8 de outubro de 2006

Abrir aspas

RELIGIÃO E VIOLÊNCIA

Os noticiários da desgraça querem convencer-nos de que este mundo não tem concerto. Mas nem todas as pessoas perderam o gosto pela poesia, pela grande música, pela pintura, pelas artes, pelas interrogações metafísicas ou religiosas, pela busca de sentido para a aventura humana e de responsabilidade pelo futuro da Terra. Não se deixam perder na simples pragmática do quotidiano e dos negócios, no fascínio idolátrico das novas tecnologias e no exibicionismo de casas sumptuosas, de carros de luxo, etc., insensíveis à distância crescente e intolerável que as separa do mundo dos pobres e dos quais fazem tudo para se defender e nada para atacar as causas que o produz.
Nem todos pensam que o remédio contra o terrorismo esteja na diabolização das outras culturas e religiões ou na imposição da nossa cultura e religião, dos nossos valores como se fossem o único património da humanidade. Se não acredito num progresso linear e reversível, também não julgo que estamos sempre condenados ao pior.
O pior, actualmente, é atribuído às religiões, sobretudo às dos outros, embora, na Europa, o mau da fita tenha sido, durante muito tempo, o próprio catolicismo, que, agora, se procura apresentar como religião da confluência da razão grega e da fé cristã. Na sua nascente histórica, esta fé já passou por loucura e escândalo.

Frei Bento Domingues, em Público

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