devorar, pensa rapidamente no que fazer. Vê os ossos de um animal morto e põe-se a mordê-los. Então, quando a pantera está quase a atacá-lo, o cachorrinho diz:
"Ah, estava deliciosa esta pantera que acabo de comer!"
A pantera pára bruscamente e desaparece apavorada pensando:
"Que cachorro corajoso! Por pouco não me comia também!"
Um macaco que estava numa árvore perto e assistiu à cena, vai a correr atrás da pantera para lhe contar como foi enganada pelo cachorro.
Então, a pantera furiosa diz:
"Maldito cachorro! Agora vamos ver quem come quem!"
"Depressa!" - disse o macaco. - "Vamos alcançá-lo...”
O cachorrinho vê que a pantera vem de novo atrás dele com o macaco às cavalitas…
"O que faço agora?"
O cachorrinho, em vez de fugir, senta-se de costas para a pantera como se a não visse e, quando esta está quase a atacá-lo, diz:
"Raios partam o maldito macaco! Há meia hora que mandei trazer-me outra pantera e ele ainda não voltou!"
Nisto vê bem perto uma pantera a correr na sua direcção. Ao perceber que a pantera o vai devorar, pensa rapidamente no que fazer. Vê os ossos de um animal morto e põe-se a mordê-los. Então, quando a pantera está quase a atacá-lo, o cachorrinho diz:
"Ah, estava deliciosa esta pantera que acabo de comer!"
A pantera pára bruscamente e desaparece apavorada pensando:
"Que cachorro corajoso! Por pouco não me comia também!"
Um macaco que estava numa árvore perto e assistiu à cena, vai a correr atrás da pantera para lhe contar como foi enganada pelo cachorro.
Então, a pantera furiosa diz:
"Maldito cachorro! Agora vamos ver quem come quem!"
"Depressa!" - disse o macaco. - "Vamos alcançá-lo...”
O cachorrinho vê que a pantera vem de novo atrás dele com o macaco às cavalitas…
"O que faço agora?"
O cachorrinho, em vez de fugir, senta-se de costas para a pantera como se a não visse e, quando esta está quase a atacá-lo, diz:
"Raios partam o maldito macaco! Há meia hora que mandei trazer-me outra pantera e ele ainda não voltou!"
Moral da história:"Em momentos de crise, a imaginação é mais importante que o conhecimento"
Autor desconhecido
21 de junho de 2007
Tráfico
O tráfico de seres humanos continua a crescer na África oriental.
O LRA (Exército de Resistência do Senhor na sigla em inglês) raptou 25 a 30 mil crianças durante os 20 anos de guerra no Norte do Uganda. Muitas acabaram no Sudão e na RD Congo, revelou um secretário de estado do governo ugandês.
O Gabinete das Nações Unidas para as Drogas e Crime (UNODC) afirma que mulheres e meninas são as grandes vítimas do tráfico de seres humanos. Muitas são obrigadas a entrar na prostituição e outras formas de exploração sexual.
Os homens traficados acabam a trabalhar na agricultura industrial, minas pedreiras e outras condições de trabalho perigosas.
Meninas e meninos são usados na indústria têxtil, pesca e agricultura.
O tráfico de seres humanos é uma forma de crime organizado que gera por ano 32 mil milhões de dólares. O director do UNODC, Jeffrey Avina, diz que cerca de 2,7 milhões de pessoas são traficados por ano em 127 países.
Estes dados foram revelados durante a primeira conferência regional contra o tráfico de seres humanos na África oriental a decorrer em Campala, a capital do Uganda.
Chefes da polícia, agentes da emigração e trabalhadores humanitários do Burundi, Ruanda, Tanzânia, Quénia, Uganda, Jibuti, Somália, Eritreia, Etiópia, Sudão e Seicheles participam na conferência. O evento faz parte da Inicitiva Global para Lutar contra Tráfico de Pessoas, lançada pela ONU em Março de 2007.
O LRA (Exército de Resistência do Senhor na sigla em inglês) raptou 25 a 30 mil crianças durante os 20 anos de guerra no Norte do Uganda. Muitas acabaram no Sudão e na RD Congo, revelou um secretário de estado do governo ugandês.
O Gabinete das Nações Unidas para as Drogas e Crime (UNODC) afirma que mulheres e meninas são as grandes vítimas do tráfico de seres humanos. Muitas são obrigadas a entrar na prostituição e outras formas de exploração sexual.
Os homens traficados acabam a trabalhar na agricultura industrial, minas pedreiras e outras condições de trabalho perigosas.
Meninas e meninos são usados na indústria têxtil, pesca e agricultura.
O tráfico de seres humanos é uma forma de crime organizado que gera por ano 32 mil milhões de dólares. O director do UNODC, Jeffrey Avina, diz que cerca de 2,7 milhões de pessoas são traficados por ano em 127 países.
Estes dados foram revelados durante a primeira conferência regional contra o tráfico de seres humanos na África oriental a decorrer em Campala, a capital do Uganda.
Chefes da polícia, agentes da emigração e trabalhadores humanitários do Burundi, Ruanda, Tanzânia, Quénia, Uganda, Jibuti, Somália, Eritreia, Etiópia, Sudão e Seicheles participam na conferência. O evento faz parte da Inicitiva Global para Lutar contra Tráfico de Pessoas, lançada pela ONU em Março de 2007.
Paris
LÍDERES MUNDIAIS DISCUTEM DARFUR
Líderes mundiais incluindo Estados Unidos, China, Rússia e Japão, vão reunir com representantes da ONU e da União Europeia em Paris na segunda-feira para discutir a situação no Darfur, anunciou o ministério francês dos negócios estrangeiros.
Representantes dos Estados Unidos, Grã-bretanha, Canadá, Dinamarca, Egipto, Alemanha, Itália, Holanda, Noruega, Portugal e Suécia confirmaram a participação na Conferência de Paris.
A União Africana e o Sudão muito provavelmente ficam de fora em protesto por não serem previamente consultados sobre a iniciativa.
