30 de novembro de 2006

Blogosfera

© J. Vieira
A RITA É UM AMOR
A Rita tem um blogue que se chama Rita-Jaalala, Rita-Amor. Agora percebo porque queria saber como se dizia amor em Guji, a língua do Sul da Etiópia que falo. E é do amor que escreve e partilha. E dos desamores. Porque tudo é parte da vida e a sabedoria está no integrar tudo para não haver fios soltos, nós desatados. Parabéns, sobrinha. Adoro ler os teus textos e também te amo muito mesmo. Continaumos à distância de um endereço electrónico, tá?

Partir

Desfazer ordens antigas de cinco anos. O quarto parece um poço sem fundo: onde meti tanta coisa?
Fazer malas. Atender mensagens de ternura e amizade.
Uma confusão de coisas para deitar fora, de sentimentos contraditórios: alegria e lágrimas.
Cada vez que parto morro um bocadinho. Mas a morte gera vida e a chegada, amanhã, às 7h15 a Nairobi, é o início de um (re)nascimento, um novo começo cheio de promessa e de ilusão.
É essa a minha oração no momento que digo obrigado e até já.
Sei que Deus está comigo e que os meus familiares e amigos também. O vosso carinho é a minha força.
Obrigado e até já, então! E façam-me o favor de serem felizes. Eu vou tentar fazer o mesmo em Juba, no Sul do Sudão.

29 de novembro de 2006

Retrato

Joasia © J. Vieira

COISAS TUAS

Levo coisas tuas
Para poder estar contigo
Na distância.
Para nunca te perder a companhia,
Mesmo não estando.
Levo gravado o teu gesto,
O pranto, o riso, e
(Ora inocente, ora picante)
O teu sorriso,
Que é a tua expressão,
O teu maior encanto.
E levo um objecto,
Teu pertence,
Como se o espaço tivesse autoridade
E o tempo nos afastasse…

Como se fosse preciso…

Margarida Faro em «Tantas mãos, a mesma Primavera»
(Oficina do Livro, 2005)
Este poema é dedicado a todas as pessoas que têm um lugar especial no meu coração e que levo comigo para o Sudão. Porque estamos todos à distância de um afecto. E no coração cabe o mundo todo.

Sabedorias

A MULHER E OS TRÊS HOMENS

Uma mulher saiu de sua casa e viu três homens com longas barbas brancas sentados em frente do seu quintal. Não os reconheceu.
Disse: «Acho que não os conheço, mas devem estar com fome. Por favor entrem e comam alguma coisa.»
«O homem da casa está?», perguntaram.
«Não, está fora.»
«Então não podemos entrar», responderam.
À noite, quando o marido chegou, contou-lhe o que aconteceu.
«Vai, diz que já estou em casa e convida-os a entrar.»
A mulher saiu e convidou-os.
«Não podemos entrar juntos», responderam.
«Porquê?»
Um dos velhos tomou a palavra: «O seu nome é Fartura». E apontou um dos seus amigos. Depois, indicando o outro, continuou: «Ele é o Sucesso. E eu sou o Amor». E completou: «Agora vá e decida com o seu marido qual de nós querem em vossa casa.»
A mulher entrou e contou ao marido o que fora dito. Ele ficou entusiasmado e disse: «Que bom! Neste caso, vamos convidar Fartura. Deixa-o vir e encher nossa casa de fartura.»
A esposa discordou: «Querido, por quê não convidamos Sucesso?»
A cunhada ouviu do outro canto da casa. E apresentou a sua sugestão: «Não seria melhor convidar Amor? A nossa casa então estaria cheia de amor.»
«Vamos pelo conselho da nossa cunhada!», disse o marido à esposa. «Vai lá fora e chama o Amor para ser nosso convidado.»
A mulher saiu e perguntou: «Qual de vocês é Amor? Por favor, entre e seja nosso convidado.»
O Amor levantou-se e entrou em casa. Fartura e Sucesso seguiram-no.
Surpreendida, a mulher perguntou-lhes: «Apenas convidei o Amor! Por quê entraram também vocês?»
Os velhos responderam: «Se convidasse Fartura ou Sucesso, os outros dois esperariam aqui fora, mas como convidou o Amor, onde ele for, nós iremos com ele. Porque, onde há Amor, há também Fartura e Sucesso!»
Obrigado, Fernando

28 de novembro de 2006

Aldeia global

Se a população da Terra fosse reduzida à dimensão de uma pequena cidade de 100 pessoas, poderia observar-se a seguinte distribuição:
57 Asiáticos
21 Europeus
14 Americanos (norte e sul)
8 Africanos
52 mulheres
48 homens
70 pessoas de côr
30 caucasianos
89 heterossexuais
11 homossexuais
6 pessoas seriam donas de 59% de toda a riqueza e todos eles seriam dos Estados Unidos da América
80 pessoas viveriam em más condições
70 não teriam recebido qualquer instrução escolar
50 passariam fome
1 morreria
2 nasceriam
1 teria um computador
1 (apenas um) teria instrução escolar superior.

