CRER APESAR DOS MASSACRES
NO LÍBANO?
Os massacres absurdos a inocentes que temos assistindo por parte da máquina de guerra de Israel contra o povo do Líbano, mostrando impiedade diante de crianças inocentes nos suscitam a questão do sentido da vida e da história. Esta questão não pode ser banida de nossa consciência por mais que fiquemos perplexos face à crueldade. Ela pertence à metafísica do cotidiano como reconheceu Kant em seu «Prologómenos a toda Metafísica Futura»: «Que o espírito humano abandone definitivamente as questões metafísicas é tão inverosímil quanto esperar que nós, para não inspirarmos ar poluído, deixássemos, uma vez por todas, de respirar».
Não são poucos os pensadores que confrontados com os absurdos da realidade afirmam o sem sentido da história. Jacques Monod em seu conhecido «O Acaso e a Necessidade» diz taxativamente: «É supérfluo buscar um sentido objetivo da existência. Ele simplesmente não existe. O homem é produto do mais cego e absoluto acaso que imaginar se possa. Os deuses estão mortos e o homem está só no mundo».
Claude Levy-Strauss, tão ligado ao Brasil, escreveu em seu admirável «Tristes Trópicos» estas desencorajantes palavras: «O mundo começou sem o homem e terminará sem ele. As instituições e os costumes que eu passei a vida inteira e inventariar e a compreender são uma eflorescência passageira em relação com a qual elas não têm sentido, senão talvez aquele que permite à humanidade desempenhar seu papel».
Há muito de verdade nestas afirmações porque os absurdos são inegáveis. Mas será que é toda a verdade? Não se anunciam também sinais intrigantes que nos falam de um sentido latente nas coisas? Por mais que venhamos do caos originário do big-bang não podemos negar que na evolução se manifestou uma linha ascendente que nos levou da cosmogêse, à biogênese, à antropogênese e hoje à noogênse. Não se pode negar que há ai um sentido manifesto.
Vamos ao quotidiano. Cada manhã levantamos, vamos ao trabalho, lutamos pela família e ansiamos por um mundo onde seja menos difícil amar. Há até situações em que chegamos a dar vida para salvar outras vidas. Que se esconde atrás destes gestos quotidianos? Esconde-se a confiança fundamental na bondade da vida. Ela vale a pena ser vivida.
O conhecido sociólogo austríaco-norteamericano Peter Berger escreveu em seu livro «Um Rumor de Anjos: a Sociedade Moderna e a Redescoberta do Sobrenatural» que o ser humano tem uma tendência inata para a ordem. Ele só vive e sobrevive se conseguir organizar um arranjo existencial que lhe faça sentido. Essa tendência à ordem se mostra em cenas bem familiares como a da mãe que acalenta o filhinho. Dentro da noite ele acorda sobressaltado. Grita por sua mãe porque o estrondo das bombas lhe suscitaram terríveis pesadelos. A mãe se levanta, toma o filhinho no colo e no gesto primordial da «magna mater» lhe sussurra palavras doces:«Não tenhas medo meu filhinho, tudo vai acabar e vai estar em ordem». A criança soluça, reconquista a confiança e um pouco mais e mais um pouco adormece.
Nem tudo está bem e em ordem. Mas sentimos que a mãe não está enganando o filhinho. No fundo ela testemunha: mesmo na desordem há uma ordem subjacente que a tudo preside. Ter confiança na bondade fundamental da vida e dizer-lhe Sim e Ámen é o sentido primordial da fé que não nos deixa desesperar face ao horror da guerra.
NO LÍBANO?
Os massacres absurdos a inocentes que temos assistindo por parte da máquina de guerra de Israel contra o povo do Líbano, mostrando impiedade diante de crianças inocentes nos suscitam a questão do sentido da vida e da história. Esta questão não pode ser banida de nossa consciência por mais que fiquemos perplexos face à crueldade. Ela pertence à metafísica do cotidiano como reconheceu Kant em seu «Prologómenos a toda Metafísica Futura»: «Que o espírito humano abandone definitivamente as questões metafísicas é tão inverosímil quanto esperar que nós, para não inspirarmos ar poluído, deixássemos, uma vez por todas, de respirar».
Não são poucos os pensadores que confrontados com os absurdos da realidade afirmam o sem sentido da história. Jacques Monod em seu conhecido «O Acaso e a Necessidade» diz taxativamente: «É supérfluo buscar um sentido objetivo da existência. Ele simplesmente não existe. O homem é produto do mais cego e absoluto acaso que imaginar se possa. Os deuses estão mortos e o homem está só no mundo».
Claude Levy-Strauss, tão ligado ao Brasil, escreveu em seu admirável «Tristes Trópicos» estas desencorajantes palavras: «O mundo começou sem o homem e terminará sem ele. As instituições e os costumes que eu passei a vida inteira e inventariar e a compreender são uma eflorescência passageira em relação com a qual elas não têm sentido, senão talvez aquele que permite à humanidade desempenhar seu papel».
Há muito de verdade nestas afirmações porque os absurdos são inegáveis. Mas será que é toda a verdade? Não se anunciam também sinais intrigantes que nos falam de um sentido latente nas coisas? Por mais que venhamos do caos originário do big-bang não podemos negar que na evolução se manifestou uma linha ascendente que nos levou da cosmogêse, à biogênese, à antropogênese e hoje à noogênse. Não se pode negar que há ai um sentido manifesto.
Vamos ao quotidiano. Cada manhã levantamos, vamos ao trabalho, lutamos pela família e ansiamos por um mundo onde seja menos difícil amar. Há até situações em que chegamos a dar vida para salvar outras vidas. Que se esconde atrás destes gestos quotidianos? Esconde-se a confiança fundamental na bondade da vida. Ela vale a pena ser vivida.
O conhecido sociólogo austríaco-norteamericano Peter Berger escreveu em seu livro «Um Rumor de Anjos: a Sociedade Moderna e a Redescoberta do Sobrenatural» que o ser humano tem uma tendência inata para a ordem. Ele só vive e sobrevive se conseguir organizar um arranjo existencial que lhe faça sentido. Essa tendência à ordem se mostra em cenas bem familiares como a da mãe que acalenta o filhinho. Dentro da noite ele acorda sobressaltado. Grita por sua mãe porque o estrondo das bombas lhe suscitaram terríveis pesadelos. A mãe se levanta, toma o filhinho no colo e no gesto primordial da «magna mater» lhe sussurra palavras doces:«Não tenhas medo meu filhinho, tudo vai acabar e vai estar em ordem». A criança soluça, reconquista a confiança e um pouco mais e mais um pouco adormece.
Nem tudo está bem e em ordem. Mas sentimos que a mãe não está enganando o filhinho. No fundo ela testemunha: mesmo na desordem há uma ordem subjacente que a tudo preside. Ter confiança na bondade fundamental da vida e dizer-lhe Sim e Ámen é o sentido primordial da fé que não nos deixa desesperar face ao horror da guerra.
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