O encontro é organizado pelo recém-eleito presidente francês, Nicolas Sarkozy. Pretende juntar todos os países envolvidos no conflito do Darfur juntamente com a China para discutir uma solução política e questões humanitárias e de segurança, explicou a agência AFP.
Líderes mundiais incluindo Estados Unidos, China, Rússia e Japão, vão reunir com representantes da ONU e da União Europeia em Paris na segunda-feira para discutir a situação no Darfur, anunciou o ministério francês dos negócios estrangeiros.
Representantes dos Estados Unidos, Grã-bretanha, Canadá, Dinamarca, Egipto, Alemanha, Itália, Holanda, Noruega, Portugal e Suécia confirmaram a participação na Conferência de Paris.
A União Africana e o Sudão muito provavelmente ficam de fora em protesto por não serem previamente consultados sobre a iniciativa.
O encontro é organizado pelo recém-eleito presidente francês, Nicolas Sarkozy. Pretende juntar todos os países envolvidos no conflito do Darfur juntamente com a China para discutir uma solução política e questões humanitárias e de segurança, explicou a agência AFP.
20 de junho de 2007
Viajar
A UNICEF organizou um seminário sobre comunicação para radialistas e funcionários do Governo e convidou-me a apresentar o tópico Escrita Jornalística.
O seminário decorreu em Yei, uma pequena cidade verde a 169 km a sul de Juba, próxima da fronteira da RD Congo.
A minha apresentação correu bem, mas o mais interessante foi a viagem de regresso.
Para Yei fui com a UNICEF. Como tinha pressa de regressar a Juba para cobrir a visita do Eng. António Guterres, tive que utilizar os transportes públicos.
O «autocarro» era uma carrinha Hiace. Normalmente leva nove pessoas. Mas a que usei está «adaptada» para transportar 15 em cinco filas de três passageiros! Devidamente apertados e com a bagagem nos joelhos.
A estrada é de terra batida e esburacada qb. Atravessa uma paisagem variada: desde os mangueirais de Yei, aos campos de milho e de batata doce, palmares, campos de minas, o aterro «informal» onde parte do lixo de Juba vai parar...
As pontes, na maioria artesanais, estão em muito mau estado com grandes buracos feitos pelos veículos pesados que transportam do Uganda e do Congo os produtos que mantêm Juba!
Aqui e além carcaças de veículos civis e militares testemunham a guerra que terminou em 2005 com o Tratado Compreensivo de Paz entre o SPLA e o Governo de Cartum.
O trajecto Yei-Juba levou quase seis horas a percorrer com uma paragem de 45 minutos numa zona onde decorriam actividades de desminagem.
Cheguei a Juba a tempo de participar na conferência de imprensa do Eng. Guterres. Mas tenho a impressão que os órgãos internos estavam todos fora do sítio de tão chocalhado que fui!
E tive que tomar uma «boda-boda», a motorizada-táxi para chegar a casa. Mas o piloto foi impecável: super-cuidadoso e simpático. Mereceu o euro que tive que pagar!
Refugiados
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Eng. António Guterres, revelou ontem Juba que o número de refugiados está próximo dos dez milhões.
Conflitos novos ou agravados no Darfur, Somália, Palestina, Líbano, Iraque e Afeganistão estão por detrás do aumento, o Eng. Guterres explicou.
O ACNUR encontrou-se com os jornalistas no aeroporto de Juba depois de ter acompanhado um grupo de refugiados sudaneses que regressou do Uganda para Kajo Keji.
O Eng. Guterres preside hoje às celebrações do Dia Internacional do Refugiado em Juba.
Conflitos novos ou agravados no Darfur, Somália, Palestina, Líbano, Iraque e Afeganistão estão por detrás do aumento, o Eng. Guterres explicou.
O ACNUR encontrou-se com os jornalistas no aeroporto de Juba depois de ter acompanhado um grupo de refugiados sudaneses que regressou do Uganda para Kajo Keji.
O Eng. Guterres preside hoje às celebrações do Dia Internacional do Refugiado em Juba.
16 de junho de 2007
Infância Sudanesa
A UNICEF calcula que haja no Sudão cerca de 10 mil crianças-soldado;
A ONU diz que 21 dos 26 estados sudaneses estão minados e têm munições por explodir pondo em risco a vida das crianças;
Investigações recentes indicam que 42 por cento dos casamentos são de crianças com menos de 18 anos;
Só 39 por cento das crianças são registadas ao nascer;
No norte do Sudão quase 70 por cento das meninas e mulheres são vítimas de mutilação genital feminina;
No ano passado, em média dois bebés eram abandonados por dia em Cartum;
Noventa por cento dos casos registados no Centro da polícia para Mães e Crianças estão relacionados com ofensas sexuais ou relacionadas com a questão feminina;
A UNICEF calcula que pelo menos metade das crianças sudanesas praticam alguma forma de trabalho.
Hoje celebra-se o Dia da Criança Africana.
A ONU diz que 21 dos 26 estados sudaneses estão minados e têm munições por explodir pondo em risco a vida das crianças;
Investigações recentes indicam que 42 por cento dos casamentos são de crianças com menos de 18 anos;
Só 39 por cento das crianças são registadas ao nascer;
No norte do Sudão quase 70 por cento das meninas e mulheres são vítimas de mutilação genital feminina;
No ano passado, em média dois bebés eram abandonados por dia em Cartum;
Noventa por cento dos casos registados no Centro da polícia para Mães e Crianças estão relacionados com ofensas sexuais ou relacionadas com a questão feminina;
A UNICEF calcula que pelo menos metade das crianças sudanesas praticam alguma forma de trabalho.
Hoje celebra-se o Dia da Criança Africana.
14 de junho de 2007
Darfur
KI-MOON APALUDE SIM DO SUDÃO
À FORÇA DE PAZ PARA O DARFUR
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou de «marco histórico» o sim do Sudão ao envio de uma força híbrida de paz da ONU e da União Africana (UA) para o Darfur.
O Sudão aceitou na terça-feira em Adis Abeba o envio de uma força híbrida de paz formada por 17 a 19 mil soldados e polícias da ONU e da UA para substituir a força de paz africana que tem sido incapaz de pôr termo à violência que consome a província ocidental sudanesa desde 2003.