Quando olhas para o mundo nesta perspectiva, consegues perceber a realnecessidade de solidariedade, compreensão e educação?

Retratos

Mulher guineense © J. Vieira


Ancião etíope © J. Vieira

Símbolos


Parece uma águia, mas não é. O símbolo dos Estados Unidos é, de facto, um pigargo. Trata-se de uma ave de rapina, parente distante do abutre africano. Não caça, mas saqueia as presas de outras aves. É famoso por roubar a «pesca» da águia pesqueira. Thomas Jefferson preferia ver o peru nas insígnias da jovem América. Para ele, o pigargo era um «cobarde lamentável, que tem por hábito fugir de pássaros do tamanho de um pardal». Ironias da história: o símbolo adequa-se mais à realidade de hoje que à de ontem.

27 de novembro de 2006

Despedidas

O director espiritual disse-me, na Etiópia, há meia dúzia de anos, que, para dizer olá, primeiro é preciso dizer adeus.
Tenho-me dedicado a ritualizar as despedidas desde o princípio de Outubro. Adoro curtir a presença dos familiares e amigos – e são tantos. E as despedidas têm de ser saboreadas com calma e parcimónia! Porque cada pessoa é única e merece uma atenção especial.
Cada partida é uma pequena morte e cada chegada um renascimento.
Nos adeuses há saudades e lágrimas. Há rostos que muito dificilmente voltarei a ver. Pela idade ou pelos novos rumos de vida. Mas também abraços quentes e muita troca de energia: sinto as pilhas recarregadas e estou pronto para dizer olá à vida em Juba. Pronto para partir. E tranquilo. Porque sinto uma solidariedade de afectos enorme. Que agradeço e retribuo.

Deus

José Luis Cortés, em «Um Deus chamado Abba» (Estrela Polar, 2006)

Sabedorias


A ÁRVORE INÚTIL

HuiTzu disse a Chuang:
Tenho uma grande árvore,
Que se chama «Malcheirosa».
Seu tronco é tão torto
É tão cheio de nós
Que ninguém pode tirar dela uma só tábua.
Os galhos são tão retorcidos
Que você não consegue cortá-los
De modo a que seja úteis.

Lá está ela à beira da estrada.
Carpinteiro nenhum a olhará.
Eis o seu ensinamento –
Grande e inútil.

Respondeu-lhe Chuang Tzu:
Já viu o gato do mato
Agachado, espreitando a sua presa -,
Pula assim, e assim,
Para cima e para baixo, e por fim
Cai na armadilha.

Mas o iaque, já viu?
Poderoso qual trovão
Mantém-se com sua força.
Grande? Claro que sim,
Mas não sabe pegar ratos!

Assim, a sua árvore inútil. Inútil?
Plante-a então em terreno baldio
Sozinha
E caminhe a esmo, em torno dela,
Descanse à sua sombra;
Nenhum machado ou decreto proclamará o seu fim.
Ninguém jamais a abaterá.
Inútil? Que me importa!


Thomas Merton, em «A Via de Chuang Tzu»

26 de novembro de 2006

I Only Ask Of God



I only ask of God
He won't let me be indifferent to the suffering
That the very dried up death doesn't find me
Empty and without having given my everything
I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big mon
I only ask of God
He won't let me be indifferent to the suffering
That the very dried up death doesn't find me
Empty and without having given my everything
I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
People... people... people
I only ask of God
He won't let me be indifferent to the injustice
That they do not slap my other cheek
After a claw has scratched my whole body
I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
People... people... people
Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente
People... people... people

