15 de outubro de 2006

Transe


A ESCURIDÃO DO INFERNO

«Transe» conta a história de Sónia, vinte e poucos anos, de São Petersburgo (Rússia), que troca o amigo e a família pelo sonho de uma vida melhor no Oeste. Começa por trabalhar numa garagem de automóveis na Alemanha, até que é apanhada nas garras das máfias russas que a obrigam a prostituir-se primeiro em Itália e depois em Portugal. Inicia assim a descida aos infernos dos escravos de hoje.
Teresa Villaverde retrata esta viagem pelos infernos com imagens violentas, escuras, desfocadas. E explica: «"O inferno é um cão a ladrar lá fora", escreveu Santa Teresa de Ávila. Estamos no início do século XXI e o cão ladra em toda a parte. Não nos livrámos da tortura, da escravatura, do genocídio. A personagem central deste filme vê esse inferno de frente e de muito perto. Penso que não chega a entrar, porque é preciso fazer parte do inferno para estar lá dentro. Ela não faz parte, mas não há saída. Jorge Semprún escreveu a propósito da sua experiência num campo nazi que um dos motores da sobrevivência é a curiosidade. Se não quisermos olhar, as chamas agigantam-se. Vivemos numa época assim, em que nada do que temos está garantido para sempre, em que tudo pode desmoronar. Este filme trata de uma parte que desmoronou.»
Um filme que remexe as entranhas e as consciências.

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