Contudo, funcionários da ONU reconhecem que as estruturas de comando e a captação rápida de forças para a missão de paz são desafios importantes.
O Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão, Dr. Mutrif Sideek, explicou que a afirmação de que o governo Sudanês mudou de opinião rejeitando a força híbrida e aceitando-a agora é uma «inverdade».
«O Governo sudanês desde o ano passado que acolheu as fases sucessivas até chegar ao estádio da operação híbrida», o Dr Sideek afirmou ontem em Khartoum numa conferência de imprensa.
O acordo assinado em Adis Abeba entrega o comando das operações diárias à União Africana e o comando global da força híbrida às Nações Unidas. Contudo, o documento não esclarece como o comando conjunto ONU-UA vai funcionar na realidade.
Entretanto, o Presidente George W. Bush anunciou ontem que os Estados Unidos vão endurecer as sanções contra o Sudão apesar de Cartum ter aceitado a força híbrida para o Darfur.
Discursando via satélite no Encontro Anual da Convenção Baptista do Sul, o presidente Bush disse que Condoleezza Rice, encarregada dos negócios estrangeirtos norte-americanos, estava a estudar com os aliados a preparação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para alargar o embargo de armas ao Sudão e fechar o espaço aéreo do Darfur a voos militares sudaneses.
O Governo de Cartum tem praticado um autêntico jogo de yo-yo sobre o estabelecimento de uma força híbrida de manutenção de paz no Darfur.
O conflito no Darfur estalou em 2003 e já matou mais de 200 mil pessoas. Mais de dois milhões de darfurianos tiveram que abandonar as suas casas.
À FORÇA DE PAZ PARA O DARFUR
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou de «marco histórico» o sim do Sudão ao envio de uma força híbrida de paz da ONU e da União Africana (UA) para o Darfur.
O Sudão aceitou na terça-feira em Adis Abeba o envio de uma força híbrida de paz formada por 17 a 19 mil soldados e polícias da ONU e da UA para substituir a força de paz africana que tem sido incapaz de pôr termo à violência que consome a província ocidental sudanesa desde 2003.
Contudo, funcionários da ONU reconhecem que as estruturas de comando e a captação rápida de forças para a missão de paz são desafios importantes.
O Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão, Dr. Mutrif Sideek, explicou que a afirmação de que o governo Sudanês mudou de opinião rejeitando a força híbrida e aceitando-a agora é uma «inverdade».
«O Governo sudanês desde o ano passado que acolheu as fases sucessivas até chegar ao estádio da operação híbrida», o Dr Sideek afirmou ontem em Khartoum numa conferência de imprensa.
O acordo assinado em Adis Abeba entrega o comando das operações diárias à União Africana e o comando global da força híbrida às Nações Unidas. Contudo, o documento não esclarece como o comando conjunto ONU-UA vai funcionar na realidade.
Entretanto, o Presidente George W. Bush anunciou ontem que os Estados Unidos vão endurecer as sanções contra o Sudão apesar de Cartum ter aceitado a força híbrida para o Darfur.
Discursando via satélite no Encontro Anual da Convenção Baptista do Sul, o presidente Bush disse que Condoleezza Rice, encarregada dos negócios estrangeirtos norte-americanos, estava a estudar com os aliados a preparação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para alargar o embargo de armas ao Sudão e fechar o espaço aéreo do Darfur a voos militares sudaneses.
O Governo de Cartum tem praticado um autêntico jogo de yo-yo sobre o estabelecimento de uma força híbrida de manutenção de paz no Darfur.
O conflito no Darfur estalou em 2003 e já matou mais de 200 mil pessoas. Mais de dois milhões de darfurianos tiveram que abandonar as suas casas.
Viva!
Um encontro imediato de terceiro grau com uma mosquita Anopheles manteve-me cinco dias afastado do blogue. É verdade: acabo de curar a primeira malária sudanesa. Nada que se compare com a (única) crise de paludismo que tive na Etiópia. Mandou-me para o hospital durante quatro dias! Este foi um episódio menor apesar dos inconvenientes. E o tratamento evoluiu muito: o Cuarten é um medicamento que debela a crise sem grandes custos para o organismo hospedeiro.
Durante esta ausência forçada, o DN Gente publicou o meu perfil na secção Portugueses. O artigo foi escrito pela Helena Tecedeiro depois de uma longa conversa telefónica.
O Sudan Radio Service está a desenvolver uma semana de formação para o pessoal da Rádio Bakhita. Um curso prático que começou com a avaliação de alguns dos programas produzidos pela casa para determinar as fraquezas do grupo de trabalho. O curso cobre aperfeiçoamento de técnicas de entrevista, locução, gravação e edição de programas e código odontológico.
O programa matutino Juba Sunrise continua a crescer em qualidade e participação. A dupla Nyero Alex e Oyet Patrick está mais entrosada e os dois radialistas mais incisivos no desenvolvimento dos temas. Os últimos foram Darfur, moralidade e tribalismo. Os ouvintes estão a interagir cada vez mais através de telefonemas.
Como não há bela sem senão, o fornecimento de energia eléctrica ao transmissor é muito errático e a emissão tem sofrido alguns cortes diários, apanhando «nas covas» o técnico que opera o gerador até o sistema de ligação automático chegar de Nairobi. A companhia da electricidade de Juba continua a expandir a rede e às vezes tem necessidade de proceder a cortes temporários. Outras vezes são meio permanentes como o que demorou todo um fim de semana, porque a central ficou sem gasóleo. Acontece a quem se esquece de controlar stocks.
Estamos todos a aprender!
Durante esta ausência forçada, o DN Gente publicou o meu perfil na secção Portugueses. O artigo foi escrito pela Helena Tecedeiro depois de uma longa conversa telefónica.
O Sudan Radio Service está a desenvolver uma semana de formação para o pessoal da Rádio Bakhita. Um curso prático que começou com a avaliação de alguns dos programas produzidos pela casa para determinar as fraquezas do grupo de trabalho. O curso cobre aperfeiçoamento de técnicas de entrevista, locução, gravação e edição de programas e código odontológico.