25 de novembro de 2006

Retratos

Cristina Isabel © J. Vieira

Abrir aspas

© J. Vieira
ANSIEDADE

Os medos de épocas remotas, as repressões morais e religiosas, as idealizações e as paixões impossíveis do romantismo, o vazio e a náusea existencialista, a cultura do eu, do consumismo e da solidão modernos deram, a pouco e pouco, lugar ao stress e à ansiedade das sociedades contemporâneas. Este facto prende-se, sobretudo, com o novo tipo de pressões a que somos sujeitos, com as novas concepções de vida e com a rápida evolução dos conceitos, que se tornaram cada vez mais flexíveis.
O espectro das perspectivas com que encaramos os objectivos de vida, o mundo e as relações, alargou-se consideravelmente. Tudo pode ser observado e analisado por inúmeros lados, descobrimos novas ligações entre as coisas, as nossas memórias e os laços afectivos são cada vez mais aprofundados. O sentido da vida perde-se no meio de tantas batalhas, os medos multiplicam-se, cresce a sensação de que não vamos conseguir sobreviver com tantas imposições. Falta-nos o tempo, a energia, o ânimo, a despreocupação, a satisfação e a segurança. Tudo isto nos tira a paz e o sossego, o sono, a saúde e o bom-senso para agir com lucidez.
Ana Vieira de Castro, em XIS

24 de novembro de 2006

Refracções

© J. Vieira

PARA DUAS FOTOGRAFIAS
DE NENNI GLOCK
COM O TEJO AO FUNDO

1.
- Antes de haver pontes
o rio era de ouro, e prata e âmbar, e desse ouro
contaram-me
se fez um ceptro de um rei.
E dos canaviais
contaram-me
se faziam as melhores penas que em Roma se escrevia

- Antes de haver pontes
o rio era das sereias, dos tritões e dos heróis, e por aqui
contaram-me
se escondeu Aquiles, fugido de Tróia, e aqui
o encontrou Ulisses no meio de cavalos voadores e éguas velozes
que só o sopro dos ventos emprenhava

- A mim contaram-me apenas que o barco acostou ao anoitecer
e eu pedi à minha mãe que ela me levasse mas ela não levou.
Para quê
explicou mais tarde
o caixão já tinha fechado e eu não ia poder ver
o rosto do meu pai

2.
Chegaram os monstros sem avisar
e já nem se vestem de preto
Assim seria fácil reconhecê-los
tentar fugir a tempo
avisar os incautos

Os monstros têm cores suaves
e bocas enormes
avançam sem ruídos
ferida aberta na paisagem das águas

As bocas dos monstros engolem o rio
as pontes
as margens
o mundo

Os monstros não deixam
rasto

Depois de os monstros passarem até há quem não acredite
que um dia eles existiram
.


Alice Vieira

23 de novembro de 2006

O rato e o gato

O ratinho estava na toca, encurralado pelo gato, que, do lado de fora, miava:
- MIAU, MIAU, MIAU.
O tempo passava e o gato miava.
Depois de várias horas, e já com muita fome, ouviu:
- AU! AU! AU!
Então deduziu: se há cão lá fora, o gato foi-se embora. Correu, disparado, em busca de comida. Nem saiu bem da toca e o gato: «NHAQUE!»
Inconformado, já na boca do gato, perguntou:
- Fogo, gato! Que é isto?
- Meu filho, neste mundo globalizado, quem não fala pelo menos dois idiomas morre à fome! – respondeu o felino.
Obrigado, Ju!

A minha cidade


Juba vai ser a minha cidade a partir de Dezembro e, muito provavelmente, pelos próximos dois anos.
A capital regional do Sul do Sudão fica na margem ao Nilo Branco e tem mais de 150 mil habitantes.
Encontra-se em plena reconstrução depois de 20 anos de guerra civil entre o SPLA (Exército de Libertação do Povo do Sudão na sigla em inglês – que agora é Movimento) e as tropas de Cartum. Mais de dois milhões de civis morreram e quatro milhões foram deslocados pelos combates.
O tratado de paz de Naivasha, assinado em 1 de Janeiro de 2005 entre o SPLA e o Governo sudanês, inaugurou uma nova forma de relacionamento entre Cartum e Juba através da partilha de poderes. O Governo Regional tem autonomia e os sulistas podem, em 2011, optar pela auto-determinação através de um referendo.
O Sul do Sudão é rico em petróleo.
Juba fica a 1700 quilómetros de Cartum, junto à fronteira com o Quénia, Uganda e RD Congo. A Ethiopian voa três vezes por semana de Adis-Abeba para Juba.

