7 de janeiro de 2007

Sabedorias

O MACACO AMBICIOSO

Uma tartaruga esperta engana um macaco e salva a vida. Moral desta fábula: a ambição desmedida só aproveita a quem sabe tirar partido da dos outros.

Ao amanhecer, um camponês foi para o seu campo trabalhar. Como de costume, ao aproximar-se o meio-dia, quis acender o fogo para assar nas brasas o inhame, o tubérculo de que se alimentavam os habitantes da sua aldeia. Para acender o fogo, começou a procurar ramos secos. Foi então que, ao mexer nas folhas secas, encontrou uma tartaruga. Apanhou-a com as mãos, levantou-a, olhou-a bem e, sem dizer nada, meteu-a na bolsa. Pensou para si: «Já tenho alguma coisa para comer com o inhame. A tartaruga viu-se assim apanhada numa ratoeira, mas não se deixou desanimar. Começou por perguntar ao camponês:
- Apanhaste-me para me matar?
- Sim, respondeu ele. - Era um homem de poucas palavras.
Pensas então matar-me para me comer?, perguntou ainda o animal.
- Certamente, disse-lhe o homem.
A tartaruga, então, calou-se e pôs-se a rir para si própria.
- Porque é que te estás a rir?, perguntou-lhe o homem.
Ela, como resposta, perguntou-lhe por sua vez com ar sério:
- Sabes como cozinhar-me de modo a que eu seja mesmo tenra?
- Não, respondeu-lhe o camponês.
- Estás a ver?!, disse-lhe ela, queres comer-me e nem sequer sabes como me hás-de cozinhar.
- Como é que o deverei fazer?, perguntou ele.
Então a tartaruga disse-lhe:
- Pegas em mim e, com a ajuda de uma corda, atas-me ao ramo de uma árvore durante algum tempo. Depois vais buscar água ao rio para me cozinhares na panela.
O camponês assim fez, como ela lhe tinha dito. Foi ao rio buscar água e deixou a tartaruga pendurada a dançar no ramo da árvore.
Enquanto o camponês estava no rio a apanhar água, um macaco visitou o seu campo e viu com surpresa a tartaruga a baloiçar no ramo da árvore. Perguntou-lhe, curioso:
- Cara amiga tartaruga, porque estás aí assim na árvore, a baloiçar dessa maneira? Aconteceu-te alguma coisa de extraordinário?
Ela respondeu-lhe:
- Tu não sabes? O camponês propôs-me em casamento a sua filha mais bonita, com a condição de que saiba dançar.
O macaco coçou o pescoço, e os seus olhos iluminaram-se.
De repente, começou a insultar a tartaruga.
- Estúpida és tu em me contar essa história! E dito isto, tirou a tartaruga da corda e atirou-a com força para o meio da floresta. Com a intenção de se casar com a filha do camponês, atou-se ele mesmo à corda.
Ao chegar, o camponês admirou-se de ver o macaco atado à corda à hora de preparar o seu almoço. E foi assim que o macaco, que tinha querido substituir a tartaruga para casar com a filha do camponês, acabou na panela em seu lugar.
Eis, comentam os anciãos na aldeia do camponês, a que coisa conduz uma ambição desmedida.
PAOLO VALENTE em «Além-Mar»

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