O programa matutino Juba Sunrise continua a crescer em qualidade e participação. A dupla Nyero Alex e Oyet Patrick está mais entrosada e os dois radialistas mais incisivos no desenvolvimento dos temas. Os últimos foram Darfur, moralidade e tribalismo. Os ouvintes estão a interagir cada vez mais através de telefonemas.
Como não há bela sem senão, o fornecimento de energia eléctrica ao transmissor é muito errático e a emissão tem sofrido alguns cortes diários, apanhando «nas covas» o técnico que opera o gerador até o sistema de ligação automático chegar de Nairobi. A companhia da electricidade de Juba continua a expandir a rede e às vezes tem necessidade de proceder a cortes temporários. Outras vezes são meio permanentes como o que demorou todo um fim de semana, porque a central ficou sem gasóleo. Acontece a quem se esquece de controlar stocks.
Estamos todos a aprender!
8 de junho de 2007
Juba Sunrise
Rádio Bakhita começou hoje a sua emissão matutina. O programa, transmitido em directo, das 7h00 às 10h00, chama-se Juba Sunrise (nascer do Sol em Juba) e é animado pelo jornalista Nyero Alex e pelo apresentador e técnico de emissão Oyet Patrick.
Juba Sunrise tem o formato de um magazine, misturando música com notícias e comentários. Os ouvintes participam através do telefone.
A primeira emissão experimental foi um sucesso. A carta aberta dos sudaneses que trabalham na ONG Save the Children UK ao Governo do Sul do Sudão a denunciar descriminação por parte do pessoal estrangeiro e a sugestão do Presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa, aos membros do G8 para criarem leis que facilitem o «repatriamento» de dinheiros da ajuda internacional desviados pelas elites africanas para contas pessoais nos bancos ocidentais, foram os temas principais.
6 de junho de 2007
Olhos no Darfur
Amnestia Internacional (AI) lança hoje o sítio Eyes on Darfur – Olhos no Darfur – para publicar fotografias das atrocidades cometidas na oeste do Sudão.
As fotos tiradas por um satélite de alta resolução documentam os crimes que o Governo sudanês nega.
Eyes on Darfur usa tecnologia de ponta para proteger os direitos humanos. Os observadores podem «vigiar» e proteger 12 aldeias altamente vulneráveis do Darfur que ainda estão intactas.
As fotos tiradas por um satélite de alta resolução documentam os crimes que o Governo sudanês nega.
Eyes on Darfur usa tecnologia de ponta para proteger os direitos humanos. Os observadores podem «vigiar» e proteger 12 aldeias altamente vulneráveis do Darfur que ainda estão intactas.
5 de junho de 2007
Mais um passo
O transmissor de Rádio Bakhita foi esta tarde finalmente ligado à rede pública de electricidade de Juba.
A ligação vai possibilitar o alargamento de emissão e o seu embaratecimento. Desde 8 de Fevereiro que a 91 FM A Voz da Igreja, transmite diariamente das 17h00 até às 21h00. Os estúdios e o transmissor eram alimentados por dois geradores a diesel.
O novo período de emissão vai ser prolongado até às 22h00 em emissão programada e termina às 9h00 da manhã seguinte em programação automática com música e «jingles».
Sudan Radio Service, Serviço de Rádio Sudão, vai orientar um curso intensivo para o pessoal da Rádio Bakhita em técnicas de gravação, locução e entrevistas na próxima semana.
O Serviço de Rádio Sudão transmite para o Sudão em onda curta a partir do Quénia. É patrocinado pela USAID, a organização de ajuda internacional do Governo norte-americano.
A ligação vai possibilitar o alargamento de emissão e o seu embaratecimento. Desde 8 de Fevereiro que a 91 FM A Voz da Igreja, transmite diariamente das 17h00 até às 21h00. Os estúdios e o transmissor eram alimentados por dois geradores a diesel.
O novo período de emissão vai ser prolongado até às 22h00 em emissão programada e termina às 9h00 da manhã seguinte em programação automática com música e «jingles».
Sudan Radio Service, Serviço de Rádio Sudão, vai orientar um curso intensivo para o pessoal da Rádio Bakhita em técnicas de gravação, locução e entrevistas na próxima semana.
O Serviço de Rádio Sudão transmite para o Sudão em onda curta a partir do Quénia. É patrocinado pela USAID, a organização de ajuda internacional do Governo norte-americano.
4 de junho de 2007
Uma cultura de partilha
No dia 3 de Dezembro de 2003, Deus dava-me a graça de voltar à Etiópia, pela segunda vez. Regressava ao mesmo povo de quem me tinha despedido há nove anos. Era o povo Sidamo, no Sul da Etiópia. A missão de Teticha, iniciada pelos Missionários Combonianos em 1974, era novamente o meu destino.
À volta da missão, crescia um grupo de pessoas eternamente dependentes das «esmolas» dos missionários, pessoas a quem os familiares negavam os gestos de solidariedade próprios da sua cultura.
Comecei por interpelar alguns líderes na área do ensino, da saúde e doutros sectores sociais. Eram jovens que se sentiam agradecidos à missão por lhes ter dado a possibilidade de crescer na vida, não só a nível cristão como também a nível humano. Com eles, começámos a projectar a criação de dois grupos: o grupo da Assistência aos Pobres e o grupo dos Trabalhadores Católicos. Através deles, deveria passar a ajuda aos necessitados e o apoio aos estudantes.
Na primeira sexta-feira de cada mês, ao celebrar o Coração de Jesus, a comunidade fazia um grande ofertório para os pobres. Alguns trabalhadores começaram a oferecer parte do seu salário para os mais carenciados. A Asteri Dubale, agradecida pelo seu primeiro emprego como assistente social, entregou parte do seu primeiro salário para os pobres. E o Lema Lalimo, engenheiro agrónomo, ao ser eleito para coordenar o grupo de Assistência aos Pobres, começou o seu serviço oferecendo o salário de um mês para o fundo dos pobres.