Pai-nosso

Será inútil dizer «Pai nosso»
se na minha vida não tomo atitudes como filho de Deus, fechando o meu coração ao amor.
Será inútil dizer «Que estais no céu»
se os meus valores são representados pelos bens da terra.
Será inútil dizer «Santificado seja o vosso nome»
se penso apenas em ser cristão por medo, superstição e comodismo.
Será inútil dizer «Venha a nós o vosso reino»
se acho tão sedutora a vida aqui, cheia de supérfluos e futilidades.
Será inútil dizer «Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu»
se, no fundo, desejo mesmo é que todos os meus desejos se realizem.
Será inútil dizer «O pão nosso de cada dia nos dai hoje»
se prefiro acumular riquezas, desprezando os meus irmãos que passam fome.
Será inútil dizer «Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido»
se não me importo em ferir, injustiçar, oprimir e magoar aos que atravessam o meu caminho.
Será inútil dizer «E não nos deixeis cair em tentação»
se escolho sempre o caminho mais fácil, que nem sempre é o caminho de Deus.
Será inútil dizer «Livrai-nos do mal»
se por minha própria vontade procuro os prazeres materiais, e se tudo o que é proibido me seduz.
Será inútil dizer «Ámen»
porque, sabendo que sou assim, continuo a omitir-me e nada faço para me modificar.

Edmilson Duarte Rocha

20 de novembro de 2006

Sudoku

Para ocupar o tempo...

17 de novembro de 2006

Conversa de cegonhas

Três cegonhas estão à conversa:
- Para onde é que vais?
- Vou à casa de um casal que espera o primeiro filho.
- E tu?
- Eu vou à casa de uma senhora que espera um filho há anos.
- E tu, amiga?
- Eu vou ao convento! Nunca levo nada, mas prego-lhes cá cada susto!!!

16 de novembro de 2006

Darfur

EM PRIMEIRA PESSOA

Depois de ter esperado um mês e dez dias em Cartum para obter o visto de residência no Sudão, pude, finalmente, viajar para a «terra prometida» no Sul de Darfur.
Aqui combate-se forte e feio. Somos frequentemente sobrevoados por aviões de todos os tamanhos e helicópteros que transportam armamento e feridos. Uma confusão de tropas e movimentos armados, sendo por vezes difícil saber quem é contra quem.
Desde que esta guerra rebentou no Darfur - já passa de três anos - não podemos ultrapassar os arredores da cidade. É muito arriscado e é-nos mesmo proibido. Fazemos o nosso trabalho por perto, com muito cuidado e atenção, informando-nos antes sobre os movimentos dos «janjauid», as milícias árabes.
No ano passado, os soldados roubaram um carro da missão: contributo obrigatório que exigiram para combater os inimigos do nosso país – diziam. Um carro novo em folha, pilhado na estrada. Mas este que uso não mo roubarão, porque está a cair aos bocados.
No pequeno raio em que nos podemos mover, já vi alguns «janjauid», montados em camelos ou a cavalos. Vão sempre bem armados. Com eles é melhor guardar as distâncias. Matam sem dó nem piedade, porque têm todas as licenças do Governo.
Misturam-se com a gente no mercado e nas várias aldeias que, quando se dão conta, desapareceram do mapa, literalmente. No lugar da aldeia fica só a morte, semeada pelo chão cheio de cadáveres.
Em todo o Darfur já foram mortas mais de 200 mil pessoas. As que escapam tentam chegar aos campos dos refugiados das ONG.
Nós também procuramos lá chegar e ajudar no que é possível. Mas, geralmente, as organizações de socorro estrangeiras cobrem as necessidades materiais. Deste modo, podemos dedicar-nos mais a uma presença espiritual, continuando a evangelização iniciada nas suas aldeias de origem. Tive oportunidade de estar em dois campos de refugiados ou deslocados: um panorama que não tem descrição possível. Estes e outros campos foram-se enchendo – ao longo de três anos – de seres humanos que lutam para estar de pé. Já chegou aos 300 mil.
MCF

José Saramago

LIVRO DAS RECORDAÇÕES

José Saramago marca hoje os 84 anos que completa com o lançamento do livro das recordações da sua infância. Fá-lo na aldeia natal de Azinhaga, Golegã. «Deixa-te levar pela criança que foste», cita.
«As Pequenas Memórias» (Editorial Caminho, 2006) é uma recolecção de episódios, estórias, pessoas e lugares. Uma incursão pelas raízes e pelas linhas com que urdiu a sua vida dos quatro aos 15 anos até às inspirações para algumas das suas obras de referência.
O autor, um exímio contador de histórias (ou inventor de mentiras? - ele confessa-se um «mentiroso compulsivo»), apresenta um quadro vivo da vida nos anos 20 e 30 no Ribatejo e em Lisboa. Um livro ameno, um solilóquio cúmplice com o leitor sobre 11 anos de vivências entre as margens do Tejo e do Almonda e na capital.

