16 de dezembro de 2006

Olá, Juba!

O pequeno bimotor a hélice de 19 lugares levantou voo do aeroporto Wilson, em Nairobi, às 8h30 de 8 de Dezembro. Nunca tinha viajado num avião tão pequeno e tão baixo. A princípio senti algum desconforto e claustrofobia. Mas a viagem acabou por correr bem.
O verde luxuriante da planície queniana foi dando lugar ao castanho semi-desértico e mais acidentado à medida que o voo de cerca de duas horas se aproximava do seu termo.
O Nilo Branco saudou-nos, espreguiçado e majestoso, vindo do Uganda a caminho de Cartum onde se junta com o seu irmão etíope, o Nilo Azul.
O Aeroporto Internacional de Juba é uma aerogare modesta e acanhada onde tudo é manual. Mas funciona. Os polícias da alfândega são zelosos e abrem toda a bagagem.
Juba, a capital do Sul do Sudão, parece uma aldeia enorme que cresceu desmesuradamente e rebenta pelas costuras. As casas são baixas. As ruas, quase todas de terra, estão cheias de viaturas oficiais do Governo e da ONU, de organizações não governamentais e de particulares. E de muitos motociclos, a última moda.
Há pó por todo o lado. Os nim, as árvores do deserto, dão um toque de verdura e de sombra na paisagem ressequida.
A cidade tem diversos mercados e muitas lojas cheias de produtos essenciais. Os negociantes árabes abastecem-se sobretudo em Cartum. Os outros importam do Uganda, do Quénia, da China. Os preços são sujeitos a negociações.
A vida é bastante cara devido à presença maciça de organizações estrangeiras. Uma refeição simples (dois panados, um punhado de arroz, umas rodelas de tomate e uma cerveja) custa mais de cinco euros num restaurante barato.
Brevemente a cidade terá luz eléctrica pública. Os técnicos andam a montar as linhas. Os cartões SIM para telemóveis são difíceis de encontrar. O Sul do Sudão não tem serviço postal.
Duas comunidades combonianas partilham o mesmo espaço perto do aeroporto. Os edifícios estão a ser recuperados. Em 1992, os missionários estrangeiros foram obrigados a deixar Juba «por questões de segurança». As instalações foram ocupadas até há cerca de um ano por duas congregações locais.
A comunidade masculina é formada por dois irmãos (um alemão e um espanhol) e dois padres (um mexicano e eu) mais a Cathy, a gatita brincalhona e mimada. A comunidade feminina tem cinco irmãs: duas italianas, uma mexicana, uma eritreia – que conheci na Etiópia – e uma sudanesa.
O dia começa cedo! Levanto-me às 6h00. Às 6h40 rezamos as laudes sentados no adro da capela. Os pássaros participam na oração com o chilrear alegre. Segue-se a missa, o pequeno-almoço e o trabalho. O almoço, às 12h15, é preparado por uma cozinheira sudanesa. Às 18h40 voltamos a juntar-nos para a oração da tarde. Depois jantamos o que cozinharmos ou os restos do almoço.
Como não há televisão, ficamos a conversar até às 21h00. Depois vamos para a cama.
A equipa instaladora da Cadeia Católica de Rádio do Sudão é formada por duas combonianas (a directora-geral do projecto e a directora da estação de Juba) e dois combonianos (o administrador e eu, director de informação). Esta semana chegam dois técnicos da Itália para colocar a estação de Juba a funcionar. Outra irmã, que ensina comunicação social em Nairobi, juntar-se-á ao grupo em Março.A estação de Juba já tem nome. Chama-se Rádio Bakhita, a voz da Igreja Católica. A irmã Josefina Bakhita é a primeira santa sudanesa. Por enquanto vai operar a partir de instalações provisórias. Dentro de um ano deverá ter estúdios próprios e um centro de formação para preparar radialistas, jornalistas e administradores para toda a cadeia: a estação-mãe, em Juba, e as rádios locais das outras sete dioceses do Sul. Vão emitir em inglês, árabe e em algumas línguas locais. Parte da emissão será feita a partir de Juba. A Rádio Bakhita inicia as emissões experimentais no Natal. Dois técnicos italianos estão a inspeccionar os estúdios e a montar o transmissor e a antena.

3 comentários:

  1. Olá compadre.
    Acabo de ler todos os posts desde a tua chegada. Fico feliz por ver que estás bem, apesar das saudades imensas que sei que sentes. Até nisso te admiro. Estou ansioso por ver essas fotos! Aquele abraço.

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  2. POis, faltam as fotos, mas imagino que não seja fácil! Bom trabalho. Um Santo Natal!
    JN

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  3. Depois de algum tempo de espera chagam algumas notícias, felizmente boas.Espero ver algumas fotos brevemente.
    bjs

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