Entretanto, a morte do meu pai, no passado mês de Novembro, trouxe-me a Portugal. Pensava voltar à Etiópia após duas ou três semanas, mas questões de saúde acabaram por adiar o meu regresso. Encontrando-me em Viseu, para tratamento médico, recebi no mês de Março uma carta emocionante do catequista Samuel Fena, em nome de toda a comunidade cristã de Teticha:
«Querido Abba Ivo,
A notícia da tua doença apanhou-nos como um relâmpago. Não queríamos acreditar. Ao sabermos da tua situação, juntámo-nos todos, como de costume, na primeira sexta-feira do mês, para pedirmos ao Coração de Jesus que te curasse. Estamos confiantes que Ele nos vai ouvir e tu vais voltar novamente para o meio de nós. Decidimos fazer o ofertório para ti. Recolhemos 700 birr. É uma pequena ajuda dos irmãos que deixaste em Teticha para pagares os medicamentos que, com a graça de Deus, te hão-de trazer a cura.»
Este gesto deixou-me emocionado. Setecentos birre, corresponde a setenta euros, mas para aquelas pessoas é muito… É o equivalente a mais de três salários mensais.
Quero olhar para estes setenta euros como Jesus olhou para as duas moedinhas que a viúva pobre deitou no cofre do tesouro de Jerusalém.
À volta da missão, crescia um grupo de pessoas eternamente dependentes das «esmolas» dos missionários, pessoas a quem os familiares negavam os gestos de solidariedade próprios da sua cultura.
Comecei por interpelar alguns líderes na área do ensino, da saúde e doutros sectores sociais. Eram jovens que se sentiam agradecidos à missão por lhes ter dado a possibilidade de crescer na vida, não só a nível cristão como também a nível humano. Com eles, começámos a projectar a criação de dois grupos: o grupo da Assistência aos Pobres e o grupo dos Trabalhadores Católicos. Através deles, deveria passar a ajuda aos necessitados e o apoio aos estudantes.
Na primeira sexta-feira de cada mês, ao celebrar o Coração de Jesus, a comunidade fazia um grande ofertório para os pobres. Alguns trabalhadores começaram a oferecer parte do seu salário para os mais carenciados. A Asteri Dubale, agradecida pelo seu primeiro emprego como assistente social, entregou parte do seu primeiro salário para os pobres. E o Lema Lalimo, engenheiro agrónomo, ao ser eleito para coordenar o grupo de Assistência aos Pobres, começou o seu serviço oferecendo o salário de um mês para o fundo dos pobres.
Entretanto, a morte do meu pai, no passado mês de Novembro, trouxe-me a Portugal. Pensava voltar à Etiópia após duas ou três semanas, mas questões de saúde acabaram por adiar o meu regresso. Encontrando-me em Viseu, para tratamento médico, recebi no mês de Março uma carta emocionante do catequista Samuel Fena, em nome de toda a comunidade cristã de Teticha:
«Querido Abba Ivo,
A notícia da tua doença apanhou-nos como um relâmpago. Não queríamos acreditar. Ao sabermos da tua situação, juntámo-nos todos, como de costume, na primeira sexta-feira do mês, para pedirmos ao Coração de Jesus que te curasse. Estamos confiantes que Ele nos vai ouvir e tu vais voltar novamente para o meio de nós. Decidimos fazer o ofertório para ti. Recolhemos 700 birr. É uma pequena ajuda dos irmãos que deixaste em Teticha para pagares os medicamentos que, com a graça de Deus, te hão-de trazer a cura.»
Este gesto deixou-me emocionado. Setecentos birre, corresponde a setenta euros, mas para aquelas pessoas é muito… É o equivalente a mais de três salários mensais.
Quero olhar para estes setenta euros como Jesus olhou para as duas moedinhas que a viúva pobre deitou no cofre do tesouro de Jerusalém.
Padre Ivo do Vale, Missionário Comboniano
Versão integral do artigo em «Além-Mar»
3 de junho de 2007
Domingo
Como adoro as manhãs preguiçosas de domingo.
Adoro acordar devagar, deixar que os ouvidos se habituem calmamente ao cantar dos pássaros, ao eco das vozes, ao rumor dos motores, aos sons da vida que me envolvem.
Adoro caminhar lentamente pelo terreiro da missão, admirar a luz pálida da manhã, as cores das buganvílias, das acácias encarnadas e de outras flores. As lagartixas e outros répteis vestidos de multicores.
Adoro sentar-me na capela e rezar com calma a liturgia dominical. Às vezes com a Cati ao colo.
Adoro participar na Eucaristia paroquial, sentir o ritmo dos cânticos, a força da Palavra, a solidariedade da oração conjunta.
Adoro o almoço simples num restaurante barato, tempo de dois dedos de conversa despreocupada com os colegas.
Adoro a manhã do domingo porque a tarde é como todos os outros dias: a escrever notícias e tratar sons na Rádio Bakhita.
Adoro acordar devagar, deixar que os ouvidos se habituem calmamente ao cantar dos pássaros, ao eco das vozes, ao rumor dos motores, aos sons da vida que me envolvem.
Adoro caminhar lentamente pelo terreiro da missão, admirar a luz pálida da manhã, as cores das buganvílias, das acácias encarnadas e de outras flores. As lagartixas e outros répteis vestidos de multicores.
Adoro sentar-me na capela e rezar com calma a liturgia dominical. Às vezes com a Cati ao colo.
Adoro participar na Eucaristia paroquial, sentir o ritmo dos cânticos, a força da Palavra, a solidariedade da oração conjunta.
Adoro o almoço simples num restaurante barato, tempo de dois dedos de conversa despreocupada com os colegas.
Adoro a manhã do domingo porque a tarde é como todos os outros dias: a escrever notícias e tratar sons na Rádio Bakhita.
2 de junho de 2007
Sanções
O presidente do Governo semi-autónomo do Sul do Sudão, General Salva Kiir, afirmou que «as sanções [impostas pelos Estados Unidos ao Sudão] não resolvem os problemas do Darfur.»