15 de novembro de 2006

S. Cristóvão de Nogueira


© J. Vieira

A Igreja Paroquial de S. Cristóvão de Nogueira foi erigida no século XIII, em estilo românico e, apesar dos restauros efectuados, ainda se conseguem encontrar vestígios da arquitectura original. Restaurada no século XVIII, todo o interior foi executado em estilo barroco. Corpo de uma só nave. Altar-mor com tribuna de talha dourada, com duas imagens. No seu interior, o arco de Triunfo é revestido a talha e em cada sopé existe o altar. A torre sineira foi construída no século XVIII.

Abrir aspas

O PRIMEIRO BALÃO

Junto a uma das portas dos Armazéns Grandella havia um homem a vender balões, e, fosse por tê-lo eu pedido (do que duvido muito, porque só quem espera que se lhe dê é que se arrisca a pedir), fosse porque minha mãe tivesse querido, excepcionalmente, fazer-me um carinho público, um daqueles balões passou às minhas mãos. Não me lembro se ele era verde ou vermelho, amarelo ou azul, ou branco simplesmente. O que depois se passou iria apagar para sempre da minha memória a cor que devia ter-me ficado pegada aos olhos para sempre, uma vez que aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós no Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, enrugada, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam-me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo.

José Saramago, em «As Pequenas Memórias»

13 de novembro de 2006

Estórias

A FORMIGA (in)FELIZ

Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar. Produzia e era feliz.
O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão. Se ela produzia tanto sem supervisão, melhor seria supervisionada. E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.
A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga.
De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que, além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.
O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.
Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.
A formiga de produtiva e feliz, passou a lamentar-se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!
O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária, trabalhava. O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.
A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente - que trouxe do seu anterior emprego - para ajudá-la na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se mostrava mais enfadada.
Foi nessa altura que a cigarra, convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente.
Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a Unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, austero, em vários volumes, que concluía: «Há muita gente nesta empresa!» Adivinhem quem o leão começou por despedir? A formiga, claro, porque «andava muito desmotivada e aborrecida».

Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência.
Obrigado, Albino

Entre-os-Rios




© J. Vieira

Antes era a centenária Hintze Ribeiro: uma ponte gasta, estreita, a pedir obras urgentes. Mas não havia verba! Até que um dia caiu e arrastou consigo 59 vidas para as águas turbolentas do Douro. Num passo de magia, apareceu dinheiro não para uma mas para duas travessias novas mais um memorial. A culpa, essa morreu solteira. Como de costume.

12 de novembro de 2006

Bossa do Camelo

UM VERDADEIRO INVESTIMENTO

A «Bossa do Camelo» é o nome popular de uma curva apertada na A25 junto ao Caçador, na zona de Viseu, perto da saída do Sátão.
Aparentemente, a curva não fazia parte do traçado inicial da auto-estrada, mas não se sabe bem por que arte, lá está, redondinha, para testar a atenção e a perícia dos automobilistas. Um contra-senso num lanço da A25 aberto há pouco tempo!!!
Para contornar a sua perigosidade, foi imposto um limite de velocidade de 80 quilómetros por hora. Segundo o Jornal de Notícias de hoje, de 30 de Setembro a 30 de Outubro, 47 mil condutores foram «fotografados» pelos radares por seguirem acima do limite de velocidade.
Se cada multado pagar a coima mínima de 60 euros, o Estado arrecada neste mês cerca de 2,8 milhões de euros só com as multas da «Bossa do Camelo». Outro contra-senso: o Estado faz dinheiro - e muito dinheiro - com o «erro» do projecto.
Para a Brigada de Trânsito da GNR – e segundo a mesma fonte – o importante é que ainda não se registaram acidentes sérios nesse «ponto perigoso» da A25.

11 de novembro de 2006

Refracções

DERIVA

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais


As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri


Sophia de Mello Breyner Andersen

S. Pedro do Campo

Serra do Montemuro: São Pedro do Campo (Cinfães) © J. Vieira

10 de novembro de 2006

Fábula chinesa

AS MEDIDAS

No reino de Cheng, um homem decidiu comprar um par de sapatos. Mediu com cuidado os pés. Infelizmente, com a pressa esqueceu-se, como amiúde acontece, das medidas na mesa da cozinha.
Quando chegou ao mercado e parou diante da banca do vendedor de sapartos, deu-se conta que esquecera em casa o papel com as medidas.
- Ai de mim! Esqueci-me de trazer as medidas! - e corrreu para casa para as ir buscar.
Quando regressou ao mercado, este já tinha fechado, e assim não pôde comprar os sapatos. Um amigo, com um sorriso escarninho, disse-lhe:
- Podias ao menos ter experimentado alguns sapatos!
- Eu tenho mais confiança nas minhas medidas! - respondeu.
Autor desconhecido

