4 de maio de 2006

Refracções

OLEIRO

As mãos do oleiro me formaram
Delicadas, ternas e meigas
Sentiram cada grão do meu barro
Cada molécula que sou eu
E misturaram pó com o sangue do amor derramado
Para formar este vaso precioso
Cozido no forno da vida
Ao calor de Deus
Para levar a água do Espírito
Aos sedentos de liberdade.
Mãos feridas
Pela dor
De arestas agudas
De medos e penas,
De inocência feita holocausto
No altar de ilusões perdidas
Pétalas ressequidas
De injustiças gritadas com raiva
Mãos de artesão que refaz a obra
Com a força da Palavra curadora
Que revela o mistério escondido
Nas brumas da memória
Para ser luz
Que dá sentido aos gestos
Aos restos de ilusão
De sonho desenganado
Sonho que cumpre a vida
O coração
Amor de um Deus incarnado
Que se fez amor através de tantos corações
Que me tocam que me querem
Na alegria que é força
Espaço vital
Esperança
Genoma
De um Oleiro
Que faz de cada peça
Uma obra-prima e única
Retocada constantemente
Pelas sinergias da força criadora
Da inspiração primordial
Da vida que transborda
Naquele «faça-se o Homem
À nossa imagem e semelhança.»
Sim
Sou imagem de Deus
Semelhança da Trindade
Memória de paraíso perdido
E reencontrando
Peregrino entre dois jardins
Os jardins de Deus
No meu coração.
Ele me libertou da mentira que ata
Do medo que paralisa
Das memórias perturbadas
Dos esqueletos do passado
E diz «Não temas
Sou teu Pai e Mãe e Amigo
Sou a tua força
O teu poder
A tua salvação
O poema que recitas
O sonho que acalentas
De te fazeres sempre novo
Sempre vivente
Eu me alegro em ti
Me comprazo em ti
Me revelo em ti
Me celebro em ti.
Canta
Dança
Rejubila
Porque tudo é graça
Dom que transformo em salvação
Porque te amo
Porque me amas
E o amor tudo regenera
Ilumina
Renova
Reaviva.
Dança!

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