O Genral Kiir fez esta afirmação em Oslo, na quinta-feira, no final de uma visita de dois dias à Noruega.
O presidente do Sul do Sudão afirmou que as sanções que o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ondenou na terça-feira contra 30 companhias sudanesas e três particulares prejudicam o Sul do Sudão. Algumas das companhias sancionadas estão relacionadas com a indústria da extração do petróleo.
«Vai haver um impacte na população civil porque se as sanções vão em profundidade na base económica, afectarão as pessoas», disse o genral Kiir. «O Sul do Sudão vai ser atingido em primeiro lugar, porque as suas entradas vêm exclusivamente [da extracção] do petróleo.»
De facto, a única entrada no orçamento do governo do Sul do Sudão por enquanto é a sua quota parte dos proventos da exloração do crude no Sul do país.
O Governo do Sul do Sudão em dois anos de funcionamento ainda não tem em funconamento algum mecanismo de recolha geral de taxas.
O Genral Kiir fez esta afirmação em Oslo, na quinta-feira, no final de uma visita de dois dias à Noruega.
O presidente do Sul do Sudão afirmou que as sanções que o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ondenou na terça-feira contra 30 companhias sudanesas e três particulares prejudicam o Sul do Sudão. Algumas das companhias sancionadas estão relacionadas com a indústria da extração do petróleo.
«Vai haver um impacte na população civil porque se as sanções vão em profundidade na base económica, afectarão as pessoas», disse o genral Kiir. «O Sul do Sudão vai ser atingido em primeiro lugar, porque as suas entradas vêm exclusivamente [da extracção] do petróleo.»
De facto, a única entrada no orçamento do governo do Sul do Sudão por enquanto é a sua quota parte dos proventos da exloração do crude no Sul do país.
O Governo do Sul do Sudão em dois anos de funcionamento ainda não tem em funconamento algum mecanismo de recolha geral de taxas.
1 de junho de 2007
Darfur
O MILAGRE DA PAZ
Aquando do massacre em Timor, os Portugueses uniram-se, quiseram e aconteceu algo que ainda hoje parece um milagre. No Sudão, o milagre não seria menor se Ibtissam pudesse cumprir o seu nome e voltasse a ser puro Sorriso num Darfur onde todos tivessem direito à vida e à paz.
Awad tem uns 30 anos. Casou com Ibtissam (Sorriso). Têm um filhote, Bahkit, e são do Darfur – a casa dos Fur –, a província ocidental do Sudão. Viviam em Khur el Bashar, perto de El Fashir. Os janjauid, as milícias árabes, atacaram a aldeia: casas queimadas, mulheres violadas, dezenas de mortos, gado roubado. Os sobreviventes refugiaram-se em Manauachi.
Três meses depois decidiram voltar. Pensavam que o furacão de morte tinha passado. Mas enganaram-se. Os ginetes – é este o significado de janjauid em árabe – voltaram montados em camelos e cavalos para secar a aldeia da sua gente. Khur el Bashar significa torrente do homem. Três anos depois do último ataque é um leito seco sem vivalma.
Awad é agricultor como a maioria dos muçulmanos negros do Darfur. «Trabalhava nos campos, sempre tive o suficiente para a minha família e para os meus pais. Agora vivo no campo de deslocados de Dereje. Todos os dias vou a Nyala à procura de trabalho. Mas não é fácil. A cidade está cheia de desempregados como eu. Vêm dos campos de Dereje e de Kalma. A minha mulher cuida do menino e trabalha na Organização de Beneficência. Ganha alguns dinares», diz. «Mas a maioria dos deslocados limita-se a ficar no campo, por fraqueza, doença ou pela idade.»
Um genocídio regional
A guerra civil do Darfur começou em Fevereiro de 2003. Rebeldes do Exército de Libertação do Sudão (SLA), e mais tarde o Movimento de Justiça e Igualdade (JEM) – as siglas correspondem aos nomes em inglês –, pegaram em armas contra Cartum, acusando o Governo do Sudão de discriminar os agricultores negros em favor dos pastores árabes.
O Governo de Omar el Bashir respondeu com as milícias janjauid. Em quatro anos, mais de 200 mil pessoas morreram, 2,5 milhões foram deslocados e quatro milhões carecem de ajuda. Cerca de 1500 aldeias foram apagadas do mapa.
O genocídio alastrou ao Chade e à República Centro-Africana. Os janjauid atacam além-fronteiras e começaram a matar árabes. Nos desertos inóspitos do Leste do Chade vivem 235 mil refugiados sudaneses e 140 mil deslocados internos chadianos. Todos fogem da limpeza étnica dos janjauid.
A táctica de Bashir
As Nações Unidas montaram no Darfur uma vasta operação humanitária. Catorze mil funcionários tentam aliviar as necessidades de quatro milhões de vítimas do conflito. A sua acção, contudo, é limitada pela insegurança.
A União Africana (UA) destacou 7000 homens para a região. A Missão da UA no Sudão (AMIS em inglês) está no Darfur desde Junho de 2004, mas é incapaz de travar a matança dos janjauid. Os soldados são poucos, mal armados e mal treinados.
Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, propôs reforçar a AMIS com uma força híbrida de 23 mil capacetes azuis da ONU e soldados da UA. Omar el Bashir não aceita. Nega que haja violações no Darfur, diz que «no Sudão somos todos negros», que as vítimas dos «confrontos tribais» não passam os 9000, que o contingente africano chega para patrulhar uma área do tamanho da França. Depois de muita pressão internacional, apenas aceitou que 3000 polícias e militares da ONU dêem apoio técnico à AMIS.
Uma guerra muito suja
O Conselho dos Direitos Humanos da ONU enviou uma missão ao Darfur em Fevereiro passado. Os delegados escreveram que a situação do Darfur é «caracterizada pela violação sistemática e brutal dos direitos humanos e infracções graves da lei humanitária internacional».
E continuam: «A matriz principal [do conflito] é uma campanha violenta de contra-rebelião levada a cabo pelo Governo do Sudão em concerto com os janjauid; as milícias alvejam sobretudo civis.»