9 de novembro de 2006

Abrir aspas

VIDA E MORTE

«Às vezes penso que a vida não tem valor, é uma coisa insignificante. Eu vou morrer e a humanidade não sentirá a minha falta. A humanidade vai morrer e o universo não sentirá a sua falta. O universo vai morrer e a eternidade não sentirá a sua falta. Não passamos de uma irrelevância, simples poeira que se perde no tempo.» Inclinou a cabeça. «Mas, outras vezes, penso que, afinal, todos nascemos com uma missão, todos desempenhamos um papel, todos fazemos parte de um grande esquema. Pode ser um papel minúsculo, pode parecer uma missão irrisória, talvez até a consideremos uma vida perdida, mas, feitas as contas, quem sabe se coisa tão minúscula se poderá revelar uma migalha crucial para a concepção do grande bolo cósmico.» Arfou, cansado. «Somos minúsculas borboletas cujo frágil bater de asas tem talvez o estranho poder de gerar longínquas tempestades no universo.»

José Rodrigues dos Santos em «A Fórmula de Deus»

7 de novembro de 2006

Moçambique

DOIS MISSIONÁRIOS ASSASSINADOS

O padre Waldyr dos Santos, 69 anos, jesuíta brasileiro, e Idalina Neto Gomes, 30 anos, portuguesa, missionária dos «Leigos para o Desenvolvimento», foram assassinados na segunda-feira, 6 de Novembro, na missão de Fonte Boa, província de Tete, em Moçambique, durante um assalto à mão armada pela 1h30 da manhã.
O padre Waldyr dos Santos foi morto a tiro e Idalina estrangulada. Outros dois missionários foram feridos durante o assalto, um aparente ajuste de contas, segundo a agência Lusa.
«Há poucos meses, numa tentativa de furto de um veículo na Missão, um dos assaltantes foi morto e acreditamos que este assalto tenha sido uma retaliação», referiu uma fonte da Polícia de Investigação Criminal (PIC) da província de Tete.
Os assaltantes usaram uma viatura com matrícula do Malawi.
Idalina Gomes era natural de Aguiar da Beira. Estava em Moçambique há um ano e depois de um período de férias em Portugal, planeava regressar à missão de Fonte Boa. Estava envolvida em projectos da área agrícola, pecuária e construção de lar para órfãos de Sida.

Rostos

O MENINO QUE QUERIA VER DEUS

Havia um pequeno menino que se queria encontrar com Deus. Ele sabia que tinha um longo caminho pela frente. Um dia encheu a mochila com pastéis e refrigerante e saiu para brincar para o parque.
Depois de percorrer uns três quarteirões, encontrou um velhinho sentado num banco da praça a olhar os pássaros.
O menino sentou-se junto dele, abriu a mochila e ia tomar um gole de refrigerante, quando olhou o velhinho e viu que ele estava com fome; então ofereceu-lhe um pastel.
O velhinho, muito agradecido, aceitou e sorriu ao menino. O seu sorriso era tão incrível que o menino quis ver de novo; então ele ofereceu-lhe refrigerante.
Mais uma vez o velhinho sorriu ao menino. O menino estava tão feliz!
Ficaram sentados ali sorrindo, comendo pastéis e bebendo sumo pelo resto da tarde sem falarem um ao outro. Quando começou a escurecer o menino estava cansado e resolveu voltar para casa mas, antes de sair, deu um grande abraço no velhinho.
Aí, o velhinho deu-lhe o maior sorriso que o menino já havia recebido.
Quando o menino entrou em casa, a mãe, surpreendida, perguntou ao ver a felicidade estampada em sua face:
- O que fizeste hoje que te deixou assim tão feliz?
Ele respondeu:
- Passei a tarde com Deus. Sabes? Ele tem o mais lindo sorriso que jamais vi!
Enquanto isso, o velhinho chegou em casa com o mais radiante sorriso na face e o seu filho perguntou:
- Por onde esteve você que está tão feliz?
E o velhinho respondeu:
- Comi pastéis e bebi sumos no parque com Deus. Sabes? Ele é bem mais jovem do que eu pensava!