O relatório denuncia constantes atentados de todo o tipo contra os direitos humanos das populações: assassínios, torturas, violações, deslocações forçadas e prisões arbitrárias. A ONU acusa as forças armadas do Sudão de atacar alvos civis com aviões e veículos pintados com as insígnias da AMIS.
O xadrez dos interesses
Há vastos interesses em jogo no tabuleiro do Darfur. Os Estados Unidos denunciaram o genocídio, mas limitam-se a fazer ameaças. Isto porque o Sudão se tornou uma fonte importante de informação acerca dos movimentos dos terroristas e um aliado na luta norte-americana contra o terrorismo internacional.
A China, por seu turno, protege Cartum das sanções no Conselho de Segurança da ONU com o seu direito de veto. A razão é ainda mais óbvia: o Sudão é o seu maior fornecedor de petróleo e um parceiro económico importante. Entretanto, a Líbia e a Eritreia querem vigiar a fronteira entre o Chade e o Sudão; a Liga Árabe e o Egipto tentam manter o diálogo entre El Bashir e Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU.
O Governo semiautónomo do Sul do Sudão criou uma missão especial para o Darfur e pretende organizar uma cimeira com todas as forças rebeldes. Até porque a comunidade internacional tem centrado as suas atenções no Oeste do Sudão, e o Sul, que há tão pouco tempo saiu de uma violenta, demolidora e longa guerra civil, não está a receber as ajudas nem os investimentos que esperava. Decisivos para a sua reconstrução e para a construção de um futuro de paz, principalmente quando no horizonte se perfila um referendo sobre a sua autonomia.
O acordo da Rolls Royce
O governo de Al Bashir divide para reinar, diz que sim hoje e que não amanhã e só se sentará à mesa das negociações se a tal for forçado por uma diplomacia musculada que recorra a medidas punitivas concretas.
Especialistas defendem que a presença de uma força híbrida de 23 mil soldados no Darfur não é suficiente, que tem de ser complementada pelo congelamento das contas sudanesas no estrangeiro, a interdição do espaço aéreo do Darfur, a limitação das viagens dos líderes sudaneses ao exterior – e, para pressionar a China, nada sensível a violações dos direitos humanos, aproveitar a proximidade das Olimpíadas de Pequim de 2008, tão importantes para a imagem que a liderança chinesa quer dar ao mundo, para pôr termo ao genocídio.
Cabe à União Europeia (UE) liderar uma ofensiva diplomática que force Cartum a encontrar uma solução política para o Darfur através de um Acordo Compreensivo de Paz entre todas as partes envolvidas, como aconteceu com a guerra civil no Sul do Sudão. O Acordo de Paz assinado entre Cartum e uma facção do SLA a 5 de Maio de 2006 morreu à nascença. Neste caso, fora a Rolls Royce a abrir caminho: a empresa britânica, que fornecia motores à indústria petrolífera sudanesa, suspendeu todas as actividades no país como forma de protesto pelo que se passa no Darfur.
O papel de Portugal
Se uma só empresa pode tanto, uma comunidade internacional decidida e unida poderá muitíssimo mais. Mas não só a diplomacia, as organizações internacionais e humanitárias, os governos ou os actores económicos têm um papel a desempenhar. Cabe à sociedade civil europeia, fazendo jus às tradições humanistas de uma Europa de matriz cristã, pressionar os políticos e os decisores para que estes deixem as meias-medidas e as meias-tintas e se decidam de vez a pôr termo ao genocídio no Oeste do Sudão. Na hora em que Portugal assume a presidência da UE, os Portugueses e o seu Governo têm uma responsabilidade acrescida.
Aquando do massacre em Timor, os Portugueses uniram-se, quiseram e aconteceu algo que ainda hoje, apesar de todas as vicissitudes, parece um milagre. No Sudão, o milagre não seria menor se Ibtissam pudesse cumprir o seu nome e voltasse a ser puro Sorriso num Darfur onde todos tivessem direito à vida e à paz.
Aquando do massacre em Timor, os Portugueses uniram-se, quiseram e aconteceu algo que ainda hoje parece um milagre. No Sudão, o milagre não seria menor se Ibtissam pudesse cumprir o seu nome e voltasse a ser puro Sorriso num Darfur onde todos tivessem direito à vida e à paz.
Awad tem uns 30 anos. Casou com Ibtissam (Sorriso). Têm um filhote, Bahkit, e são do Darfur – a casa dos Fur –, a província ocidental do Sudão. Viviam em Khur el Bashar, perto de El Fashir. Os janjauid, as milícias árabes, atacaram a aldeia: casas queimadas, mulheres violadas, dezenas de mortos, gado roubado. Os sobreviventes refugiaram-se em Manauachi.
Três meses depois decidiram voltar. Pensavam que o furacão de morte tinha passado. Mas enganaram-se. Os ginetes – é este o significado de janjauid em árabe – voltaram montados em camelos e cavalos para secar a aldeia da sua gente. Khur el Bashar significa torrente do homem. Três anos depois do último ataque é um leito seco sem vivalma.
Awad é agricultor como a maioria dos muçulmanos negros do Darfur. «Trabalhava nos campos, sempre tive o suficiente para a minha família e para os meus pais. Agora vivo no campo de deslocados de Dereje. Todos os dias vou a Nyala à procura de trabalho. Mas não é fácil. A cidade está cheia de desempregados como eu. Vêm dos campos de Dereje e de Kalma. A minha mulher cuida do menino e trabalha na Organização de Beneficência. Ganha alguns dinares», diz. «Mas a maioria dos deslocados limita-se a ficar no campo, por fraqueza, doença ou pela idade.»
Um genocídio regional
A guerra civil do Darfur começou em Fevereiro de 2003. Rebeldes do Exército de Libertação do Sudão (SLA), e mais tarde o Movimento de Justiça e Igualdade (JEM) – as siglas correspondem aos nomes em inglês –, pegaram em armas contra Cartum, acusando o Governo do Sudão de discriminar os agricultores negros em favor dos pastores árabes.
O Governo de Omar el Bashir respondeu com as milícias janjauid. Em quatro anos, mais de 200 mil pessoas morreram, 2,5 milhões foram deslocados e quatro milhões carecem de ajuda. Cerca de 1500 aldeias foram apagadas do mapa.
O genocídio alastrou ao Chade e à República Centro-Africana. Os janjauid atacam além-fronteiras e começaram a matar árabes. Nos desertos inóspitos do Leste do Chade vivem 235 mil refugiados sudaneses e 140 mil deslocados internos chadianos. Todos fogem da limpeza étnica dos janjauid.
A táctica de Bashir
As Nações Unidas montaram no Darfur uma vasta operação humanitária. Catorze mil funcionários tentam aliviar as necessidades de quatro milhões de vítimas do conflito. A sua acção, contudo, é limitada pela insegurança.
A União Africana (UA) destacou 7000 homens para a região. A Missão da UA no Sudão (AMIS em inglês) está no Darfur desde Junho de 2004, mas é incapaz de travar a matança dos janjauid. Os soldados são poucos, mal armados e mal treinados.
Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, propôs reforçar a AMIS com uma força híbrida de 23 mil capacetes azuis da ONU e soldados da UA. Omar el Bashir não aceita. Nega que haja violações no Darfur, diz que «no Sudão somos todos negros», que as vítimas dos «confrontos tribais» não passam os 9000, que o contingente africano chega para patrulhar uma área do tamanho da França. Depois de muita pressão internacional, apenas aceitou que 3000 polícias e militares da ONU dêem apoio técnico à AMIS.
Uma guerra muito suja
O Conselho dos Direitos Humanos da ONU enviou uma missão ao Darfur em Fevereiro passado. Os delegados escreveram que a situação do Darfur é «caracterizada pela violação sistemática e brutal dos direitos humanos e infracções graves da lei humanitária internacional».
E continuam: «A matriz principal [do conflito] é uma campanha violenta de contra-rebelião levada a cabo pelo Governo do Sudão em concerto com os janjauid; as milícias alvejam sobretudo civis.»
O relatório denuncia constantes atentados de todo o tipo contra os direitos humanos das populações: assassínios, torturas, violações, deslocações forçadas e prisões arbitrárias. A ONU acusa as forças armadas do Sudão de atacar alvos civis com aviões e veículos pintados com as insígnias da AMIS.
O xadrez dos interesses
Há vastos interesses em jogo no tabuleiro do Darfur. Os Estados Unidos denunciaram o genocídio, mas limitam-se a fazer ameaças. Isto porque o Sudão se tornou uma fonte importante de informação acerca dos movimentos dos terroristas e um aliado na luta norte-americana contra o terrorismo internacional.
A China, por seu turno, protege Cartum das sanções no Conselho de Segurança da ONU com o seu direito de veto. A razão é ainda mais óbvia: o Sudão é o seu maior fornecedor de petróleo e um parceiro económico importante. Entretanto, a Líbia e a Eritreia querem vigiar a fronteira entre o Chade e o Sudão; a Liga Árabe e o Egipto tentam manter o diálogo entre El Bashir e Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU.
O Governo semiautónomo do Sul do Sudão criou uma missão especial para o Darfur e pretende organizar uma cimeira com todas as forças rebeldes. Até porque a comunidade internacional tem centrado as suas atenções no Oeste do Sudão, e o Sul, que há tão pouco tempo saiu de uma violenta, demolidora e longa guerra civil, não está a receber as ajudas nem os investimentos que esperava. Decisivos para a sua reconstrução e para a construção de um futuro de paz, principalmente quando no horizonte se perfila um referendo sobre a sua autonomia.
O acordo da Rolls Royce
O governo de Al Bashir divide para reinar, diz que sim hoje e que não amanhã e só se sentará à mesa das negociações se a tal for forçado por uma diplomacia musculada que recorra a medidas punitivas concretas.
Especialistas defendem que a presença de uma força híbrida de 23 mil soldados no Darfur não é suficiente, que tem de ser complementada pelo congelamento das contas sudanesas no estrangeiro, a interdição do espaço aéreo do Darfur, a limitação das viagens dos líderes sudaneses ao exterior – e, para pressionar a China, nada sensível a violações dos direitos humanos, aproveitar a proximidade das Olimpíadas de Pequim de 2008, tão importantes para a imagem que a liderança chinesa quer dar ao mundo, para pôr termo ao genocídio.
Cabe à União Europeia (UE) liderar uma ofensiva diplomática que force Cartum a encontrar uma solução política para o Darfur através de um Acordo Compreensivo de Paz entre todas as partes envolvidas, como aconteceu com a guerra civil no Sul do Sudão. O Acordo de Paz assinado entre Cartum e uma facção do SLA a 5 de Maio de 2006 morreu à nascença. Neste caso, fora a Rolls Royce a abrir caminho: a empresa britânica, que fornecia motores à indústria petrolífera sudanesa, suspendeu todas as actividades no país como forma de protesto pelo que se passa no Darfur.
O papel de Portugal
Se uma só empresa pode tanto, uma comunidade internacional decidida e unida poderá muitíssimo mais. Mas não só a diplomacia, as organizações internacionais e humanitárias, os governos ou os actores económicos têm um papel a desempenhar. Cabe à sociedade civil europeia, fazendo jus às tradições humanistas de uma Europa de matriz cristã, pressionar os políticos e os decisores para que estes deixem as meias-medidas e as meias-tintas e se decidam de vez a pôr termo ao genocídio no Oeste do Sudão. Na hora em que Portugal assume a presidência da UE, os Portugueses e o seu Governo têm uma responsabilidade acrescida.
Aquando do massacre em Timor, os Portugueses uniram-se, quiseram e aconteceu algo que ainda hoje, apesar de todas as vicissitudes, parece um milagre. No Sudão, o milagre não seria menor se Ibtissam pudesse cumprir o seu nome e voltasse a ser puro Sorriso num Darfur onde todos tivessem direito à vida e à paz.
Texto escrito para as revistas da MissãoPress