A face de Deus está em todas as pessoas e coisas que são vistas com os olhos do amor e do coração!
Autor desconhecido

6 de novembro de 2006

Sabedorias

A ÁGUIA E AS GALINHAS

Um camponês foi à floresta apanhar um pássaro, para o ter como animal de estimação. Capturou um filhote de águia. Em casa, colocou-o no galinheiro junto das galinhas.
Passados cinco anos, o camponês recebeu a visita de um biólogo. Enquanto passeavam pelo jardim, disse-lhe este:
– Esse pássaro não é uma galinha. É uma águia.
– De facto – disse o homem –, é uma águia. Mas criei-o como galinha. Já não é águia. É uma galinha como as outras.
– Não! – replicou o biólogo. – É e será sempre uma águia. Nasceu para voar nas alturas.
– Discordo! – insistiu o camponês. – Ela agora é uma galinha e jamais voará como águia.
Decidiram provar o que diziam. O biólogo agarrou a águia, ergueu-a e, desafiando-a, disse:
– Uma vez que és uma águia, porque pertences ao céu e não à terra, abre as asas e voa!
Mas a águia ficou pousada no braço do biólogo. Viu as galinhas no chão, bicando o milho e desceu para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu bem lhe disse. Ela agora é uma galinha!
– Não – tornou a retorquir o biólogo. – É uma águia. Será sempre uma águia. Amanhã faremos uma nova experiência.
No dia seguinte, o biólogo subiu com a águia ao tecto da casa. Sussurrou-lhe:
– És uma águia. Abre as asas e voa!
Mas, quando a águia viu as galinhas no chão, pulou e juntou-se a elas.
O camponês sorriu:
– Não preciso repetir o que já lhe disse. Ela tornou-se uma galinha!
– Não! – disse convincente o biólogo. – Ela é uma águia e possui um cérebro e um coração de águia. Amanhã voará, garanto-lhe.
No dia seguinte, o biólogo e o camponês madrugaram. Levaram a águia até ao pico da montanha. Ao nascer do Sol, o biólogo ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, pertences ao céu e não à terra. Abre as asas e voa!
A águia olhou em redor. Tremeu e não voou.
Então, o biólogo segurou-a com firmeza, colocou-a na direcção do Sol, de maneira que perscrutasse o vasto horizonte e sentisse a luminosidade do céu.
E ela abriu as asas potentes e robustas. Ergueu-se, soberana. Começou a voar, a voar cada vez mais alto. Voou. E nunca mais ali voltou.
James Aggrey

5 de novembro de 2006

Abrir aspas

VIDAS

«Vivemos a vida como se ela fosse eterna, como se a morte fosse algo que só acontece aos outros e apenas nos está reservada ao fim de muito tempo, tanto tempo que nem merece a pena pensarmos nisso. Para nós, a morte não passa de uma abstracção. No entanto, eu preocupo-me com as minhas aulas e as minhas pesquisas, a tua mãe preocupa-se com a igreja e com as pessoas que vê a sofrer no noticiário ou na novela, tu preocupas-te com o teu salário e com a mulher que já não tens e com os papiros e estelas e outras relíquias cheias de irrelevâncias. […] Sabes? As pessoas passam pela vida como sonâmbulas, preocupam-se com o que não é importante, querem ter dinheiro e notariedade, invejam os outros e esmiferam-se por coisas que não valem a pena. Levam vidas sem sentido. Limitam-se a dormir, a comer e a inventar problemas que as mantenham ocupadas. Privilegiam o acessório e esquecem o essencial.»

José Rodrigues dos Santos, em «A Fórmula de Deus»

Mil palavras

Porto Antigo (Cinfães): Foz do rio Bestança © J. Vieira

4 de novembro de 2006

Por supuesto

O PADRE E OS ESPANHÓIS

Numa povoação pequena, mesmo junto à fronteira entre Portugal e Espanha, a igreja fica cheia para a missa das 10h00: portugueses, espanhóis, o Presidente da Junta…
O padre começa o sermão:
- Irmãos, estamos hoje aqui reunidos para falar dos Fariseus... Aquela gente desgraçada como esses espanhóis que estão aqui...
- Ohhhhhhh!!!
O maior tumulto tomou conta da igreja. Os espanhóis ofenderam o padre, houve porrada valente.
O Presidente da Junta levou as mãos à cabeça, indignado. Acabada a confusão, foi falar com o padre à sacristia:
- Sr. Padre, vá devagar; os espanhóis vêm para este lado, gastam nas lojas, nos restaurantes, trazem divisas para a Portugal. Não faça mais provocações.
Durante a semana a conversa entre todos era a mesma: o padre e o sermão do domingo. Aquele zum-zum todo foi fazendo com que as pessoas ficassem curiosas e a querer saber mais sobre o que tinha acontecido. Finalmente, chega o domingo.
O Presidente da Junta chega à sacristia e fala com o padre:
- Padre, o senhor lembra-se da nossa conversa, não? Por favor, não arranje nenhum problema hoje, ok?
Vem a missa e o padre começa o sermão:
- Irmãos... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena. Aquela prostituta que tentou Jesus, como essas espanholas que estão aqui...
Caldeirada geral: pancadaria na igreja, velas partidas, chapadas, socos e alguns internamentos no SAP da povoação.
O Presidente da Junta foi novamente ter com o padre:
- Padre, o senhor não me disse que iria com mais calma? Se o senhor não amansar, vou escrever uma carta ao bispo e exigir a sua remoção imediata.
Naquela semana, o tumulto foi maior ainda. As conversas eram maiores ainda. Ninguém iria perder a missa do próximo domingo nem que a vaca tossisse. Na manhã de domingo, o Presidente da Junta entra na sacristia com a polícia e adverte o padre:
- Sr. Padre, não provoque desta vez, senão acuso-o de provocação de tumulto e vai dentro!!!
A igreja estava abarrotada. Quase não se conseguia respirar de tanta gente.
Começa o sermão:
- Irmãos... Estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: a Santa Ceia.
(O Presidente da Junta respirou aliviado...)
- Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos «Esta noite, um de vocês me trairá.» Então João pergunta «Mestre, sou eu?», e Jesus responde «Não, João, não será você». Pedro pergunta «Mestre, sou eu?» e Cristo responde «Não, Pedro, não serás tu.» Então Judas pergunta «Mestre, soy yo?...»
A pancadaria foi geral! Por supuesto...

Olháki

1.º Prémio
Título: O Abraço
Autor: Mário Rui Jaleco
Entidade: FEC
País: Angola

2.º Prémio
Título: Escolinha
Autor: Sara Chang Yan
Entidade: Equipa d' África
País: Moçambique

3º Prémio
Título: Menina da Máquina Costura
Autor: Sérgio Augusto Cabral
Entidade: Leigos Boa Nova
País: Moçambique

O concurso de fotografias Olháki foi organizado pela Fundação Evangelização e Culturas. Era aberto a voluntários que estiveram em missão na África e em outros continentes. As melhores fotos estão expostas em Fátima, no Seminário da Consolata.

3 de novembro de 2006

Energia

© J. Vieira
ALGUNS NÚMEROS
PARA PENSAR

Os Americanos usam 24,9% do petróleo produzido, mas não são os maiores consumidores per capita. Um canadiano consome 14,8 toneladas de crude, enquanto o vizinho americano fica pelas 12,3 toneladas. Chineses e indianos, os consumidores emergentes a quem se atribui parte da culpa pelo aumento da procura e do preço do «ouro negro», usam 1,4 e 0,6 toneladas de petróleo, respectivamente. Quanto a consumo em termos absolutos, os três maiores sorvedores de crude são os EUA (24,9%), a UE (14,8%) e a China (8,2%).
Quanto à produção, a Arábia Saudita detém 22,1% das reservas mundiais de petróleo, o Irão 11,1, o Iraque 9,7, o Kuwait 8,3 e os Emiratos Árabes Unidos 8,2. Tudo no Médio Oriente. Daí o interesse americano por controlar o que se passa naquela zona. Por seu turno, a África conta com 9,4% das reservas petrolíferas, o que justifica o empenho americano no continente em concorrência directa com a China.
No que diz respeito ao gás natural, a Rússia detém 26,7% das reservar mundiais. Seguem-se-lhe o Irão, com 15,3 e o Qatar com 14,4 por cento. A Rússia e os Estados Unidos são os maiores produtores com 21,9 e 20 por cento, respectivamente. Os grandes consumidores são os EUA (24 por cento), a UE (17,4 %) e a China (15%).
Na UE, a energia que consumimos vem das seguintes fontes: nuclear (32%), gás (24%), crude (16%), carvão (13%) e outros (hidroeléctrica e outras fontes limpas: 15%).
Fonte: Público

2 de novembro de 2006

Corneteiro


O homem de todas as cornetas!

1 de novembro de 2006

Sabedorias

O CUIDADO

Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.
Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.
De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Ele tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
«Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, modelou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há uma acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.»

Gaius Julius Hyginus (64 a.C. – 17 d.C.)